O Encanto da Serpente escrita por Isa G


Capítulo 4
04


Notas iniciais do capítulo

Oizinho!!! Sumi mas voltei!



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Hermione não a poupou quando chegou em casa tarde da noite. Ficara remoendo-se na grande figueira até não conseguir pensar em mais nada e ter coragem de entrar.

Amava aquela árvore. Desde pequena escalava com facilidade, sempre querendo chegar aos galhos do topo, onde a vista era linda e pouco ouvia-se de lá de cima. A acalmava mais do que qualquer poção. Costumava ser seu refúgio quando seus pais discutiam por horas e horas a fio. Alvo choramingava sempre que estava junto, pois, não tinha agilidade e destreza para subir como a prima. Até certo dia, nas primeiras férias de Hogwarts dos dois, ela conseguiu levitá-lo. Desde o princípio fora excelente em Feitiços. Mas, somente aquela vez ele lhe fez companhia no topo. De repente, não faziam mais nada juntos.

Não conseguiu pular o jantar e os questionamentos dos pais. Mas aguentou firme, desejando sua cama. Queria que Hugo, seu irmão caçula, estivesse em casa, e não em outro país, a deixando sozinha com aqueles dois. Ele a entendia como ninguém e tinha o segundo melhor abraço do mundo.

Quando tudo acabou, dirigiu-se rapidamente para o quarto.

Enquanto subia o lance de escadas, a imagem do cabelo liso e sedoso da mulher loira, tocando sem pretensão o ombro de Conrado com a brisa constante, a aborrecia.

Os passos se tornaram pesados e a garota ponderou tomar uma poção para dormir.

Abriu a porta e encontrou Dominique a esperando sentada na cadeira da escrivaninha velha. E a grande janela do seu quarto encontrava-se escancarada, canalizando um forte vento.

—- Como...?

—- Eu não poderia deixar você sozinha hoje. Não seria justo com você e com a nossa amizade...

—- Eu... Obrigada. -- Suas bochechas começaram a formigar -- E desculpe por...

—- Esquece isso, Rose. Agora me conte tudo o que quiser, vou ficar aqui quietinha... -- Com um aceno, a loira, (agora com uma calça jeans branca e uma camiseta de bichinhos), deixou apenas uma pequena fresta para o vento e acomodou-se na cama, enquanto fazia sinal para que a outra a acompanhasse no movimento.

Era uma ótima oportunidade para Rose desabafar tudo que estava a sufocando. Mas para ser sincera, ela não tinha o que falar. Estava cansada até da própria voz.

Então, Dominique tomou a frente.

—- Como era?

—- Como era o quê? -- Rose estava ajeitando uma montanha de travesseiros para as duas.

—- A vida trouxa... Me conte tudo! Acho que seria um bom exercício para você... Sabe, colocar tudo pra fora.

A ruiva ponderou por um momento.

—- Definitivamente era diferente. Leve, eu acho. Não conhecia ninguém, e fazia o que bem entendia... O engraçado é que eles se preocupam com coisas estranhas e não ligam para as que a gente dá importância. Eu... Sinto muita falta.

—- ...Dele? -- A prima perguntou lentamente.

—- Conrado? -- O nome causou um desconforto na boca do estômago. -- Claro que sim, mas me referia a vida como um todo. A liberdade de poder me descobrir e ser quem eu sou. Não ser sombra dos meus pais ou a sabe-tudo esquisita. Ser eu. Ser Rose. Só Rose, sabe? Lá ninguém liga para qual família pertenço ou o que tenho de especial.

Já estavam noite adentro, e agora, ambas estavam com pijamas confortáveis e felpudos da ruiva, gastando todo o seu estoque de sapos de chocolate.

Rose não saberia dizer se era a glicose elevada no sangue ou o sono, mas, estava entrando em assuntos que não sabia até o momento que se importava.

—- Me pego pensando... Foi tão diferente com o Alvo, sabe?

—- O que quer dizer?

—- Paixão é algo que machuca e eu aprendi da pior forma...

—- E faz tanto tempo! -- Dominique sentou-se melhor na cama -- Lembro de uma cartinha... -- A loira soltou uma risadinha.

—- AH, não! Não me lembre disso! -- Rose jogou um dos travesseiros mais pesados na prima, enquanto a outra abafava o riso.

—- Oh! Alvo! Meu amor! Vamos ao parquinho juntos?

—- Pare com isso! -- Rose sentia as bochechas quentes. --- Pois saiba que nunca realmente a entreguei!

—- Teria sido um estrago e tanto, hein?

A ruiva suspirou.

—- Com toda certeza. E éramos crianças, por Merlim! Eu não sabia o que estava fazendo... Ou sentindo! Uma bobinha nata. Apenas porque ele estava sempre por perto...

—-... E fazendo suas vontades!

—- Principalmente! Uma vez, ele me deu todo o seu sorvete simplesmente porque devorei o meu muito rápido... E quando ele fugia de casa, quase toda semana, para posar aqui? E teve outra vez que ele pegou catapora de dragão apenas para ficarmos doentes juntos...!

—- Era bonito ver a amizade de vocês -- Agora Dominique não ria mais. Jogou a caixa de doces para fora da cama. -- Você o perdoou?

—- Eu... Não saberia dizer. Afinal, ele não é mais o Alvo que eu gostava, não é? Quero dizer, eu continuei com aquele sentimento por bem mais tempo... Mas tudo passa.

—- Ele mudou bastante em Hogwarts...

—- Ele e Scorpius se merecem. -- Finalizou, depois de um tempo, com amargura. Não notou que suas mãos tremiam -- Scorpius... Sempre Scorpius! A minha vida é resumida nele! Tudo que acontece, tem o nariz desse imbecil!

—- Rose! Acalme-se -- Dominique juntava distraidamente todas as figurinhas do tio Harry em um monte, mas as bagunçou com o ataque repentino da prima. -- Não sabemos o que pode acontecer amanhã. Quero dizer, você pode até dominar a sua vida sim, mas tem coisas que temos que passar. Ao menos, papai fala bastante disso quando o chefe dele volta de férias...

Rose voltou a dar um pequeno sorriso pela comparação. Era o duende Vojkov, um serzinho carrancudo e que estava sob o comando de Gringotes nos últimos tempos, que fazia o inferno pessoal do seu tio Gui.

—- Já está muito tarde. É melhor dormimos.

—- Certo.

—- Vou ajeitar essa bagunça -- Com alguns acenos e um pouco de esforço da ruiva, lembrando de suas aulas particulares, alguns objetos começaram a se movimentar pelo cômodo.

Enquanto isso Dominique começou a brincar com as embalagens dos doces jogados pela cama. Os enfeitiçou para que batessem uns nos outros até rasgarem.

—- ... você pode fugir, sabe.

A ruiva sobressaltou imediatamente, fazendo voar uma bota contra o espelho.

Falar sobre o casamento a deixava com os nervos ainda mais a flor da pele.

—- De jeito nenhum. -- O som veio abafado.

—- Você já tentou antes... Eu posso te dar cobertura! Podemos armar um plano...

—- Esquece, Domy.

—- Eu não quero te ver infeliz! Por favor! Vamos dar um jeito nisso!

—- E para onde iria? Não tenho mais nada. Aqui ou em Londres. Nem ao menos vontade. Mas...

—- Mas?

—- Deixar Scorpius Malfoy plantado no altar é realmente muito tentador...

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Um sábado a noite, depois de muitas propostas, James conseguiu convencer a prima a ir ao seu mais novo pub preferido, recentemente aberto no Beco Diagonal.

Faltava menos de cinco semanas para o casamento e tudo o que a ruiva queria era companhia para não pensar besteiras.

Ela merecia um pouco de distração, afinal. Dominique mandou uma coruja a incentivando. Fazia muito tempo, tanto que não se lembrava, da última vez que saíra para beber.

Só conseguia se lembrar da vez que Conrado e Erik (o seu melhor amigo e garçom do restaurante), a fizeram beber uma garrafa de cerveja trouxa sozinha.

Tentou não se prender nesse pensamento e foi calçar o sapato.

Calça jeans azul clara e uma jaqueta de couro foi a escolha. Um par de brincos em formato de pimenta, era o mais discreto que a garota possuía.

Não muito Rose essa noite. Mas bem confortável.

Resolveu alisar magicamente o cabelo. Estava sempre realizando um feitiço aqui ou ali para forçar o hábito.

James aparatou pontualmente na entrada da mansão de seus pais. Matilda, uma menina que saia as vezes com seu primo e Jason, colega do Ministério e seu comparsa para qualquer tramóia, estavam a espera dos dois no local.

O lugar tinha realmente muita personalidade, pensou Rose. Era muito escuro e rústico, com vários detalhes em madeira. O som era uma batida mecânica com guitarra ao fundo. Várias mesinhas dispostas ao redor do balcão, onde um cara servia agilmente as cervejas amanteigadas e os demais drinks.

—- Ei, seus bobões! Venham logo, já pedimos as cervejas! -- A morena gesticulava dramaticamente na direção dos dois, que ainda estavam perto da porta.

—- Chegamos tarde? -- James pareceu preocupado, puxando a cadeira.

Jason negou.

—- Ela ainda não subiu.

—- E Greg ainda está aqui? -- Sussurrou.

—- Ele...

—- Do que diabos vocês estão falando? -- Sem explicação, Rose perguntou aos sussurros também.

Os três se entreolharam, inquietos. Um deles fez um sinal que Rose não entendeu.

—- Não tenho certeza se você é confiável, Rose.

—- É uma grande coisa, sabe -- Completou Jason.

—- Que besteira -- A ruiva bebericou sua cerveja, que com absoluta certeza estava adultera -- Do que estão falando?

—- Você não vai querer se meter nisso...

—- Ah, qual é rapazes... Deixem a Rose participar -- Matilda acabou sua cerveja e já estava roubando o resto da de James, que se encontrava muito distraído, olhando para além do balcão.

—- Deixem de serem idiotas! -- Rose fez um bico e cruzou os braços.

Jason se aproximou da garota, a olhando muito seriamente. Ele estava com a camisa social muito amarrota, e a sua gravata estava enrolada no braço da caneca.

—- Sabe, acho que a gente deveria te dar um crédito.

—- Isso!

—- Mas... O James aqui -- ele abraçou o amigo -- Não acha uma boa ideia... Acha que você não aguentaria o segredo.

Rose não levou em consideração nada do que o garoto dissera. Em parte, porque seu primo estava sendo abraçado de costas para eles, tentando falar com algum garçom para lhe servir mais cerveja. E um outro motivo plausível para não acreditar em Jason... Ninguém levava a sério aquele trio.

—- E me permite saber o motivo?

—- Além de não ser confiável?

A garota bufou e revirou os olhos.

—- Tudo bem, tudo bem. Podemos resolver isso: apenas precisa nos mostrar que não está mentindo quando nos diz que é confiável.

—- Mas eu sou confiável!

Ele sacudiu a cabeça tristemente. Matilda, atenta na conversa, resolver ajudar:

—- Ruiva, precisamos de algo concreto. Tipo uma poção de Veritaserum. Um voto perpétuo...

—- Nesse nível de confiabilidade? -- Rose riu um pouco e bebeu outro gole. -- Tudo bem.

—- Tudo bem o quê?

—- Tudo bem: eu não quero mais saber. -- E assim bebeu mais um pouco. Era a mais lenta com a bebida, ainda faltava alguns goles para acabar.

James havia saído da mesa, desistindo da atenção dos garçons, e foi ele mesmo pegar mais canecos cheios. Voltou assim que Rose terminou o seu.

—- Vocês não acham estranho o Greg estar cuidando da dispensa hoje?

—- Ele está nesse serviço em pleno sábado? -- Horrorizou-se Matilda, um tom mais alto que o seu normal.

—- Bem, na verdade, isso explica alguma coisa. Carmen estava -- Jason olhou de canto para Rose -- Vocês sabem... E continua no balcão esse tempo todo! Nem ao menos nos cumprimentou!

—- Além disso...

—- Já chega! O que eu posso fazer para entrar no assunto?

James a olhou surpreso, e rapidamente um sorriso no rosto se formou. Ele olhou para os outros dois. Foi Jason quem se pronunciou:

—- Já que insiste... Tem um meio mais efetivo e, com certeza, menos doloroso de sabermos se é confiável...

—- Que seria...?

—- Bom, já conheceu algum bêbado mentiroso? -- Adiantou-se o primo.

Os três a olhavam em expectativa. E então, Rose entendera tudo.

—- Não posso acreditar! Todo esse circo para que eu beba bastante hoje? É isso mesmo?

—- Rose... Nós nunca iríamos...

—- Pois prestem bastante atenção: hoje vou beber. E a conta é todinha de vocês.

—- ESSA É A NOSSA ROSE!

O trio comemorou tanto, que parecia uma final do Puddlemere sobre o Holyhead Harpies. Fizeram o bar parar e alguns conhecidos darem parabéns à ruiva.

Rose estava achando tudo muito engraçado -- incluvise a revolucionária ideia de Matilda equilibrar dois canecos nos seios para trazer à mesa em segurança foi anotada mentalmente.

As pessoas já não estavam tão nítidas aos seus olhos quando James e Jason apostaram qual dos dois conseguiria descobrir o nome de uma mulher loira que acabara de chegar, testando legilimência. Ou depois, quando descobriram pela legilimência de Matilda (a única que realmente tinha essa habilidade), que a tal mulher traía toda noite o marido nesse bar fazia cinco dias.

Cada um dos quatro estava inventando sua versão da história dessa mulher. A versão de James era a mais sacana e engraçada, cogitando até um triângulo amoroso com um hipogrifo e um agente secreto da MACUSA perseguindo os dois com um cacho de bananas.

—- Mas James, para quê um auror da MACUSA estaria carregando um cacho de banana para outro continente?

—- Ora! Não percebem? É a arma secreta dele! Magicamente enfeitiçada para cair no chão quando a Madame-Loira e seu comparsa correrem e escorregarem! -- E então, ele chamou Rose para encenar o tombo. Ela prontamente aceitou, e convidou um homem que estava passando para interpretar o agente secreto. Jason e Matilda derrubaram duas canecas cheias no chão quando aplaudiram.

Até mesmo o pessoal da mesa ao lado juntaram-se a eles no meio da noite. Um destes, tocou sem querer a mão da ruiva duas vezes, mas o fato passou despercebido por ela.

Somente muito mais tarde a garota lembrou de perguntar o tal segredo (que a levou a beber mais do que seu corpo conseguiria suportar). Mas não era um bom momento, James não estava conseguindo falar qualquer coisa que fizesse sentido, e ela realmente não queria mais saber.

Estava tão atenta na sua mesa, se sentindo tão leve (mas bem que poderia ser culpa do álcool e da nova brincadeira criada por um dos meninos novos), que não notara seu futuro marido e seu primo adentrando no local acompanhados.


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