The New Avenger escrita por Dark Sweet


Capítulo 11
Escolhas, consequências


Notas iniciais do capítulo

Hey! Olá, terráqueos! Voltei!
Rápido, mas não tão rápido. Mas voltei, né não?
Boa leitura, bebês!



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 Chegar em casa às 04:00 AM de um domingo enquanto sua avó está passando uns dias na sua casa e quer companhia para ir ao mercado não era uma boa ideia.

—Minha querida, você já está pronta? Eu quero aproveitar as promoções. –

—Vó, só um segundo, ok? Eu preciso de café. – pedi bebendo mais um gole da bebida preta.

—Acontece que essa já é a quarta xícara de café que você toma. Não é bom tomar tanto café assim, sabia? – revirei os olhos e terminei o café.

—Eu ia parar na terceira. – disse levantando e colocando a xícara na pia. – Mas não gosto de números ímpares. – Juliet revirou os olhos e saiu da cozinha. Acompanhei ela e peguei a chave do meu carro. – Mãe, estamos indo! –  gritei e escutei um ok como resposta.

Entramos no carro e eu dei a partida, indo em direção ao bendito mercado. O ruim de ir ao mercado em um domingo? Era porque eles só abriam até meio dia. E depois de uma festa e uma garrafa inteira de vodka eu só pretendia acordar no dia seguinte. Missão fracassada graças a dona Juliet.

—Você não chegou junto com seus pais. Onde estava? – ela indagou checando a pequena lista de compras.

—Fui dar uma volta. Espairecer, sabe? – respondi virando em uma esquina.

—Ah, claro. Espairecer em um bar? – a olhei de soslaio. – Quando fui te acordar, encontrei seu vestido no chão. O peguei para botar para lavar e senti o cheiro de vodka. Eu sou velha, mas eu sou boa com datas. E você não é maior de idade. –

—No Estados Unidos adolescentes bebem antes de fazer 21 anos, você sabe. – resmunguei.

—Não resmungue para mim, mocinha. E sim, eu sei disso. Porém, o cheiro de algo estava forte demais. Nunca ouviu falar em beber com moderação? –

—Vó, por favor. Meus poderes não me livram totalmente da ressaca, sabia? – falei parando o carro no semáforo. – E se a senhora tivesse me deixado beber mais café, eu não estaria tão chata! – a olhei. Ela suspirou.

—Seus pais me contaram o que aconteceu na festa. –

—Então você deve saber que eu ter saído sozinha depois de tudo significa que não quero falar com ninguém. E sim, isso inclui a senhora. –

—Eu quero perguntar uma coisa. – o sinal ficou verde. – Se os Vingadores te chamarem para lutar ao lado deles, você irá? – fiquei um tempo calada, pensando.

Eu iria, certo? Não, eu não iria. Ajudar os Vingadores a salvar o mundo ou ajudar os Vingadores a salvar o mundo e fazer merda arruinando tudo? Eu sou uma desastrada. Para que eles iriam me querer para lutar ao lado deles?

Soltei um suspiro pesado e parei o carro em uma vaga no estacionamento do mercado.

—Eu não sei, vó. –

***

—Melinda, quer levar alguma coisa? Um biscoito, talvez? – ela indagou me fazendo rir. Já era o oitava vez que ela perguntava isso.

—Eu não quero nada, vó. – respondi.

—Eu pensei em fazer rocambole. O que acha? –

—É o prato preferido do Adam. – falei andando com o carrinho.

—Oh! E meu neto chega hoje! Vou fazer rocambole. Ele prefere de chocolate ou goiabada? –

—Chocolate. – respondi colocando alguns tablet de chocolates no carrinho. – A senhora também devia fazer... – uma explosão aconteceu me impedindo de terminar a frase. Larguei o carrinho e segurei o braço da minha avó.

—O que foi isso? – ela indagou olhando ao redor.

—Não sei, mas boa coisa não deve ser. – falei me preparando para ativar o escudo a qualquer sinal de perigo. Outra explosão aconteceu fazendo minha vó apertar mais meu braço. – Não me solta. – disse erguendo minha mão em direção a parede. – Meu senso de direção não é muito bom, mas acho que o estacionamento fica atrás dessa parede. – murmurei. Fiz um círculo na parede com o jato de energia e foquei no meio do círculo, atingindo com outro jato e derrubando a parede. E sim, era o estacionamento. – Vamos. – disse começando a caminhar, mas eu parei assim que percebi que não estava sozinha. Ativei o escudo quando vi quem era.

—Olá, criança. – sorri.

—Fala, Robocop. Pelo visto, não vou poder mais te chamar de lata velha, não é mesmo? – disse reparando que ele tinha mudado de lataria.

—Desative o escudo, Melinda. Estou aqui para apenas conversar. –

—Se fosse só para conversar enquanto tomamos um chá, você não teria vindo com esses três paus mandados. – os olhos dos outros três robôs ficaram vermelho em vez de azul. – Ai que medo. – ironizei revirando os olhos.

—Eu não matei você ontem na festa. – Ultron falou inclinando a cabeça um pouco para o lado.

—Ah, sim. Eu reparei. Aliás, foi bem indelicado da minha parte ter te matado por ora sem agradecer. Pensando melhor, foi uma grande grosseria. – disse.

—Espero que saiba porquê. – o robô não se deixou abalar pela minha fala carregada de sarcasmo.

—Eu sou muito nova para morrer? – arrisquei.

—Quero você ao meu lado. – arqueei a sobrancelha. Então eu respirei fundo e voltei a olhar para o robô chefe.

—Desculpe, mas eu não curto relacionamentos sérios. Meu negócio é só diversão, sabe? –

—Sabe do que estou falando, criança. –

—Ok, eu sei. E daí? O que te leva a crer que eu vou participar desse seu planinho infalível? – cruzei os braços séria.

—Por que você não participaria? – ele rebateu fazendo-me soltar uma risada carregada de escárnio.

—Quer que eu liste os motivos em ordem alfabética ou pode ser desorganizado mesmo? – indaguei.

—Por que continuar ao lado dos Vingadores, Melinda? –

—Ora essa! São os Vingadores! Os heróis mais poderosos da Terra! –se Ultron soubesse sorrir, aposto que teria dado um sorriso carregado de escárnio.

—Será que os Vingadores conseguiram me vencer, criança? –

—Dã. – revirei os olhos enquanto batia na minha testa de leve. – São os Vingadores! Nós temos o Hulk, sabia? E você? Tem quem? Esquece, Dom Aço. Não vou te ajudar. – cruzei os braços.

—Por que proteger um mundo que se soubesse o que você fez te julgaria sem pensar duas vezes? –

—Não sei do que está falando. E se te consola, não me importo se as pessoas descobrirem. – disse tentando parecer indiferente. Só que essa tentativa foi por água abaixo.

—Ah, não? Acho que se você não se importasse, não teria mudado seu nome, não é, Mérida? – senti minha respiração falhar por um momento. Aquele nome. Não era para ele ter dito aquele nome!

—Eu não sei do que você está falando. – disse pausadamente.

—Ah, não? A palavra explosão te diz alguma coisa? Ou o nome Richard? – cerrei meu punho sentindo minhas unhas rasgarem um pouco minha pele. Respirei fundo algumas vezes.

—Eu. Não. Sei. Do. Que. Está. Falando. – repeti entre dentes.

—Não deixe ele mexer com a sua cabeça, minha menina. Você é mais forte que isso. – minha avó falou acariciando meu cabelo. Aquilo me fez relaxar um pouco.

—Então, essa é a Juliet? Eu fico impressionado como no mundo de hoje ainda existam pessoas que perdoam os erros das outras. Como o seu, por exemplo, Mérida. Você matou o filho dela e ela não fez nada com você, além de continuar a mesma. –

—Isso se chama amor, Ultron. Conhece? – perguntei sorrindo.

—Essa é a última chance, criança. Vai se juntar a mim, ao lado que irá vencer? – revirei os olhos.

—Qual o seu problema, hein? Não sabe ouvir um não? – coloquei minhas mãos na cintura. – Olha, Ultron, independente se as pessoas me julgarem ou não, eu jamais cogitaria a ideia de me aliar a você para destruir o mundo. Eu vivo nesse mundo, minha família vive nesse mundo, eu gosto desse mundo. Então por que você acha que eu iria ficar ao seu lado? –

—Você é uma garota extraordinária. Ainda descobrindo seus poderes, o que eles podem fazer. E para que vai usar? Para proteger as pessoas que se um dia tiverem reconhecimento do seu passado irão te julgar? –

—O que você pode saber, Dom Aço? Você nasceu ontem. – cruzei os braços.

—Saiba que sua escolha terá consequências. – arqueei a sobrancelha.

—Tipo o que? Vai me matar? – suspirei. – Eu não irei te ajudar. Ponto final. –

—Tudo bem. Não diga que eu não avisei. – Ultron falou em um tom ameaçador, fazendo um alerta surgir na minha cabeça. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa um barulho agudo bem alto soou, fazendo tanto eu como minha avó cobrir os nossos ouvidos enquanto gritávamos.

Foi então que senti algo prender meu pescoço e minhas costas baterem na parede. Um dos três robôs estava me encurralando na parede enquanto segurava meu pescoço com uma certa força. Tentei me soltar a qualquer custo e foi quando eu percebi que não estava mais no mercado.

—O que? – sussurrei confusa. Eu não reconhecia o lugar, mas ele estava destruído.

Os prédios estavam todos demolidos assim como as casas, os carros completamente quebrados e amassados, o asfalto com buracos e pessoas no chão. Mortas.

—Não. – murmurei olhando para os rostos. – Não, não, não. – eram os Vingadores.

Seus corpos todos machucados, os uniformes tinham grandes poças de sangue e as armas deles estavam destruídas, sem mais nenhuma utilidade.

—Vocês não podem estar mortos. Não podem. – falei olhando para o Hulk. Então meu olhar encontrou outras pessoas caídas no chão. Pessoas que eu conhecia. – Não. – corri na direção delas. Levei a minha mão à boca quando tive a certeza de quem eram. — Não. – senti as lágrimas se acumularem. – Meus amigos não. Por favor. – me ajoelhei. – Tyler. Você não... não pode estar morto. Não pode. – meu coração que já estava apertado, ficou mais destroçado ainda quando encontrei a minha família. As lágrimas começaram a cair, grossas e uma atrás da outra. – Mãe. – me arrastei até ela. – Mãe. – acariciei seu rosto. Meu pai, Adam, Will. – Pirralho! Não, você não. – balancei o corpo dele. – Eu não vou suportar isso. Will, acorda. Por favor, pirralho. – sussurrei.

—Me... linda? – sua voz soou fraca, quase inaudível enquanto seus olhos focavam em mim.

—Will! – falei sorrindo. Ele estava vivo. Vivo!

—Você... podia ter nos... salvado, Mel. – ele falou os olhos começando a fechar.

—O que? – sussurrei. – Will? – o chamei batendo de leve no rosto dele. – Pirralho, fica acordado. Hey. – aproximei meu rosto do dele e não senti sua respiração. Ele estava morto. Olhei ao redor. Todos estavam.

As lágrimas não pararam de cair. Eu tinha perdido todos. Todos! Passei minhas mãos pelo cabelo.

—Não! – gritei fechando os olhos com força. Quando os abri, estava de volta ao mercado. – O que? – murmurei confusa dando uma volta em meu próprio eixo olhando ao redor do mercado. Meu olhar encontrou o de Ultron. – Que palhaçada foi aquela? – perguntei limpando meu rosto. – O que foi aquilo, sua lata velha idiota?! – gritei me aproximando.

—Aquele foi seu pior medo, criança. – ele respondeu rapidamente.

—Meu pior medo? Ah! Fala sério! Vai vir mesmo com essa frase clichê de merda? – perguntei ainda gritando. Foi então que eu percebi que tinha mais duas pessoas ali. – Que papagaiada é essa? Convenção de vilões? –

—Sério que é essa garota que você queria lutando ao nosso lado? – a mulher falou com um sotaque russo.

—Amor, dá licença que o papo ainda está entre mim e o Dom Aço aqui, ok? Quer falar alguma coisa? Levanta a mão. – voltei a olhar para Ultron. – Eu só vou te dizer isso mais uma vez. Se esse circo todo foi para "tentar abrir meus olhos" e me fazer lutar ao seu lado, saiba que seu plano foi para a puta que pariu! Eu não sei se você é burro ou só está se fazendo de idiota, mas isso só me fez querer matar você mais ainda! Aquela manipulação mostrou que seu plano teve sucesso e todas as pessoas mortas! Inclusive as pessoas que eu amo. Eu não serei culpada novamente por matar as pessoas que eu amo. Nunca mais. – cruzei os braços. De repente eu tive um estalo. – Minha avó. – olhei ao redor procurando pela dona Juliet. Quais as chances dela ter conseguido fugir com quatro robôs homicidas e duas pessoas? – Onde. Está. A. Minha. Avó? – questionei pausadamente sentindo a energia crescer em meu peito com um misto de raiva.

—Fala dessa daqui? – Ultron falou apontando para um robô que se aproximava com minha avó presa pelo pescoço.

—Vó! – sussurrei com a respiração ofegante. – Solta ela. – grunhi olhando para Ultron que me ignorou. Não tinha como eu usar meus poderes sem machucar ela seriamente. Maldição.

—Sabe, criança, se você se juntar a mim, pode ter sua família e amigos protegidos. Eles irão ficar vivos e sem um arranhão. –

—Esqueça essa ideia estúpida de que eu vou me aliar a você! Eu já disse qual lado escolhi! – gritei. –Agora solta a minha avó! –

—É uma pena você ter que carregar mais uma morte de um ente querido em suas costas. – arregalei os olhos.

—Ultron, não viemos aqui para matar ninguém. – o garoto de cabelo cinza falou, igualmente com um sotaque russo. Poderia até dizer que ele e a outra são irmãos.

—Quando você se juntou a mim, soube exatamente como as coisas funcionam. – ele ergueu a mão na direção da minha avó. – Diga adeus a sua avó. – olhei para a mulher que, mesmo na situação em que estava, sorria.

—Está tudo bem, querida. Isso não é culpa sua. Eu estou bem. – uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

—Vó. – dei um passo na direção dela.

—Eu amo você. – ela falou antes de Ultron atingir ela com um raio propulsor.

—Não! – gritei sentindo minhas pernas falharem. Cai de joelhos sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Apoiei minhas mãos no chão vendo o corpo já sem vida da minha avó no chão.

A minha avó está morta. Novamente alguém que eu amo morreu por causa desses poderes. Novamente por minha culpa.

—Eu te disse, Mérida. Escolhas, consequências. – fechei os olhos com força. A simples menção a aquele nome só faz com que a raiva aumente gradativamente, assim como a energia em meu peito.

Levantei sentindo tudo ficar mais claro e meus pés não tocarem mais o chão. Logo eu soltei uma risada debochada.

—Consequências? – ri novamente limpando meu rosto. – Você acha mesmo, Ultron, que serei eu quem irá sofrer com as consequências? – perguntei ficando mais longe do chão.

O medo de me estabacar toda no chão e ficar toda quebrada sumiu, dando lugar a uma sensação de poder. Não lembrava de ter sentido isso alguma vez em relação aos meus poderes, mas essa é uma sensação maravilhosa, diga-se de passagem.

—Os olhos dela... – o garoto de cabelo platinado murmurou surpreso, um pouco assustado talvez, quem sabe?

—Eu devo dizer a vocês que eu não pretendia me meter nessa luta entre Ultron e Vingadores, sabe? Se os ilustres Vingadores pedissem minha ajuda eu não iria aceitar, não queria atrapalhar eles, nem nada disso. Mas agora eu acho que vou lutar ao lado deles por conta própria. Obrigada, amor. – falei sorrindo para Ultron e então, lentamente fui subindo minhas mãos. As pessoas e robôs ali presentes flutuavam – com exceção da minha avó, claro. Sorri enquanto mexia meus dedos e eles também se mexiam, como se estivessem ligados – e estavam, não? Sorri com essa mais nova habilidade. – Você estava certo, Dom Aço. Eu ainda estou descobrindo meus poderes. – olhei para o casal e movimentei minha mão direita para o lado com certa brutalidade, fazendo ambos irem para o outro lado do mercado e baterem na parede. –  Agora, eu vou matar você. –

—Sabe que não pode me matar. Eu uso a internet para... – o interrompi:

—Fugir? É, eu sei. Bruce explicou isso quando você fez aquele circo todo. Isso é ruim? Sim, é. Contudo, é até bom, sabe? Posso te matar mais vezes! – disse erguendo minha mão na direção de um dos robô e o acertando com o jato de energia. Fiz o mesmo com o outro. Olhei para o robô que segurava minha vó pelo pescoço e sorri de um jeito psicopata, não me importando com mais nada.

Com a mão esquerda eu fiz um movimento com meus dedos que trouxe o robô até mim. Aumentei o ritmo e quando ele estava próximo de mim, fechei meu punho e acertei um soco com toda minha força na cabeça dele, fazendo ela separar do corpo.

Ultron poderia ter feito algo esse tempo todo, não podia? Então por que diabos ele não fez nada? Estava esperando um convite?

Fiz a mesma coisa com ele, mas em vez de arrancar a cabeça, eu apenas segurei o pescoço dele.

—Por quê? – perguntei fechando mais minha mão ao redor do pescoço dele. – Tinha algo por trás daquele "quero que lute ao meu lado". Por quê, Ultron? Por que matar a minha avó? Por que me envolver nessa luta? Por quê? –

—Ora, criança. O que te faz acreditar que eu irei falar? Eu matei a sua avó para mostrar o quanto as pessoas a tornam fraca. – semicerrei os olhos.

—Você sabe a sensação que é perder alguém, Ultron? –

—Você acha que eu me apego a alguém? – revirei os olhos.

—Tem certeza que foi Stark quem te criou? Você é muito chato! – falei e enfiei minha mão bem onde devia ficar o coração. – Você mexeu com a pessoa errada, Ultron. – falei segurando o coração dele e o puxando para fora do corpo. Observei o coração de metal em minha mão e fechei mais meus dedos, o amassando. Olhei para o robô e vi os olhos se apagarem. Soltei a carcaça junto com o coração e observei a situação do mercado.

Como eu ainda estava voando, dava para ver alguns pontos mais distantes todo destruídos, assim como alguns civis no chão, provavelmente mortos. Foi quando meu olhar encontrou minha avó, igualmente morta. Lentamente fui descendo e senti meus pés tocarem o chão. Fui até ela sentindo algumas lágrimas caírem pelo meu rosto. Me ajoelhei ao lado dela e toquei seu rosto.

Seus olhos não tinham mais o brilho que costumavam ter. Passei meus dedos suavemente sobre seus olhos, fechando-os. Respirei fundo e no mesmo momento escutei vozes. Pareciam ser de policiais.

Merda.

Olhei para o corpo de Juliet e tentei fazê-lo flutuar, como fiz há alguns minutos. Me concentrei, imaginando o que fiz com Ultron e os demais. Foi quando o corpo começou a elevar.

Levantei e sai pelo buraco que fiz na parede e dava para o estacionamento, que era fechado, ainda bem. Seria muito difícil explicar o porquê de uma senhora estar flutuando e... morta. Só que então eu percebi que tinha um enorme problema: o mercado todo estava cercado por viaturas.

Merda, merda, merda!

Como eu vou sair daqui? Como? Como? Como? Passei as mãos pelo cabelo. Olhei para cima, pedindo alguma ideia para qualquer entidade existente. Foi quando encontrei uma janela pequena. Não dava para eu passar, quem dirá minha avó.

Respirei fundo e ergui minhas duas mãos. Uma em direção à janela no teto e outra em direção ao interior do mercado. Ok, se eu quiser fazer um buraco no teto sem chamar atenção, tenho que fazer a atenção dos policiais irem para outro lugar.

—Que merda você está fazendo, Melinda? Isso só funciona em filmes! – resmunguei. – Arriscar ou não arriscar? Eis a questão. Ah, foda-se! – disse e senti minhas mãos ficarem quentes, foi quando dois jatos saíram ao mesmo tempo, fazendo um barulho alto, mas em sincronia. Foi quando os gritos dos policiais se tornaram mais altos.

Olhei para o buraco no teto e vi que agora ele estava maior o suficiente para que uma pessoa passasse. Então eu me concentrei no vôo. Dobrei um pouco meus joelhos e pulei, pegando impulso para voar. E olha, parece que estou pegando jeito.

Olhei para minha vó e peguei ela no colo. Então eu voei para fora do estacionamento e em direção à minha casa.

Se eu não estivesse nessas circunstâncias, acharia tudo isso incrível. Eu estava voando super bem. Coisa que eu não tinha conseguido fazer com muito êxito nos treinamentos com Amy e Tyler.

Fora que a vista era maravilhosa. Os carros sob meus pés, as pessoas apressadas para chegarem em seus destinos. Mesmo em um dia de domingo as pessoas estavam em peso nas ruas de New York. Foi então que meu olhar encontrou minha avó. Respirei fundo e segurei as lágrimas.

Não iria chorar e arriscar perder o equilíbrio desse vôo estranho.

Avistei minha casa e como não vi nenhuma alma viva por perto, desci em frente a porta. Fiz o corpo da Juliet flutuar novamente e abri a porta, entrando e fechando-a depois de checar se algum vizinho barra curioso de plantão estava bisbilhotando. Coloquei o corpo em cima do sofá e soltei um suspiro pesado.

—Melinda? Juliet? São vocês? – escutei minha mãe gritar do andar de cima junto com seus passos. Virei-me e observei ela descer a escada enquanto falava alguma coisa sobre a nossa demora. Então ela gritou, levando a mão à boca.

Meus lábios tremiam, tentando segurar o choro. O nó na minha garganta estava enorme, assim como meu estômago estava embrulhado.

Eu não lembrava a reação da minha mãe quando ela descobriu que o ex marido dela e pai dos seus filhos estava morto por causa de uma explosão que a própria filha gerou. Michelle não fez muita questão de demonstrar, talvez para não me fazer sentir pior do que já estava.

Contudo, aqui estamos nós. Em um estado diferente, com vidas diferentes, mas com uma morte causada pela mesma pessoa da outra vez: eu.

—Querida, o que foi? – era Michael que andava apressado pelo corredor. Não demorou para ele descer a escada e chegar na sala. Ele olhou para minha mãe, olhou para mim e então olhou para minha vó morta no sofá, voltando o olhar para mim novamente segundos depois.

—Foi minha culpa. – sussurrei. Minhas pernas estavam bambas, minhas mãos suavam frio e minha respiração saia entrecortada.

Minha mãe veio até mim e me abraçou. Aquilo fez com que eu não conseguisse mais segurar o choro, deixando as lágrimas rolarem e os soluços escaparem dos meus lábios. Michael veio logo após, abraçando nós duas.

Eu não merecia aquilo. Não merecia esse abraço, não merecia meus pais, não merecia meus irmãos, não merecia meus amigos. Eu não merecia nada! Eu era uma assassina, bem como Ultron disse. Dane-se se ele falava dos Vingadores, eu senti e soube que aquilo também se referia a mim. A garota que matou o próprio pai e as pessoas naquele prédio. E agora, não fez nada para salvar a avó.

Passado alguns longos minutos, o choro cessou. O abraçou se desfez e eu soube exatamente o que teria que fazer agora: contar tudo que aconteceu.

—Ultron foi atrás de mim. – falei com a voz embargada. – Ele queria que eu lutasse ao lado dele e e eu recusei. Juro que assim que ele e mais três Legionários apareceram eu ativei o escudo e protegi ela. Porém, quando Ultron percebeu que eu não iria ajudá-lo, um barulho alto começou e eu não consegui manter o escudo, fazendo um dos robôs me emprensar em uma das paredes. – apertei minha mão uma na outra, encarando um ponto qualquer da sala. – Foi quando uma ilusão apareceu mostrando todos mortos. Vingadores, meus amigos, vocês. – olhei para meus pais. – Quando a ilusão se desfez, ele tentou mais uma vez me levar para o lado dele. Eu recusei e me dei conta que minha avó não estava mais presente. Até achei que ela tinha conseguido fugir, mas então um robô apareceu segurando ela pelo pescoço. Eu não podia fazer nada. Meus poderes se tornaram inúteis porque se eu os usasse, machucaria ela. Então Ultron a matou. – disse sentindo algumas lágrimas caírem.

—Você está se culpando por algo que, claramente, não é sua culpa, Melinda. Igual ao seu pai. – Michael falou segurando minha mão.

—Não! Foi minha culpa, sim! –disse puxando minha mãe e passando pelo cabelo. – Eu devia ter pensado em uma forma de salvá-la, um jeito, não sei! Qualquer coisa! Eu não lutei para salvar a vida dela. Eu não fiz nada! – gritei sentindo mais lágrimas caírem.

—Era porque não tinha nada que você pudesse fazer, querida. –minha mãe sussurrou sorrindo de um jeito terno. – Sua avó sabe que não foi sua culpa, assim como nós. Não se culpe, minha menina. –

—Eu não consigo. Não consigo. – mais lágrimas caíram. Esse poço de lágrimas é do tamanho do poço da Samara, minha gente? –Por mais que vocês falem e que eu saiba que a culpa não é minha, eu não consigo deixar de sentir que a culpa é sim minha. Porque se eu não tivesse desobedecido meu pai, aquilo não teria acontecido. Talvez isso não tivesse acontecido. Eu não aguento mais isso. Não aguento mais carregar tudo isso nas minhas costas. – minha mãe me abraçou novamente.

—Sim, talvez nada disso tivesse acontecido. – Michelle falou passando suas mãos pela minhas costas. – E se você não aguenta carregar isso nas costas, é simples: não carregue! Aceite que isso não é culpa sua, Melinda, porque ela não é. Viva sem se sentir culpada por matar seu pai e aquelas pessoas. – sentindo minha respiração se acalmar eu quebrei o contato e limpei meu rosto.

—Eu vou lutar ao lado dos Vingadores no combate à Ultron. –falei firme.

—O que? – ela indagou em um sussurro.

—Eu não ia me envolver nessa luta, iria ficar aqui em casa e não moveria um dedo. Poderia ser um ato de covardia, mas eu não queria me envolver. Só que com o decorrer das coisas... – olhei para minha avó no sofá. – Eu vou entrar nessa luta. –disse voltando a encarar meus pais.

—Mas, Melinda, os Vingadores podem muito bem cuidar dele. – Michelle falou séria. Não deve ser fácil escutar sua filha dizer que vai lutar contra um robô assassino, mas ela vai aceitar. Ela tem que aceitar.

—Querida, sabíamos que um dia esse momento iria chegar. Melinda, ganhou esses poderes por um propósito. – meu pai falou colocando a mão no ombro dela.

—Mas ela é minha menininha, Michael. A nossa menininha. – uma lágrima escorreu pelo rosto dela enquanto seu olhar encontrava o do marido.

—Ela não é uma menininha faz tempo, querida. Você sabe. – ele sorriu serenamente acariciando o rosto dela. – Ela estava treinando, você sabe. E eu já vi algum dos treinamentos. Nossa filha sabe se cuidar. – ele me olhou. Sorri para ele e minha mãe virou-se na minha direção.

—Promete que vai voltar viva? – ela questionou segurando minhas mãos.

—Sério, mãe? – disse não segurando a risada e abraçando ela. – Farei o possível. – sussurrei no ouvido dela.

—Eu amo você, Melinda. – ela murmurou me apertando mais no abraço.

—Também te amo, mãe. – falei beijando a bochecha dela. Me soltei do abraço e fui até Michael, o abraçando.

—Eu já te disse que tive medo de que quando minha mãe escolhesse outro homem para casar, eu não gostasse dele ou ao contrário. Mas caramba! Eu amo o Coulson por ter te colocado em nossas vidas. – falei sorrindo.

—Será que você poderia não me falar isso minutos antes de ir para uma luta contra um robô homicida? –ele disse fazendo-me rir. – Deixe para me falar isso quando voltar e comermos pudim. – me separei dele e senti ele depositar um beijo em minha bochecha. – Amo você. –

—Também amo você. – disse sorrindo. – Eu prometo que farei o possível para não morrer. – olhei para ambos.

—Volte viva e sem nenhum arranhão. –

—Sabe que em uma luta isso é impossível. – falei indo até a porta. – A propósito, você poderia falar com o Coulson sobre o mercado? As câmeras de segurança... – Michael me interrompeu.

—Claro, eu falo. – então jogou algo na minha direção que eu segurei antes que acertasse meu rosto. – Depois eu busco ele na Torre. – sorri e sai de casa. Entrei no carro do meu pai e dei partida, indo em direção à Torre dos Vingadores.

Espero que eles me ajudem, porque eu provavelmente não vou saber como encontrar Ultron sozinha e lutar contra ele também sozinha.


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Notas finais do capítulo

Hey! Então? Gostaram? Não gostaram? Comentem!
Ultron queria Melinda no time dele. Agora, por quê?
Devo dizer que Ultron tentar recrutar a Melinda para o time dele não estava nos meus planos quando tive a ideia para a Fic. Porém, como a Melinda era, e ainda é, um pouco insegura em relação aos poderes dela, eu resolvi que não tinha o menor cabimento ela simplesmente participar da luta por livre e espontânea vontade. Lógico que teria que ter um motivo por trás e eu acho que não tinha motivo melhor que matar alguém que ela amava. Eu gostava da dona Juliet, mas foi necessário. O papo de Ultron ficou um pouco sem fundamento, mas ok.
Bom, o próximo capítulo já está em andamento e nele Melinda vai com os Vingadores até o Cais de Sucata e conhecerá formalmente os irmãos Maximoff.
Até a próxima!



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