John beijou o ombro nu da mulher a seu lado. Ela sorriu e suspirou de contentamento. Sentia-se tão bem nos braços do homem que amava.

─Shayera... ─Ele disse.

─Não acredito que ainda tá pensando nela!

John pulou, reconhecendo a mulher nua a seu lado como Mari, não Shayera. Ela sorriu, sem se preocupar em se cobrir.

─Vai me dizer que já esqueceu a noite que passamos? Você não queria saber nem um pouco da Shayera...

As imagens da noite anterior surgiram. Ele, muito irado, acabou se encontrando com Mari. A morena não pensou duas vezes em levá-lo para a cama. O sexo foi bom, afinal eles sempre se entenderam bem na cama, mas não poderia deixar de se sentir mal. Ele traiu Shayera, a mulher que amava. Quase esqueceu o motivo que o levou ali. A própria Shayera.

Levantou-se depressa, procurando as roupas, e saiu em seguida, mesmo Mari pedindo para ele ficar.

*****

            John entrou no quarto apenas para encontrar a cama perfeitamente arrumada. Shayera nunca arrumava a cama, pois era tarefa dele. Isso significava que ela não dormiu no quarto deles também. Se sua esposa não estava no quarto, onde estaria?

*****

            Shayera sentia dois braços ao redor de sua cintura. Era tão confortável. Sentia-se quente e amada como nunca antes. Ele beijou sua testa e sorriu.

            ─Bom dia, Shay.

            ─Wally...

            Ela suspirou e voltou a se aconchegar. Mas então abriu os olhos, percebendo que não deveria estar ali. Quando foi se levantar, Wally segurou seus braços.

            ─Calma, Shay, calma. Está tudo bem?

            Ela assentiu e ele soltou seus braços. Shayera sentou na cama, assim como ele.

            ─Eu deveria ir embora.

            Wally concordou. Tocou-lhe o rosto, ao que ela aceitou o carinho. Fechou os olhos. Ele se abaixou, beijando-a. Shayera sabia que deveria ir, afinal passou a noite fora. Mas se perdia cada vez mais naquele beijo. Ela não queria sair. Se não fizesse nada, jamais sairia.

            ─Eu tenho mesmo que ir. ─Disse.

            ─Eu sei. ─Retrucou.

            Shayera foi a primeira a se afastar. Recolheu as roupas do chão, enquanto era observada pelos olhos atentos de Wally. Ela vestia a roupa quando ele saiu da cama e a abraçou.

            ─Desse jeito eu não vou sair.

            ─Eu não queria que saísse...

            ─Mas eu preciso sair. Ainda sou uma mulher casada.

            Wally quase se esqueceu. Sobre isso...

            ─Shay, a gente precisa conversar. E estou falando de conversar de verdade, não terminar na cama.

            Shayera concordou. Realmente precisavam conversar. Na primeira vez, o desejo de estarem juntos falou mais alto, e não conseguiam pensar em nada além. Noite passada foi igual. Mas não poderiam ficar naquela para sempre. Tinham que se encontrar num ambiente neutro, onde o desejo não tivesse vez. Ela pensou e decidiu.

            ─Vou falar com Diana e pedir para me encontrar com você no quarto dela. Assim poderemos conversar...

            ─Por que Diana?

            ─Talvez ela tenha percebido que há algo entre nós. Ela pode ajudar a gente.

            ─Tem certeza?

            ─Não. Mas precisamos nos resolver.

            ─É fácil. Você se separa do John e fica comigo.

            Seu casamento mal havia começado. Ela gostava de Wally, mas também gostava de John. Sabia que John era o homem de sua vida. O homem por quem sempre foi apaixonada. No entanto, Wally se tornava o amor de sua vida. Aquela paixão arrebatadora, que não a deixava pensar direito. Ela amava os dois, mas de maneiras diferentes. Eles eram homens muito diferentes.

            Não era a hora para pensar no assunto. Em um outro momento, com calma. Não agora, em seu desespero para sair. Desvencilhou-se dos braços de Wally, e correu para a porta. Parou. Teve a impressão que fugia, mas ela não queria fugir.

            ─Venha aqui. ─Chamou.

            Ele obedeceu e se aproximou dela. Shayera o abraçou, juntando suas testas.

            ─Eu adoro você e vamos resolver da melhor maneira para todos nós. Sim?

            Wally assentiu, e colou seus lábios nos dela. Shayera tateou, e a porta se abria. Separaram-se do beijo rapidamente. Ela sorriu, acenou e se afastou. Como da outra vez, observou-a, até desaparecer no corredor. Quando não conseguia mais vê-la, voltou para o quarto. Eles estavam muito enrolados. Só esperava sair inteiro dessa aventura.

*****

            ─Você não dormiu aqui. ─Sua voz saiu baixa, magoada. John ergueu o olhar para fitá-la. ─Onde esteve?

            Shayera fechou a porta atrás dela. Suas roupas amassadas eram as mesmas que ela usava no dia anterior. No entanto, John também não havia se trocado. Ele ficou a noite inteira sentado, esperando por ela?

            ─Eu, ah... ─Ela não sabia o que dizer.

            ─Não minta para mim, Shayera. Onde esteve?

            ─É complicado, John.

            ─O que há de complicado? ─Ele ficou de pé. ─Fiz uma simples pergunta.

            O tom de John crescia algumas notas. Segurou-lhe o braço com força, mas ela se soltou. Ele merecia uma explicação, e talvez estivesse certo em ficar nervoso, contudo aquela atitude a irritada.

            ─Olha, John, o que acha de conversarmos quando estiver mais calmo? Eu volto outra hora.

            Assim, Shayera saiu. John se encontrava sozinho em seu quarto, como minutos antes. Sentou na cama, atordoado. Eles estavam tão bem antes do casamento. Tudo mudou naquela noite. O que acontecia agora?