Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 22
O Segredo do Arco-Íris


Notas iniciais do capítulo

Sebek chega à cidade de Mênfis.



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Mênfis – Algumas horas depois

Amennekht estava no pátio de seu palácio, mais especificamente no campo de treinamento. Ele estava treinando com Garnet, Bismuto e Rainbow Quartz. Bom, treinando não era a palavra certa. Ele estava apenas fazendo alguns movimentos básicos de luta, tudo num ritmo bastante suave, mais parecendo uma dança sincronizada do que uma luta para valer. O faraó já havia pegado bastan           te pesado treinando com Bismuto seguindo o método “Bigorna & Martelo”, o que lhe rendeu uns ferimentos bem sérios, cuja origem ele teve dificuldade de explicar para Rainbow. Agora, ele só queria unir o útil ao agradável: passar mais tempo com sua família gem e também se manter em forma, mas sem pegar muito pesado.

Porém, o momento alegre foi interrompido quando Topázio Imperial entrou esbaforida no local onde o quarteto estava treinando. Ela só gritou uma frase, que chamou a atenção de Amennekht e das gems.

(Topázio Imperial): Tem um exército enorme às portas de Mênfis!

Amennekht convocou seu exército para comparecer às portas de Mênfis, a fim de saber quem era a força que ousava se agrupar diante de sua capital. Para sua surpresa, o exército do qual Topázio Imperial falou era todo formado por humanos, e só havia uma pessoa que poderia reunir tantos guerreiros de distintas nações para formar um exército daqueles.

(Amennekht, sorrindo): Sebek. Meu irmão Sebek está aqui para nos ajudar!

Axel Battler, um dos guerreiros do Esquadrão Platina, tomou a dianteira e começou a falar como arauto.

(Axel Battler): Que o faraó viva para sempre! Eu sou Axel Battler, um dos guerreiros do Esquadrão Platina, a força de elite a serviço do digníssimo rei Sebek, da cidade de Ahkvata, a joia do vale de Sidim! Com muita honra e alegria, eu venho comunicar ao Hórus vivo na Terra, que seu irmão, o grande rei Sebek, liderou um massivo ataque à cidade de Kenusa, e com seu poderoso exército e sua grande astúcia militar, o magnífico Sebek...

Axel teve seu discurso interrompido por um barulho chato de uma coisa sendo balançada. Atrás dele, Thanos segurava dois sacos enormes enquanto os três vikings e mais o samurai puxavam os sacos freneticamente, enquanto Merit cobria o rosto de vergonha. As gems não entenderam muito bem o simbolismo, mas Amennekht teve que segurar uma risota.

(Axel Battler, continuando o discurso): *Caham* O magnífico Sebek retomou a cidade de Kenusa das tiranas gems e agora, num ato de fraternidade por seu irmão mais velho e diplomacia para com seu poderoso reino, lhe devolve o controle de Kenusa.

Aquelas palavras deixaram as gems de queixo caído.

(Bismuto): E-Eu não acredito...

(Rainbow Quartz): Eles sozinhos... enfrentaram Hessonita...

(Garnet): E venceram...?

Amennekht foi pessoalmente receber o exército de seu irmão. Sebek tomou a dianteira, desceu de seu cavalo e ambos se cumprimentaram, dando um forte abraço fraternal logo em seguida.

(Amennekht): Quer dizer que minha mensageira chegou até você?

(Sebek): Sim, meu irmão.

(Amennekht): E onde ela está?

(Sebek, suspirando): Infelizmente, ela foi estilhaçada na batalha. Eu não quis que ela lutasse, mas ela insistiu...

(Amennekht, triste): A Joanete sempre foi uma gem impulsiva...

(Sebek): Mas ei, não vamos ficar tristes. Hoje uma grande vitória foi alcançada, isso é motivo de festa! Estou aqui justamente para devolver a cidade de Kenusa ao seu legítimo dono.

— Amennekht!

Thanos se aproximou e deu um baita abraço em Amennekht, como se ambos tivessem a maior intimidade do mundo.

(Thanos): O Sebek não contou porque queria ficar com todo o crédito, mas se não fosse por mim, ele jamais teria pegado de volta aquela cidade.

(Samurai): Realmente, isso eu não posso negar. Esse doido aqui conseguiu derrubar toda a paliçada sozinho e ainda reconstruiu tudo depois.

(Amennekht): Até parece. Só falta dizer que também destruiu todas as baterias defensivas sozinho.

(Merit): É duro admitir, mas ele fez isso. Parece que o poder de luta do nosso capitão é diretamente proporcional à sua infantilidade.

(Thanos): Então vou ter que ser mais infantil ainda se quiser derrotar a própria Diamante Rosa! Rápido, alguém me dá um chocalho!

(Amennekht): Mas como vocês conseguem essas coisas? Vocês todos são humanos, assim como eu!

(Thanos): É porque eu faço todas as minhas armas com o material daquelas gems. Com a tecnologia delas, eu vou longe.

(Amennekht): Mas como assim? Eu também uso tecnologia gem! Minha armadura, minha espada, escudo e minhas duas próteses dos braços foi a Bismuto que fez, e eu não sou apelão desse jeito!

(Bismuto, interrompendo a conversa): Acontece que esse carinha aí fez tudo sozinho, eu apenas ensinei. E o aprendiz supera o mestre.

(Thanos): Tudo selecionado a dedo por mim, direto do fornecedor.

Ao dizer isso, Thanos apontou para trás, para uma carroça que transportava vários destroços gems, incluindo uma bateria defensiva semi-intacta.

(Thanos): Essas são para você, Bismuto. A minha parte já está segura em Ahkvata.

(Bismuto): Bismuto obrigada!

Thanos deu meia-volta e começou a fingir que ia embora, de tão ruim que achou a piada. Nisso a Bismuto abraçou ele por trás mesmo, com tanta intensidade que levantou ele do chão.

(Bismuto): É um prazer te ver de novo inteiro!

Thanos retribuiu o abraço, por incrível que pareça levantando a gem do chão.

(Thanos): É um prazer te rever também, seu cabrunco velho do cabelo de arco-íris!

Bismuto reagiu dando um “tapinha” nas costas de Thanos, que fez ele cair de cara no chão. Ao se levantar, Thanos deu de cara com Rose.

(Thanos, se levantando): E aí, Rose?

(Rose): Thanos, já faz muito tempo desde a última vez que nos vimos.

(Thanos): Realmente, tô com saudade da Torre do Mar Lunar. Como é que as coisas estão lá? O Amennekht ainda dorme agarrado com aquele bichinho de pelúcia que você fez para ele?

(Merit): O quê?

(Amennekht): N-Não liga para ele, Merit! Esse cara aí não bate bem da cabeça!

(Thanos): Porra Amennekht, 17 anos e dormindo com gatinho de pelúcia. Você ainda tá com aquilo, né? Eu xeretei teu antigo quarto e não está lá! Fala aí, onde você escondeu aquela tralha?

(Amennekht): A BASTI NÃO É TRALHA!!!

Todo mundo começou a olhar esquisito pro Amennekht, que tentou a todo custo disfarçar o mico.

(Amennekht): Como raios você sabe disso? Você nem ficava ali!

(Thanos): Caramba, Amennekht. Tá cego, miséra? A gente viveu um ano junto naquela torre e você nunca me viu?

(Amennekht): Mas como assim? Mãe, do que esse louco tá falando?

(Rose): Ué, você nunca percebeu que eu sempre levava suprimentos para dois humanos? Dois pratos, dois copos, duas pelú...

(Thanos, indiscreto): *CAHAM*

(Amennekht): Espera um pouco, está me dizendo, que esse tempo inteiro, havia um humano vivendo comigo, e você nunca me apresentou?

(Rose): Desculpa, eu pensei que você soubesse. Além do mais, o Thanos dificilmente ficava na torre. Ele passava a maior parte do tempo na forja com a Bismuto.

(Bismuto): É verdade, Thanos nunca gostou muito da Torre, ao contrário de você. Ele não ia ser uma boa companhia.

Ao ouvir isso, Thanos olhou para a Bismuto, colocando a mão no peito de um jeito bem afeminado.

(Thanos, com voz afeminada): Não sou uma boa companhia? Três anos naquela forja e você vem dizer que não sou uma boa companhia? Ô vikings, podem levar todos os presentes de volta para Ahkvata! Não tem uma alma amiga aqui!

(Bismuto): Ei, não vale! Você já me deu os presentes! Não pode leva-los de volta!

(Thanos): Você também me deu afeto, mas pelo visto tirou tudinho agora.

(Bismuto): Thanos, foi só uma piadinha! Você sabe que eu estou brincando!

(Thanos, com uma lagrimazinha escorrendo): KKKKK, eu sei que você está de zoas!!! Ah, a propósito, eu esqueci de te cumprimentar, Rose! Vem cá, mamãezona gem, me dá um abraço! Que nem você dava no seu bebezão Ameni!

Amennekht virou o rosto, extremamente constrangido, enquanto Thanos abraçava Rose. Durante o abraço, Rose sentiu uma dor de cabeça intensa, seguida de um flash quase fantasmagórico, como se centenas de criaturas disformes gritassem em agonia, estendendo seus braços em busca de socorro.

(Thanos, desconfiado): Rose, aconteceu alguma coisa?

(Rose): N-Não! Eu só tive uma leve dor de cabeça.

(Thanos): Tá legal. Melhoras.

(Amennekht): Bem, em virtude desses acontecimentos tão felizes...

(Thanos): É ISSAÊ NEGADA!!! NÓS GANHAMOS!!! FESTA NA CONTA DO MEU PATRÃO!!!

(Sebek): NA CONTA DO SEU REI É O CARALHO!!! EU QUE CONQUISTEI AQUELA CIDADE DE VOLTA!!! VAI SER NA CONTA DO BASTI!!!

(Os três vikings): UUUUHHHUUUUUU!!! FESTA, DEDO NO CÚ E GRITARIA!!! BORA BEBER ATÉ AS VALQUÍRIAS VIREM LEVAR A GENTE PRO VALHALA!!!

(Amennekht): Pelos deuses, meu irmão tem um exército de loucos!

Dito isso, todo aquele contingente marchou para dentro de Mênfis, sendo recebidos como heróis.

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Era o início da noite. Conforme prometido (imposto, melhor dizendo), Amennekht deu uma grande festa para seu irmão e o exército dele. Embora costumasse demorar bastante para se fazer bons pratos para uma ocasião deste calibre, as gems estavam acostumadas a lidar com costumes humanos, devido ao longo tempo de convivência com Amennekht, por isso deram conta do trabalho em tempo recorde. Agora, o faraó e três de suas companheiras gems: Garnet, Topázio Imperial e Rainbow Quartz, estavam sentados à mesa, junto com Sebek, Merit, Thanos e o resto do Esquadrão Platina.

(Thanos): Ei Toph!

Thanos começou a dar tapinhas no chão, como se estivesse chamando um gato. Nisso, ela se transformou num gato e saiu correndo em direção ao grego, mas quando chegou perto pulou com as garras de fora na cara dele, dando uma mordida no nariz dele!

(Thanos): DISGRAAAAAAÇAAAAAA!!!

Sebek cobriu o rosto constrangido enquanto Merit prontamente foi tirar o gato laranja que não era o Garfield da cara do Thanos.

(Thanos, rindo, com o nariz sangrando): Prazer lhe rever também.

(Topázio Imperial): Eu disse que da próxima vez que você fizesse isso ia se arrepender, não disse?

(Thanos, com o nariz sangrando): Parece que você não cumpriu sua promessa! Não me arrependo!

Topázio Imperial sacou seu nunchaku, pulou nas costas de Thanos e começou a enforcar ele.

(Topázio Imperial): Diz que se arrependeu! Diz que se arrependeu!

Thanos simplesmente segurava a corda do nunchaku sem esforço, mantendo-a um pouco afastada do próprio pescoço.

(Thanos): Olha, é melhor você chamar a Rubelita, do contrário é você que vai se arrepender.

Ao dizer isso, um monte de gems ficaram em silêncio, juntamente com Amennekht. Pouco a pouco a sala foi se silenciando, criando um clima constrangedor, quebrado apenas pelo baque de Topázio Imperial caindo sentada no chão.

(Topázio Imperial, triste): A Rubelita foi estilhaçada... nós perdemos ela na batalha de Kenusa...

(Thanos): Como ela morreu?

(Amennekht, triste): Ela foi atingida por uma bala perdida de blaster. Acertou em cheio a pedra dela. Eu tentei salvá-la, mas...

(Thanos): Quem atirou, Amennekht?

(Amennekht): Não vimos quem atirou, Thanos. Eu teria matado a desgraçada com minhas próprias mãos se soubesse.

(Topázio Imperial): Foi um período muito duro, para todas nós. Rubelita era minha melhor amiga. Foi ela que me trouxe para as Crystal Gems.

(Thanos): E-Eu preciso de um tempo.

Thanos se levantou e saiu do banquete. O Samurai tentou segui-lo, mas Erik o segurou pelo braço e o impediu.

(Erik): Não, Samurai. Quando Thanos diz que precisa de um tempo, ele precisa desse tempo sozinho.

Sebek observou a cena pensativo, mas não pensando no grego que saíra há pouco tempo: ele lembrou da conversa que ele, Merit e seu irmão Amennekht tiveram no último banquete, em Ahkvata. Lembrou-se de quando Amennekht falou o quanto adorava a Rubelita. Embora não tivesse ouvido essa informação saindo da boca de Amennekht, Sebek sabia que seu irmão e aquela gem viviam em um relacionamento. Tal pensamento causou repulsa no rei de Ahkvata, mas ao mesmo tempo lhe deu uma ideia que parecia ser magnífica.

Dito isso, Sebek se levantou e começou a falar:

(Sebek): Pelo visto, foram tempos muito difíceis. De fato, quando liderei o ataque para reconquistar Kenusa, percebi como o exército que lhe derrotou era poderoso, meu irmão. Está claro que o inimigo está nos considerando uma ameaça cada vez maior, e está se preparando para nos enfrentar. Em nosso estado atual, não iremos persistir em nossa luta por liberdade. Por isso, proponho uma aliança entre Ahkvata e Mênfis, as duas maiores células de resistência humana à tirania gem!

(Merit, sorrindo): É uma ótima ideia!

(Olaf): Peraí, a gente já não é aliado?

(Baleog): Sei lá, eu não entendo nada de política real. Se brincar, isso é só um truque para desviar umas moedas de ouro pra túnica de baixo.

(Sebek, erguendo um cálice com vinho): E para selar nossa aliança, eu ofereço a mão de minha irmã adotiva, a rainha Merit, para Amennekht, o rei de Mênfis!

(Amennekht): O QUÊ???

(Axel): Peraí, irmã? Mas se o Sebek e o Amennekht são irmãos, e o Sebek e a Merit também são irmãos, isso não é incesto?

(Gilius): Os egípcios são estranhos...

(Tyris): É, pelo visto, só os nórdicos ainda se casam por amor, ao invés de negócios.

(Merit): Porra, mas vocês passam muito tempo com o Thanos, hein? Será que dá para pararem de falar como se eu não estivesse aqui?

(Baleog): Que grosseria!

(Erik): No meu tempo, havia mais respeito pelas outras culturas.

Amennekht recebeu a notícia como quem é acordado com um balde de água fria no meio da madrugada. Merit, por outro lado, levou a notícia de uma forma bem pior.

(Merit, incrédula): E Sebek, que ideia é essa de sair oferecendo minha mão como se eu fosse propriedade sua? Eu sou uma guerreira do Esquadrão Platina! Sou uma peça importante na formação do Thanos! Eu não posso... simplesmente me casar e largar tudo...

(Amennekht): Merit tem razão! Eu mal convivo com ela, não podemos nos casar assim, sem mais nem menos! A Rubelita foi minha primeira esposa e eu convivi anos a fio com ela antes de nos casarmos.

(Sebek): Peraí, vocês dois eram mesmo casados? Eu achei que vocês... que vocês...

(Erik): Como assim, seu maldito? Como você nunca disse isso?

(Olaf): Pelos deuses, não vamos mais para Valhala! Somos três pecadores!

(Baleog): Três uma ova, não se esquece do Thanos! Ele que botou ideias na nossa cabeça! Nossos olhos e nossas mãos vão queimar por mais tempo!

(Erik): Só espero que as dele queimem por mais tempo ainda!

(Merit, interrompendo os vikings): Sebek, essa sua ideia foi péssima! Não pode haver um casamento assim, só por razões políticas. Um casamento é uma união estável para a vida inteira!

(Sebek): Bem, levando em conta que estamos em guerra e podemos morrer ainda esta noite, mesmo um casamento por razões políticas pode ser uma união estável para a vida inteira.

Os companheiros de Thanos não acharam muita graça nas palavras de Sebek.

(Olaf): Que cara sem graça!

(Menob): Realmente, essas piadas que abusam do cinismo só têm graça quando são do Thanos.

(Samurai): Buuuuuu, traz o Thanos de volta! Traz o Thanos de volta!

(Sebek): Não é para ter graça! Estamos em guerra! Precisamos nos manter unidos a qualquer custo! Este casamento é importante porque é uma forma de unir nossos dois reinos. Não podemos continuar separados, do contrário seremos vencidos pelos conquistadores. Não estou certo, Amennekht?

(Amennekht): ...

(Sebek): Amennekht, o que deu em você?

Amennekht estava pensativo. Ele já havia superado a pior parte do luto de Rubelita, já conseguia falar abertamente sobre o que aconteceu, mas ele não se sentia pronto para se relacionar novamente com alguém. Parte dele queria sim, abrir seu coração para mais alguém, tapar aquele buraco deixado por Rubelita, mas outra parte se indagava se Merit seria a melhor opção para isso.

A egípcia era bela, inteligente, destemida, corajosa e era sua melhor amiga de infância, mas era frágil. Ele lembrava das vezes que viu Merit lutando, se ferindo nas batalhas. Os cortes, os hematomas... ela fingia que não era nada, mas Amennekht via aquilo como um sinal de vulnerabilidade.

As gems eram as criaturas mais poderosas que o egípcio havia visto: elas podiam mudar de forma, podiam levantar 10 vezes mais peso que um humano normal, talvez até mais. Não sangravam, não se machucavam, mas mesmo assim morriam. Às vezes, Amennekht pensava se ele não poderia ter evitado o fim de Rubelita. Pior: se ele não pôde ajudar alguém bem mais forte do que ele, como iria proteger alguém mais fraco?

Além do mais, ultimamente ele andava pensando demais em uma gem que conhecera recentemente. Alguém que sabia lidar com suas emoções com uma naturalidade quase maternal, e que era tão bela quanto a Rubelita. Uma companheira perfeita.

(Amennekht, pensativo): Desculpe, eu fiquei pensativo. Sua proposta foi muito abrupta, eu preciso de um tempo para pensar.

(Sebek): Tudo bem, irmão. Mas pense bem, viu?

(Amennekht, afastando os pensamentos): Tudo bem, mas por hora vamos festejar!

A festa continuou de forma bem alegre, com todos comendo, bebendo e conversando alegremente. Em um dado momento, Amennekht cutucou o ombro de Rainbow Quartz, gesticulando e convidando-a para sair dali junto com ele. Um pouco mais afastado do salão de festas, Rainbow ficou curiosa para saber o que o humano queria.

(Rainbow Quartz): Amennekht, o que houve? Você está bem?

(Amennekht): Estou, estou sim. É que do nada minha cabeça começou a doer um pouquinho.

(Rainbow Quartz): Você não quer ir pro seu quarto descansar?

(Amennekht): Não, não *hic*. Eu só queria sair mesmo daquele aglomerado de gente.

(Rainbow Quartz): Bom... e por que você me chamou?

(Amennekht): Ah, sei lá, achei que você também gostaria de um lugar silencioso. O que você acha de, sei lá, jogarmos uma partida de Senet? Sabe jogar Senet?

(Rainbow Quartz): Bom, eu...

(Amennekht): Não tem problema *hic*, eu te ensino rapidinho, só vem comigo.

Ambos foram para o quarto de Amennekht. O faraó arrumou dois divãs para ele e sua convidada, depois montou o tabuleiro e ensinou as regras. Pouco mais de cinco minutos depois, os dois já estavam jogando.

(Amennekht, com a voz meio arrastada): Você ouviu a proposta do meu *hic* irmão? De eu me casar com a Merit?

(Rainbow Quartz): Ouvi sim.

(Amennekht): O que você acha?

(Rainbow Quartz): N-Não sei. Esse tipo de questão me parece pessoal demais para eu simplesmente opinar sem mais nem menos. O que VOCÊ acha?

Amennekht voltou a falar, com uma voz arrastada que causava estranhamento em Rainbow Quartz.

(Amennekht, com a voz arrastada): Eu acho que não tem como isso dar certo... *hic*

(Rainbow Quartz): Por que não?

(Amennekht, com a voz arrastada): Porque... a Merit não é... não é...

(Rainbow Quartz): “não é...”?

(Amennekht, com a voz arrastada): Ela não faz meu tipo, Rainbow... se eu fosse me casar novamente, teria que ser com alguém como a Rubelita.

(Rainbow Quartz, suspirando): Amennekht, a Rubelita foi estilhaçada.

(Amennekht, com a voz arrastada): Eu sei disso, mas ela era perfeita! Era linda, gentil, carinhosa, imponente, mas delicada...

(Rainbow Quartz): E a Merit não pode ser nada dessas coisas? Ela me parece ser uma ótima garota.

Com se quisesse enfatizar sua fala, Amennekht arredou a mesa de senet para o lado e se colocou de pé. Embora Rainbow Quartz fosse bem mais alta que ele, Amennekht ainda assim conseguia manter um certo grau de imponência, mesmo estando levemente embriagado.

(Amennekht, com a voz arrastada): Conversa! Digo, digo, claro que ela pode ser linda, gentil, ela é tudo isso, na verdade. Mas como vocês? Não, nenhuma humana pode se comparar a vocês.

(Rainbow Quartz, sem entender nada): É claro que não, porque não somos humanas, somos gems!

Amennekht se aproximou lentamente de Rainbow Quartz, se curvando sobre a gem que ainda estava deitada no divã dela. Com um sorriso suave, Amennekht começou a aproximar o rosto e fixar o olhar nos quatro olhos da gem, que o encarava sem saber como reagir.

(Amennekht, com a voz arrastada): Exatamente, são gems. *hic* A definição de perfeição resumida em menos de cinco letras. Gigantescas, e ao mesmo tempo delicadas. Poderosas, e ao mesmo tempo carinhosas. Mãos fortes o bastante para derrubar uma muralha, mas carinhosas o bastante para segurar um coração ferido.

Enquanto falava, Amennekht ia acariciando o corpo de Rainbow Quartz: pés, pernas, coxas, quadris, a joia em seu umbigo, mãos, rosto... ele também chegou a tocar os seios dela, como quem toca um fruto proibido. A cada toque. Rainbow Quartz se encolhia cada vez mais no divã, contrastando totalmente com sua estatura imponente. Aquela contradição deixava Amennekht ainda mais extasiado.

(Rainbow Quartz): A-Amennekht, e-eu não sou q-quem você est-tá pensan...

Os gaguejos de Rainbow Quartz foram interrompidos por um beijo intenso de Amennekht, que fizeram ela se contrair bruscamente, fazendo menção de tirar o humano de cima dela. Porém, à medida que o beijo foi ficando mais tórrido, os quatro olhos de Rainbow Quartz foram lentamente se fechando, mostrando sua rendição às carícias apaixonadas de Amennekht. A gem começou a soltar suspiros apaixonados involuntariamente enquanto retribuía as carícias.

Bom, pelo menos era isso o que Amennekht visualizava, com a mente embotada pelo álcool. O que realmente estava acontecendo é que, enquanto ele beijava Rainbow Quartz, ela o encarava com os quatro olhos tão arregalados que pareciam que iam saltar da órbita. Quando a condição atingiu o insuportável, Rainbow Quartz empurrou o faraó de forma tão brusca que quase o arremessou contra a parede.

O que aconteceu em seguida foi tão surpreendente que fez Amennekht recobrar a sobriedade quase que instantaneamente: o corpo de Rainbow Quartz começou a brilhar e a se dividir em duas formas de luz, semelhante à vez que Garnet se desfundiu durante a discussão que ele tivera com a mãe, quando era mais novo. Pior: as duas gems que formavam Rainbow Quartz eram ninguém menos que Pérola e a própria mãe dele, Rose Quartz.

Rose estendeu a mão, tentando parar Pérola, que por sua vez começou a cuspir e a esfregar a boca como se quisesse remover alguma sujeira bastante tóxica.

(Pérola, cuspindo e esfregando a boca): *cusp* *cusp* *blergh* *blergh* Que nojo, Rose! Já não bastava ter que comer? Você nunca disse que íamos ter que chegar a esse ponto!

(Rose Quartz): Desculpe Pérola, a coisa fugiu de controle, eu só queria que o Amennekht não ficasse mais tão triste! Não era para acontecer isso!

(Amennekht, voltando a si): Pelos deuses... eu estava apaixonado pela minha própria mãe! Eu beijei a minha própria mãe! Por Ísis, eu apertei os peitos da minha própria mãe!!!

Por causa do susto que tomou, bem como pelo efeito do álcool, Amennekht correu para uma urna que estava aperta, não muito longe da porta, e começou a vomitar. Rose até fez menção a ajudar o filho, mas Pérola, visivelmente aborrecida, agarrou a quartzo rosa pelo braço e puxou ela para fora do quarto, no máximo estilo “precisamos ter uma conversinha! ”

(Amennekht, terminando de vomitar): Por Hathor! Por Bastet! Espero que, por favor, perdoem essa minha conduta! Por favor, me perdoem!

Amennekht sentiu alguém lhe dar um chute nas costas, derrubando-o no chão.

(Amennekht, vendo quem o chutou): Hathor?

(Hathor, séria): Não se preocupe, a gente te perdoa depois de te dar uma boa lição!

Bastet agarrou Amennekht pelos cabelos e começou a esbravejar com ele.

(Bastet): Quer dizer que é aquilo que você pensa da Merit, é? Qual é o problema? É só porque ela não tem a bunda da Rainbow Quartz? Ou as coxas da Rubelita?

(Amennekht): N-Não foi isso o que eu quis dizer, eu só...

Bastet deu um murro no nariz do egípcio, interrompendo-o, sendo ajudada por Hathor a surrar o faraó.

(Bastet): Seu traste!

(Hathor): Machista!

(Bastet): Incestuoso!

(Hathor): Tarado!

(Bastet): Objetificador de mulheres!

(Hathor): Misógino!

(Bastet): Bêbado!

(Hathor): Fascista!

Bastet parou de bater em Amennekht e encarou Hathor como se ela tivesse dito alguma coisa bem idiota.

(Hathor): O que foi?

(Bastet): “Fascista”, Hathor? Sériozão? Eu sei que a gente está dando esporro no Hórus por ele ter assediado a mãe, mas ele não é fascista. Você nem sabe o que é isso!

(Hathor): Desculpe, eu fiquei sem nomes feios para xingar.

(Amennekht): Mas que porra é essa? Por acaso eu sou candidato à presidência? “Mênfis acima de tudo, Hórus acima de todos”?

(Bastet): E você cala a boca, Hórus, senão acabo com a tua descendência antes mesmo dela nascer!

Enquanto isso, Rose e Pérola discutiam do lado de fora. Pérola estava muito aborrecida, se sentindo usada. Aquilo já havia durado tempo demais e não apenas ela se sentia prejudicada como também sentia que havia contribuído para que Amennekht saísse prejudicado.

(Pérola): Rose, você foi longe demais! Eu até entendo ter que fazer aquele ritual nojento de... “comer” para que o Amennekht se sentisse melhor. Mas aquela nojeira que ele fez passou dos limites! Ele enfiou aquele treco carnudo dentro da nossa boca!

(Rose): O nome daquilo é “língua”

(Pérola): Não me interessa como se chama aquilo! O que interessa é que foi nojento!

(Rose): Desculpe, eu só queria ajuda-lo. Desde que a Rubelita morreu, ele começou a se fechar, a se isolar de todas nós. Só que ele gostava da Rainbow Quartz, ele desabafava os sentimentos dele conosco. Ele até começou a sorrir quando nós duas começamos a passar mais tempo com ele. Eu sentia que aquilo podia ajuda-lo! Eu só queria ser uma boa mãe para ele!

Pérola notou que os olhos de Rose começaram a ficar cheios de lágrimas, então a abraçou afetuosamente, acariciando-lhe os longos cachos rosados.

(Pérola): Você é uma mãe maravilhosa para ele, e agora ele precisa dessa mãe mais do que nunca. Você disse para mim várias vezes que os humanos são complicados de entender, e que devemos buscar ter empatia com essa complexidade deles, mesmo que não a entendamos. Agora é o momento de colocar isso em prática. Sabe, eu estou pensando naquelas coisas que o Amennekht disse sobre a amiga humana dele, a Merit.

(Rose): Sobre ela não “fazer o tipo dele”?

(Pérola): Eu não sei o que ele quis dizer com isso, mas eu acho que ele está começando a se apaixonar por gems. Não por uma de nós, especificamente, mas por todas nós. Você percebe a seriedade disso, não percebe?

(Rose): Percebo. Humanos vivem apenas algumas décadas, diferente de nós, que vivemos por séculos a fio. Não pode existir um relacionamento como esse. Não seria bom para nenhum de nós.

(Pérola): Eu diria que já está fazendo mal para ele. Dê só uma olhada.

Pérola e Rose discretamente olharam pela porta entreaberta do quarto de Amennekht e viram ele gritando, literalmente, com o nada. Como se conversasse com alguém que não estivesse ali.

(Amennekht): Eu já disse que a culpa não foi minha! Como eu ia saber que a Rainbow Quartz e a minha mãe eram a mesma pessoa? E daí que ambas têm o sobrenome “quartz”? Isso é uma classe gem, não um nome de clã! Tem milhares de quartzos no exército das Crystal Gems! *dá um tapa no próprio rosto* A pedra também não dizia muita coisa! Um monte de quartzos tem a pedra na testa e no umbigo, minha mãe e Pérola não são as únicas! *dá outro tapa no próprio rosto* Droga Hathor, será que dá para a gente conversar como gente civilizada? Digo, deuses civilizados?

Rose ficou preocupada. Há quanto tempo Amennekht falava sozinho daquele jeito? De fato, ele estava com problemas, problemas que Rose teria que confrontar com uma boa conversa, que nem ela fazia quando Amennekht era criança. Pérola também tinha razão com outro fato: aquela paixonite que o faraó estava desenvolvendo por gems não era saudável. Humanos deveriam se relacionar com humanos, não com criaturas que vivem eras a fio. Isso seria muito triste, pois toda gem estaria condenada a, cedo ou tarde, ver seu amado humano morrer antes dela.

Mas, num contexto de guerra, isso era compreensível: com a vida se passando no limiar da morte iminente, os humanos tendiam a ser mais apressados, pois sabiam que, em questão de horas, poderiam não existir mais.

Isso a fez pensar: e quando tudo acabasse? Como seria a vida? Como a humanidade cresceria e se desenvolveria? Qual seria o seu lugar no mundo? O de Garnet, Bismuto e Pérola, sua companheira mais leal? Ela sempre imaginou um futuro bonito, cheio de esperança. Afinal, a Terra era um lugar lindo e cheio de potencial, por isso ela lutava para libertá-la do controle de Homeworld.

Respirando fundo e tomando coragem, Rose foi em direção à porta. Estava decidida a colocar aquele assunto envolvendo Rainbow Quartz e Merit em pratos limpos.

— Rose?

Antes de entrar na sala, Rose se virou ao ouvir a voz de Pérola.

(Pérola): Você disse ainda há pouco que não pode haver um relacionamento saudável entre um humano e uma gem, porque eles não vivem o bastante para nos acompanhar. Mas... mas...

(Rose): “Mas...”?

Pérola deu um sorriso suave, com o rosto levemente corado.

(Pérola): Eu sempre vou estar aqui, ao seu lado. Sabe disso, não sabe?

Rose sorriu de volta.

(Rose): Sim, eu sei disso. Você é o meu maior orgulho entre as Crystal Gems... minha pérola!


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Notas finais do capítulo

KKKKKKKKKKKK eu queria muito ver a cara de quem não conhece a série e acabou lendo a cena que o Amennekht descobre que a Rainbow Quartz é a Rose e a Pérola! MusaAnônima12345, isso não foi uma indireta não, viu? Foi uma bem direta! KKKKKKKKK!!!

Risadas à parte, eu me rachei de rir escrevendo o trecho do Amennekht e da Rainbow Quartz, principalmente a parte em que o faraó é surrado pelas deusas Hathor e Bastet. Obviamente, quem vem acompanhando minhas histórias sabem que eu não dou ponto sem nó: eu não coloquei esse desenvolvimento do Amennekht com a Rainbow Quartz só para haver esse alívio cômico no final. Em diversos trechos da história eu gosto de usar metáforas para retratar aspectos psicológicos das pessoas, discursos ideológicos e mesmo traços comportamentais. Eu usei as personagens femininas que se relacionam com Amennekht para simbolizar os três tipos de sentimento que um homem pode ter em relação a uma mulher: paixão, puro desejo carnal e amor. Quem for inteligente vai juntar as peças a partir desse ponto.

Eu também deixei espaços para algumas teorias nesse capítulo. Aliás, a história toda tem espaço para teorias. Modéstia à parte, essa está sendo a minha melhor história. Espero que, caso eu escreva histórias futuras, consiga pelo menos chegar perto do resultado que estou alcançando aqui.

Caso alguém se sentiu incomodado com o tanto de palavrões, avisem. Eu sei que deixei o aviso de linguagem imprópria, mas se acharem que estou pegando pesado, eu posso dar uma filtrada melhor. Até o próximo capítulo.



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