Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 10
Reunidos enfim


Notas iniciais do capítulo

Durante uma batalha, a Rainha de Ahkvata reencontra alguém importante do seu passado. Agora, reunidos, ambos se dirigem ao vale de Sidim, a fim de levar a importante descoberta ao rei.



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Quando criança, Merit tinha um gosto um tanto diferente dos das outras princesas: enquanto as outras gostavam de ser finas, arrumadas e delicadas, Merit gostava de aprender técnicas de autodefesa e também gostava de brincar de lutinha com Amennekht e Sebek. Inclusive ela era muito boa nisso, já que sempre estava treinando novas técnicas de lutas. Seus dois amigos de infância não ficavam atrás e, em pouco tempo, logo aprendiam os movimentos da garota, restando para Merit apenas a apelação: quando, ocasionalmente, Amennekht ou Sebek acertavam um soco em cheio nela, mesmo sem querer, Merit cobria o rosto e se jogava no chão, choramingando baixinho. Quando os dois irmãos, preocupados, iam ver como ela estava, ela se aproveitava para imobilizar ambos. Inclusive ela até tinha uma frase pronta para zoá-los:

“ - Incrível como vocês homens são todos iguais! Não se cansam de ser enganados toda vez pelo mesmo truque da ‘donzela indefesa machucada? ’”

Isso já fazia muito tempo, antes do ataque das gems à Mênfis, antes dela se mudar para a nova cidade, no Vale de Sidim. Ninguém em Ahkvata se surpreendia com uma mulher que sabia lutar. O estilo de luta de Merit, outrora único, agora era só mais um em meio ao de tantas mulheres querendo sobreviver àquela guerra. Ver um homem surpreso com uma mulher que sabia lutar transmitia uma sensação que Merit já havia esquecido.

E ouvir um homem pronunciando seu nome, sendo que em Ahkvata ela era conhecida apenas como “A Rainha”, também tinha essa sensação outrora esquecida.

“Sou eu, Amennekht!”

Aquelas palavras também produziam uma sensação igualmente esquecida nela. Ao ouvi-las, Merit se levantou e, com as mãos trêmulas, deixou a adaga cair no chão, depois se jogou com tudo nos braços do amigo de infância, gritando de alegria!

(Merit, feliz da vida): AMENNEKHT!!! C-Como você... você está tão diferente!!! Puxa, é tão bom te ver!

As gems começaram a se entreolhar como quem não entendia absolutamente nada. Uma velha conhecida de Amennekht, Joanete, esquentada que só, tratou de exigir explicações.

(Joanete): Ô Amennekht, quem é essa humana?

(Amennekht, ignorando tudo): Como você veio parar aqui?

(Merit): Me diz você! Por que todas essas gems estão te seguindo?

(Joanete, gritando): AMENNEKHT, QUEM É ESSA HUMANA???

Atendendo aos gritos histéricos da rubi Joanete, Amennekht voltou sua atenção a ela.

(Amennekht): Essa é a Merit, é a minha melhor amiga!

(Joanete): Essa louca é sua amiga?

(Amennekht): Ei mãe, Garnet, venham cá! Merit, essa é a senhorita Rose Quartz, minha mãe adotiva, e Garnet, uma grande amiga minha.

(Garnet): É um prazer conhece-la.

(Merit): O prazer é todo meu.

(Joanete): Pera pera pera, PERAÊ!!! Deixe-me ver se entendi: você conhece ela, ela te conhece. Ela vem com um monte de selvagens para nos atacar, e para você está tudo bem? Tipo... QUEM É AQUELE MALUCO ALI???

Joanete apontou para Thanos, que estava com raiva e pegou a cabeça dos vikings e bateus elas estilo “Os Três Patetas”. O grego era tão doido que até dava uns pulos pra bater na cara do Menob, bem ao estilo “Punch-Out”.

(Thanos): Idiotas, trogloditas, mongoloides! Eu já não falei para manterem a formação? Se vocês tivessem mantido a formação, teriam poofado MUITO MAIS gems!

(Amennekht): E você quem é?

Thanos recuperou sua compostura e começou a falar como se estivesse diante de um rei.

(Thanos): Eu sou Thanos, mais conhecido como Tião Joalheiro, o Quebrador de Quartzo!

Amennekht fez uma cara de estranheza, tentando levar aquilo a sério, mas com muita vontade de rir.

(Amennekht): VOCÊ quebra quartzos?

(Thanos): Quebro. Aqui tem coragem.

(Amennekht): E quantos quartzos você já quebrou essa semana?

(Thanos): Matei uma jaspe aí, mas que valeu por umas duas ou três ametistas. Porque ver jaspe só em afresco não é que nem ver pessoalmente. Quando ela solta aqueles giros de “ziuuuummmm-zuuuuimmmm” e o pau começa a cantar é perigoso do hoplita cagar na armadura! Mas graças aos deuses estou bem, com saúde, e com fé no grande Odin sempre aqui estou e vou estar, com meu clarim a ressoar!

(Amennekht, estranhando): Então tá, né?

— Peraí, você é o Thanos?

Quem tinha dito aquilo era a Topázio Imperial. O guerreiro grego arregalou os olhos e correu para dar um abraço na gem alaranjada.

(Thanos): Toph, eu não acredito! É você!

(Topázio Imperial): Thanos, já faz tanto tempo, eu não te vejo desde que você me deu aqueles presentes na Síria!

(Garnet): Presentes?

(Topázio Imperial): Sim, eu vi umas joias lindas dando sopa numa mesinha e eu quis pegar algumas, mas tinha um cara malvado que não quis me dar, então o Thanos...

Thanos tapou a boca da pequena gem e a interrompeu

(Thanos): Eu comprei as joias da forma mais honesta possível! Ih, olha lá, é a Rose! Ei Rose!

(Rose): Thanos? Há quanto tempo! O que o trouxe até aqui?

(Thanos): Bom, é que tinha um monte de gems andando até a cidade que eu estou morando, né? Então eu tinha que dar uma olhada, só que essa cambada de corno que eu tenho vergonha de chamar de esquadrão não sabem obedecer às ordens e partiram para a ignorância assim que viram vocês.

(Rose): Tudo bem, ninguém se machucou.

(Thanos): Bom, eu acho né? Porque sua amiga Pérola está aqui!

Thanos estendeu a mão e mostrou a pedra da Pérola, ainda intacta. Rose pegou a pedra carinhosamente e a cobriu delicadamente com ambas as mãos.

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O tempo se passou e o enorme grupo seguiu viagem, rumo à Ahkvata. Mesmo usando o teletransportador, foi gasto muito tempo para as centenas de gems e mais o contingente de Thanos se locomoverem de forma que, quando anoiteceu, eles tiveram que acampar a uma certa distância da cidade. Ao longe, era possível ver apenas os gigantescos muros de Ahkvata, medindo cerca de 50 metros de altura. As gems montaram um enorme acampamento para passar a noite com os novos aliados humanos. Thanos e Merit não fizeram nenhuma cerimônia para se juntar às rebeldes, mas Menob e os vikings acenderam uma fogueira mais afastada do grupo maior. Rose não gostava de ver aqueles quatro humanos tão afastados então tratou de ir até o grupo e chama-los.

(Rose, sorrindo): Por que vocês estão aqui sozinhos, nesse frio? As Crystal Gems estão lá com seu líder, todos se divertindo. Por que não se juntam a nós?

(Erik, falando secamente): Não, obrigado. Estamos muito bem aqui.

(Rose): Imagino que sim, mas acredito que vocês ficariam muito melhor se fossem se diver...

(Baleog): Olha moça, não nos leve a mal, mas não gostamos de aglomerações, principalmente quando a maior parte da multidão... não é de carne e osso. Entende?

Rose entendeu o recado e desfez o sorriso em seu rosto. Antes de dizer mais alguma coisa, Menob ergueu os olhos e começou a falar...

(Menob): Sabe moça, você me parece ser alguém bondosa e que quer sinceramente nos ajudar. Posso te perguntar uma coisa?

(Rose): Sim, é claro que pode.

(Menob): Quando minha cidade natal, Quiriate-Arba, na região montanhosa de Hebrom, foi destruída, eu vi meu rei, morto, nas mãos de uma gem. Ela tinha cabelos rosas, iguais ao seu. Na verdade, você me lembra bastante as gems que atacaram minha cidade...

(Rose): ...

(Menob): ... me diz aí, quando você agarra um guerreiro humano e mata ele, qual é a sensação?

(Olaf): Menob, já chega.

(Menob): Não, eu tenho curiosidade para saber. Diga quartzo, o que é que passa na cabeça de vocês quando agarram um humano, esmagam o crânio dele, quebram sua coluna, arrancam os braços e as pernas e então sujam suas belas joias com aquele líquido escarlate repugnante? O que é que você sente?

(Rose, cabisbaixa): ... eu não sei.

(Menob): Você não sabe... entendo. Acho que se eu fosse como vocês também não saberia explicar. Quero dizer, depois de tantas mortes, tanto sangue derramado, de que importa algumas vidas humanas insignificantes, não é? Que diferença faz para uma gem se alguns humanos vivem outro dia em suas miseráveis vidas ou se morrem?

(Olaf): Menob, eu disse chega!

(Menob): Tudo bem, já parei.

Rose ficou um tanto triste com os comentários de Menob, então se afastou e voltou a se juntar às outras Crystal Gems.

(Rose, triste e sussurrando para si mesma): Suas vidas importam para mim... e para todas as Crystal Gems.

Rose, ainda cabisbaixa, foi voltando para o grupo maior, fitando a pedra da Pérola ainda em sua mão. A tristeza da líder rebelde acabou passando despercebida entre a multidão que festejava como se não houvesse amanhã. Amennekht olhava Thanos dançando exageradamente junto com a Topázio Imperial, a Bismuto e outras gems. Parecia até que eles eram velhos amigos. Ao olhar para o lado, viu Rubelita se sentando perto dele.

(Rubelita): Festinha agitada a do Thanos, né?

(Amennekht): Vem cá, desde quando você conhece esse cara?

(Rubelita): Já faz tempo, foi antes de eu e você virarmos amigos. O Thanos era um cara que ficava vagando sem rumo pelo deserto, acompanhado de uns outros guerreiros parecidos com ele.

(Amennekht): E o que houve com esses outros guerreiros?

(Rubelita): Eu não sei direito. Quando encontramos ele, ele estava sozinho com os guerreiros do lado dele... todos mortos... ele não gosta de falar nisso.

(Amennekht): Puxa... olhando ele assim, todo felizão, nem parece que ele passou por maus bocados.

(Rubelita): Às vezes eu acho que ele esconde muita coisa de nós. Tipo, a Topázio Imperial é a melhor amiga dele, mas mesmo ela não sabe quase nada sobre o Thanos. Às vezes me pergunto o que ele esconde.

(Amennekht): Você gosta dele, não gosta?

Rubelita se virou para encarar o egípcio e roubou um beijo dele.

(Rubelita): Não tanto quanto eu gosto de você.

— Oi Amennekht, como é que você está?

Merit tinha saído do meio do grupo dançante e foi puxar uma conversa com Amennekht.

(Merit): Você está ocupado?

(Rubelita): Sim, nós estamos conver...

(Amennekht): Ah não, não, não, quéisso? Estamos só conversando! A propósito, deixe-me apresentar a minha amiga melhor, digo, milha menhor amiga, não pera...

(Merit): Ah, sua melhor amiga? Prazer, eu sou a Merit.

(Rubelita, aborrecida): Rubelita.

(Merit): Ei Amennekht, quer vir dançar?

(Amennekht): Errr, bom, é que eu nunca dancei, não sei se...

(Merit): Ah, não seja tímido, eu te ensino. Vamos.

Amennekht se levantou, sem cerimônia, e foi dançar com sua amiga. Ao olhar para Rubelita, viu ela dar um sorriso, mas assim que o egípcio desviou o olhar, a gem ficou com cara de manga azeda. Pior foi que a Topázio Imperial, vendo Amennekht e Merit dançando juntos e mais a cara de aborrecimento da Rubelita, não perdeu tempo para zoar a amiga rosa-choque.

(Topázio Imperial): Aêêêê, Rubelle, dá uma disfarçada aí! Pelo menos finge que tá curtindo a festa! Eu estava sentindo essa dor-de-joia lá do lugar onde estava dançando!

(Rubelita, ruborizada): Do que você está falando?

(Topázio Imperial): Ah vá, não se faça de desentendida! É claro que estou falando do seu “Ameni”! Hihihi...

(Rubelita): Não é nada disso, Topázio Imperial!

(Topázio Imperial): Lembra dos treinamentos? Você, só de maiô, sufocando o pobrezinho do “Ameni”, de apenas 13 anos, com seus peitões!

Ao ouvir essas palavras, a cor da Rubelita mudou de rosa-choque para um vermelho intenso!

(Rubelita, extremamente vermelha): Escute aqui, para sua informação, aquilo não é um maiô, é uma toga para treinar pancrácio!

Topázio Imperial não conteve seu riso, camuflado com sons exagerados de salivação e lambida de lábios.

(Topázio Imperial): Aham, me engana que eu gosto!

(Rubelita, extremamente vermelha): E em segundo lugar, eu estava ensinando a ele como aplicar um mata-leão bem firme! Não era como se eu estivesse tentando seduzir ele!

A conversa foi interrompida quando Thanos chegou cambaleando, com o hálito fedendo a vinho velho.

(Thanos, bêbado): Aaahhhnnnn, tô carente! Será que alguma das gems pode me dar atenção?

(Rubelita, cobrindo o rosto com vergonha): Thanos... você andou bebendo aquela bebida púrpura de novo?

(Thanos, bêbado): Quem é você para me julgar? Eu vi você metendo a língua no egípcio!

(Topázio Imperial): É o quê? Que papo é esse de “língua” e “egípcio”?

(Rubelita): Topázio, não dê bola para esse besta! Olha o estado em que ele se encontra!

Como se fosse para comprovar as palavras da Rubelita, Thanos começou a falar mais coisas estranhas ainda.

(Thanos): Toph, leva o Tião para a barraca e faz um cafuné nele? Que nem naquela vez?

Dessa vez, foi a Topázio Imperial que ficou constrangida!

(Rubelita, seríssima): Que vez foi essa, Topázio Imperial?

(Topázio Imperial): Eu só tinha feito umas tranças no cabelo dele, só isso! Não faço ideia do que ele está falando? *se referindo ao Thanos* anda logo, seu besta, vamos te colocar para dormir!

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O resto da noite transcorreu sem mais nenhuma eventualidade fora do normal, e no dia seguinte o grupo chegou, enfim, às grandes muralhas de Ahkvata. As sentinelas, tão logo viram o enorme contingente de Crystal Gems às suas portas, logo tratou de se preparar para uma batalha iminente. Percebendo a movimentação estranha no topo, Thanos tratou de tocar bem alto seu clarim de batalha. Vendo que estava sendo ignorado, o grego resolveu apelar

(Thanos): Rose, me joga para cima.

A quartzo rosada obedeceu e arremessou Thanos bem alto. Usando sua espada-chicote, o grego se agarrou nas ameias da muralha e terminou a subida.

(Thanos): Ô cacete, vocês são surdos? Eu disse parem! Não estão vendo que elas são aliadas?

(Sentinela): Desculpe-me, capitão Thanos, é que não esperávamos que você viesse acompanhado de um monte de gems.

(Thanos): Bom, mas eu vim, e tratem de abrir os portões. E por sinal, cadê o rei?

(Sentinela): Ele está no palácio, aguardando sua chegada.

Enquanto os sentinelas abriam os portões das muralhas, Thanos simplesmente pulou lá do alto e planou calmamente até aterrissar perto de seus aliados, arrancando um olhar de espanto de Amennekht.

(Amennekht): C-C-Como ele fez isso?

(Merit): O Thanos é cheio de truques.

Já dentro da cidade, a população estava dividida: embora muitos tocassem pandeiros, flautas, tambores e outros instrumentos para comemorarem a chegada do capitão do Esquadrão Platina, outros estavam preocupados com o enorme contingente de gems que o seguiam. Tentando parecer neutros, os arautos começaram a tocar trombetas, anunciando ao rei o retorno de Thanos. Junto com Thanos, Amennekht, Merit, Rose, Garnet e Pérola adentraram no palácio.

(Rei): Vejo que está de volta, Thanos. E então, quem são esses que o acompanham?

(Thanos): São as tais gems aliadas que eu lhe falei! Além do mais, a rainha Merit tem uma boa notícia para o senhor!

(Merit): Sebek, o Amennekht está vivo e ele voltou!

Tanto Amennekht quanto o rei de Ahkvata tomaram um baita susto. O monarca, por ter recebido a notícia, o guerreiro, por ter ouvido aquele nome.

(Amennekht, surpreso): S-S-Sebek...? V-Você é...?

(Sebek, se levantando do trono): Irmão? É você mesmo?

(Amennekht): Sim Sebek, eu estou vivo!

Os dois irmãos se abraçaram, emocionados. Embora se sentissem tentados a chorar, a alegria era maior que a vontade de derramar lágrimas.

(Amennekht, ainda abraçando o irmão): Nosso tio Menkara ainda está vivo, irmão?

Sebek desfez o abraço, com uma expressão triste no rosto.

(Sebek): Nosso mundo está em guerra, e numa guerra muitas pessoas morrem... mas foi por causa dele que Merit e eu chegamos vivos até aqui.

(Merit): No tempo que ficamos... prisioneiros das gems, Menkara foi como um pai para mim.

Todos os humanos ficaram com expressões tristes e cabisbaixos, em solidariedade ao rei de Ahkvata. Rose, Pérola (que já havia se regenerado pouco antes de entrarem no palácio) e Garnet também ficaram bastante entristecidas. Sebek lançou um olhar discreto, mas bastante penetrante em Pérola, mas logo depois começou a sorrir e quis erguer o ânimo de todos à sua volta.

(Sebek): Mas agora não é o momento de ficarmos tristes! Meu irmão mais velho está de volta! Isso pede comemoração! Merit, avise os cozinheiros! Diga a ele que hoje à noite teremos uma grande festa! Enquanto tudo é preparado, queira aceitar ser meu hóspede! Eu tenho um quarto que é perfeito para você, meu irmão. E enquanto você e se aconchega, quero que você me conte sobre tudo o que lhe aconteceu durante esses anos que se passaram.

(Amennekht): Então irmão, antes de mais nada, quero que você conheça minha mãe adotiva: Rose Quartz, a líder das Crystal Gems.

(Rose Quartz, sorrindo): É um prazer conhecer o irmão de Amennekht.

Sebek não respondeu nada, apenas ficou encarando a gigantesca quartzo de cabelos rosas. Sua expressão facial misturava surpresa e seriedade, provavelmente por conta de ter ouvido Amennekht chamar Rose de mãe. Depois disso, Sebek deu um sorriso e disse:

— Sejam bem vindas a Ahkvata, senhoritas. Creio que ficarão felizes em se hospedar na casa de meu melhor capitão, afinal, vejo que já conhecem Thanos, o heleno.

(Thanos): Ah, pode ser. Me sigam.

Rose, Garnet e Pérola saíram do palácio e seguiram Thanos até a casa dele, que ficava, literalmente, logo ao lado: era um prédio consideravelmente grande, mas ainda assim um pouco menor, e de aparência um tanto simples.

(Thanos, abrindo a porta): Entrem, senhoritas.

Por dentro, a casa de Thanos era incrível! Bem no meio da sala, tinha uma fonte e dentro da fonte, havia estátuas do guerreiro grego e dos seus aliados do Esquadrão Platina, todos com asas de anjinhos e erguendo as mãos de forma cômica, como se estivessem anunciando a chegada de alguém importante. Acima das estátuas com gestos de “Contemplem!”, estava uma estátua de Sebek, em postura séria. Todas as estátuas, com exceção da de Sebek, esguichavam água pela boca.

(Pérola): Por que a estátua do seu rei esguicha água pelo umbigo?

(Thanos): Quando inauguraram essa casa, eu achei essa fonte uma tremenda sacanagem, então eu decidi fazer um furinho na estátua de Sebek um pouco abaixo para a água sair de outro lugar. A propósito, isso aí não é o umbigo.

Pérola não entendeu a piada, Garnet se mostrou indiferente, mas Rose corou de vergonha.

(Thanos): Agora venham que eu vou lhes mostrar o quarto de vocês.

Subindo um lance de escadas, as gems chegaram até um corredor com várias portas.

(Thanos): Podem escolher qualquer uma que não tenha um nome na porta.

(Garnet): Eu quero essa aqui.

A porta que a Garnet escolheu levava a um quarto mediano, com uma cama, janela com cortinas de seda e algumas mobílias. Pela janela, dava para ver a estrada principal de Ahkvata, bem como diversas casas e comércios.

(Thanos): Os quartos são simples porque deixamos o morador decorar como quiser. Sintam-se à vontade. A propósito, NUNCA entrem no quarto da Merit!

(Garnet): Por quê?

Thanos abriu a porta do quarto da Merit e mostrou uma verdadeira zona: roupas de linho espalhadas pela cama e pelo chão, algumas penduradas até na janela. Até dava para ver umas frutas mordidas pelo chão.

(Thanos): Peraê, aquilo lá no meio das roupas dela é um rola-bosta?

(Pérola): Minha Diamante...

(Thanos, fechando a porta): Enfim, aproveitem a sua estadia.

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De noite, começou a festa no palácio de Sebek. O rei havia convidado seu irmão mais velho, os membros do Esquadrão Platina e também os comandantes militares e os comerciantes mais ricos de Ahkvata, bem como os líderes do conselho, que eram anciãos de diversos povos: helenos, zulus, midianitas, filisteus, vikings e até mesmo hunos, japoneses e povos americanos, como apaches e astecas. A festa estava vislumbrante, com dançarinas de roupas reveladoras dançando ao som de flautas, pandeiros e harpas. Ao lado do trono do rei, na grande mesa do banquete, estavam Merit, à direita, e Amennekht, à esquerda, e do lado de Amennekht, estava Thanos.

Uma coisa que chamou a atenção de Amennekht desde que ele chegara à cidade é que ele não viu uma Crystal Gem sequer. Com anos vivendo ao lado das guerreiras de cristal, e vendo humanos libertos trabalhando lado a lado com elas, era estranho estar numa cidade onde a presença de gems era praticamente nula.

(Amennekht): Sabe Sebek, eu notei desde que entrei nesta cidade que não há nenhuma gem aqui. Inclusive o povo pareceu bem desconfiado quando viu minha mãe pela primeira vez. Isso é estranho porque no reino onde eu governo humanos e gems convivem juntos na mais perfeita harmonia. Por que aqui é diferente?

(Thanos): Sabe que eu concordo com teu irmão, Sebek? Quer dizer, você podia ter convidado Rose e as amigas dela. Acho que elas iam gostar daqui. Elas adoram humanos.

(Sebek, sério): Bom Amennekht, entendo sua indagação. Mas veja bem, embora eu seja o rei, eu tenho um grupo de conselheiros de diversas nações, e eu devo a eles o grande contingente populacional, tanto civil quanto militar, do meu reino. Há etnias de diversos cantos do planeta aqui na minha cidade: midianitas, egípcios, vikings, filisteus, uns poucos anaquins, hunos, apaches, zulus, astecas... porém os líderes que trouxeram seus guerreiros para cá exigiram ter parte nas decisões políticas de Ahkvata e, bem, eles não se sentem confortáveis com a presença de gems dentro das muralhas.

(Amennekht): Mas as Crystal Gems são diferentes, elas lutam por nós, talvez se dessem a elas uma chance, eles veriam que...

(Sebek): Desculpe-me irmão, mas acha que já não tentei isso? É só uma minoria que concorda com seus pensamentos, e nós sabemos que, para o bem maior de uma sociedade, o poder não pode ser exercido de forma tirânica, sem levar em conta as necessidades dos súditos. Você é um rei assim como eu, deve entender isso.

(Amennekht): Entendo.

(Sebek): A propósito, já viu minhas tapeçarias?

(Thanos): Você reencontra seu irmão que não vê há anos e a primeira coisa que quer mostrar para ele são tapetes?

(Sebek): Não ligue para meu capitão, ele é um ótimo guerreiro, mas infelizmente não é tão bom em cerimônias formais quanto é no campo de batalha. Enfim, vamos ver as tapeçarias...

(Thanos): Sebek, eu pensei que seus aliados políticos não gostavam de gems.

(Sebek): Bom, a maioria deles não confia totalmente nelas, alguns até gostam. Mas de qualquer forma, o que isso tem a ver com que estamos conversando agora?

(Thanos): Bom, é que eu quero saber quem é aquela pérola.

A pérola a que Thanos se referia era uma pérola negra, de cabelos negros e curtos e uma tonalidade de pele que oscilava entre um azul-escuro e um tom cinzento. A roupa dela era um maiô negro, cheio de decotes, enfeitado com alguns babados de cor parda. Ela também usava pulseiras longas e sapatilhas, ambas na cor preta. A pedra dela, localizada na região lombar, era destituída de brilho e tinha a superfície cheia de arranhões (https://pre00.deviantart.net/49ef/th/pre/f/2016/190/d/d/black_pearl_by_guardian_angel15-da9flh5.jpg).

(Sebek): Bom, é que aquela Pérola Negra é minha serviçal particular. Como eu a encontrei e me tornei o dono legítimo dela, então essa foi uma questão na qual meus aliados não puderam interferir.

(Thanos): Rapaz... eu posso falar com ela?

(Sebek): Não Thanos, você pode estar aqui se divertindo, mas ela é uma das empregadas! Não a atrapalhe!

Amennekht estranhou a forma como seu irmão Sebek se referia àquela Pérola Negra, afinal, ele crescera junto de uma pérola e o tratamento dado a ela era completamente diferente.

(Amennekht): Por que você trata a Pérola Negra como se fosse uma serviçal?

(Sebek): Tantos anos vivendo com gems e você não sabe o porquê? Amennekht, pérolas SÃO serviçais. Elas existem para servir as que são mais importantes. Ter uma pérola lhe servindo é um sinal de grande prestígio entre as gems.

(Amennekht): Mas, eu passei anos vivendo com uma Pérola e ela nunca foi uma serviçal. Muito pelo contrário, ela era uma das melhores espadachins que eu já havia visto.

(Sebek): Bom, então essa deve ter sido uma exceção, porque quando eu achei essa Pérola sem dono vagando por aí, a primeira coisa que ela fez ao me encontrar foi me escolher como seu novo mestre.

(Amennekht): Irmão, eu confesso que eu realmente não sabia disso a respeito das pérolas. E você Thanos?

Amennekht olhou para o lado mas não viu Thanos, e ao vasculharem o cenário com os olhos, viram o capitão do Esquadrão Platina conversando de uma forma bem espalhafatosa com a Pérola Negra, que timidamente servia vinho aos convivas, tentando ignorar o grego e tentando ocultar um leve rubor em sua face.

(Thanos): Oi, eu sou o Thanos. Você sempre vem aqui?

(Pérola Negra): ...

(Thanos): Como é que você conheceu o Sebek?

(Pérola Negra): ...

(Thanos): Por que você está me ignorando? Não fala minha língua?

A Pérola Negra olhou timidamente nos olhos do grego, mas depois desviou o olhar e voltou a servir vinho aos convivas. Alguns, já sob efeito do álcool, ficavam falando certas indecências, o que deixava a pobre gem ainda mais desconfortável.

(Thanos): Se você olhou e ficou com vergonha é porque gostou do produto...

A pérola negra continuou o serviço, ignorando o grego. Sebek, por outro lado, se aproximou irritado e levantou a voz, assustando a pobre gem, que quase deixou a jarra cair.

(Sebek, irritado): Thanos, eu não disse para você não xavecar a Pérola Negra? Ela está trabalhando! Dezenas de dançarinas e você tinha que se engraçar logo com a copeira?

(Thanos): Ela está trabalhando e eu estou admirando o trabalho dela! E sem ofensas, suas dançarinas são todas iguais, eu nem consigo diferenciar quais dormiram contigo semana passada. E olha que foi um barulhão! Eu quase que taquei um castiçal na tua janela para ver se parava o escândalo!

(Sebek): Thanos, eu tolero muitas gracinhas suas, mas essa aqui está passando dos limites! Volte para seu assento e deixe minha copeira trabalhar.

(Thanos, semicerrando os olhos): Está bem.

Thanos voltou para seu assento sem mais brincadeiras. Com isso, Sebek e Amennekht também voltaram para seus lugares. O rei de Ahkvata se levantou e ergueu sua taça de ouro, incrustada com joias, cheia de vinho até a boca.

(Sebek): Meus sábios conselheiros, meus guerreiros leais, eu quero propor um brinde ao meu querido irmão mais velho, o faraó de Mênfis, Amennekht I!

Amennekht também se colocou de pé e ergueu sua taça, também cheia de vinho, e complementou a fala do irmão:

— Eu também brindo a você, meu irmão Sebek, rei de Ahkvata! Que juntos nossos poderes quebrem o domínio das Diamantes e libertem nossos povos desta tirania!

Os convivas se levantaram com suas taças erguidas e bradaram solenemente:

— Vida longa aos reis!

 

IRMÃOS DE SANGUE E DE ARMAS, REUNIDOS ENFIM


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Notas finais do capítulo

E mais um capítulo saindo do forno, este aqui introduzindo a primeira cidade da fanfic onde humanos vivem se protegendo das invasoras de Homeworld. Os mais atentos poderão facilmente detectar a referência ao mangá Ataque dos Titãs, que inclusive foi uma das inspirações para escrever essa fanfic.

Outro trunfo aqui é a revelação sobre a identidade do rei de Ahkvata como ninguém menos que o irmão caçula de Amennekht, Sebek. Parabéns ao leitor Capitão Inútil pela dedução. Depois do desenvolvimento de Amennekht, um forte candidato agora a ganhar brilho na história é Thanos, o guerreiro grego que comanda o Esquadrão Platina. O rei Sebek também vai ganhar bastante visibilidade daqui para frente. Ambos com uma história de fundo tão densa quanto a de Amennekht, talvez até mais.

Bom, por hora é só. Volto com capítulos novos assim que atualizar minha outra fanfic, "Além de Rainhas e Generais". Até lá, fiquem com essa outra arte conceitual da Pérola Negra: https://i.paigeeworld.com/user-media/1486252800000/51007dd4f86b85eb7e00a791_5896a093974071be0e609f69_320.jpg



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