CAPÍTULO 6: UMA OBSESSÃO

— Desenhando está garota de novo.

Ouviu uma voz familiar e irritante atrás de si. O rapaz pálido apenas ignorou o homem parado atrás do sofá que observava o que fazia no seu bloco de notas. 

— Dês que te conheço você sempre desenha este mesmo desenho e nunca fica satisfeito, não cansa não? 

Sentiu o sofá afundar ao seu lado.

— Madara você não tem coisa mais importante a fazer não? 

Se pronunciou ainda prestando atenção no que fazia. 

— Já entreguei o que tinha de entregar, você não tem mais nada a fazer aqui.

— Sempre me expulsando. - Resmungou o mais velho. - Ficarei até me certifica que você começará a próxima pintura logo ao invés de ficar desenhando a mesma coisa sempre. Você quase atrasou a última pintura por causa desta garota que nem mesmo lembra mais de você.

Repentinamente o garoto se levantou.

— Irei começar agora mesmo então pode ir embora. 

O homem não conseguia decifrar se o rapaz estava irritado, sua voz era neutra e não usava expressões.

Antes que o mais velho dissesse algo ele logo adentrou um dos cômodos, não demorou muito e logo saiu do mesmo segurando algumas coisas.

— Vai sair? Hoje não seria seu primeiro dia de aula? Irá se atrasar desta maneira.

— Não vou.

Foi a única coisa que disse ao passar pela porta do apartamento. 

Ouviu a porta batendo forte e logo depois o apartamento ficou em silêncio novamente. O mais velho soltou um suspiro cansado.

— Por isso odeio jovens.

Resmungou se levantando do sofá. 

***

O rapaz acabava de sair do prédio em que morava, o sol brilhava e os pássaros cantavam, um belo dia para sair de casa. No caso do garoto pálido ele preferia ficar em seu apartamento desenhando, porém Madara um comerciante de pinturas estava lá para encher sua paciência.

Sai se mudou para aquele apartamento a pouco tempo, havia se livrado de seus pais e assim se livrando da empresa que o obrigavam a administrar. Não tendo mais o sustento de seus pais o garoto teve que se virar com o dinheiro, algo que não o preocupava já que suas pinturas sempre faziam sucesso ganhando uma boa grana com isso. 

O rapaz se sentou em baixo de uma cerejeira que havia na calçada de seu prédio, observou as pétalas caírem por um tempo, aquele tom de rosa sempre lembrava ela, não adiantaria ele tentar evitar as árvores de Sakura, pois mesmo sem elas aquela garota nunca saia de sua cabeça. 

"Você quase atrasou a última pintura por causa desta garota que nem mesmo lembra mais de você." 

As palavras do mais velho ecoaram em sua cabeça. Será que ela realmente não lembrava mais dele? Por todos estes anos a garota de cabelos rosas assombrou seus pensamentos, fazendo o garoto sentir um grande desconforto em seu coração, fazendo com que a desenhasse várias e várias vezes apenas pelas lembranças que tinha dela. Não suportava tê-la apenas em suas lembranças, queria saber loucamente como a garota estava depois desses anos, sua pele continuava branca e lisa como naquela época? Ainda se encaixava perfeitamente com sua cor favorita?

Frustrado o garoto pegou sua tela de pintura. Novamente a garota havia deixado sua cabeça barulhenta. 

Estava tão concentrado que o tempo passou sem perceber o rapaz apenas tirou sua atenção da tela quando dois garotos barulhentos passaram correndo em sua frente. Os dois usavam o mesmo uniforme que havia recebido da escola, eles pareciam atrasados para a aula, Sai lembrou que também estudava na mesma escola, não pensava nem um pouco em ir.

Já fazia um bom tempo que não ia a escola, achava um desperdício de tempo ficar rodeado de idiotas ignorantes enquanto o professor fala algo que ele já sabe. O rapaz sempre foi um gênio, tirando as notas máximas da escola. Ele sempre passou maior parte do tempo estudando não apenas o assunto de sua série, mas também assuntos mais avançados. Não valeria a pena aguentar tantos idiotas apenas para ouvir o que já sabe.

Voltou sua atenção para a tela, iria continuar o que fazia, porém alguém esbarrou em si fazendo com que seu pincel voasse de sua mão e seus pertences espalhassem pelo chão, por sorte o garoto segurou a tela firme e forte para não danificá-la.

— Si-Sinto muito eu não queria...

Ouviu uma voz feminina, a garota se agachou pegando seus pertences espalhados pelo chão. Observou que a garota usava um uniforme escolar, deduziu que ela também estava atrasada.

— Aqui está, por sorte não danificou nada...

Sai finalmente olhou para a garota, ele sentiu uma grande nostalgia quando seus olhos se encontraram com os olhos esmeraldas.

Era ela. Cabelos rosas e curtos, tão chamativos que era impossível confundi-los, olhos esmeraldas com o mesmo brilho de 7 anos atrás. E principalmente sua pele branca que parecia brilhar na luz do sol. Não conseguiu não reparar no traço de tinta preta de seu pincel que agora sujava a bochecha branca da garota. 

O rapaz sentia tantas coisas ao mesmo tempo que não conseguiu reagir apenas apreciou a garota parada em sua frente. Sentiu seu peito bater mais forte, tão forte que doía. O que era aquilo? 

— Sakura! O que está fazendo? Vamos logo ou perderemos a primeira aula de novo!

Uma voz masculino tirou a atenção da rosada de si, a garota quebrou a troca de olhares olhando para o outro lado. O rapaz não gostou disto.

— Me desculpe por isso.

A garota pediu desculpas novamente logo entregando seus pertences. Viu que a mesma ia se virar planejando voltar a correr.

— Espere.

A rosada voltou sua atenção para o garoto novamente, Sai sentia um grande incomodo por ela não estar o reconhecendo, e para piorar não conseguia parar de olhar aquela mancha de impureza que se espelhava em sua pele branca. Aquilo lhe dava vontade de suja-lá ainda mais. 

— Esta sujo.

Apontou para sua bochecha, o rapaz tentava evitar seus desejos estranhos que já tinha guardados a muito tempo.

— Esta tudo bem.

Lhe respondeu calma.

— Até que fica bonito.

Abriu um sorriso amigável para o rapaz.

Aquilo o pegou de surpresa, não esperava por esta reação. 

Aos olhos de Sai a rosada brilhava assim como em sua infância, a garota não havia perdido seu belo sorriso.

Quando voltou para si a rosada não estava mais em sua frente. Ainda distraído o rapaz começou a recolher seus pertences, pegando tudo ele voltou ao prédio. 

Abriu a porta de seu apartamento que agora se encontrava vazio, fechando a porta ele foi diretamente para seu quarto, jogou tudo em um canto o que não combinava nada com o resto do quarto que permanecia tão organizado. 

O rapaz sentou na beira de sua cama e passou a observar o seu uniforme escolar que se encontrava engomado preso em um cabide. 

Se sentia aliviado depois do seu reencontro, havia finalmente a visto novamente, sua aparência havia mudado bastante, porém o que mais lhe importava estavam intactos. Sua pele estava tão perfeita quanto antes, e o principal, sua personalidade ainda continuava pura e radiante. 

Porém não estava totalmente satisfeito, apenas aquele pequeno encontro não era o suficiente, queria vêla novamente. 

Inevitavelmente sua obsessão por sua pele apenas havia aumentado. 

Repentinamente o rapaz levantou-se indo em direção ao seu uniforme logo o tirando do cabide.

***

— Garoto você não pode mais entrar.

O mais velho que vigiava o portão impediu sua entrada na escola, abriu seu tipico sorriso falso logo falando calmamente.

— Sinto muito, mas sou novato, acabei de me mudar então acabei me perdendo no caminho.

Jogou uma desculpa qualquer para cima do mais velho, que desconfiou um pouco, porém logo o deixou entrar. 

Trocou seus sapatos e pegou rumo aos corredores vazios. Procurou sua sala por um tempo ate finalmente encontra-la, conseguia ouvir murmúrios vindo de dentro dela. Ele odiava aquilo, este tipo de ambiente sempre lembrava de seus tempos na escola, se por acaso não achasse o que procurava aquele seria o ultimo dia naquele lugar.

Sem enrolar deu algumas batidas na porta, as vozes cessaram e uma unica voz o mandou entrar. Imediatamente o rapaz abriu a porta mantendo o olhar em seu professor. 

— Sinto muito o atraso.

Falou mantendo seu sorriso e sua calma. 

  - Então você é o novato.

O mais velho o analisou por alguns segundos.

— Deixarei entrar apenas porque é o seu primeiro dia. Venha e se apresente.

Calmamente o rapaz fechou a porta atrás de si logo se aproximando de seu professor, parado ao lado do homem ele se virou para a turma, automaticamente seus olhos caíram no ponto rosa entre as pessoas, como se tivessem sido atraídos por aquela cor. Seus olhos se prenderam nas esmeraldas e ele não ousou desvia-los.

— Podem me chamar de Sai.

Foi a unica coisa que disse. Não se interessava em se apresentar, porem era obrigado, não planejava dizer algo como "Espero nos dar bem", pois ele planejava nem mesmo trocar olhares com aquelas pessoas, estava ali apenas por ela.

— Sai?

Ouviu a doce voz chamar seu nome, ainda mantinha os olhos fixados nas esmeraldas que demonstravam surpresa. 

Seu sorriso se alargou um pouco mais.

"Então ela lembra"

— Olá Sakura.