Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 33
Por Ironia do Destino


Notas iniciais do capítulo

Oláááá! :)

"A Teselecta está possuída... Disso eles já sabem. Mas, como se não bastasse ter causando toda essa confusão, o plano do vilão por trás de tudo isso é ainda mais ousado".



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Tudo escureceu. Luisa sentiu o corpo estremecer de leve enquanto era atraída como um ímã para dentro do robô Teselecta. Era muito estranho ter aquela sensação. Parecia que estava tudo se distorcendo ao seu redor, e então um baque: e ela sentiu novamente o chão embaixo de seus pés. Acabara de ser miniaturizada para dentro do robô. Desequilibrou-se um pouco logo a principio, já que não esperava o choque de seu corpo contra a base metálica da nave. Cambaleou vacilante para o lado, mas antes mesmo de estabilizar novamente o equilíbrio, sentiu duas mãos segurarem sua cintura; Ela ergueu a cabeça: O Doutor sorriu instintivamente, acalmando um pouco sua ansiedade interna.

—Onde nós estamos exatamente? –perguntou ela, franzindo a testa de leve.

—Esse é o robô Teselecta por dentro. Nós dois fomos miniaturizados por ele para podermos embarcar em sua base... –o Doutor deixou seu pensamento voar para longe, perdendo o rumo da conversa no meio da frase: parecia um pouco desconfiado. –Sou eu ou está quente aqui?

—Tem razão –disse Luisa. –Isso aqui está um mormaço! O que será que causou isso?

—Bem, temos aqui três opções viáveis; Alternativa A: A Teselecta está infectada por um vírus maléfico que mexe com as funções básicas do sistema, alterando a temperatura ambiente. Numero dois, ou alternativa B se preferir: Toda a energia da nave está sendo desviada e utilizada para algum fim produtivo e único, de modo que o aumento da potência do motor está causando um aquecimento interno do sistema. E a ultima opção, mas não a menos importante, a letra C, a terceira alternativa, ou, neste caso, a opção mais obvia de todas: Algum idiota desligou o ar-condicionado!

—Doutor... Você disse vírus? Vírus, como um vírus da gripe? Mas é um robô! Como pode pegar um vírus?

—Não é no sentido literal, é no figurativo. –explicou ele. –Pense bem: Até mesmo os computadores, que são máquinas, são diariamente infectados por programas que tentam remexer, bisbilhotar e até mesmo danificar o seu banco de dados. Eles estão expostos a esse tipo de invasão da mesma forma que um ser humano é exposto a um vírus. Entende? O contexto muda, mas a essência ainda é a mesma. Em suma: um vírus é sempre um vírus. Ele é sempre prejudicial... E se todas as unidades da Teselecta estiverem infectadas, como o próprio robô disse, então ele pode sim, estar sofrendo com as conseqüências das alterações do sistema padrão...

—Então o robô estaria... Ahn... Tipo assim, ardendo em febre? —sugeriu ela.

—Pode ser –insinuou o Doutor. –O sistema está sobrecarregado... Dá pra sentir isso no ar! As partículas quânticas estão pesadas. Alguma coisa está danificando as passagens de ar: Em breve será impossível respirar esse ar viciado, no interior desse pedaço de metal ambulante... Os controladores terão que se tele-transportar para longe da máquina, antes da sua auto-destruição... Quando isso ocorrer e se isso ocorrer, melhor dizendo, espero que já estejamos bem longe daqui...

Como é? Ele irá se auto-destruir? Mas nós estamos á bordo!—protestou ela, indignada. –Quer dizer então que nós dois acabamos de ser encolhidos para poder entrar á bordo de uma replica robótica de mim mesma que não vai fazer outra coisa, senão se auto-destruir...? Tá legal... Acho que isso pede uma dose extra de pânico...

—Não! Ainda não é hora de entrar em pânico –ele disse calmamente. –Ainda precisamos descobrir o que está causando isso tudo. Depois a gente pensa se vai considerar essa possibilidade...

—Doutor! –Luisa parou no ato. Sua voz subiu quatro oitavas. Ela dera alguns passos por conta própria, à frente do Doutor, mas acabara dando de cara com um estranho protótipo: uma espécie de robô em forma de água viva, com tentáculos prateados que se agitavam bastante embaixo da base em forma de cúpula. As coisas de metal flutuavam acima do chão e haviam surgido do nada, acabando lhe causando uma surpresa indesejada. Ela recuou vacilante, até suas costas esbarrarem em alguma coisa reta e amortecedora: o peito do amigo. Rapidamente duas mão envolveram seus ombros e ela foi passada para trás com cuidado: o amigo tomara sua frente, protegendo-a.

—Fique longe deles! –advertiu o Doutor. –São os guardiões da nave. Eles impedem que pessoas não autorizadas entrem á bordo... Eu já estive a bordo da Teselecta uma vez e vá por mim, você não irá querer se meter com esses caras...

—Doutor... –recomeçou ela.

—Fala.

—Nós não fazemos parte do pessoal autorizado, fazemos? –perguntou ela com receio de ouvir a resposta.

—Eu sinto muito. –disse ele. –Ai como eu queria ter terminado a minha pós-graduação na Academia dos Senhores do Tempo! Essa é uma daquelas horas em que você se pergunta se o seu histórico escolar faria alguma diferença...

—Tá legal... –contornou a garota. –Esqueça os tempos de escola! Se está procurando por referencias, então deveria ter me convidado para viajar com você daqui há três anos no meu futuro... Quem sabe até lá eu já estivesse formada em alguma coisa que fosse útil agora...

—Só se você fizesse um curso de mágica, porque eu adoraria desaparecer dessa nave agora... –brincou ele meio tenso. –Foi mal. Eu sei: péssima hora para contar piadas! Bem, não se preocupe tanto com suas formações, alguma coisa me diz que eles não vão cobrar isso de você... –as criaturas iam se aproximando e eles iam recuando lentamente contra o corredor contrário. 

—O que são eles exatamente? –proferiu Luisa.

—Lembra daquele papo que tivemos antes sobre computadores com vírus? Bem, acho que acabamos de encontrar os anticorpos da Teselecta... –disse ele arregalando os olhos.

—Certo... E o que nós faremos agora? –disse ela, um quê de preocupação na voz. –Anticorpos, você disse? E isso é bom, não é? É uma coisa boa? Tipo assim: eles vieram apenas nos dar boas vindas, certo? Por favor, diga que sim...—suplicou ela.

—Anticorpos só aparecem em uma situação: quando há intrusos. Eles são responsáveis por expulsar o vírus causador da moléstia, do corpo do indivíduo infectado...

Ai meu Deus! Os anticorpos acham que somos um vírus!!!—disse ela extasiada.

—Mantenha-se calma. Não reaja, senão as coisas podem tomar um rumo sem volta... –aconselhou ele erguendo os braços para cima em sinal de rendição. –Fique parada que talvez eles vão embora...

—Está brincando? –questionou ela pouco crente. –Está bancando o engraçadinho de novo para tentar me fazer sentir melhor?

—Mas que droga! Você descobriu o plano todo... –disse ele desatento. –Nada passa em branco por você, não é? Tem razão: Eu só estava tentando acalmar nossos nervos! Infelizmente eu tenho a péssima mania de contar piadas quando fico nervoso... Não consigo evitar!

Eles recuaram até onde conseguiram: pararam contra uma porta que encerrava a passagem de fuga do corredor. Não havia para onde ir. Eles pararam de chofre e os anticorpos dirigiram-lhe a palavra:

Informação: Invasores detectados! —disse uma das criaturas de metal. –Vocês foram scanneados e não foram encontrados nos arquivos do pessoal autorizado! Portanto não fazem parte da tripulação...—ele fez uma pausa e os dois engoliram em seco. –Fiquem calmos, nós apenas neutralizaremos sua existência nos próximos minutos... Não se dêem o trabalho de ficarem alterados: isso pode dificultar o processo. Medo é um sentimento comum nessas circunstancias, mas será rapidamente dispensado quando vocês forem incinerados... Tentem não se abalarem. Os que passam pelo processo tem sempre antes o direito exclusivo do nosso pacote especial de informações: Sim: Vai doer.

A criatura de metal foi se insinuando para cima deles. Luisa fitou o Doutor, exasperada: mas ele tinha uma carta na manga.

—Tá legal –disse ele, fitando a garota com os olhos cheios de adrenalina, como se bem no fundo estivessem felizes com aquela confusão toda. O rapaz abriu um sorriso ousado para ela, dizendo por fim, ao mesmo tempo que escorregava a chave sônica para fora do bolso da calça com as mãos e apontava-a contra a porta selada ás suas costas: -CORRA!

O rapaz agarrou sua mão e arrastou-a para longe dali. No primeiro minuto estavam encurralados contra uma porta de metal no fim de um corredor, mas no momento seguinte estavam percorrendo a extensão de outro corredor, afastando-se o mais depressa possível das águas vivas flutuantes.

—Por que eu sinto que quanto pior fica, mais você gosta? –indagou ela, cismada, tentando acompanhar o ritmo dele.

—Impressão sua –interveio ele, contradizendo os traços alegres em seu rosto.

Luisa arriscou olhar para trás no meio da correria: as criaturas flutuavam devagar, mas de alguma forma estranha, pareciam não estar em tanta desvantagem. Era como se, por mais que se distanciassem dos dois, ainda estivessem sempre perto de apanhá-los. Sua lentidão começou a causar um certo desconforto em Luisa; o tempo todo era como se os anticorpos fossem um leão á espreita, calculando seus próximos passos lentamente, por trás da relva, sem pressa nem ansiedade, já sabendo exatamente como seria o fim da sua presa.

Correram por uma ala isolada, sem anticorpos á vista. Mesmo assim não desaceleraram o passo em nenhum momento. A agitação ainda percorria seus corpos quando avistaram sua salvação assinada: um elevador. Correram direto para dentro dele, freando o passo só depois de já estarem com as caras contra a chapa de metal nos fundos da pequena cabine prateada que era o elevador. O Doutor não hesitou na hora de apertar o botão que o ligaria; No entanto as portas mantiveram-se abertas na mesma posição. Apenas uma voz gravada de uma mulher ressoou por dentro do espaço, alguns segundos depois.

“Bom dia. Sejam muito bem vindos aos serviços Teselecta. Em que posso ser útil?”

—Tire-nos daqui! –disse o Doutor, a voz um pouquinho alterada.

“Informe seu destino”

—O quê? –indagou Luisa, ficando pasma logo depois. –Doutor, olha!—avistaram logo de relance um agrupamento de anticorpos flutuantes ressurgindo da outra extremidade do corredor, deslocando-se lentamente até eles.

“Informe seu destino”

—Eles estão chegando perto! –disse ele agitado. –Precisamos sair daqui!

“Informe seu destino” 

—Mas como, se essa coisa não funciona?

“Informe seu destino”

—Anda! –o Doutor apanhou a chave sônica e apontou-a contra as portas do elevador, tentando forçá-las a se fechar: o metal nem rangeu. –Vai porcaria, funciona!

“Informe seu destino”

Doutor!!!

Ele fitou-a com os olhos arregalados: os anticorpos já estavam na metade do caminho.

—Um destino? Mas que raio de destino? Um andar você quer dizer?

“Informe seu destino”

—Vai logo! Diz qualquer andar pra ela! –grunhiu Luisa, desesperada.

“Informe seu destino”

—Andar 42! Vamos lá! Eu já disse: Andar 42!—brandiu ele no ultimo segundo.

Um silêncio se fez no recinto de modo que um dos anticorpos já começava a atravessar as portas do elevador, quando a voz ressoou de novo, dessa vez de modo atrevido:

“diga: Por favor.”

Por favor! Por favor!—gritaram os dois ao mesmo tempo. Quase no mesmo segundo, as portas se fecharam em uma velocidade assustadoramente rápida, como duas lâminas, e cortaram na metade o anticorpo que estivera para entrar na gaiola de metal. A metade que estivera do lado de dentro caiu sobre o chão, imóvel, ao que a dupla encarou-a com um arrepio na espinha: do mesmo jeito que o anticorpo foi cortado, poderiam ter sido seus pescoços no lugar dele.

—Tudo bem então –tentou recomeçar o rapaz, de onde haviam parado. –Acho que agora podemos começar a considerar aquela hipótese antiga, de sentirmos pânico...

—Nem brinque com isso! –falou a garota, ainda chocada. O Doutor percebeu a reação dela e aproximou-se:

—Você está bem?

—Estou sim. Se dizer“estar bem” for apenas um jeito de se tentar contornar as coisas...

Ele emparelhou-se com ela, ficando ao seu lado, e estendeu-lhe a mão. Luisa encarou o membro por um momento então segurou-a com firmeza. Naquele momento eles precisavam mais do que tudo ficar juntos e se fortalecer, já que não sabiam o que viria pela frente. 

No mesmo instante, como se houvessem escutado seus pensamentos, uma televisão pequena ativou-se ás suas costas, na chapa de aço e o rosto de um homem loiro vestindo um uniforme vermelho apareceu na tela.

—Olá? Estão aí?

—Ah, olá! –disse o Doutor animado, voltando-se para a televisão. –Como vai?

—Não muito bem, senhor. A Teselecta já não é a mesma há tempos... –disse o homem casualmente.

Falavam tão normalmente um com o outro que até pareciam antigos conhecidos. Isso seria impossível, a não ser que...

—Doutor, você mencionou já ter estado na Teselecta antes... –começou a garota. –Não estaria se referindo precisamente à essa Teselecta, não é?

—Isso já faz muito tempo... –ele deu um breve sorriso para o homem da televisão. E não precisou responder a pergunta de Luisa: seus olhos disseram tudo.

—Que bom que veio Doutor –o homem fez um sinal positivo com a cabeça. –Precisamos muito da sua ajuda...

—É... Parece que já é hora de pagar o favor –disse o Doutor, recordando-se da ajuda que recebeu da ultima vez que encontrou a Teselecta. –Vamos com isso então: O que posso fazer por vocês?

—Não sabemos qual o problema da Teselecta, senhor. Nós perdemos o controle! Ultimamente ela tem agido por conta própria, como se alguma coisa a estivesse controlando á distância...

—Vocês já verificaram os sistemas de ventilação?

—Sim. Nós o fazemos todos os dias scannando o sistema completo, mas sempre chegamos à mesma conclusão: Não há nada interferindo nos controles.

—Será que eu posso dar uma olhada na sua sala do motor? Quero dar uma inspecionada eu mesmo antes de tomar qualquer conclusão precipitada...

—Mas é claro senhor: As coordenadas da sala do motor são andar 25, ala10-B. Você desembarcará bem no centro de todo o nosso sistema: o coração da máquina.

—Sem ofensa, mas porque já não foram verificar vocês mesmos essa ala? –perguntou Luisa curiosa.

—Nós tentamos –explicou o rapaz na tela. –Mas isso exigiu muito da nossa tripulação. Ninguém que tentou se aproximar da ala central conseguiu retornar de lá vivo. –um ar pesado tomou o espaço pequeno e viciado do elevador. O controlador principal continuou: -Hoje estamos nos contentando em ficar presos dentro da sala de controles principal. Não foram muitos os que sobraram depois do dia da atualização. Muitos de nós estavam no meio de tarefas que envolviam energia e acabaram sendo eletrocutados no meio do processo. Os sobreviventes se acumularam todos na sala de controle. Esperamos agora por um milagre, Doutor! E então você apareceu... Somos muito gratos por sua ajuda!

—Não se incomodem com isso. –interveio o Doutor. –Eu e Luisa nos preocuparemos em tentar permanecer vivos até o fim da inspeção. -a garota franziu o cenho em resposta a sua afirmativa. Como assim “Tentar”?

—Obrigado Doutor, cambio e desligo. –disse o homem, mas antes que sua imagem pudesse desconectar-se com a TV, eis que ocorreu um imprevisto conturbado. Do nada o elevador parou com um tranco, como se interrompesse o processo contra sua vontade, e uma fumaça verde começou a escapulir dos cantos do elevador e se espalhar por todos os quatro lados apertados da cabine prateada. O Doutor e Luisa começaram a tossir incontrolavelmente: a fumaça era tóxica, além de ter componentes que tiravam a sensibilidade dos membros e causavam sonolência. O Doutor socou as portas, tentando forçar passagem, mas aos poucos foi sentindo o corpo pesar como chumbo e uma fraqueza mútua tomou-o por completo. Com Luisa foi o mesmo. Ela foi perdendo o equilíbrio, até dar-se por si deitada sob o chão, encolhida e já sem forças. A ultima coisa que viu foi o amigo cair de joelhos ao seu lado e desmaiar. Ela já não sentia os membros, a visão ficou turva, só conseguiu esticar sua mão com dificuldade e alcançar a mão do amigo. No exato segundo em que o fez, também deu seu ultimo suspiro.

*   *   *

Melissa adentrou na casa de Luisa como um furacão e encontrou a amiga sentada no sofá, segurando um ursinho de pelúcia no colo.

—Luisa do céu! Você não sabe o que me aconteceu... –ela disse um tanto exasperada. Melissa devia ter notado que havia algo de estranho com a outra, já que ela só erguera um pouco a cabeça, os olhos um tanto vazios, indiferente de tudo e de todos ao redor, mas como estava muito aturdida, acabou nem notando a diferença. –Eu estava prestes a usar o lápis quando uma mulher doida apareceu e me ajudou a apagar a mente de todo mundo! Foi muito bizarro, mas me fez ganhar tempo... Bem, indo direto ao assunto, eu segui aquela “coisa” lá do shopping e descobri que a organização para quem eles trabalham não punia qualquer cristão que aparecesse em sua frente! Eles não são policiais, são justiceiros! Eles só punem os que fazem algo muito extremo, tipo assim: matar uma centena de pessoas. Mas nós não fizemos nada nem perto disso! Somos inocentes e precisamos provar isso para eles antes que seja tarde!!! E tem mais: eu descobri onde o Ned está! Estão mantendo ele em cativeiro, usando-o de isca para atrair você... Mas parece que também querem tirar satisfações com ele. Não imagino o que uma organização barra pesada como esta iria querer com um garoto normal como ele... Você não concorda que isso tudo é muito estranho? Luisa? Você está me escutando...?

A garota só ergueu a cabeça, impassível.

Esse garoto: Ned. Está dentro da outra unidade? Pode dar as coordenadas específicas de onde ela está se escondendo? —perguntou a duplicata de Luisa.

—Posso fazer mais do que isso: posso te levar até lá—sugeriu Melissa, ainda sem notar a diferença em Luisa. Era incrível como as pessoas nunca notavam as coisas mais obvias.—Vamos, ou você vai ficar aqui esperando pelo “cabeça de vento” do Doutor?

—Doutor? Quem precisa dele? Vamos logo com isso! –essa indireta causou um baque esquisito em Melissa, como um mau-pressagio, já que a amiga nunca tinha dito uma coisa dessas sobre o rapaz, estando em sanidade normal. Contudo, acabou ignorando seu pressentimento no fim das contas: puxou o lápis impossível do bolso e traçou no ar um novo atalho dimensional para chegarem em breve ao esconderijo da Teselecta. Melissa fez sinal para Nik seguiu-a, mas o cão o fez sem abrir a boca. Ele podia falar, mas achou melhor não surpreender sua dona nesse dado momento, já que ela parecia estar muito estressada. O trio entrou no portal e sumiu, deixando a casa e tudo mais para trás.

Os três atravessaram o portal criado pelo Lápis Impossível. Era uma experiência parecida com a de se estar pisando em nuvens azuis que rodopiavam lentamente em movimentos espirais. Poderia ser facilmente comparado com o Vortex do Tempo, só que era menos agitado do que lá. No momento em que chegaram na metade do túnel temporal, avistaram na outra extremidade uma nova porta. Melissa tomou a frente e abriu-a com a perspicácia de quem abriu portas dimensionais durante uma vida toda. As duas garotas passaram, seguidas do dálmata. A imagem a diante trouxe certas dúvidas: Era um lugar velho e poeirento, com feno espalhado pelo chão.

—O Farol da costa leste –identificou Melissa. –Foi aqui que o sinal da criatura do shopping veio parar...

—Faz sentido –proferiu a duplicata de Luisa. –Esse é nada menos que o lugar por onde chegaram todas as Teselectas que se espalhariam por essa área... Á procura de vocês.

—Quer dizer, “á nossa procura”, não é? –acrescentou Melissa, erguendo uma sobrancelha. –Não se esqueça que você também está sendo incriminada! E o seu “pegueti do shopping” também. Não sei o que querem com ele, mas que a atitude foi suspeita, ah... Isso foi!

A Teselecta apenas encarou-a, com uma carranca pouco atraente. Seus olhos, baixos, estavam bastante sombrios sobre as circunstancias locais: o lugar estava quase todo escuro. Ela caminhou até uma janela do farol, que era banhada pela luz do sol, e espiou através dela: Vislumbrou o mar logo abaixo, que espreitava violentamente a base da construção e, mais à frente, a praia litorânea da cidade em que as garotas moravam.

—Dá pra ver o shopping daqui –disse Melissa á sua direita. A Teselecta olhou-a com mais precisão, como se, pela primeira vez na história, tentasse transmitir alguma emoção a partir dos músculos da face. Por um segundo, deu-se a perguntar o porquê estivera perseguindo-a; na real, ela não parecia ser nada má...

—Vamos logo com isso! –ordenou o robô, contra sua vontade: ainda havia alguma coisa ou alguém que conseguia controlá-lo acima dele próprio. Até mesmo o piloto miniaturizado da estrutura não estava gostando do rumo que aquilo ia levando. Sem que ele ordenasse, o robô caminhou na direção de Melissa e encurralou-a contra a parede. As mãos prensando forte sua cintura, de modo que ela gemia angustiada.

—Mas o que é isso? –brandiu ela assustada, tentando se desvencilhar das mãos resistentes como ferro, da Teselecta. –Você não é a Luisa...

Nik latia muito. Ele queria de toda forma defender a dona. Dentro do robô, o mesmo rapaz que mais cedo falara com o Doutor e Luisa por um tele-comunicador interno do equipamento, agora erguia-se da sua poltrona de capitão e caminhava decidido, rumo à uma caixa de acrílico presa á parede, com um grande botão vermelho atrás. Ele abriu a escotilha e ameaçou apertar o botão.

—Não! Não faça isso! –gritou uma moça morena, com fones de ouvido e microfone portátil. Uma das tripulantes que também dirigia a máquina. –Vai acabar dando pane nos circuitos que ainda estão funcionando!

—Não temos escolha, ora! –respondeu o rapaz, alterado. –Ou fazemos isso, ou deixamos que a Teselecta mate um inocente. Não temos muita escolha...

—Com todo respeito senhor, mas você colocará a Teselecta toda em quarentena se fizer isso! –alertou um outro rapaz, também de fones nos ouvidos, tentando recuperar os movimentos da máquina.

—Não podemos deixá-la morrer! –grunhiu o capitão estressado. –Ela é uma peça importante para toda a trama. Sabemos que ela não morre hoje, nem aqui. Não podemos mudar a ordem das coisas, afinal, estamos caçando os que praticam atos como esse... Teríamos então que caçar a nós mesmos!

Os tripulantes se entreolharam, vencidos.

—Imaginei que todos entraríamos em um acordo cedo ou tarde –falou o capitão. –Bem... Lá vamos nós! –ele fechou os olhos e apertou o botão com força.

Do lado de fora do robô, Melissa arregalou os olhos quando a Teselecta cambaleou para trás e desmaiou, estatelando-se no chão de costas. Foi um desmaio perfeito, o que era comum para uma Teselecta, mas Melissa estranhou muito o ocorrido e ajoelhou-se ao lado da duplicata para verificar se ela ainda estava viva.

—Se você não é a Luisa... Então, onde ela está? –perguntou a garota confusa, para o robô imóvel. Nik veio então ao seu encontro e sentou-se junto dela. A garota abraçou o cão com fervor.  –Que dia maluco Nik... Nem sei o que me falta acontecer! Está tudo de cabeça para baixo...

Nem me diga!—falou o cão, ao que a garota levou um susto imediato com a fala inesperada proferida pelo cachorro e tombou para o lado, desmaiando também, ao lado da duplicata. Nik ficou parado no mesmo lugar que antes, sem se mover. A língua de fora de tanta euforia. -Foi alguma coisa que eu disse?

 

*   *   *

O Doutor mexeu o maxilar de leve. Aos poucos foi abrindo os olhos... Quando finalmente o fez, descobriu-se de bruços, amarrado em cordas muito firmes. Ele tentou se soltar, mas logo constatou que seria preciso muito esforço e ele ainda sentia-se fraco por ter inalado o gás do elevador: Sonífero ultra-forte. Conseguiu mudar de lado, deparou-se com Luisa adormecida á sua direita, nas mesmas condições que ele se encontrava: amarrada. O Doutor então pôs-se a chamá-la, mas como ela não respondia, ele silenciou, observando o lugar ao seu redor: estavam em um tipo de sala das máquinas. Onde ficava a maquinaria pesada que fazia a Teselecta funcionar, onde os controles dados pelos comandantes eram recebidos e reconhecidos, onde ficavam os motores... Motores! É isso! O Doutor queria mesmo chegar à sala dos motores. Só não esperava chegar lá nessas condições. Com muito cuidado, ele conseguiu se sentar:

—Mais que droga! –o Senhor do Tempo começou a esfregar as mãos amarradas contra uma haste de ferro ás suas costas, tentando se soltar.

—Não adianta camarada, essas cordas são revestidas com fios de aço puro: Duas vezes mais resistentes, sacou?—disse uma voz robótica, debochada, que ressoou por todo o lugar.

—Oh! Então quer dizer que eu não estou sozinho aqui? Ah! Mais que maravilha! Sabe, eu estava conversando com a minha companheira de prisão, mas ela pegou no sono... Graças a Deus você apareceu, eu já estava ficando entediado de ficar falando sozinho –brincou ele, carismático. –Então, você é a tal “entidade” que possuiu todas as Teselectas? Porque se for, eu gostaria de fazer uma reclamação: acho que esses não deviam ser modos de receber os visitantes...

A voz gargalhou prolongadamente e a testa do Doutor se enrugou.

—Eu perdi a piada? -contestou. –Acho que deixei essa escapar. Será que podemos passar para o replay? Eu gostaria de poder rir também...

—A piada aqui é você, meu caro! Vejo que continua o mesmo de sempre. O mesmo tolo de sempre. O mesmo velho metido à sabe-tudo...

—Ah! Então já nos conhecemos, pelo visto –constatou o Doutor: as sobrancelhas erguidas.

—Talvez sim, talvez não. Quem sabe? –riu a voz, incontrolavelmente. Dessa vez, o Doutor ficou impassível.

—Eu posso perguntar o que é tão engraçado?

—Mas é claro que pode. Estou rindo do seu cadáver morto... Espremido contra os motores super-potentes da Teselecta, ligada a máxima potência...

As sobrancelhas do Doutor se ergueram ao mesmo tempo.

—Pois é amigo... Então você deu azar, porque eu ainda estou vivo...

—Disse bem: Ainda.

O maxilar do Doutor tremeu.

—Quem é você? Do que está falando? Por que dominou a Teselecta? Por que veio atrás de nós? Eu sei que você veio pegar algo... Então me diga o que é!

Você não acreditaria...

—Ah! Aposto que acreditaria... –interveio o Doutor, bem humorado. –Por que não experimenta me contar?

—Porque eu terei que matá-lo logo após revelar o meu plano...

O Doutor mordeu o lábio inferior com vontade.

—Pensando bem... Se é um segredo tão importante assim, então, talvez seja melhor continuar sendo um segredo, não concorda?

—Como eu disse: O mesmo tolo de sempre...

Dessa vez o Doutor rangeu os dentes.

—O que você quer? –disse irritadiço. –Fala pra mim!—gritou.

—Estou rastreando todos os Viajantes do Tempo. Coloquei todas as Teselectas de Plantão atrás desse tipinho. Preciso de uma coisa que só um desses tem. Por acaso você viu um viajante do tempo por aí?

—Está de brincadeira? –perguntou o Doutor, intrigado. Aquele cara, seja lá quem fosse, sabia como jogar. Mas o Doutor também era muito bom de estratégia e não deixaria essa deixa passar despercebida: -Eu não. Até porque esse “tipinho” como você mesmo disse, é muito raro de se encontrar... –ele derrubou a chave sônica para fora do bolso do casaco, disfarçadamente e, com o pouco da mão que ficou solta das amarras, ele suspendeu-a e ativou-a contra a corda de tiras de aço, que rapidamente se soltou. O Doutor pulou e se pos de pé em um salto só. –Mas se quiser uma dica, é melhor não se meter com ele, quem seja, pois a coisa pode ficar muito, mais muito feia pro seu lado! –o Doutor apontou a chave para o teto e explodiu uma fileira de lâmpadas vermelhas. No mesmo instante, usando a ação como distração, em meio á poeira e ao vapor das máquinas voltando a funcionar, o rapaz desamarrou Luisa com a chave sônica em um estalar de dedos e apanhou-a em seu colo. Correu com a garota em seus braços (ao som de Love Me Like You Do –Ellie Goulding), e disparou em meio a uma porção de explosões causadas pelas lâmpadas que entraram em curto e espalharam o fogo pela ala dos motores. Ele apertou ainda mais o passo por entre os corredores de maquinaria; Onde estaria a saída para aquele labirinto? O Doutor freou em uma esquina, já estava suando por conta do calor excessivo, quando a voz novamente deu as caras:

—Já está cansado? Como você ficou fracote! Costumava correr muito mais antes... Onde está a diversão nisso? Se não pode me dar o que quero, pelo menos poderia me divertir um pouco...

Aí você já está começando a abusar!—retrucou o Doutor, voltando a correr com a garota no colo, ainda desacordada.

Percorreu mais algumas fileiras de corredores, até chegar em um ponto critico: na outra extremidade do corredor vislumbrou a saída de emergência. Lá estava ela: a sua única esperança de escapar daquele inferno de máquinas. Ele correu com ainda mais afinco, o desespero se mesclou á confiança... Ele ia conseguir. Ia, se não fosse por uma escotilha que se abriu quando só faltavam alguns metros para alcançar a porta. O Doutor derrapou, quase caindo de bobeira no buraco logo a baixo. Como a própria voz dissera anteriormente: ela queria vê-lo morrer espremido em uma das máquinas, e que jeito melhor de fazer isso que pegando-o de surpresa? O Doutor recuperou o fôlego.

—Você é bem esperto –admitiu em alto e bom som, para agradar a voz. –Mas eu sou ainda mais! Allons-y! —ele jogou a corda de aço, que era mais forte que uma corda comum, contra um pequeno gancho de segurar cabos preso no teto, amarrou a outra ponta em si próprio e, sem nem mesmo ter tempo de pensar em sentir receio, arremessou-se contra a escotilha, conseguindo sentir de perto o calor das maquinas alimentadas com chamas ardentes. Por pouco a corda não desceu de mais a ponto dele não conseguir subir de novo, mas novamente seus cálculos estavam certos: o impulso foi suficiente para conseguir emergir para a passagem na outra extremidade do buraco. Quando seus pés tocaram o chão, ele continuou a correr, como se nunca tivesse parado para saltar, então ocorreu que no meio do trajeto, Luisa acordou alarmada:

Doutor? Mais o que é isso? Estamos fugindo? Conseguimos? Quando foi que nós saímos do elevador?

Sou eu. Estamos fugindo. Não sei como escapamos do elevador! Por favor, não faça mais perguntas, estou ficando sem fôlego de falar tanto enquanto corro...

—Tá legal! –ela se agarrou mais ainda ao pescoço dele, com medo de cair, ficando bastante imóvel enquanto ele a carregava.

—Precisamos dar um jeito de sair daqui! –brandiu o Doutor.

—Que tal se nós pedirmos alguma informação? –sugeriu Luisa. Eles percorreram um corredor cheio de portas e foram de encontro com a ultima, no fim do corredor.

—Aqui dentro? E quem é que vai nos ouvir?—o Doutor empurrou a porta e uma porção de talvez trinta ou mais cabeças viraram-se para eles aturdidas: estavam na sala de comando, onde uma parcela da tripulação estava toda reunida discutindo a situação atual da nave. Porém, quando entraram, irrompendo na sala sem aviso prévio, a atenção geral foi voltada toda para eles. O Doutor pôs a menina em pé, a porta ás suas costas se fechou e eles levaram um breve susto, sobressaltando-se para frente, em reflexo.

—Doutor! –disse o comandante, capitão da Teselecta, dirigindo-se a eles, abrindo caminho entre os demais tripulantes. –Vocês conseguiram sobreviver... Muito bem! E vejo que também deram uma passadinha na nossa sala de motores...

—Sim comandante, mas acho que não é a melhor hora para fazermos um tour pela sua Teselecta. Ela endoidou de vez! E também tem uma voz... –tagarelou o Doutor, de uma só vez, mas o comandante o interrompeu.

—Poupe o fôlego, meu amigo! Vamos precisar de você intacto se quisermos sobreviver á isso... –disse o comandante. –A Teselecta está em uma fase de reparos. É perigoso ficar andando por aí sozinho, afora dessa porta. A sala de comando é a mais segura da nossa nave, portanto estamos seguros aqui dentro. Pra vocês verem como a situação está critica, nem sei como está a situação afora dessa sala: tudo porque os sistemas de tele-comunicação foram cortados! Não há como saber quantos tripulantes mais estão vivos em toda a nave... Não temos mais controle sobre a situação! Por isso precisamos de você... –ele pôs uma mão no ombro do Doutor e sorriu, trazendo um pouco de esperança, ao ambiente tenso. –Não sobrou muito que ainda possamos fazer, mas a Teslecta tem um plano de emergência: se a nave entrar em pane, temos um recurso de concentrar toda a energia reserva para tele-transportar toda a tripulação de volta á nossa base. Mas, nas circunstancias atuais é perigoso executar os protocolos de emergência, já que não temos mais o controle da Teselecta e não conseguimos prever para onde seremos enviados. Entretanto, ainda podemos usar essa energia para algum fim útil... –ele sorriu abertamente. -Nós vamos tirá-los da Teselecta e enviá-los de volta ao mundo lá fora.

*   *   *

Melissa recobrara a consciência com alguém dando tapinhas leves em suas bochechas rosadas. Abriu os olhos e viu Luisa, segurando-a deitada em seu colo e, um pouco mais atrás o Doutor, analisando alguma coisa com a chave sônica e os olhos de armação quadrada na ponta do nariz, muito concentrado, como era de seu feitio. Porém ela foi arregalar os olhos ao ver Nik se aproximar: provavelmente foi bombardeada pelas lembranças de antes do desmaio: Como assim o cão sabia falar?   

—Ih! Isso é um alonga história Méli... E nós não temos muito tempo para isso agora... –explicou Luisa.

—Mas ele falou! Eu ouvi! –jurava ela. O cão só a observava atentamente. –Por que não fala agora, Nik?

O cão pulou em seu colo, ainda emudecido e ela ameaçou acariciar seu pelo, quando:

Bom, já que insiste: OLÁ!—disse o dálmata, ao que ela recuou a mão imediatamente, soltando um gritinho abafado. –Ah! Qual é? O que é preciso fazer pra ganhar um carinho hoje em dia, sapatear? —falou ele chateado.

Tá legal, vocês também ouviram isso, não é? Me diz que não sou só eu que ouvi esse cachorro falar... –suplicou Melissa.

—Não. Eu também ouvi –disse o Doutor.

—Você não conta. É louco de pedra! Eu preciso comparar a minha sanidade com alguém são de verdade...

Ei!—protestou ele.

Se serve de ajuda: eu também posso ouvir. –manifestou-se Luisa. –Fica calma Méli que agora nós temos coisa mais séria pra nos preocupar...

—É mesmo! Tinha uma Luisa que não era você... Acho que era uma daquelas coisas do shopping... –falou Melissa.

—E era mesmo! –afirmou Luisa. –Mas essa é tipo assim: “do bem”. Eles estão sendo controlados! Nenhuma das Teselectas... É assim que se chama o robô, bem, nenhuma delas é culpada pelas suas ações. Eles não estão caçando agentes do Tempo porque faz parte do seu dever comum! Eles foram reprogramados por alguma coisa acima de todos... Algo os está controlando!

—A Teselecta está dando pane... –murmurou o Doutor, concentradíssimo em seus afazeres. –Enquanto você tirava um cochilo, nós dois estivemos dentro do robô Teselecta...—recriminou ele. –E acredite, lá as coisas estão indo de mal a pior... Com a quarentena, o robô perdeu todos os comandos e os tripulantes não sabem o que fazer. Em situações normais, eles pediriam para a central tele-transportá-los de volta para a base, mas, com os controles não operantes e, como a nave esteve sendo controlada por outra entidade que não a própria Teselecta, eles não sabem aonde isso poderia levá-los. Estão todos desesperados! Todos os controladores, em todas as extremidades do robô, estão correndo em círculos, desesperados procurando por uma saída... Nem todos conseguiram alcançar a sala de comando: a prioridade maior em casos de emergência como esse. Muitos ainda estão perdidos por aí. Por isso é que estou trabalhando em tentar reparar um dos controles do Teselecta para poder ajudá-los a localizar a tripulação... Acho que isso irá auxiliá-los bastante, ao menos como um começo.

—Como assim vocês estiveram dentro da Teselecta? –indagou Melissa incrédula. –Como é possível que vocês dois e mais uma tripulação inteira caibam dentro do corpo de uma pessoa?

—Isso se chama Miniaturização. –explicou o Doutor, distraído. –E não é algo de comer, como você deve estar pensando... –provocou.

Melissa fez uma careta de indignação. Seu dedo indicador já formigava, louco de vontade de se meter no meio da cara do rapaz, enquanto a garota dizia-lhe umas boas verdades...

—Nós temos que fazer alguma coisa... –ponderou Luisa, colocando-se entre os dois, antes que Melissa pegasse fogo de verdade e começasse a querer bater boca com o rapaz. –Seja o que for, sabe quem somos e quer, sem dúvidas, alguma coisa de nós...

—Ou de mim—completou o Doutor, lançando seu olhar penetrante para a garota.

—Sim. Isso tanto faz. O fato é que estamos juntos nisso e temos que por um ponto final nessa confusão toda assim como começamos, juntos!

—Cuidado –advertiu uma voz vinda de baixo. Eles olharam para o chão e viram a Teselecta com a aparência de Luisa, ainda imóvel, mexendo apenas os lábios. Estava querendo avisá-los de algum perigo. No mesmo momento, o trio e o cão perceberam a presença de mais um ser humano no recinto: ou pelo menos, parecia com um. A garota do shopping que não tinha expressões faciais, agora surgia das sombras, com um sorriso cínico no rosto, arrastando junto de si, o corpo desfalecido de Ned. Na mesma hora Luisa sentiu o sangue subir, tentou correr para ajudá-lo, mas o Doutor segurou-a junto de si. Luisa odiou-o por isso, mas o amigo tinha razão: antes de fazer qualquer coisa, primeiro tinham que ouvir o que ela tinha a dizer.

—Palavras incentivadoras as suas. Mas será que vale mesmo a pena arriscar sua vida por seus amigos? –proferiu a humanóide, provocativamente.

O que é que você quer? Quem está por trás dessa farsa toda?—tentou o Doutor, novamente.

—Você espera que eu me revele para você? Trouxa! Vai ter que esperar sentado... –gargalhou a garota. –Será que vou ter que jogar todas as cartas na mesa para que você saiba que eu estou com a rainha de copas?

—Eu juro que estou tentando ser o mais piedoso possível, mas você está conseguindo acabar com a minha paciência... –falou o Doutor, irritado. –Solte esse garoto, que talvez eu até possa agüentar a sua arrogância um pouquinho mais...

—Ui! É uma ameaça? –riu a outra, erguendo as mãos banalmente. –Estou morrendo de medo! Parabéns. Você sabe mesmo como ser realmente tedioso...

Luisa olhou para o amigo, ele ainda segurava-a pelos braços, mas agora era diferente... O rapaz estava inflamado; seus olhos esbanjavam sua clara impaciência. Ele controlava-se, mas era possível ver como estava se segurando para não fazer uma besteira. Por fim, continuou imóvel, apenas trocando figurinhas com a vilã.

—Vamos mudar o modo de fazer as perguntas então –disse ele, sério. -Você procurava um agente do tempo. Um viajante muito solitário e talvez muito velho para que o mundo possa se importar em sentir falta quando ele definitivamente partir... –disse o rapaz impassível. Luisa olhou-o com espanto: no que ele estava pensando? O Doutor fez uma única pausa e depois seguiu: –Bem, parece que você acabou de achar um. Então, falando agora de maníaco para maníaco: o que você espera de mim?

A criatura sorriu maliciosamente e não demorou-se a dizer o que queria.

—Quero você fora do meu caminho –falou rudemente. –Espero mudar muitas coisas no passado desse planeta e não quero seu maldito nariz enxerido metido em meus negócios... Ah! Sem falar da outra etapa: preciso da sua maquina do tempo emprestada.

Luisa sentiu a respiração do amigo acelerar ás suas costas.

—Você está louca? Não posso lhe emprestar a minha TARDIS para que você reescreva a história da humanidade! Isso vai contra as leis do Tempo! Quebra todas as regras da Proclamação das Sombras e principalmente, vai totalmente contra os padrões da Teselecta!

—Por isso que será tão divertido –riu a outra, maléfica. –Você é tão inocente. Tão ingênuo, Doutor. Não sei como um cara feito você, pode ter conseguido chegar onde chegou... Feito tudo o que fez... Os registros dizem claramente que você executou feitos incríveis: Salvou mundos. Ajudou pessoas. Mas também deixou milhares morrerem. Interferiu na história. Causou o caos em tantos lugares que poderia se tornar um deus...

O Doutor fez uma cara de nojo. Não gostava quando as pessoas o julgavam daquela forma. Luisa apertou de leve o braço do amigo, entrelaçado no dela. Ela tentaria a todo custo acalmá-lo, ou simplesmente, lembrá-lo de quem ele realmente era. Não deixaria que ele se deixasse levar pela conversa daquela cobra venenosa. A garota sabia que se não o segurasse naquela hora, seria o Doutor quem iria para cima da Teselecta descontar sua raiva, assim como ela queria ter feito antes. Ele rapidamente se conteve, no fim das contas, sua intenção pareceu funcionar, já que o corpo do rapaz relaxou um pouco com o toque significativo dela. Melissa, para sua surpresa, veio logo a seguir e colocou a mão em seu ombro, demonstrando apoiá-lo também. Nesse momento, o rapaz se sentiu mais forte que nunca, lançou á inimiga seu olhar mais imponente e sorriu, contraditoriamente.

—Qual é o problema? Está com medo de me enfrentar, Doutor...? –atiçou a Teselecta possuída.

—Nem um pouco –afirmou ele, seguro de si. –Simplesmente tenho dois portos seguros. –e indicou Luisa e Melissa com a cabeça, ao mesmo tempo que a segunda gritou “Nik, pega!” e o cão voou como um raio na direção da humanóide. Esta, pêga de surpresa pelo trio, ativou seu tele-transporte no ultimo segundo, escapando da investida canina.

—Droga, ela escapou! –reagiu Melissa, a adrenalina começando a tomar seu corpo.

—Por pouco tempo –o Doutor tirou a chave sônica do bolso e jogou-a para cima, ela deu uma cambalhota no ar e caiu de novo em sua mão. Ele sorriu, determinado e terminou: –Alguém sabe o que vem a seguir?

—É uma pergunta retórica? –perguntou Luisa. –Isso é hora para fazermos perguntas retóricas?

—Não. É hora de fazermos perguntas inteligentes, tipo: “porque o meu cachorro atualmente azul e com pintinhas amarelas está falando?” –brincou Melissa.

—Melhor do que isso –o Doutor sorriu ainda mais, insano. –Vamos encontrar a Teselecta fujona e acabar de uma vez com esse mistério...

—E isso tudo só com uma chave sônica? –perguntou Luisa cética.

—A chave sônica faz muitas coisas, mas para quê dependermos somente de uma arma secreta quando possuímos três? –o Doutor ergueu sua chave sônica e olhou para as outras duas. –Com a chave sônica podemos rastreá-la; com o lápis impossível, traçar caminhos alternativos e dimensionais por entre as linhas do tempo; e quem melhor do que Nik para farejar o paradeiro da fugitiva? –seu sorriso se alargou ainda mais e as duas garotas captaram sua idéia. Ele reuniu os amigos, formando um circulo fechado para traçar um plano. –Senhoritas e Nik, muita atenção: Temos muito o que fazer!

Poderiam estar se arriscando, mas precisavam alcançar a Teselecta alfa (a que espalhara a atualização ás demais) e impedi-la de continuar com isso antes que fosse tarde de mais. Tentaram seguí-la por entre o túnel do tempo dimensional: o Doutor tomando a frente com a chave sônica em punho, Luisa á sua direita portando o lápis impossível, desenhando as passagens de acordo com o rastreamento do rapaz; e Melissa á sua esquerda, guiando Nik que farejava o caminho, redobrando o cuidado para se certificarem de sempre estarem indo rumando à direção certa. (Tudo ao som de We Fond Love –Rihanna). Vislumbraram á longa distância um caminho extenso e livre de empecilhos e, na outra extremidade, depararam-se com uma porta que se formara de repente, como por um passe de mágica. Aquele era o seu destino: provavelmente, onde a Teselecta maligna se escondera. Luisa passou na frente dos amigos que logo já estavam em seus calcanhares. Ela respirou fundo e empurrou a porta de uma vez; O que viram chocou-lhes por um instante: a todo seu redor uma construção de dar inveja em qualquer arquiteto, erguia-se pomposa –O Coliseu. Haviam surgido por volta de 44 a. C. já quase no fim do império da Julio César. Milhares de pessoas usando batas sentavam-se em toda uma extensão gigantesca da bela arquibancada circular, espalhando-se por todas as direções ao redor, de baixo para cima. Diferente dos cartões postais modernos, que mostravam claramente uma imensa falha no muro da construção que cedera muitos séculos depois, o Coliseu erguia-se ainda novo e sem rachaduras. Luisa não pôde deixar de sorrir ao ver a imensidão majestosa ao seu redor. O único problema era que aquele era dia de pão e circo e eles estavam bem no meio da arena onde as lutas ocorriam. Indignados, romanos de todos os tipos começaram a gritar ofensas do alto das arquibancadas; alguns romanos mais bem abastecidos financeiramente, arriscaram lançar-lhes um dedo polegar de cabeça para baixo, pedindo sua execução. Melissa, inflamada com o que vira, gritou um “Vá para o inferno!” legitimamente desejado. Ouviu-se uma grande movimentação ás suas costas, então Nik começou a latir e o trio se virou, já receoso com o que vinha a seguir: Um imenso leão os encarava sem pudor, acabara de ser solto na arena pelos guardas de plantão... Seria muito fácil para eles murmurarem um “Ferrou!” e saírem correndo, mas Melissa tinha que ter uma de suas “brilhantes idéias” (ela apanhou uma lança que se encontrava no chão e partiu para cima do animal, espetando com força o nariz do bicho). É claro que sua ação não provocou nada além de um arranhão bem fraco na fuça do leão, mas ela conseguiu ferir seu orgulho, o que significava, é claro, que estariam mortos em questão de minutos. (Agora, ao som de*Poker face –Lady Gaga), eles foram recuando aos poucos já esperando o bote do animal, mas quando o leão ameaçou saltar, alguma coisa (com a força de vinte homens, talvez) segurou seu rabo, impedindo que ele se erguesse. O leão voltou-se para aquilo o que fosse que havia segurado-o no lugar e rugiu enfurecido: A Teselecta nem estremeceu. O robô, ainda na forma da garota Suzie Capitinga, subiu o punho e atirou um raio de choque rubro contra o animal que urrou de dor e caiu para trás, agonizando. O quarteto mal teve tempo para suspirar de alivio, já estavam percorrendo as arquibancadas atrás da maldita da Teselecta que corria na velocidade de um trem á jato. Pouco longe dali, andando pelo senado de Roma, estava Julho César no alto da grande escadaria. Um rapaz (seu filho Brutus, para variar) vinha caminhando lentamente pelas suas costas: portava uma adaga junto de si. Ia matar o pai, mas quando já estava á meio metro do Imperador romano, levou uma trombada com a Teselecta que se ergueu de um salto (sem ao menos se desculpar) e deu no pé. O homem se pôs em pé com cuidado, mas nem parara em pé direito, três pessoas e um cachorro atropelaram-no também, erguendo-se todos bem rápido, desculpando-se e voltando a correr atrás da fugitiva. Apenas o Doutor retornou segundos depois, entregando ao rapaz sua adaga, já que a apanhara por engano no lugar da chave de fenda sônica. Mas ao retornar, olhou-o mais atentamente, com seu olhar mais critico e, chegando a uma conclusão, lançou-lhe uma careta de desprezo e proferiu um “Que horror! Até tu, Brutus? Cara, eu sempre quis dizer isso!”, e sorrindo, desatou a correr na direção dos demais. Não demorou muito, a Teselecta se tele-transportou para longe, indo parar em outra época, e o quarteto de amigos fez o mesmo (ao som de *Happy –Pharrell Williams ), mas pelo caminho do túnel do tempo do Lápis Impossível de Luisa. Surgiram no tempo em que o Brasil era comandado por dom Pedro I e atrapalharam-no com o seu discurso do Dia do Fico, em 9 de Janeiro de 1822, deixando-o sem graça na frente da nação, já que nunca decorara aquela coisa por completo (Ô discursinho comprido!). A Teselecta roubou seu discurso e ele mandou seus guardas para cima do quarteto, achando que eles tinham alguma coisa a ver com aquele ato abusado. Todos, inclusive a Teselecta, tiveram que fugir o mais rápido que puderam dali. Cruzaram novamente o túnel do tempo e foram encontrar a Teselecta entre XVII e XVIII, na era do Iluminismo. Em uma sala de reuniões, estavam vários filósofos trocando algumas idéias sobre suas teorias que falavam exclusivamente sobre o próprio ser humano. Estava John Lock explicando como o homem era mal por natureza; contestado rapidamente por Rousseu que implicava em cima de sua própria teoria, informando o contrário: que o homem era bom e devia ser tratado como igual para que não houvessem desavenças. Interceptado por Thomas Hobbes, que acreditava que “o homem é o lobo do homem” ou seja, o predador que o homem mais deveria temer, era a si próprio. Montesquieu sobrava em um canto, mas também estava na discussão em defesa de sua tese: O mundo só iria para frente quando se tivesse Liberdade Igualdade e Fraternidade em uma nação. Já Maquiavel discordava dos quatro: para ele, todo homem tinha o seu lado “maquiavélico”, apurado dentro de si. Todos viraram-se contra ele, enraivecidos por sua falta de senso de consideração: naquele exato instante a Teselecta irrompeu na sala pela porta da frente, atravessando o salão num zás-traz, seguida por um cachorro, duas garotas e um rapaz, que correram sem nem lhe darem a menor atenção, gritando á todo momento: “Pega ela! Pega! Acabem com ela! Não deixem essa maldita fugir!”. Após passarem gritando essas coisas, os quatro homens franziram o cenho e tiraram o chapéu para o companheiro Maquiavel, só havia um homem feliz na sala, com sua tese comprovada agora, na pratica.

A próxima porta os levou á Ditadura Militar brasileira (1960 á 1980) da qual irromperam em um show de músicas censuradas (da qual estava tocando *Cálise –Chico Buarque) promovidos por ripes, que ergueram seus óculos redondos de John Lennon para vê-los causar tumulto em cima do palco. A Teselecta mais uma vez escapou, vindo parar no 11 de setembro de 2001, o atentado ás Torres Gêmeas nos EUA. A Teselecta começou a subir de elevador (ao som de *Party in the U.A.S. –Miley Cyrus) na torre que seria derrubada pelo avião dentro de alguns minutos e o quarteto seguiu-o de perto. Luisa ficou bastante receosa, mas acabou concordando com o plano: o tempo seria apertado, mas pelo menos estariam juntos, caso alguma coisa ruim acontecesse... Pegaram elevadores diferentes, (o quarteto em um e a Teselecta em outro) e ficaram nessa competição de “quem chega primeiro no terraço pra render o outro”, mas ambos os elevadores pararam rangendo no meio do trajeto, já que seus dedos nervosos, do Doutor em um e da Teselecta em outro, confundiram o sistema do elevador, de tanto que apertaram os botões e por fim, fazendo o sistema pifar de desgosto. O Doutor, imperativo do jeito que era, não agüentou esperar para que um técnico fosse ajudá-los, já que em questão de segundos a torre viria pelos ares, então se retiraram, novamente com a ajuda do Lápis Impossível, seguindo por um novo caminho, pouco antes da explosão. O Doutor o fez, mas sabia que a Teselecta também o havia imitado, já que ela não era boba e também sabia que em poucos minutos a estrutura toda iria pelos ares. Fora tudo premeditado: a Teselecta armara para eles! Queria que morressem tentando impedi-la de causar o caos no mundo... Nas palavras de Melissa: “Mais que safada!”. Apareceram agora no lançamento da Bomba Atômica em Hiroshima e Nagazaki (1949). Luisa, novamente, atravessou a porta na frente (ao som de *Burn -Ellie Goulding), mas no momento em que o fez, a bomba explodiu bem ás suas costas, a muitos metros de distância, no horizonte. Ainda sim a garota pôde sentir sua potencia. Ficou chocada demais com o que viu para conseguir se mover, ao longe uma imensa nuvem de fumaça e fogo se formava no céu, enquanto no chão, alguma coisa vinha se aproximando rapidamente: a onda de choque radioativa causada pela explosão. A garota arregalou os olhos, sua única reação foi tentar recuar, mas suas pernas não obedeceram, estavam paralisadas de medo. Por um momento ela achou que ia morrer ali mesmo, quando uma mão puxou-a novamente para dentro do túnel do tempo, ainda a tempo de salvá-la. O Doutor agira rápido de novo. Abraçou a garota bem forte.

—Eu não sei se quero continuar com isso... –fungou ela.

—Tudo bem. Shhhhhhh... Eu sei. Eu sei... –acalmou-a ele, de olhos fechados. –Já passou... –ele deu um beijo em sua testa e colocou uma das mechas de seu cabelo por trás da orelha, podendo assim contemplar o rostinho inocente de menina, que ela ainda tinha tão aparente. –Me desculpe por isso Luisa. Eu devia ter avisado que seria arriscado de mais! Me sinto mal por estar fazendo-a passar por tudo isso, mas é preciso, se quisermos mesmo salvar o planeta Terra. –ele olhou-a mais atentamente. –Ou talvez... Não valha mesmo a pena correr esse risco. –vacilou. Seu coração estava desconcertado de vê-la assim.

—Esqueça isso –sorriu ela, decidida, enxugando as lagrimas que haviam se manifestado. –Eu sempre soube que haveria riscos desde que o conheci, Doutor. E estou aqui, não estou? –disse ela, já mais determinada, deixando o sentimento afetado para trás. Parecia outra pessoa. –Deixemos de drama, precisamos agir!

—É assim que se fala! Vamos pegar essa Teselecta maldita, salvar o planeta e o Ned! –agitou Melissa.

—Falou e disse Melissa! –lambeu-a Nik.

—Espere só um momento –interveio Luisa. –Onde vocês acham que ela escondeu Ned? Eu não o vejo desde que abandonamos o farol da praia –disse ela preocupada. Então uma idéia lhe veio: -Será que a Teselecta o miniaturizou?

—Bem provável –concordou o Doutor, estendendo-lhe a mão. –Só há uma forma de descobrir... –Luisa sorriu e segurou sua mão, mais determinada que nunca.

—Vamos nessa!

Continuaram seu trajeto, sem mais pausas agora. Foram encontrar a Teselecta correndo pela linha de fogo dos franceses –contra algum outro país que queriam conquistar –segurando nas mãos um chapéu arredondado no topo e pontudo nas laterais, sendo perseguida de perto por um homem baixinho, gordo, com roupas antigas, botas clássicas e apenas um braço, que não corria muito rápido: Napoleão Bonaparte. O Doutor estapeou a própria testa ao ver aquela cena. O robô realmente conseguira tirar o imperador do sério.

Fugiram rapidinho dali, antes de sofrerem com a ira de Napoleão, e acabam em 1760, no século XVIII, bem no meio da Revolução Industrial (ao som de *Admirável Ship Novo -Pitty). Em meio à confusão de pessoas protestando entre si e quebrando coisas –também em protesto ao desemprego gerado pela chegada das maquinas –o quarteto perdeu o robô de vista, mas Melissa ainda teve a chance de fazer uma daquelas piadinhas tipicamente suas, que eram tanto a sua cara: “Quando eu era criança, acreditava que a revolução Industrial fora um conflito literalmente dito, entre pessoas de carne e osso e máquinas feitas de porcas e parafusos. Sempre achei que ambos brigasse até a morte ou coisa do tipo: agora posso ver que não ficava tão longe disso, tendo a Teselecta por aqui...”. Iam embora, se não fosse por terem visto um cara levar um soco de uma garotinha um tanto “frágil de mais” e ser arremessado muito longe, como se o impacto do soco fosse maior do que aparentasse. A Teselecta—agora na forma de uma garotinha mais nova que a habitual Capitinga –percebeu que chamara atenção e desatou a correr. O quarteto a perseguiu até os fundos de um beco, onde ela desapareceu. E eles a imitaram, sucessivamente.

Dia 22 de novembro de 1963, estavam o Doutor, Nik e as garotas aguardando entre a multidão, o desfile do presidente John Kennedy no dia de seu assassinato, nos EUA, quando a bandinha passou com suas cornetas e tambores, fazendo a entrada na passarela. Tudo parecia perfeitamente normal, então o carro do presidente surgiu e ele chegou acenando para todos sorridente, acompanhado de familiares. O presidente brecou o carro e todos os passageiros, inclusive sua esposa, vieram para frente; Momentos antes de ser assassinado, o presidente ainda conseguiu observar uma ultima cena: havia uma criança parada na frente do carro, olhando-os sem expressão. “Ali! Ela está lá!”, gritou Luisa apontando para a criança; era obvio que era a Teselecta. Os quatro tentaram passar por entre a multidão, mas os guardas não permitiram que entrassem na passarela, junto do carro, mesmo com o Doutor dizendo “Não confiem nela! Essa criança não é tão inocente quanto pensam!”. O presidente o ignorou, desceu do carro, ficou cara a cara com a menina que proferiu um cínico: “Oh! Eu não chegaria tão perto se fosse você, senhor presidente. Pode haver conseqüências por sua ousadia...”, então ela correu e adentrou por entre a multidão, sumindo de vista. Novamente o Doutor e sua equipe correram (ao som de *Ma Baker –Boney M), tentando localizá-la, mas se tornou impossível no meio daquele monte de pessoas. Quando já estavam desistindo e o presidente já tomava seu lugar novamente no carro, acenando para as pessoas, eis que Luisa levou um susto com o que viu: no meio da multidão, localizou um cara com o mesmo rosto do Doutor, mesma estatura, mesmas roupas, encoberto pelas pessoas, num canto pouco perceptível; mas ele tirou do bolso uma coisa que o Doutor nunca traria consigo: uma arma. Apontou-a na direção do presidente, mirando-o com o revolver. “NÃO!”, foi só o que Luisa conseguiu gritar antes da arma ser disparada e acertar o homem. Imediatamente a duplicata do Doutor sorriu para ela, perverso, e tele-transportou-se novamente. Quase que seguidamente do ocorrido, a multidão desesperada dispersou-se. Luisa tinha que achar o amigo antes que alguém o achasse primeiro, dizendo ter visto ele atirar no presidente. Foi no momento que o desespero bateu em seu coração que ela ouviu um “É aquele cara! Foi ele que matou o presidente!”. A garota entrou em pânico. Não sabia para onde correr. Foi com a multidão de guardas correndo logo atrás que ela encontrou os amigos fugindo e alcançou-os. Fugiram para o mais longe que conseguiram, até ficarem somente eles e os guardas e, na primeira oportunidade, abriram um novo portal dimensional por entre o túnel do tempo e desapareceram ali mesmo, na frente dos guardas. Por ironia do destino, o Doutor agora perseguia a si mesmo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Algum palpite de quem seja o vilão? Se não tiverem, não fiquem preocupados... Tá bem misterioso mesmo.

* * *

Vamos falar dos temas dos personagens? Sim!!! ;D
Eu tava esperando a musica da Ellie Goulding repetir mais essa vez pra poder passar uma listinha de temas pra vocês sempre lembrarem da Luisa, Melissa e Doutor Três em Um, com eles:

O principal da Luisa (como vocês já sabem) é: Ellie Goulding - Love Me Like You Do (mas também acredito que Vanessa Carlton - Thousand Miles / CW7 -Tudo que eu sinto / Roberta Campos e Nando Reis -De janeiro a janeiro, combinem com ela)

O principal da Melissa é: Demi Lovato - Confident (apesar de lembrar muito dela também com Roberto Carlos - Mexirico da Candinha / Sindy Lopper - Garls Just Want to have fun / Luka – “Tô Nem Aí!” )

O principal do Doutor é: Counting Stars – OneRepublic (seguido por Coldplay –Viva La Vida / Charlie Brown Jr. -Senhor do Tempo / CPM22 -Um minuto para o fim do Mundo / Skank -Sutilmente / e Run Boy, Run).

Porque o Doutor tem mais temas que todo mundo? Jesus Christopher Eccleston sabe!

Agora, o tema GERAL do trio é: Bizarre Love Triangle -New Order

Yeah

Ah sim!!! Esses foram os temas com melodia, mas agora, falando de temas só tocados... Segurem-se nas cadeiras: ELES TEM TAMBÉM!

*Theme classic Luisa Parkinson:

Michael Meets Mozart - 1 Piano, 2 Guys, 100 Cello Tracks - ThePianoGuys

*Theme classic Melissa Rivera:

Moonlight - Electric Cello (Inspired by Beethoven) – ThePianoGuys

*Theme classic Doctor:

Code Name Vivaldi - The Piano Guys

*Theme classic das viagens na TARDIS:

Me and My Cello (Happy Together) - The Piano Guys

Sim... Gigi pensa em tudo! :D

* * *

Agora, voltando à história de hoje... Pobres personagens!

Será que esse é o ponto ápice? Será que ainda pode piorar? Bom... descobriremos só semana que vem.

Beijos e até lá! :D



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