O Encanto da Serpente escrita por Isa G


Capítulo 2
02


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Espero que gostem! Tinha postado antes mas o site não atualizou, não sei o que aconteceu... Bjs.



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Rose chegara ao anoitecer dA Toca, passando todo o período da tarde na margem de um rio próximo a casa, conversando com Roxanne e Lily, enquanto jogavam farelos de pão para os peixes feiosos (que acabaram, por fim, recebendo nomes ainda mais ridículos).

Largou-se preguiçosamente na cama. Sentia-se cansada. Tão cansada, que não soube por quanto tempo permaneceu naquele estado de inércia. Como também, não percebera de imediato uma coruja no batente da janela, a observando pacientemente.

Era linda. Branca com amarelo. Daquelas que se vê no alto de igrejas trouxas, com os olhos parecendo duas fendas feitas à faca. Em sua pata esquerda, um pedaço de pergaminho.

/Me encontre em meia hora na grande figueira.
Seu amado futuro marido, SM/

Rose não conseguiu evitar revirar os olhos.

Bufando para o nada, puxou um casaco fino do cabide. Estava de shorts lilás e uma blusinha de tiras azul, que, para passar o dia na casa dos avós, era o ideal. Os cabelos foram secos naturalmente, e se encontravam mais rebeldes que o normal, com nenhum cacho definido e, tampouco algum fio comportado ou liso.

Quando saiu sorrateiramente para fora, percebeu que sua lógica para as vestes não se aplicava na noite amena do povoado em que morava.

A grande figueira ficava a poucos metros, no meio da ruela. Já podia ver, com dificuldade, Scorpius sentado em uma raíz aparente. O cabelo bagunçado e a gravata solta sob a camisa branca, combinando com a ausência de cor do próprio. Parou há uma distância segura e ele fixou o olhar.

—- Noite.

—- Noite, Malfoy. -- Suspirou. -- A que devo a honra? Achou o caminho facilmente?

—- Não seja desaforada. Vim para uma conversa séria, sem graças.

Para Rose, ele nascera com o rosto sem expressão alguma. Nunca se afetava por nada e tudo parecia indigno de interesse. Certa vez, sua mãe o comparou com Draco Malfoy nos tempos de escola. A grande diferença, como concluiu as duas, era a de que Scorpius não era tolo ou prepotente quanto o pai fora.

Mas, para sua completa surpresa, algo o estava interessando. Ao menos o preocupando minimamente. Procurar Rose mostrava-se um ato desesperado de sua parte.

—- Claro. Como posso não ter tempo para um papo com meu próprio noivo, não?

—- Weasley...

—- Ok, tudo bem. Desculpe. -- Não notara que estivera com os braços cruzados. Os descruzou e sentou-se no chão entre as folhas secas. -- Continue.

—- Você realmente não é fácil. Quero lhe propor um acordo.

—- Um acordo? -- Perguntou lentamente.

—- Sim. Ambos sabemos o quanto é ridícula toda essa ideia de casamento. Nos odiamos. É simplesmente uma situação insustentável. Eu realmente não a suporto e...

—- Uau. Começamos bem!

—- Weasley, quer, por favor, ficar quietinha? Diferentemente de você, eu não fico escolhendo palavras polidas para agradar ninguém... -- Ele respirou com força antes de continuar. -- Entende como seria um verdadeiro inferno? ...Pois bem: consegui convencer meus pais a nos darem um apartamento bem localizado perto da rua principal do Beco Diagonal. Uma cobertura. Tudo o que se tem direito. Assim, não iríamos viver com eles na Mansão. Como irei administrar parte dos negócios, a sede de um deles é logo ao lado. Facilmente concordaram.

Houve uma pequena pausa, para que ela absorvesse.

—- Tudo bem. Mas o que tem de vantagem nisso? Irei do mesmo jeito olhar para a sua cara todo santo dia.

—- Aí é que está! Infelizmente, sim. Mas podemos viver essa vida de casados do jeito que quisermos, não acha?

E então, lentamente tudo ficou claro na cabeça da ruiva. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios carnudos e rosados.

—- Oh! Agora entendo! Podemos fazer o que quisermos de nossas vidas. Como se não fossemos casados ou qualquer coisa do tipo!

—- Cada um com seu quarto -- Concordou ele.

—- Refeições separados? -- Perguntou ela, esperançosa. Ele assentiu rapidamente.

—- Sem satisfações alguma...

—- Eu poderia simplesmente ignorar sua existência até -- Ela sussurrou, pensativa.

—- Sim! -- Respondeu ele entre uma pequena risada rouca.

—- Ei! Um segundo! -- O sorriso dela desmanchou. -- Isso quer dizer que você irá levar suas raparigas para lá?

—- E o que você tem com isso?

—- Não quero ouvir piadinhas de ninguém as minhas custas! E muito menos mulheres nuas perambulando na minha casa!

—- Eu faria de um jeito ou de outro, obviamente. Estou sendo bonzinho em te colocar a par e dando-lhe opções.

—- Uma ova! E se quer um acordo, é melhor termos regras. E a minha primeira é: não quero ver nenhuma de suas mulheres da vida pelos corredores.

Scorpius rolou os olhos.

—- Como se eu fosse querer lhe apresentar. -- Ele levantou-se e ela rapidamente repetiu o movimento. -- A minha regra é única e simples: não se meta no meu caminho.

—- Que original! Ah! Tenho mais uma: você nunca, nunca, irá encostar um dedo em mim. Sob nenhuma hipótese. Mesmo que eu precise disso para viver!

—- Há! Bem que você gostaria.

—- Deixe de ser um completo idiota.

—- Vou deixar seus desejos para seus sonhos, Weasley. Mais alguma coisa?

—- De você, nada.

—- Bom.

—- Acho melhor você ir.

—- Sim. Está tarde. -- Ele lhe deu um aceno com a cabeça e virou-se para partir.

—- Ei, Malfoy!

Virou-se minimamente, olhando-a de canto.

—- Obrigada por não querer transformar tudo em um inferno pessoal.

—- Não há de quê.

Com um piscar de olhos, ele desapareceu.

=.=.=.=

As pessoas ainda estranhavam a união eminente entre uma Weasley e um Malfoy.

Contudo, podia-se esperar algo do tipo. Aos poucos, com a aproximação de Scorpius e Alvo, as coisas aconteceram naturalmente.

Dizem que Draco Malfoy mudou do vinho para a água depois da guerra. Mas, principalmente depois do nascimento do filho, é que as mudanças tornaram-se realmente perceptíveis.

Não era raro esse homem almoçar com Harry Potter ou ser convidado para jantares de família. Nem ao menos Astória fazer compras com Fleur, mãe de Dominique e Roxanne.

Mas, ainda assim, para Rose existia uma enorme fortaleza de diferença entre ela e sua futura família.

O desespero em prender a garota no mundo mágico e tentar refrear os exageros luxuriosos de Scorpius eram a receita perfeita de uma união improvável.

Estava experimentando o terceiro conjunto de vestes no espelho. A garota não tinha ideia do que era o traje adequado para um clube. Ela nem ao menos sabia o que se fazia em um.

Resignada, optou por um vestido verde claro até os joelhos que fora de Dominique e uma sapatilha preta. Hermione pediu para não abusar nas cores e ela obedeceu. Não queria brigas por hoje.

Mas, seu par de brincos redondos e laranjas não estavam no trato. Nem seu anel de côco, feito a mão por Conrado, no dia que foram a praia...

Balançou a cabeça em desânimo e resolveu descer logo para não pensar demais.

=.=.=.=

Escolhera bem as vestes, afinal. Todas as mulheres que Rose avistou estavam de vestido. Dos mais diversos cortes e comprimentos. Astória, ao seu lado na arquibancada coberta, estava com um de tom próximo ao branco, que ia até as canelas. Sentada disciplinadamente, observando seu marido e seu filho à três passos de distância, discutindo.

Para entender o que acontecia naquele lugar, Rose precisou se esforçar bastante. Compreendeu de imediato que estavam em uma arquibancada de um campo de quadribol. Todavia, a maioria dos homens e algumas mulheres, seguravam com força um pedaço de pergaminho, e berravam a pelos pulmões quando algo não acontecia como planejado durante o jogo.

Não era, de forma alguma, o tipo de quadribol jogado na escola. Ao invés de torcer para um dos dois times jogantes, as pessoas apostavam as mais diversas coisas. E apostavam alto.

Apostavam o placar. Apostavam qual jogador seria considerado o melhor em campo. Qual o pior. Qual receberia mais balaços. Quanto tempo o pomo demoraria a ser capturado. Qual dos três aros seria o mais vazado da partida. Tudo. Tudo e qualquer coisa que pudesse contar, valia como aposta.

E a ruiva não aguentava mais alisar o vestido e olhar para o nada.

Algumas pessoas passavam e cumprimentavam a família Malfoy e Astória não perdia tempo em lhe apresentar.

Scorpius não lhe dirigiu a palavra uma vez sequer, e era melhor assim. Ao que parecia, manteriam o acordo que fizeram na madrugada de ontem.

Outro esporte bastante apreciado naquele lugar imenso era uma espécie de Golfe trouxa. Rose fizera questão de fazer Estudo dos Trouxa quando teve oportunidade, então, sabia do que se tratava. Disse à Astória que pegaria um refresco na copa, mas, queria mesmo era caminhar (e fugir do quadribol mais violento que já vira na vida). Foi quando se deparou com uma multidão assistindo esse outro jogo.

O mais interessante é que havia o taco, a bola e os buracos a serem acertados. No entanto, esses últimos, se mexiam toda hora, magicamente. E as bolas tinham, pelo menos, três vezes mais velocidade que o normal. Pôde ver de longe as gêmeas Parkinson, Ester e Kate, observando Jason Nott jogar em uma arquibancada próxima.

"A cada lugar uma cobra diferente" -- pensou com amargura. Resolveu, por fim, sair de fininho do campo de visão.

Estava tentando voltar para aonde estava a mãe de Scorpius, quando esbarrou com o próprio, que lhe agarrou o braço sem qualquer gentileza a arrastando para sabe-se lá onde.

—- Ei! Me largue, seu imbecil! -- Arrancou as mãos grandes de cima dela e sacou a varinha.

—- Uau! Uma garota que faz aulas de magia quer me estoporar? Abaixe isso. Vai acabar se machucando.

—- Aonde pensa que estava me levando? -- Ainda com a varinha em riste e olhares curiosos aumentando ao redor.

—- Merlin! Isso aqui não é nenhum dos seus circos, Weasley. E caso você não tenha percebido, você está em uma área apenas de homens.

Olhando ao redor, Rose percebera. Apenas homens estavam daquele lado do lugar. Não sabia exatamente o que isso significava, mas podia notar uma porta logo adiante que levava a algum lugar restrito. Seu estômago embrulhou, e imediatamente deixou ser levada por Scorpius. Ele estava mais informal do que a ruiva estava acostumada: uma calça caqui e uma camiseta branca de algodão.

—- Você me viu entrar ou estava indo para lá? -- Estavam longe o suficiente e sua voz finalmente voltara.

Ele fingiu não ouvir e a direcionou para o estacionamento.

—- E Draco? Seu pai frequenta aquele lugar?

Rose não conseguia imaginar Draco deixando Astória, uma mulher tão elegante e dedicada a ele, para ir em um lugar como aquele, mesmo que, parecera ser do conhecimento de todos ter uma danceteria para homens no meio do clube.

O que lembrara Rose o quanto os bruxos estavam atrasados em relação aos trouxas. Anos luz atras. Sempre vivendo como se estivessem para sempre na década de 50.

Suspirou. O loiro não se preocupava em instalar qualquer clima de desconforto entre eles.

Continuaram andando entre carruagens e carros mágicos. Até pararem em frente a um carro muito bonito e imponente, de cor prata. Scorpius sacou as chaves e entrou. Rose demorou alguns segundos para repetir o movimento.

Em um piscar de olhos estavam na frente da casa dos pais da ruiva.

Scorpius abriu a porta dela com um aceno de varina.

—- Apenas fique longe do que desconhece.

Revirando os olhos, (virara um hábito já da garota quando estava na presença desse homem), saiu do carro.


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