MALANDRA escrita por Bruna Coelho


Capítulo 5
Capítulo 5 - SOGRINHOS?




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A primeira semana de prova já havia passado e eu era uma das poucas da turma que não havia surtado. Para falar a verdade, eu não tinha motivo para isso. Dois meses de aula e eu já havia batido todos os recordes de advertências da escola, eu era pior do que qualquer garoto problema. 

Dormir em sala de aula - fazia direto; ✓

Ir de uniforme - quase nunca; ✓

Chegar atrasada - pelo menos duas vezes na semana;

Irritar os professores - todos os dias. ✓ 

 

Se aproximar de Mel era minha única missão, mas tudo que a gente fazia era se alfinetar. O único do grupinho dela que eu tinha alguma relação, era Moisés, mas, honestamente, eu não vou nenhum pouco com a cara dele. Sem paciência para macho escroto, principalmente nessa idade, mas era parte do trabalho… então lá estava eu, aguentando esse menino.

A aula estava para acabar, e já fazia 30 minutos que eu estava no banheiro, apenas esperando o sinal. Ariel iria me buscar para almoçar com sua família, grande dia. Eu tinha que estar perfeita. Olhei no relógio, e faltando 2 minutos para o sinal tocar, passei meu batom e fui para sala pegar minha mochila. Eu não sei como o professor não pediu para alguém ir me buscar e me trazer pelo cabelo. Mas eu pude ver ele corar de raiva quando me viu toda barbiezinha. Assim que saí do prédio, Ariel estava me esperando dentro do seu carro. Era tão bom estar com alguém que dirigia. Não sei o que dizer, só o que sentir... Não éramos namorados, nem nada, só para deixar claro. Entrei no carro e demos um selinho de cumprimento.

— Nervosa? — ele perguntou já arrancando com o carro.

— Nenhum pouco. Você sabe como eu sou... difícil ter algo que me abala — respondi com naturalidade porque era a verdade. 

— Toma cuidado, ein! Um dia você vai explodir com o tamanho do seu ego — ele foi brincalhão, mas tudo que eu fiz foi revirar os olhos. Não tinha um ego tão grande assim... Tá, talvez eu tenha. 

Ariel não morava muito longe da escola. Consequentemente, não demoramos muito para chegar, foi uma viagem bem tranquila, e ele até que dirigia bem. Conferi minha maquiagem uma última vez antes de descer do carro pelo retrovisor e estava tudo certo, estava arrasadora.  

— Eu gostaria de deixar bem claro que não é porque eu vou conhecer sua família que nós estamos namorando — dei o alerta ali mesmo, na porta da casa dele. Se tem uma coisa que eu não faço, essa coisa é namorar. Não faz sentido namorar alguém quando você não pode passar mais de um ano com a pessoa, então… eu nunca namorei, nunca amei alguém, nunca nada. Meus namoros não têm futuro, então a melhor coisa a se fazer é evitá-los. Além disso, eu também não queria partir drasticamente o coração de alguém. 

— Claro, nada de namoro, você faz questão de deixar isso bem claro — ele falou já deixando o carro e me deixando pra trás. Desci correndo e fui atrás dele.

— Cadê o cavalheirismo? — falei me referindo ao fato dele não ter aberto a porta para mim. E ele só riu em resposta. 

Os pais dele eram lindos. Sério. Daqueles muito preocupados com a aparência. Eu me apaixonei pelos dois. A mãe dele parecia extremamente nova, uma boneca, com a pele extremamente bem cuidada. Eu não daria mais de 40 anos para ela, mas eu sabia que ela tinha bem mais que isso. Fiquei ali babando. Ela era minha meta de vida. Já o pai, a barba e o cabelo grisalho do pai entregavam um pouco a idade, mas a pele não. Todos eram tão cheirosos. Que família! Era o famoso tanto faz. E o irmão do Ariel, bom, era idêntico a ele... tirando pelo estilo. Digamos que Noah era bem mais estiloso e tinha um corpo mais atlético também.

— Ei, Ariel, como conheceu a Regina George? — Noah perguntou brincalhão quando já estávamos à mesa comendo. 

— Olha, se sua atenção era me atacar, saiba que soou como elogio! — eu o repreendi um tanto incrédula. Ninguém nunca havia me chamado de Regina George, por incrível que pareça. E era uma honra, CLARO! Mas claramente eu era muuuuito melhor do que Regina George – E nós não estamos namorando! – completei em seguida. 

— Eu disse para eles que a gente não estava namorando, eu disse... não me olha com essa cara — Ariel tentou se defender um tanto nervoso depois o encarei com um olhar de repreensão fatal. 

— Noah, deixa a Clara em paz, é o primeiro dia dela aqui — o pai dos gêmeos deu um puxão de ouvido em Noah. Então, puxou um assunto que para ele parecia seguro... e também que me forçava a contar parte da minha história: — Então, Clara, está se adaptando bem? Ariel comentou que você e sua família acabaram de se mudar...

— Bom, na verdade, eu já estou acostumada com mudanças... Desde que eu me entendo por gente a minha família se muda muuuuuuuito. A gente acaba se adaptando, como Darwin disse, teoria da evolução — narrei realmente o que eu pensava, apenas a verdade... sem entregar o plano da família, porque talvez eu fosse um pouquinho manipuladora. Acho que eu disse tudo o que eles queriam ouvir em um primeiro momento, mas eu sabia que o interrogatório não acabaria ali.

— e seu pai trabalha com o que? — ele tornou a perguntar como quem não estava dando muita importância, mas eu tinha certeza que ele estava queimando de curiosidade por dentro. Ele queria saber tudo sobre mim... E não usava métodos não convencionais como o meu pai para isso.

— Bom, meu pai administra uma rede hoteleira... Principalmente os hotéis recém adquiridos ou os que estão passando por algum tipo de crise. Quando tudo se ajeita, nos mudamos para outro que está com algum "problema" e assim o ciclo se repete — contei naturalmente. Novamente, mais uma meia verdade. Além de dar uma de "poderoso chefão", meu pai administrava uma rede internacional de hotéis, o que muitos não sabem é que ele é o dono dessa rede internacional de hotéis.

— Parece ser bem interessante — ele tentou ser gentil, mas só para me dar espaço para falar mais, o que eu não queria e nem tinha motivos.

— Para falar a verdade, eu acho bem entediante, por isso não procuro saber muito sobre — cortei o assunto logo pela raiz. Que pessoa gosta de ficar falando sobre a profissão do pai, sabe!? Acho que em nenhuma situação isso é legal. De certo modo, eu subestimei eles, pensei que eles fossem mais descolados do que realmente eram. 

— Já pensou em que faculdade quer prestar? — Roberto voltou ao seu questionário do FBI, pelo menos agora o seu foco estava sobre mim, e já estavam servindo a sobremesa, então eu iria conseguir fugir dessa situação logo.

— Acho que artes cênicas... acredito que me daria bem atuando e ser atriz me parece ser incrível —  eu trouxe minhas meias verdades à tona mais uma vez. Eu nunca pensei sobre qual faculdade fazer porque eu acho que nunca vou conseguir concluir qualquer curso. Não com essa vida que eu levo. Nunca conseguiria cursar mais do que dois semestres de um mesmo curso e não fazia sentido ingressar em uma, a menos que fosse para o bem maior.

— Que interessante! Eu queria ser bailarina quando tinha a sua idade — a mãe deles falou pela primeira vez e pela primeira vez não foi um questionário chato de pai. Eu sabia que ela queria ser uma bailarina, mas teve que abandonar a carreira por causa da família. 

— Você ainda pode ser, sabe!? Você está com tudo e nunca é tarde demais para fazer o que se gosta! — tentei incentivá-la. Sério. Ela estava com tudo em cima, era rica, tinha filhos criados... Por que não tentar ser bailarina? Nem que fosse de alguma companhia local, sei lá. 

— Eu acho que não tenho mais disposição para tentar agora — ela falou mantendo a pose e eu senti uma pontada de verdade na sua voz. 

Bom, quando terminamos o almoço, o pai dos meninos saiu, acho que voltou para o trabalho. Ficamos só nós três na casa. Fiquei no sofá com Noah enquanto Ariel sentou no piano para tocar um pouco para a gente. Noah me encarava com um olhar curioso e bem analítico. Noah não era gay!?

— Sua pele é incrível! Como pode... — ele segurou o meu queixo com a sua mão enorme que comprimia a minha bochecha e virou meu rosto para esquerda e para a direita. 

— Se quiser eu te passo o numero da minha dermatologista — falei tirando a mão dele com certa força do meu rosto. 

— Geralmente eu não tenho amigas mais novas, mas você parece ser bem interessante, acho que posso abrir uma exceção  — ele falou me analisando de novo. 

— Quer dizer que toda essa análise era parte de um processo seletivo para ser sua amiga? — perguntei debochada. 

— Fico feliz em dizer que você foi aprovada na Universidade da Amizade do Noah... Na verdade, eu só quero tirar o Ariel do sério! Ele vai ficar puto ao descobrir que ficamos amigos! 

Ficamos ali um tempão conversando. Ariel não gostou muito. Pareceu estar com ciúmes. Afinal, nem demos muita confiança enquanto ele tocava porque o papo estava incrivelmente bom. Noah era um pequeno influencer, tinha uns bons seguidores, nós gostávamos das mesmas coisas. Tínhamos um humor parecido... Era o destino nos unindo ali naquele momento. Passava das 15h quando finalmente criei coragem para ir embora. Quando fui me despedir da mãe dos meninos, dei uma indireta falando que meus pais adorariam conhecê-los, e ela respondeu gentilmente convidando-os para jantar no final de semana comigo. Foi melhor do que eu imaginava. Então, pude deixar a casa com a sensação de missão cumprida. Eu iria ganhar muitos pontos com meu pai por isso... já que a minha mãe não tinha feito progresso nenhum nas aulas de spinning que ela tanto odiava. 

Como o previsto, Ariel me levou para casa de carro. Ficamos um tempinho dentro do veículo conversando bobagens, então demos um beijo rápido de despedida e o deixei. Na calçada, pude ver que Mel estava do outro lado nos observando. Mostrei a língua para a garota e entrei sem dar importância para ela. O dia tinha sido perfeito demais para isso...


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