Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 23
O Garoto


Notas iniciais do capítulo

Rose conhece um garoto estranho em uma viagem.



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Pérola já havia se retirado, mas Rose continuava ali, parada em frente à porta do quarto de Amennekht, como se estivesse criando coragem para entrar lá e falar com ele. Enquanto isso, o bate-boca entre o egípcio e as divindades femininas continuava.

(Amennekht): Escuta, eu já pedi desculpas, tá bom? Eu bebi um pouco, fiquei com a mente embotada, não suspeitei que a gem linda e atenciosa cuidando de mim pudesse ser minha mãe, mas foi só isso! Não é como se eu tivesse cometido algum crime grave!

(Bastet): Você ia se deitar com sua própria mãe, Hórus! Acha que isso não é grave?

(Amennekht): É claro que não! Digo, não que isso não seja grave, é claro que é, mas eu não iria conseguir me deitar com ela nem se eu quisesse! É de uma gem que estamos falando! Acha que ela ia deixar aquilo acontecer?

(Bastet): E se ela não pudesse te impedir? E se ela fosse fisicamente mais fraca? Mais delicada? E se ela fosse uma humana?

Amennekht arqueou uma sobrancelha, como se Bastet tivesse falado uma coisa absurdamente estranha.

(Amennekht): E o que raios eu estaria fazendo com uma humana?

(Bastet, sarcástica): Eu não sei. Talvez o mesmo que você planejava fazer com a Rainbow Quartz, né? Francamente Hórus, você é humano! Digo, é um deus num corpo humano, mas ainda assim, é normal que você sinta atração por mulheres e tal, por isso que você gosta tanto das gems. Mas verdade seja dita, acho que já passou da hora de você conhecer uma boa humana e ficar com ela.

(Amennekht): Não.

Dessa vez, Bastet passou de sarcástica para intrigada.

(Bastet): Como assim... “não”?

(Amennekht): Você ouviu bem, Bastet. Eu não quero ficar com uma humana, eu quero ficar com uma gem.

Dessa vez foi Hathor que decidiu assumir a discussão?

(Hathor): Mas como assim, Hórus? Você não pode se casar com uma gem!

(Amennekht): É claro que posso, eu me casei com a Rubelita, não me casei?

(Hathor): Errr... tecnicamente não, já que vocês nunca oficializaram o casório.

(Amennekht, dando um “facepalm”): E daí, Hathor? Você por acaso tem dúvida de que nós vivíamos como marido e mulher?

(Hathor): Bom, não. Mas a Rubelita não está mais aqui, e isso realmente não está te fazendo bem. Você precisa de uma companheira, e a Merit, bem, ela está oferecendo a mão...

(Amennekht): Não, quem está oferecendo a mão dela é o Sebek. Tudo por conta de um acordo diplomático. Não é assim que as coisas funcionam, Hathor! Dentre todas as deusas, você deveria entender isso melhor do que ninguém...

(Hathor): Desculpe.

(Amennekht): Além do mais... depois de tudo o que eu passei com as gems... eu não consigo imaginar ninguém melhor para passar o resto da vida comigo do que com uma gem...

— Amennekht?

Era Rose. Assim que ela entrou no quarto de Amennekht, as duas deusas sumiram sem deixar vestígios.

(Rose): Eu posso conversar com você um pouquinho?

(Amennekht): P-Pode, pode sim. Escuta, eu sei que eu vacilei feio, viu? Eu não devia ter te beijado, nem ter botado as mãos nos seus... nos seus...

Amennekht ficou gesticulando um busto volumoso, enquanto Rose parecia não entender nada.

(Rose): Escuta, eu não entendi direito o que aconteceu aqui, mas tudo bem, eu te desculpo. Eu só queria conversar sobre outra coisa.

(Amennekht): O quê?

(Rose): Bem... é sobre as gems.

(Amennekht): O que tem elas? Aconteceu alguma coisa?

(Rose): Não, as gems estão bem. O problema é com você.

(Amennekht): E-Eu?

(Rose): Amennekht, eu noto que você tem agido de forma diferente com as gems. Suas palavras, suas ações, todas elas mostram...

(Amennekht): Mas mãe, eu adoro as gems! Adoro vocês de coração! Eu não entendo o que eu fiz de errado!

(Rose): Não é o que você fez de errado, é que... *suspiro* isso não está fazendo bem para você. Essa afeição que você está nutrindo por nós está se tornando algo inadequado.

(Amennekht): Eu não entendo. Foi algo que eu fiz? Vocês são tudo para mim, eu jamais faria nada para feri-las.

(Rose): Amennekht, o problema é que não podemos ser “tudo” para você. Podemos ser suas mentoras, suas amigas, suas conselheiras, suas companheiras de batalha. Mas não podemos ser suas... suas...

(Amennekht): Minhas...?

(Rose): Qual é mesmo aquele nome que você dava para a Rubelita, às vezes? Tem algo a ver com governar Mênfis juntamente com você, e também com viver com você pelo resto de sua vida.

(Amennekht): Rainha?

(Rose): Isso, isso. Eu não compreendo muito dos costumes dos humanos, Amennekht, mas eu percebi que vocês precisam, procuram com afinco alguém que possam amar, não é mesmo?

(Amennekht): Sim, é verdade. *suspiro* Que nem eu amava a Rubelita.

(Rose): E que nem você amava a Rainbow Quartz?

(Amennekht): Bom... eu...

(Rose): Escute Amennekht, esse sentimento que você tem merece ser compartilhado com alguém que possa vive-lo intensamente com você, pelo resto de sua vida. Me diga, Amennekht, quantos anos um humano vive, em média?

(Amennekht): Bom, eu não sei ao certo. Meu pai dizia que os meus avós viveram pouco mais de 80 anos. O pai de uma tia minha chegou aos 90 anos.

(Rose): Nós gems vivemos por séculos a fio, Amennekht. Você consegue imaginar a dor que seria para uma de nós conviver com você, ver você envelhecer e morrer, enquanto continuamos vivas, por eras?

(Amennekht): Eu...

(Rose): Mesmo que a Rubelita ainda estivesse aqui, mesmo que não houvesse essa guerra e vocês ainda pudessem viver juntos, ela também sofreria com isso. Ela veria, com o passar dos anos, você envelhecer e morrer, ao passo que ela nunca mudaria. No fim, só restaria a ela sofrer em solidão.

(Amennekht): Eu nunca parei para pensar nisso.

(Rose): Sei que você nos ama, Amennekht, e nós também amamos você, mas amar nem sempre significa manter alguém consigo. Às vezes, amar tem a ver com deixar o outro ir e saber dizer adeus. Às vezes, amar tem a ver com tomar para si uma grande dor para que o outro não tenha que sentir uma dor maior ainda.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, até que Amennekht tomou a iniciativa e abraçou sua mãe adotiva, com lágrimas nos olhos.

(Amennekht, com a voz embargada): Obrigado... mãe. Muito obrigado.

(Rose): Tudo bem... está tudo bem... pode chorar se quiser...

Do lado de fora do quarto, escondida, Merit havia ouvido tudo. Ela havia estranhado o fato de Amennekht ter saído antes sem nenhuma explicação, acompanhado de Rainbow Quartz. Ela ficou esperando até que Pérola saísse, a fim de não ser descoberta. Agora que vira tudo, Merit também saiu de lá, com os olhos semiúmidos. A egípcia já havia conhecido diversos tipo de dor: a dor de perder seu lar e sua família, a dor de tomar um murro na barriga durante um treinamento, a dor de um corte de machado de uma ametista ou do punhal de uma rubi... mas aquele tipo de dor, a dor de um coração vazio que, na tentativa de preencher aquele buraco, faz diversas loucuras?

Não, esse tipo de dor ela não conhecia.

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Mais tarde, naquela noite, todos foram dormir. Alguns dormiram no salão de festas, outros foram para o quarto dos convidados. O palácio ficou silencioso, um silêncio agradável para Rose, que perambulava sozinha pelos corredores vazios. Enquanto andava, via os convivas já repousando, com expressões de tranquilidade estampadas em seus rostos, e pensou em como devia ser agradável a experiência humana de “dormir”. Também se lembrou de quando Amennekht era criança e ela ficava lhe fazendo companhia até que ele dormisse.

Dito isso, Rose foi para um corredor mais afastado e achou Thanos esparramado pelo chão, com uma garrafa pela metade, e com um papiro embrulhando seu rosto. Rose segurou Thanos nos braços e o levou até um quarto que havia no corredor. Ao deitá-lo na cama, ele começou a murmurar.

(Thanos, falando enquanto dorme): Não é possível... que só eu notei isso... as peridotes têm uma bunda grande.

Mesmo estando bêbado e fedorento, Rose ainda conseguia achar Thanos um humano bastante adorável. A líder das Crystal Gems fez um carinho na testa do grego, depois resolveu se deitar ao lado dele, abraçando-o afetuosamente. A cama era confortável, o clima era agradável, e em pouco tempo Rose começou a ficar sonolenta, até que ela decidiu se render àquela experiência humana agradável chamada de “sono”.

Algum tempo depois, Rose abriu os olhos em um quarto totalmente diferente. Thanos não estava mais no lugar. Na verdade, Rose não estava mais deitada numa cama e sim em um divã. Ao se levantar, Rose viu uma mesa com um vaso de margaridas. Também havia um criado mudo com outros vasos, cheios de azeite de oliva. A casa tinha uma estrutura de madeira e mármore polido.

(Rose): Isso aqui não é mais o Egito... onde eu estou?

— AAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!

Rose ouviu um grito intenso de uma mulher, fazendo com que ela se levantasse e corresse na direção de onde viera. Rose se dirigiu até um quarto com a porta fechada, mas antes que ela entrasse lá, alguém abrira a porta por dentro e lhe deu um esbarrão, fazendo ela perder o equilíbrio e cair sentada. Um homem aflito, usando uma túnica branca, fechou a porta, aos gritos de uma segunda mulher.

(Mulher): Saia daqui homem, você está me atrapalhando!

O homem ignorou Rose, se restringindo a andar aflito em círculos à porta do quarto.

(Homem, aflito): Pelos deuses, espero que dê tudo certo!

(Rose, se levantando): O que está acontecendo? O que você quer que dê tudo certo?

O homem ignorou Rose novamente, como se ela nem estivesse ali, e continuou remoendo sua ansiedade. Ele continuou assim até ouvir um choro alto, dessa vez era de um bebê. Ele rapidamente entrou no quarto, acompanhado por Rose. Dentro do quarto, estava uma mulher, coberta com lençóis, deitada numa cama, com duas parteiras ao seu lado. Uma delas carregava um bebê que estava chorando enquanto era higienizado e embrulhado numa toalha. Aquele era o filho recém-nascido do

(Parteira): É um belo e saudável menino. Como você vai chama-lo?

(Pai): Vamos dar a ele o nome que o Oráculo indicou.

(Mãe): Sim, o nome dele será...

O lugar inteiro foi envolto em silêncio antes que a mãe terminasse a frase. Em um piscar de olhos, Rose foi transportada para outro lugar. Agora ela estava em um campo verde muito bonito. Ao seu redor, haviam palanques e escadarias de mármore, estradas, e pilastras, também de mármore. Perto dali, havia um garotinho de cabelos castanhos claros, olhos verdes, vestindo uma túnica de linho. Ele estava brincando sozinho, com uma casinha de gravetos muito bem-feita. Até havia um cercadinho com um pouco de terra que ele remexeu com um galho, lembrando uma terra arada. Esse garotinho tinha mais ou menos 4 anos.

(Garotinho): Hmmmm... mas toda fazenda precisa de um poço.

O garotinho enfiou o dedo na terra e cavou um buraco.

— Ei Thanos, vem brincar de lutinha com a gente! Pega sua espada de madeira!

Um grupo de meninos estavam chamando o garotinho, que se recusou a ir com eles.

(Thanos): Eu não quero!

(Outro garoto): Maricas desse jeito, vai ser filósofo igual ao pai dele!

(Thanos): Pelo menos o meu pai ganha moedas de ouro o suficiente para encher minha casa de comida boa. Diferente do teu pai, que foi tomar umas com as ninfas de Poseidon e se esqueceu de voltar para a superfície.

O outro garotinho começou a chorar e saiu correndo dali, o que deixou Rose bastante aborrecida.

(Rose): Por que você disse aquelas coisas feias para o seu amiguinho? Não viu que ele ficou triste? Peça desculpas para ele!

(Thanos): Porque ele é um chato!

(Rose): Peraí, você me notou?

(Thanos): Difícil não notar, sua chata! Por que você não vai cuidar dos problemas dos outros? É o que você faz de melhor!

Rose já estava prestes a responder quando uma garotinha passou por ela e deu um chute na perna de Thanos.

(Garotinha): Me respeita, seu malcriado!

(Thanos): Ai, Amphitrite! Sai daqui, sua bobona!

(Amphitrite): Pala com isso, desse jeito você vai morrer sozinho!

(Thanos): E daí? Em caixão só cabe um mesmo! Lá no Olimpo, todos os deuses vão me valorizar! Eu que vou gerenciar os Campos Elíseos!

(Amphitrite): Tá brincando de fazenda de novo? Não dá conta nem de ajudar seus pais com a adega de vinhos! Imagine gerenciar o paraíso! Thanatos te jogaria de volta pro rio Aqueronte de lá em uma semana, e Hades te mandaria de volta pro mundo dos vivos em um mês! Duvido que algum deus fosse suportar você, seu chato!

(Thanos): Você diz isso porque é mulher, não tem perspectiva! Quando eu tiver minha fazenda, vou montar minha própria adega. Os melhores vinhos vão ficar comigo e o resto eu vou vender. Assim, só vou beber do bom e do melhor e vou ganhar muito dinheiro. Até Dionísio vai ficar impressionado com meu vinho e vai descer só para provar!

(Amphitrite): Eu nem faço parte desse seu futuro, né?

(Thanos): Claro que faz! Eu vou precisar de alguém para lavar os jarros, né? Além de varrer a adega, pisar nas uvas, plantar as videiras. Com esses pés de touro e essas mãos de hoplita, vai ser molezinha!!!

(Amphitrite): SEU GROSSEIRO!!!

Amphitrite deu um chute tão forte em Thanos que derrubou ele no chão, depois ela chutou a casinha dele e saiu correndo.

(Thanos): Voltamos para os tempos de barbárie agora, é?

Rose resolveu ir atrás da garotinha. A líder das Crystal Gems a encontrou sentada perto de uma fonte, emburrada e com algumas lágrimas caindo.

(Amphitrite, chorando de raiva): Troglodita, bruto, mal-educado, nojento!

(Rose): Escute, o Thanos não disse aquelas coisas por mal. Ele às vezes tem um temperamento meio difícil. Age de forma inconsequente, mas no fundo, ele é...

(Amphitrite): Você fala essas coisas como se conhecesse ele.

(Rose, confusa): Espera... você falou comigo?

(Amphitrite): Com quem mais eu iria falar?

Rose não teve chance de responder, porque o mundo inteiro ao seu redor, começou a girar, produzindo um estado de tontura. Quando ela finalmente se recuperou viu novamente o gramado onde estava, só que um pouco mais velho. Também viu um Thanos mais velho, com mais ou menos 6 ou 7 anos. Dois garotos da mesma idade lutavam com espadas de madeira, enquanto Thanos e Amphitrite observavam.

(Thanos): Damastor, olha essa perna, está muito exposta! Desse jeito o Atreus vai cortá-la fora.

Um dos garotos, o Damastor, respondeu:

(Damastor, apontando a espada de madeira pro Thanos): Bicho, eu vou tomar todo o seu suco se você não calar a boca

(Thanos, fingindo medo): Aaaai, meu suco não!

(Damastor): Vou, vou sim! E fica quieta aí senão eu te mato viu, safada?

(Thanos, fingindo medo): Aaaai!

(Amphitrite, dando um soco em Thanos): Para com isso! É nojento!

Com a distração de Damastor, Atreus o empurrou para fora do círculo desenhado no chão.

(Atreus): Bicho, presta atenção no treino, rapaz. Ei Thanos, vem aqui que é a tua vez.

Thanos pegou a espada de madeira de Damastor e foi duelar com Atreus. Thanos ficou em posição de guarda. Atreus deu uma investida com uma estocada, mas Thanos segurou a mão de Atreus e pôs a perna na frente, fazendo ele cair no chão, fora do círculo.

(Damastor): Nem teve graça essa luta.

(Thanos): É que o cara não aguenta 10 minutos de porrada comigo!

(Amphitrite): Agora sou eu.

(Thanos): Ih, rapaz... ninguém quer trocar?

(Amphitrite): Qual o problema? Está com medo de uma simples garotinha?

(Thanos): Se fosse mesmo uma simples garotinha, ao invés da encarnação do Áries, estaria tudo de boa.

(Amphitrite): Como eu sou boazinha, vou te dar duas opções: ou lutamos cada um com uma espada ou você usa as duas espadas e eu pego uma vara.

(Thanos): Eu fico com as duas espadas.

Com ambos em guarda, Thanos avançou apenas para tomar uma cutucada na altura do umbigo e uma pancada na têmpora, caindo de lado, mas se mantendo dentro do círculo por pouco. O garoto se levantou e segurou a espada da mão esquerda de forma invertida. Ambos voltaram para posição de guarda, rodeando um ao outro. Dessa vez, Amphitrite tomou a iniciativa, mirando no braço direito do oponente, mas Thanos, com a espada invertida na mão esquerda, bloqueou o golpe e, com a espada da mão direita, engatou a arma de Amphitrite, Deslizando para frente, Thanos tentou empurrar Amphitrite, mas a garota soltou a vara e pulou em cima dele, aplicando uma gravata e fechando as pernas em torno do corpo dele. Thanos não desistiu e deu uma cambalhota para a frente, fazendo ela bater as costas no chão e soltá-lo. O garoto não perdeu tempo e pulou em cima dela, só que ela já foi dando um chute na barriga dele, depois subiu nas costas dele e lhe deu uma torção no braço direito.

(Amphitrite): Pede arrego! Pede arrego!

(Thanos, batendo a mão no chão): Arrego! Arrego!

(Amphitrite, se levantando): E aí? Algum dos machões vai querer brigar comigo?

(Atreus): Tamo fora! Quem vence minotauro é Teseu!

(Amphitrite, irritada): Seus grossos!

(Thanos): Tão delicada quanto um ciclope.

(Amphitrite): Como é que é?

(Thanos): CORRE, NEGADA!!!

(Amphitrite, com um pedaço de pau): Volta aqui! Vou mandar todos vocês pro barqueiro!

Rose começou a rir da cena toda, mas ainda assim não deixava de se impressionar com as habilidades daquelas crianças. O olhar da quartzo se voltou para uma flor que estava logo aos seus pés. Ao se abaixar para admirar a flor mais de perto, ela nem nota um vento quente trazendo um cheiro de queimado.

(Rose): Mas o quê...?

Erguendo novamente o olhar, ela contempla a bela cidade onde estava antes tomada pelas chamas. Os céus estavam cobertos por diversas naves gems, que atiravam raios contra as construções de mármore, jogando destroços para todos os lados.

(Rose, assustada): Mas espera aí! Onde está o Thanos?

Rose começou a procurar o Thanos, até encontra-lo sendo carregado nos ombros de uma topázio, com uma fusão de topázios “prendendo” os pais dele no próprio corpo. Tanto a topázio quanto a fusão se dirigiram até uma cornalina laranja, que tinha trejeitos de oficial de alto nível, acompanhada de uma jade.

(Topázio): Comandante Cornalina, o que fazemos com estes humanos.

Cornalina se aproximou dos humanos e deu uma boa olhada nos dentes deles, depois deu a ordem.

(Cornalina): Levem só os menorzinhos, eles duram mais.

A fusão topázio se desfundiu e, sem nenhuma cerimônia, quebrou o pescoço da mãe e deslocou o pescoço do pai com um murro, descartando os corpos logo depois.

(Thanos): AAAAAAHHHHHH, MALDITA!!! EU VOU TE MATAR!!!

De alguma forma, Thanos conseguiu se libertar do agarrão da topázio, então pegou um pedaço de pau e saiu correndo na direção da Cornalina. A jade que estava com ela se colocou em guarda, mas sua superior simplesmente pôs seu braço na frente, como se dissesse “não precisa”. Quando Thanos estava quase para dar um golpe, cornalina lhe chutou no rosto com seu salto, fazendo ele rodopiar no ar e cair duro no chão.

(Cornalina): Quando você for capaz de chutar meu rosto desse jeito, aí sim poderá tentar me matar. Até lá, você fica com os outros filhotes de humano.

A topázio de antes voltou a carregar o garoto, agora atordoado por conta do chute. A topázio, a fusão topázio e a jade foram embora seguindo a cornalina. Rose ainda fez menção a seguir o grupo para tentar salvar Thanos, mas todo o cenário ao redor dela se dissipou em trevas.

Pouco depois, Rose viu uma luz no meio de todas aquelas trevas. Ao segui-la, encontrou Thanos sentado, chorando, vestindo a túnica unissex que era dada aos humanos no zoológico gem. Antes que ela pensasse em consolar Thanos, um garoto negro com dreads apareceu.

(Garoto): Para de chorar, seu branco molenga.

(Thanos): Vai se ferrar, T’Challa! Me deixa em paz! Mataram meus pais e jogaram eles fora como dois sacos de bosta! Eu perdi minha cidade, meus amigos! Agora me prenderam aqui!

(Sebek): Parabéns, especialzinho! Acho que ninguém além de todo mundo nessa prisão sabe a dor que você está sentindo, né? Seu imbecil!

(Thanos): ...

— Esses são os últimos! Vamos jogar naquele viveiro ali e acabamos o serviço!

Amphitrite, Atreus e Damastor foram jogados na mesma jaula em que estavam Thanos e o rapaz negro.

(Thanos, abraçando os amigos): Amphitrite, Atreus, Damastor!

(Amphitrite, chorando): Thanos, você está vivo! Eles mataram meus pais e os pais do Damastor! Só a mãe do Atreus que ficou viva, mas ela foi levada para outro lugar!

(Rapaz negro): Bem, pelo menos sua perda não foi total...

Novamente a porta do viveiro se abriu, dessa vez mostrando uma garota egípcia. A julgar pelo jeito dela, parecia que ela já estava acostumada com aquilo lá.

(Garota egípcia): E aí Sebek, já está socializando com a carne nova?

(Sebek): Claro Merit, temos que dar a eles o consolo que não tivemos. *se virando ao Thanos* Bem-vindo ao nosso cativeiro de cristal. Qual o seu nome.

Sebek estendeu a mão a Thanos e seus amigos.

— Eu sou Damastor.

— Eu sou Atreus.

— Eu sou Amphitrite.

— E eu sou Thanos.

Thanos...

Thanos...

Thanos...

Ei... Thanos...

THANOS!!!

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Rose e Thanos acordaram abruptamente com os gritos. Na porta do quarto estavam os três vikings e Menob, caindo na gargalhada, mais o Amennekht, boquiaberto e espantado. O motivo: eles pegaram no flagra Rose dormindo com Thanos, abraçados de conchinha.

(Amennekht, gritando com voz gasguita): Sério, mãe? Depois de todo aquele sermão, você vem fazer uma coisa dessas?

(Erik): Carai, é por isso que chamam ele de “Tião Joalheiro”!

(Olaf): Quem perdoa são os deuses! Titãs não perdem tempo!

(Baleog): O cara é um picareta mesmo: fura pedra com vontade!

(Menob): Não sabia que o cara curtia MILFs.

(Amennekht, zangado): Ei, é da minha mãe que você está falando!

(Erik): Vai lá pedir a bença pro teu padrasto, Ameni, senão ele vai ser carrasco!

(Thanos, acordando): Mas o que é que está acontecendo aqui? Eu tava dormindo sozinho.

(Olaf): Ih rapaz, é pior do que eu pensava. Foi ela que tomou a iniciativa.

(Baleog): E eu pensando que elas eram seres puros feitos de luz.

(Menob): Nunca me enganaram. Sempre desconfiei daquela mania de nos trancar em jaulas com aquelas roupas apertadas!

(Amennekht): Agora já chega!!!

Amennekht saiu correndo atrás de todo mundo com um pedaço de pau que tirou sabe-se lá de onde. Até o gigante correu, gritando:

— Vamos espalhar as boas novas para o Egito! KKKKKKK!!!

O quarto ficou apenas com Thanos e Rose, que ficaram extremamente constrangidos e resolveram se levantar e sair do quarto, sem trocar uma única palavra.

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Ilha-base da Divisão Sigma – Algumas horas antes

Logo após o fim da batalha de Kenusa, as gems da Divisão Sigma voltaram para sua ilha, todas com o espírito extremamente abatido e com cara de quem havia sido pisoteadas por uma manada de elefantes. Cornalina estava cheia de escoriações e andava com dificuldades, sendo auxiliada por sua melhor amiga Jade.

(Cornalina, abatida): Perdemos a Ametista naquele combate.

(Esmeralda, segurando o choro): A culpa foi minha. A Ametista ficou para trás porque estava me defendendo! Eu não dei conta de proteger a pedra da Celestita e a Ametista teve que ser estilhaçada por isso!

(Jade): A culpa não foi sua, Esmeralda! Não foi de ninguém! Aqueles humanos... eles são selvagens

(Jet, com as mãos trêmulas): Eu vi uma lignita pegar um blaster e atirar num deles! Ela arrancou fora um pedaço da barriga dele, depois veio uma jaspe e arrancou fora um dos braços dele! O maldito se regenerou como se fosse uma gem! OS MALDITOS DO ESQUADRÃO PLATINA TÊM PODERES GEMS!!!

Jet começou a surtar, obrigando Ônix a agarrá-la e estapeá-la até que voltasse ao normal.

(Ônix, estapeando Jet): Acalme-se, Jet! Eles não têm poderes gems! Você viu coisas! Foi uma alucinação, entendeu? UMA ALUCINAÇÃO!!!

Esmeralda notou que a pedra de Celestita, que ainda estava com ela, começou a brilhar. Rapidamente ela correu para um lugar a sós enquanto a discussão continuava. A pedra de Celestita começou a brilhar e a levitar, então uma forma de luz começou a se constituir, até se transformar na Celestita. A gem verde baixinha teve que se esquivar quando o enorme punho da gem azulada passou zunindo sobre sua cabeça. Celestita pensava ainda estar no campo de batalha.

(Esmeralda, escondida atrás de uma pedra): Celestita...?

A gigante azul se virou para sua companheira. Seu semblante começou a ficar bastante sério quando notou que ela estava com vários ferimentos: uma queimadura na lateral do braço, marcas de tapas no rosto e um dos olhos meio inchado e dois ferimentos pérfuro-cortantes numa de suas coxas.

(Celestita, aborrecida): Esmeralda... quem fez isso com você?

(Esmeralda): Foi um humano... ele estilhaçou a Ametista. A culpa foi minha, eu não consegui proteger sua pedra, eu...

(Celestita): Não, a culpa foi minha... Eu fui poofada na batalha anterior e por causa disso você teve que ficar cuidando da minha pedra...

(Esmeralda): Celestita...

(Celestita): Eu fui uma fraca, uma inútil!!! Eu deveria estar lá para ajudar vocês, mas ao invés disso, eu deixei um daqueles bichos irracionais me perfurar com uma lança!!! Eu devia ser estilhaçada por isso!!!

Celestita começou a bater no próprio rosto, como se quisesse se autoflagelar por seu fracasso, até que Esmeralda interviu e se mostrou bastante enérgica.

(Esmeralda, chorando): Nunca mais diga que deveria ter sido estilhaçada! Ouviu bem? NUNCA MAIS!!!

As duas companheiras se abraçaram, com a menor já se desmanchando em lágrimas, enquanto a maior tentava se manter forte.

(Esmeralda, chorando): A Ametista não merecia aquilo...

(Celestita): Me desculpe por não estar lá para te proteger...

Em outro lugar, Ônix e Bixbita trabalhavam juntas consertando partes do exoesqueleto que Ônix usava nas batalhas, e que ficara extremamente danificado em Kenusa. Ônix estava com vários ferimentos da batalha anterior, mas para ela isso parecia pouco importante, em comparação com o exoesqueleto dela.

(Bixbita): Ônix, eu preciso da chave magnética.

(Ônix): Aqui está. Ei, Larimar.

(Larimar): Pois não?

(Ônix): Pode pegar o capacitor de fluxo reserva que deixei no depósito.

(Larimar): É pra já.

Depois de pegar a ferramenta, Larimar voltou até Ônix. A gem negra começou a vestir o exoesqueleto e Larimar acabou vendo, por alguns instantes, uma coisa estranha nas costas de Ônix. Parecia uma espécie de realçador de membro que as peridotes usavam, mas era um anel negro, bem largo, que parecia estar preso nas costas dela.

(Ônix, vestindo o exoesqueleto): Muito bem, vamos testar.

Não levou 20 segundos para o bicho começar a dar pau e Ônix desesperadamente tentar fazer a geringonça parar. No processo, ela acabou acionando o modo de ejeção, que fez a máquina se desmontar em várias partes. As roupas dela acabaram um pouco chamuscadas, e Larimar também notou que aquele anel misterioso nas costas de Ônix parecia meio danificado.

(Bixbita, preocupada): Ônix, Ônix, você está bem?

(Ônix): Pior que antes não fiquei. Rrrrrghhhh, acho que danifiquei alguma coisa. Será que você poderia consertar?

(Bixbita): Claro, deixa eu só pegar minhas ferramentas.

(Larimar): Ônix, o que é isso nas suas...?

(Ônix, ríspida): Não é da sua conta, Larimar! Porque você não vai dar um daqueles mergulhos que você tanto gosta, hein?

(Larimar, aborrecida): Nossa, mas que grossa, hein?

Enquanto a maioria das gems trabalhava na manutenção e reparos de equipamentos usados na batalha de Kenusa, Cornalina estava ausente, o que acabou preocupando Jade. Ela se dirigiu até o lugar onde ficava o radiocomunicador, que era o lugar onde frequentemente ela a encontrava. Dito e feito, foi ela chegar perto do lugar e começou a ouvir a voz de Cornalina brigando com alguém! Jade só teve que se escorar na porta para ouvir tudo.

(Cornalina, furiosa): Nós acabamos de voltar! Aqueles animais quase estilhaçaram a gente! Como assim, é o nosso trabalho? Tá, eu sei que é, mas você tem que entender... DROGA HESSONITA, EU NÃO SOU UMA SIMPLES PÉROLA QUE VOCÊ PODE ME MANDAR IR PARA LÁ E PARA CÁ!!! MINHAS GEMS NÃO SÃO OBJETOS DESCARTÁVEIS, ENTENDEU??? NÃO QUERO SABER DE VOCÊ ME USANDO COMO BUCHA DE CANHÃO PARA DETER OS PLATINAS!!! PARA QUÊ VOCÊ TEM UM EXÉRCITO???

Um silêncio absoluto se formou, até a voz de Cornalina soar outra vez, dessa vez em tom de choro e desculpas.

(Cornalina, sentida): Desculpa, desculpa, desculpa, eu não sei o que deu em mim! Eu prometo que isso não vai mais se repet... oh não, por favor, nem brinque com isso! Eu vou fazer isso, está bem, eu vou! Apenas me dê algum tempo, eu e minhas gems, para descansarmos. Nós iremos amanhã, eu prometo. Está bem? O-Obrigado.

Quando Jade entrou na sala, viu Cornalina debruçada na mesa, chorando enquanto ainda segurava o comunicador. A gem verde se aproximou de sua comandante, a fez largar o comunicador e lhe perguntou, com um tom de voz solidário.

(Jade): Comandante, o que houve?

(Cornalina, chorando): A H-Hessonita ligou *chuif*. Ela quer que nos encaminhar novamente para outra missão. Eu tentei dizer um monte de coisas, que estamos machucadas, abatidas, que perdemos uma de nossas companheiras, mas ela disse que somos guerreiras de elite e que choramingar é coisa de “gem descolorida”. Disse que temos que enfrentar o Esquadrão Platina. Disse um monte de coisas. Oh Jade, eu não sei o que fazer.

(Jade): Calma, calma. Vai ficar tudo bem. Quando partimos?

(Cornalina): *snif* Amanhã de manhã.

(Jade): Entendo. Por hora, vamos descansar. Vem, vamos nos juntar às outras.

Enquanto Jade conduzia uma Cornalina bastante transtornada, não conseguia parar de encarar o comunicador ainda jogado na escrivaninha, nem parar de pensar no que viria a seguir. Seja o que for, deveria ser algo tenso, para deixar Cornalina abalada daquele jeito.

Jade não suportava ver Cornalina abalada como estava. Aquilo lhe partia seu coração. Cornalina não era apenas uma oficial de alto nível que deveria ser protegida. Para a gem verde, Cornalina era uma amiga muito íntima, quase uma irmã. Cornalina também era uma espécie de ponto de apoio para toda a Divisão Sigma. Como em toda divisão militar das gems, quando a líder está forte, todas as suas subordinadas estão. Mas se o líder está fraco, é questão de tempo para a divisão inteira cair.

Tudo o que Jade queria era que tivesse um jeito de emprestar um pouco de sua força para Cornalina. Que houvesse um jeito de ambas poderem passar por tudo aquilo juntas.

Mas de que forma isso poderia acontecer?

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Não, essa seria uma péssima ideia.


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Notas finais do capítulo

Neste capítulo, eu quis abordar mais desse desenvolvimento do Amennekht e do Thanos. Começando pelo nosso faraó, muita gente deve ter ficado de queixo caído sem entender nada ou com uma grande vontade de quebrá-lo na porrada por causa do incidente com a Rainbow Quartz. A ideia para aquilo veio de uma cena do filme "De Volta Para o Futuro", em que a mãe do protagonista no passado se apaixona por ele. Outra ideia para isso foi porque eu queria usar essa questão dos shippings como uma forma de retratar metaforicamente as maneiras como homens enxergam as mulheres: o desejo de possuir uma versão idealizada do sexo oposto, a paixão por um ser idealizado e o amor por um ser real, como ele. A julgar pelo andar da carruagem, creio que a maioria dos leitores já deve ter deduzido quem vai ser o amor verdadeiro dele, né não?

Quanto ao grego... a maioria dos fãs entendeu o recado logo de cara, mas para os que ficaram boiando eu explico: no desenho Steven Universo é retratado que Steven tem o poder de se comunicar telepaticamente com outras pessoas enquanto dorme, inclusive tendo a capacidade de entrar na mente das outras pessoas durante os sonhos delas. Como todos os poderes dele são de origem gem, achei razoável deduzir que a mãe dele também poderia fazer isso. Este será um conceito muito importante para desenvolver o Thanos daqui para frente.

Hoje eu fico de férias, então esperem capítulos novos saindo com maior frequência. Os próximos trarão um pouco mais de desenvolvimento para as gems da Divisão Sigma. Se quiserem, podem apresentar sugestões sobre o que vocês gostariam que acontecesse com elas. Críticas construtivas também são bem-vindas.

Antes de me despedir, uma enquete rápida: qual o seu personagem favorito dessa história nas seguintes categorias?

Humano

Crystal Gem

Gem de Homeworld



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