O Encanto da Serpente escrita por Isa G


Capítulo 3
03


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos novamente!! Obrigada a todos que comentaram, favoritaram ou começaram a acompanhar! Beijão



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Uma semana passou lentamente. Rose estivera contando os dias para que esse sábado finalmente chegasse.

Esse, diferentemente dos anteriores, seus pais não haviam planejado nada para obrigar a garota a fazer.

Pensando a respeito, a ruiva compreendeu que se devia ao fato de gradativamente ela ter parado de discutir com a mãe e não estar mais tocando em qualquer assunto perigoso.

De todo modo, pouco importava o motivo, mas sim, o que isso significava: ela iria dar uma escapada para Londres.

Fazia pouco mais de um ano que não colocava os pés lá. Precisava ver, mesmo de longe, o que estava acontecendo.

Precisava ver algumas pessoas. Tinha conversas e desculpas pendentes.

Usaria James como álibi. Ele nunca estava por casa e sempre a acobertou, principalmente no início de tudo.

Vestiu uma meia calça preta e um vestido florido bastante colorido e rodado. Fez uma trança para não se preocupar com o cabelo. Recitou meia dúzia de frases decoradas para Hermione, e em cinco minutos estava aparatando em um beco no centro da cidade.

=.=.=.=.=

Ela já esperava por isso. Sim. Era uma possibilidade grande. Avisara a si mesma que se preparasse para tal. Mas não se preparou. Tampouco soube como reagir.

A calçada estava apinhada de gente perambulando para todos os lados. A casa antiga a frente fora sabiamente reformada e transformada em um dos maiores restaurantes franceses do mundo. Três estrelas Michelin. O ar sempre tinha o cheiro de pão na chapa com manteiga, normalmente a entrada escolhida para o Tartar.

...Ele estava com outra.

Ali. Bem ali.

Ele tinha esse direito. Todo o direto do mundo. Ela saíra de sua vida sem deixar rastros e sem sequer uma explicação ou bilhete. O anel de côco parecia queimar no seu dedo.

Estava escondida observando o lugar em que trabalhara e que o conhecera. Não era hora do expediente. Mas Conrado gostava de chegar bem antes e tomar um café no deck do estabelecimento, observando o movimento e lendo o jornal regional. Corriqueiramente Rose o acompanhava.

Quem o estava acompanhando agora era uma mulher loira e de longas pernas. Estavam lado a lado na mesa, com ele acariciando distraidamente sua mão enquanto lia um livro grosso. Ela, fazia anotações em um caderno.

O momento era digno de um retrato. Pareciam sincronizar os movimentos de forma bonita. E ambos eram igualmente bonitos.

E Rose estava se sentindo tonta. A dor na cabeça poderia fazê-la rachar ao meio. A visão estava embaçada demais para que ela se mexesse. Queria sair dali o mais rápido possível.

Não moveu um músculo.

Era incapaz.

Uma lágrima solitária brotou. Com a mão trêmula, limpou-a rudemente, arranhando a bochecha no percurso.

=.=.=.=.=

Havia alguma possibilidade de um de seus pais estar na casa de Gui e Fleur. Mas precisava desesperadamente de Dominique. Valia o risco.

Desaparatou em frente. Era uma casa charmosa, com um jardim enorme e muito bem cuidado. Tinha um estilo germânico, com janelas em madeira rodeadas de flores e telhado mais baixo.

A porta abriu logo depois da batida.

—- Rose! O que...? Ah, meu Merlin! -- Dominique correu em sua direção, abraçando-a enquanto as lágrimas agora saiam livremente. -- Seja lá o que for, nós vamos resolver...

Rose riu sem humor entre um soluço. A prima era sempre otimista em demasia.

Não percebera logo de início, mas agora, já no quarto dela e com uma xícara de chá de ameixeira em mãos, notara que Dominique estava de roupão e cabelos úmidos. E estava dando nos nervos. Voltas e voltas pelo quarto, tentando absorver tudo o que a ruiva lhe contara.

—- Ok. Deixe-me ver se entendi: você namorou um trouxa, ia desistir da sua varinha, estava prestes a se casar, e então, seus pais descobriram e te aprisonaram em casa? Além de toda a história com Malfoy? E agora seu cara está com outra? -- Ela deu outra volta completa pelo cômodo, sempre contando nos dedos cada situação. -- Uau! Realmente... Não sei quem é o mais errado nessa história! Ah... Desculpe...

—- Não, tudo bem... -- Secou toscamente o rosto, abafando um pouco sua voz demasiadamente fanha -- Juro que queria lhe contar antes, mas achei que aguentaria sozinha. Isso é tão frustrante...

—- É claro que é! Principalmente quando tenta esconder tudo de mim! Rose, pelo santo Merlin, estou aqui desde sempre, poxa vida! -- Escolheu sentar-se, por fim, em um puff ao lado da cama que sua visitante estava. Com o rosto entre as mãos, completou: -- Quem sabe eu poderia ter impedido metade disso...

—- Exatamente por isso que não contei nada! Se já não bastasse ter sido sua sombra durante toda Hogwarts...

—- Oh, céus! Esse papo de novo?...

—- ...Iria te seguir também para o Ministério? Quem sabe quando você casasse eu me mudasse junto? O que eu seria? O que eu era, para ser sincera?

—- E o que você é agora? Depois de toda essa confusão, Rose!

—- Você não entenderia de todo modo! -- Rose já estava com a voz um tom mais alto que o normal -- As coisas sempre saíram de forma natural para você! Notas boas, sempre muito comunicativa e rodeada de amigos, qualquer final de semana em Hogsmead você tinha um encontro. Namorou garotos brilhantes, aliás -- Deu um longo suspiro antes de continuar, sacudindo a cabeça -- ...Sempre soube o que cursaria depois da escola... Seus pais estão juntos e ótimos... E-eu...

Dominique a observava palidamente, estática no puff cor-de-rosa. O assombro de seu rosto poderia ter sido motivo de piada pela ruiva, mas esta estava tremendo de raiva.

Quando finalmente a anfitriã retomou a voz, conseguiu apenas sussurrar:

—- De onde veio tudo isso? Rose... O que fizeram com você? Eu nunca a vi gritar antes...

—- Sabe o que aconteceu, Dominique? -- Levantou-se da cama, com o vestido mais amassado que nunca -- Eu vivi. Sim, eu vivi. Pode parecer clichê, mas aproveitei como se não houvesse o amanhã. E aprendi muita coisa no meio do caminho... Uma delas é a de falar o que estiver afim de falar. E foi isso que acabei de fazer.

—- Certo...

—- Falo sério! Eu nunca conseguiria ser uma pessoa totalmente diferente vivendo... Isso! -- Abriu os braços para exemplificar, ainda bastante agitada.

—- Mas por qual motivo você não queria ser... você?

—- Eu não era ninguém! Pelo amor de Merlin! Viver atrás dos livros e ter apenas você e James como amigos... Quando vocês se formaram foi devastador... Passava meus horários livres com Bethany, da Corvinal, para não ficar sozinha... -- Rose começou a andar, indo em direção a porta -- Simplesmente patético! ...Obrigada pelo chá. -- Não esperou qualquer resposta da outra e fechou a porta com mais força do que realmente pretendia. Desceu o lance de escadas em um segundo. Estava quase alcançando a maçaneta do hall de entrada, quando uma voz soou por toda sala de estar.

—- Saindo às pressas? Aliás... Achei que estava com James na casa de Martina...

Rose virou-se lentamente, tentando juntar toda a calma que não existia mais em seu íntimo, para encarar a loira parada na entrada da cozinha.

—- O que você quer, Victorie?

—- Nada demais... Apenas ter certeza do motivo desse showzinho todo... -- De braços cruzados e com um sorriso no canto da boca, bastou para a ruiva decretar esse dia como o pior de sua existência.

—- Nada aconteceu.

—- Nada? E essa cara de choro faz parte disso?

—- O que isso te importa? Você gosta de me torturar...

—- Não seja dramática! Mas o que realmente quero saber é: vai perdoá-lo?

—- Perdoá-lo...? -- Pega de surpresa, ela encontrava-se sem ação -- Ele está com outra, eu...

—- Com outra? -- Gargalhou com gosto. -- Você quis dizer com várias, não é mesmo?

—- V-várias?

—- Claro. Na verdade, não é novidade alguma para ninguém... Ele nunca foi homem de uma mulher só, muito menos estando com você! -- Seu olhar divertido brincava entre observar a roupa de Rose e ver sua cara de espanto, ao mesmo tempo que caminhava para mais perto da garota. -- Nem ao menos sei o porque estou lhe contando isso...

Rose não ouvira nem metade do que sua prima havia falado. Tudo girava e a cabeça doía mais e mais. Segurou-se com a mão esquerda na parede. Estava soando frio.

—- Como... Como você se quer sabe de alguma coisa? Não o conhece!

—- Rose, deixe de ser bobinha! Nos conhecemos há anos!

—- COMO É?

Victorie revirou os olhos e bufou.

—- Scorpius convive conosco praticamente desde que nasceu! Por Morgana!

—- Ah! Scorpius! Scorpius Malfoy! Certo... -- Rose quase poderia rir de alívio.

—- Ora, é claro que é Scorpius Malfoy! Seu noivo! Você só pode estar delirando...

—- Sim, sim... O que tem ele? -- A garota sacudiu a mão como se espantasse um inseto, retomando a postura e voltando a respirar de forma apropriada aos poucos.

Muito confusa, Victorie a olhou por longos segundos, a analisando.

—- Ele saiu da minha despedida de solteira, sábado passado, acompanhado por outras três mulheres... Um tanto escândaloso, principalmente levando em consideração aquele carro bastante chamativo dando a partida... E o som alto... E as risadinhas também... Com certeza os teria expulsado se já não estivessem de saída! E quando...

—- Tudo bem.

—- ...Tudo bem?

—- Eu não me importo, Victorie.

Mas ela se importava. Minutos depois, após algumas outras trocas de farpas, saiu da casa dos tios com o coração ainda mais apertado. Era uma mistura de humilhação, vergonha e medo. Muito medo. Principalmente do que a vida a estava reservando...


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