Harry estava deitado em sua cama pensativo já havia se passado uma semana desde que chegara na rua dos Alfeneiros, mandara Edwiges  diariamente com cartas a seus amigos mais nenhuma das respostas que obteve estava deixando o garoto satisfeito a que havia mandado no dia anterior não tinha voltado, estava começando a ficar frustrado com a situação, sua cicatriz agora o incomodava todos dias mas com a volta de você sabe quem essa seria sua nova rotina,  o jeito seria assistir o noticiário noturno, levantou se de um salto pois já havia escurecido e certamente o jornal já estaria acabando, desceu as escadas pulando de dois em dois os degraus, Tio Valter já estava na sala quando ele adentrou o local, ele o olhou desconfiado com os olhos semicerrados, Harry sentou se ignorando os olhares do Tio.

— O quer aqui moleque? - O Tio perguntou quebrando o silêncio .

— Vim assistir ao noticiário - Harry disse dando de ombros.  

— Assistir ao noticiário? E desde quando pessoas da sua laia se interessam por isso? – Tio Valter disse sorrindo desdenhoso – Olhe o Duda eu não o vejo por aqui, duvido que ele sabia o que está acontecendo!

—  Talvez se ele tivesse um pouco mais de cérebro – Harry respondeu baixo o suficiente para que o tio não ouvisse.  

— O que você disse moleque?  

— Nada – ele respondeu se levantando aliviado nenhuma morte ou desaparecimento estranho havia sido noticiado – O noticiário acabou, vou dar uma volta.

— Não vai, não! – disse Tia Petúnia entrando na sala – Vamos receber os Pierce para jantar, Duda mesmo nem saiu hoje, você vai subir e dar um jeito nesse seu cabelo, coloquei algumas roupas novas de Duda em cima de sua cama, para você ficar apresentável.

—  Não sei porque ele vai fazer parte do jantar – Tio Valter disse olhando para Harry de soslaio – Seria melhor que ficasse no quarto.

—  Ah! Sim – respondeu ela sarcástica – Para ele trazer mais uns daqueles bichos estranhos para estragar o jantar? O que os Pierce pensariam de nós?

—  Sendo assim o moleque fica – disse o Tio com os olhos arregalados provavelmente estava lembrando de quando Dobby, o elfo doméstico largou uma taça de pudim na cabeça de uns de seus investidores.

— Suba, vá tomar um banho e se arrumar!

Harry subiu as escadas arrastando os pés desanimado, queria e ao mesmo tempo não queria fazer parte do jantar, certamente Alina estaria ali, na última semana não tinha visto a garota, sempre que dava uma espiada pela janela  a cortina lilás de seu quarto seguia fechada e ele notava que a família saia cedo e sempre voltava tarde, antes de ir ao banho, resolveu dar uma olhada nas roupas que a Tia separara para ele, um par de tênis dois números maiores que seus pés, uma calça jeans com as barras e cintura grande demais, camisa branca e uma camisa de flanela que caberiam dois Harry dentro facilmente, como ficaria apresentável daquele jeito?

Poderia dar um jeito naquilo se pudesse usar a varinha, mas como feitiços eram proibidos fora de Hogwarts para menores de idade, resolveu fazer do jeito trouxa mesmo entrou nas pontas dos pés no quarto da tia e pegou o kit de corte e costura, quando era pequeno era obrigado a costurar as calças do tio ou do primo quando se rasgavam só nunca fora permitido que fizesse o mesmo com suas roupas, sempre grandes demais. Primeiro consertou as barras da calça ciente que o relógio trabalhava contra seu favor, depois desfez a costura e recosturou a camisa de flanela, um cordão de um velho tênis resolveria o problema da cintura larga demais, já que não poderia pegar um cinto emprestado, sobrou quinze minutos para tomar um banho e se trocar, deu uma última olhada no espelho concluindo que fizera um trabalho melhor que o esperado.  

Desceu para o patamar de baixo devagar, ouviu que os Pierce tinham acabado de chegar, O Sr. Pierce trajava o mesmo terno e gravata que o garoto o vira uma semana antes talvez tivesse vários da mesma cor, a Sra. Pierce tinha os mesmos cabelos longos e negros da filha era baixa e trajava um vestido floral, Alina estava ao seu lado olhando pela janela saliente da sala dos Dursley, Duda tentava chamar a atenção da garota mostrando os músculos recém adquiridos para o Sr. Pierce que o elogiava por ter ganho o campeonato de peso pesado Júnior, mas pelo jeito a visão da grama recém cortada dos Dursley era mais interessante, pois a garota não deu atenção para ele, nem pareceu notar também a presença dele ali,  já Tia Petúnia ao notar a presença de Harry olhou para ele estreitando os olhos, o estojo de corte e costura estava no lugar de sempre  e  apresentável era bem mais que o esperando para descrever sua aparência, por isso a Tia não encontrou nenhum comentário desagradável para lançar a ele naquele momento, resolveu então anunciar que o jantar já estava na mesa.

Harry sentou se de frente a Alina sentiu certa inveja de Duda pois ele estava ao lado da garota, viu que de forma proposital Duda esbarrava seus grandes cotovelos na garota que se mantinha em silêncio, mas claramente incomodada com a distribuição dos lugares a mesa. O jantar seguiu com Tio Válter se vangloriando dos grandes feitos de Duda, seguido do Sr. Pierce pontuando os bons feitos de Alina  

— Nós morávamos na França – ia dizendo o Sr.Pierce – Foi onde nos conhecemos, Alina ainda era um bebê, foi amor á primeira vista – o homem disse sorrindo mais o sorriso não foi convivente a Harry, ele disfarçou e olhou para a garota que revirou os olhos para o teto, mas ninguém pareceu notar – Gostei das duas assim que bati o olho nelas, não me importei, sabe de ela ser filha de outro, para mim ela é minha filha e sempre vai ser.

— Lindo gesto – disse tia Petúnia maravilhada.

— Nos mesmos tratamos Harry como nosso filho – disse Tio Valter estreitando os olhos para o garoto, que sabia que se abrisse a boca e negasse esse fato ia se ver em apuros  – Não que ele seja muito grato!

— Nos colocamos Alina para estudar no melhor instituto de educação da França – disse o Sr. Pierce pomposo não dando atenção ao comentário do Sr. Dursley –  Uma das escolas mais caras, ela é claro é uma das melhores da turma.

Harry olhou para a garota que agora estava concentrada em sua couve de Bruxelas, ela mal havia tocado na comida, mas ninguém em volta parecia se importar, em nenhum momento ela discordou ou concordou com as afirmações do homem, seguia silenciosa desde que chegaram a casa após a sobremesa todos voltaram para a sala, Harry pediu licença e foi para o jardim, as mentiras de Tio Valter sobre como o tratavam como um filho estavam sufocando o garoto, ele queria gritar o quanto foi maltratado e humilhado desde que chegou aquela casa, sentou-se próximo a sebe pensativo com os punhos fechados, quando viu uma silhueta se aproximando devagar. Alina vinha em sua direção, estava com um vestido rosa até os joelhos, os cabelos voavam livres ao vento e mais uma vez o estômago de Harry deu uma cambalhota para trás, se enchendo de borboletas, o garoto achou que iria colocar todo o jantar para fora.

— Posso me sentar? – perguntou Alina ainda olhando para o chão.

— C-claro – ele respondeu gaguejando.

— Está meio sufocante lá dentro não? – disse a garota descrevendo a mesma sensação que ele tivera uns minutos antes – Não consigo entender como alguém pode gostar deles!

— Às vezes nem eu – Harry disse sentindo vergonha dos tios que tinha, ele entendia exatamente o que a garota estava dizendo mais sentiu que não era dos Tios que a garota estava falando.  

— Ele se acha um máximo não é mesmo? – a garota disse mudando de assunto e apontando Duda que ainda estava na mesa do jantar devorando tudo que suas mãos conseguiam encontrar.

— Desde que os músculos cresceram mais que o cérebro – disse Harry fazendo a garota exibir o mesmo sorriso que ele vira uma semana antes pela janela.

— Ele mentiu sabe – ela disse sem graça, olhando para Harry – Sobre ter se apaixonado pela minha mãe, quero dizer...

— Você não precisa me falar nada sobre isso se não quiser – Ele disse tentando não olhar para os enormes olhos negros da garota.

— Não – ela disse indignada abraçando os joelhos parecia a beira das lágrimas – Todo mundo precisa saber, se eu pudesse teria dito isso lá dentro, ele casou com a minha mãe por dinheiro, ele nem ao menos tem o sobrenome Pierce, pegou dela, meu avô estava à beira da morte quando pediu que ele se casasse com ela, uma vergonha para a família ele dizia uma garota tão nova e mãe solteira, eu só queria que ela não tivesse aceitado.

— Nem tudo é como a gente quer, não é mesmo?  – ele respondeu depois de alguns minutos em silencio, se as coisas fossem como ele queria certamente ele estaria na toca com seus melhores amigos naquele momento.

— Não mesmo! Eles não te tratam do jeito que dizem, não é? – a garota perguntou  colocando sua mão sobre a de Harry e tirando em seguida, ele sentiu o formigamento que o pequeno gesto da garota deixou em sua mão – Eles parecem terríveis, deve ser por isso que são dão tão bem !

Ele concordou com a cabeça pois se tivesse que falar de todas as vezes que teve vontade de enfeitiçar aquela família, colocar seu malão na vassoura e sair sem rumo, teria que fazer um monólogo para ela.

— Você não é muito de falar ou é?

— Bem não é isso – ele disse sem graça, a garota ele notou falava demais, mas não era por isso que estava se mantendo em silêncio estava mesmo é com medo de falar alguma besteira para ela, não que não tivesse experiência em falar com garotas, Hermione era sua melhor amiga e ele não tinha dificuldades em falar com ela – Só não estou acostumado com pessoas falando comigo por aqui!

— Ah sim, fiquei sabendo, você é um delinquente da pior espécie – ela disse rindo, fazendo Harry corar, ao mesmo tempo que se sentiu mal por sua fama ruim plantada pelos Dursley  – Não acho que você seja o que eles dizem, eu te acho um garoto interessante!

— Obrigado – ele disse tentando encontrar as palavras encarando os próprios joelhos.

— Eu vim até aqui porque eles pediram para vir te chamar, na verdade pediram para o Duda mais ele pareceu mais interessado em continuar comendo – ela disse se levantando, bateu a grama que se grudou no vestido e encarou Harry oferecendo a mão para ajudá- lo a se levantar – Você vem?

— Sim, sim – ele disse pegando a mão da garota, ele esperou que ela soltasse sua mão no entanto a garota a segurou mais forte até se aproximar da entrada.

— Ah, aí estão vocês – disse Tio Valter impaciente – o Duda já veio se juntar a nós e teve uma incrível ideia não é mesmo Pierce?

— Sim – o homem disse dando um enorme sorriso e puxando Alina para perto mal notando o esforço que a garota fez para tentar se desvencilhar dele – Ele se ofereceu para te mostrar o bairro amanhã não é uma ótima ideia, assim você pode fazer amigos e passar menos tempo fechada no escritório com sua mãe, eu estava dizendo o quanto você fica nervosa quando vai na casa de estranhos, quase sempre fala demais, é uma mania que ela tem, fala demais quando está nervosa...

— Harry pode ir também? –  ela disse cortando o Sr. Pierce, todas as cabeças viraram para ela inclusive a de Harry que estava imaginando como esmagar a cabeçorra do primo.

— Harry tem mais o que fazer não tem mesmo? – disse o tio faiscando os olhos, o bigode tremendo.  

Harry por um minuto pensou em concordar com o Tio, não que tivesse medo dos Dursley, mas não queria se meter em encrenca, a carta que receberá de Sirius deixava bem claro que ele se mantivesse em alerta e longe de encrenca, mais ele resolveu discordar mesmo sabendo que iria pagar pela malcriação depois.

— Na verdade não tenho – ele respondeu tomando coragem e fazendo os olhos do tio faiscaram de raiva ele notou que o Sr. Pierce tinha a mesma expressão nos olhos muito azuis somente Alina parecia genuinamente feliz com a afirmativa do garoto.

— Já está tarde – disse Tia Petúnia tentando quebrar o clima de tensão instalado na sala – e você tem que se deitar.

— Mais ainda são 9 horas – disse o garoto indignado.  

— Tarde o bastante para você, no Centro St.Brutus para meninos irrecuperáveis, não fazem vocês dormirem as 8 ? – Harry abriu a boca e fecho em seguida notou a expressão horrorizada no rosto da Sra. Pierce que puxou Alina para debaixo de seu braço rapidamente.

Ele subiu as escadas sem dizer nada, o Tio havia dito aquilo só para fazer com que se sentisse mal, ele sabia, mas o que não daria para que Alina ou os pais não estivessem ali para escutar, certamente agora a garota havia desistido da ideia de sair com ele, trancou a porta do quarto e sentou se desanimado na beirada da cama, ouviu a porta se fechando no patamar de baixo, os Pierce já haviam ido embora, ele esperou Tio Valter espancar a porta do quarto, mas nada aconteceu, foi quando ouviu algo bater em sua janela, se levantou para identificar o que havia acontecido, Alina estava parada em sua janela, com um papel nas suas mãos "Amanhã 16:00" ela fechou as cortinas rapidamente e escondeu o papel, pois o pai e a mãe da garota entraram em seu quarto parecendo furiosos. Harry fechou a cortina e apagou as luzes, deitou-se ainda vestido e adormeceu com um sorriso nos lábios.