Harry havia acabado de atravessar a barreira quando avistou Tio Valter aguardando do outro lado impaciente, deu um abraço na Sra. Wesley e se despediu de seus amigos. Em seguida soltou um longo suspiro enquanto se arrastava até onde estava o tio, os dois caminharam lado a lado sem darem nenhuma palavra. Ao chegar no carro o garoto colocou o malão e a gaiola de Edwiges no banco traseiro e sentou-se no banco do carona, não esperava boas vindas nem nada parecido, mas o silêncio que seguiu foi incômodo, ele fez de tudo para que seus pensamentos se mantivessem longe de você- sabe-quem porém era recente seu retorno e por mais que tentasse não conseguia não pensar no que aconteceria dali para frente. Como ali com os Dursley ele não teria como obter informações do mundo bruxo decidiu assim que chegasse em casa mandaria corujas aos seus amigos pedindo informações atualizadas e detalhadas, faria também uma assinatura do profeta diário, seja lá o que for que você sabe quem fizesse certamente apareceria no jornal, o garoto continuou absolvido em seu pensamentos que acabou não notando quando o tio estacionou na Rua dos Alfeneiros, ao descer do carro reparou que um grande caminhão de mudança estava estacionando na entrada do número 5.

— O que aconteceu com os antigos vizinhos? — perguntou quebrando o silêncio.

— Se mudaram, não que isso seja da sua conta moleque — Tio Valter respondeu rosnando mal-humorado — Indiquei a venda da casa para um antigo colega da Smelthings, vai ser um ótimo negócio!

Harry observou que seguido ao caminhão um carro estacionou, um homem alto e loiro trajando roupas formais desceu do carro tinha uma expressão idêntica à de Tio Valter no rosto.

— Pierce? - Tio Valter disse abrindo um grande sorriso que se fechou em seguida ao observar que Harry ainda estava ao seu lado.

— Valter, meu grande amigo! Quanto tempo! — Nicolas Pierce se aproximou dando um grande abraço em Valter, não dando atenção a Harry que estava divido entre sair correndo ou observar até aonde chegaria aquela conversa, o que seria um ótimo negócio? será que ele era um novo investidor para o negócio de brocas?

Enquanto observava a cena notou que Duda estava na janela da sala espiando a cena com bastante interesse, Harry seguiu o olhar do primo e só aí se deu conta que atrás do Sr. Pierce, que era tão corpulento quanto Tio Valter,  estavam uma mulher pequena e uma garota, a garota aparentava ter a mesma idade que ele, estava de moletom cinza de capuz que cobria a cabeça, fones de ouvidos branco saiam pendurados do capuz e seguiam conectados a um iPod roxo que estava em suas mãos de onde ele estava podia escutar o chiado que a música produzia, ele resolveu que era hora de se retirar saindo de fininho mas o Sr. Pierce acabou notando sua presença. O homem olhou o garoto da cabeça aos pés, a aparência de Harry não era das melhores,  os últimos dias foram difíceis e o garoto não tinha a mínima vontade de se arrumar.

— É seu filho? — ele perguntou com um quê de reprovação na voz.

— Não, não — respondeu tio Valter rapidamente, olhando em volta, provavelmente estaria procurando um lugar para esconder o garoto — Esse é meu sobrinho!

— Ah, sim aquele seu sobrinho — seu tom de voz demonstrava que já ouvira falar de Harry, pelo jeito sua fama de delinquente juvenil ultrapassará a rua dos Alfeneiros, o homem mudou de assunto rapidamente – Deixe me apresentar, essa é minha esposa Carmen e minha filha Alina.

— Enteada – a garota disse sem sorrir e sem olhar para ninguém, estava com os fones nos ouvidos, mas Harry concluiu que provavelmente estavam desligados por isso ela havia escutado, o chiado não estava mais presente.

O senhor Pierce pareceu não se importar com a alfinetada da garota, continuou a conversa normalmente.Por um momento a garota percebeu que Harry a observava e o encarou de volta com seus olhos negros, sustentou o olhar por alguns segundos e voltou a mexer em seu Ipod que seguia desligado.

Harry saiu de fininho, ninguém fez objeção a sua saída antes de entrar na casa, notou que Duda ainda observava a garota pela janela, subiu para o quarto e se deitou para esclarecer as ideias, mas acabou adormecendo não tinha notado o cansaço por conta da viagem. Nas poucas horas que dormiu visitou novamente o cemitério, um clarão verde cortou o céu e Cedrico caiu morto ao seu lado, o garoto acordou com a cicatriz ardendo, lá fora a noite já havia caído e as estrelas brilhavam no céu. Resolveu abrir a janela para tomar um ar, foi quando viu Alina debruçada na janela, a garota tinha longos cabelos negros que balançavam com a brisa noturna estava olhando para baixo provavelmente observando as rosas de tia Petúnia que mesmo com a época de estiagem estavam regadas e floridas. Ela não havia notado sua presença o que ele achou muito bom enquanto enfim entendia o que Duda observava pela janela aquela tarde, a garota era realmente bonita, mesmo no escuro ele podia notar a luz da lua refletindo na pele cor de caramelo, ele passou alguns minutos a olhando e demorou para notar que agora a garota estava olhando para ele também. Sentiu seu rosto corando e os pelos de seu braço se arrepiaram, agradeceu a Merlin por seu quarto estar escuro e ela não poder ver a situação que ele se encontrava, a garota abriu um sorriso como se adivinhasse seus pensamentos, um sorriso que deixavam dentes brancos e alinhados a mostra, acenou para Harry e saiu da janela fechando as cortinas lilas em seguida, ele sentiu o ar fugindo dos pulmões se perguntando como ela podia sorrir daquele jeito. Sentiu seu estômago dar uma cambalhota para trás e foi se deitar tentando não dar atenção a isso, mas seu pensamento voltava para janela a cada segundo, ele não podia se interessar por ela, era uma trouxa, com o pouco que observou da família da garota teve certeza que eles compartilhavam os mesmos preconceitos dos Dursley, tentou afastar a garota de sua mente, mas pela primeira vez desejou ter nascido trouxa, talvez assim ele poderia ter sido um garoto normal com pais vivos e sem um bruxo das trevas que o caçava incansavelmente.