O dia finalmente tinha se iniciado. Carlisle chamou Esme e, consequentemente, Bella, para que fosse buscar Edward no hospital, pois ele havia recebido alta. Os resultados que ainda não haviam saído, finalmente chegaram as mãos do Dr. Cullen.

Carlisle pegou o envelope branco e sentou-se, impacientemente, em sua cadeira estofada, atrás da mesa de seu consultório. Ele alisou a lateral do envelope, depois o pousou na mesa. Passou as mãos entre os cabelos, um sinal claro de que estava temeroso com os resultados. Mas, lutando contra si mesmo, contra sua ética profissional, construída dentro de anos e anos, pegou o pequeno estilete e cortou a parte em que estava lacrada. Abriu os papeis que estavam dobrados e então os leu o mais calmamente possível.

Nos exames, constava a confirmação que todos tanto temiam. Edward tinha a Doença de Huntington. Ele ficou perplexo com os resultados, mas não havia como negar. Também, não havia o porquê daquela doença aparecer justamente nele, se não havia histórico dessa doença nos homens de sua família.

- Não tem como negar, Carlisle. – O Dr. Roger colocou os resultados em cima da grande mesa.

- Sei disso. E, por mais que eu queira, não consigo pensar, não consigo raciocinar. Não sei como agir. Não sei como proceder. – Carlisle desabafou.

- Continue como estavam. Olhe, é uma doença lenta, degenerativa sim, mas é lenta. Às vezes nem chega a causar danos e a pessoa vive anos e anos. – O Dr. Roger lhe falou.

O Dr. Roger era um geneticista que trabalhava no hospital, muitas vezes dava somente plantão, mas, atualmente, tinha adquirido uma carga horária maior do que os anos anteriores e, agora, mais do que nunca, ele era necessário.

- Sei disso, mas, céus, me ajude! – Carlisle fechou as mãos em punho e bateu na mesa, derrubando algumas coisas que estavam por ali. – Devo restringi-lo a alguma coisa? Alimentação? Saídas com a Bella... Algum remédio?

- Carlisle, amigo, você está perdendo as estribeiras! – Ele tentou acalmar o amigo. – Deixe-o viver como sempre viveu. Vamos, homem, postura! Você é um dos neurologistas mais competentes que conheço e, estarei aqui para ajudar com o caso de seu filho. Nós faremos exames periódicos, vamos estar sempre fazendo testes para saber a evolução da doença.

- Tudo bem. – Carlisle fechou os olhos por um instante e respirou fundo.

No quarto 913, Edward já terminava de se arrumar, pois sabia que logo, logo, sua mãe e sua namorada estariam ali para levá-lo para casa. Vestiu sua camisa, a calça que tinham deixado para ele, olhou-se no espelho e bagunçou levemente os cabelos.

“Tinha de parecer o mais normal e saudável o possível, principalmente para Bella.”

- Raios, eu não sabia que era desse grau! – Emmett exclamou.

- Hey, escute-me, ele está bem! – Alice exclamou para o irmão. – Ele não está na cadeira de rodas ou algo do tipo. Ele está... normal.

- Mas e aí? Ele...

- Amiga, Bella me disse que ele vai continuar vivendo normalmente. – A baixinha tentava explicar a Rosalie sobre o estado dele. – Vamos, almoço na casa da Bellinha. O Ed está lá. Acabou de receber alta.

Os dois assentiram e seguiram pela calçada até a casa de Bella, que era quase no fim da rua, ao lado da de Edward. Quando chegaram lá, o viram em pé, encostado na pequena mureta, tomando um gole de coca cola. Bella carregava uma bandeja com alguns copos, enquanto Renée levava os pratos para a mesa do jardim. Emmett e Rose foram em direção ao amigo, abraçando-o.

- Você só me assusta! – Emmett deu um soco leve no braço dele.

- Oi, Emm. – Edward sorriu.

- Escute, estou falando sério, você está mesmo bem? Não precisa de nada, olhe se precisar...

- Querido! – Rosalie o fez ficar quieto. – Ele está bem.

- Obrigado, Rose. – Edward agradeceu a amiga, deu-lhe um beijo no rosto e saiu.

O pequeno churrasco feito para Edward já tinha terminado a um bom tempo. Ele e Bella estavam abraçados, enrolados em suas cobertas no sofá da casa dela, assistindo um filme qualquer que passava na sessão da tarde.

All I Need – Within temptation

(N/A: O vídeo começa com 11 segundos.)

- Eu ainda não me conformo. – Bella murmurou, tão baixo, que se Edward não estivesse do seu lado, ele não teria escutado.

- Por favor, eu não estou debilitado. – Ele resmungou em resposta, ficando visivelmente irritado com o comentário.

- Edward!!! – Bella exclamou, vendo-o se levantar e sair porta afora.

O céu começava a ficar negro, mais um dia estava terminando. Algumas nuvens estavam se formando, mostrando que uma tempestade viria a seguir. Edward sentou-se no meio fio, apoiou as mãos no joelho e passou os dedos pelo cabelo.

Ele também não se conformava por justamente ele estar doente, mas também não queria ficar se remoendo a vida toda. Oras, ele nem sabia se tinha vida toda para se remoer. Sabe aquele ditado que diz que a vida deve ser vivida intensamente? Bem, ele se aplicava exatamente naquela situação.

“Existem coisas que a gente nunca aprende.”

- Edward... – Bella sibilou, correndo para fora da casa, encontrando-o sentado no meio fio, com as mãos apoiadas na grama fofa. Ele olhava as estrelas.

- Você não vê? – Ele falou baixo. – Não vê que agora, para mim, tudo o que importa é viver a vida intensamente?

- Não me deixe, Edward. Você é tudo o que eu preciso. – Ela murmurou.

- Você é tudo o que eu preciso. – Ele a beijou delicadamente. – Mostre ao meu coração que tudo pode ser melhor, Bella.

- Eu quero acreditar que tudo isso é real, Edward. Mas eu não consigo! Por Deus, não consigo!

- Então só não me deixe, não me deixe cair. Mostra-me que a vida pode ser boa mesmo que eu esteja nesta situação. Salve-me dos meus medos, Bella! – Ele abraçou-a fortemente.

- É só o que eu quero. Preciso de algo para crer... Além de toda essa verdade.

- De algo para acreditar. – Ele murmurou.

Edward apenas enlaçou a cintura dela, pousando sua mão sob a nuca, entrelaçando os dedos nos cabelos castanhos. Suas bocas chocaram-se de uma forma tão urgente... Eles estavam tão confusos, tão perdidos em si mesmos... Não conseguiam acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo.

- Eu posso acreditar nisso. – Ela finalmente abriu um sorriso.

- Não me deixe cair, não me deixe abalar, não me deixe me levar pela minha doença. – Ele disse quase que desesperadamente. – Não me deixe parar de viver, Bella. Seja o meu raio de sol, seja a pessoa que espanta os meus medos e alegra o meu dia, que alegra minha vida. Céus, eu te amo tanto! Amo tanto que chega a doer ficar longe de você.

- Não te deixarei cair, Edward. Não deixarei que isso tome você de mim. Não viverei em um mundo onde você não exista. E isso é uma promessa. Uma promessa, Edward. – Ela apoiou a cabeça no vão de seu pescoço e deixou algumas lágrimas caírem.

“A vida nunca é justa com aqueles que são bons, nem com os que são ruins. Isso depende da perspectiva em que você a olha.”

Naquela noite, Edward abriu a janela de seu quarto e desceu pela treliça que estava pregada na parede. Pisou com os pés descalços pela grama do jardim de Bella e subiu na árvore que havia ao lado do quarto dela. Escalou-a rapidamente, entrou na pequena varanda, então entrou no quarto. Afastou levemente a coberta e deitou ao lado dela, abraçando-a.

Ela estremeceu levemente ao toque dele, mas automaticamente, aninhou-se em seu peito largo, dormindo mais tranquilamente. Edward demorou para dormir, havia ficado observando Bella durante boa parte da noite, quando finalmente conseguiu dormir, entrou no mundo dos sonhos.

“Aquela foi a primeira melhor noite da minha vida. Porque eu finalmente havia entendido que a vida devia ser vivida. Porque eu finalmente acreditava na verdade que eu estava vivendo.

Todos nós temos que entender. Tudo termina. Não importa o que seja. Tudo termina.

Minha vida na Terra iria terminar.

O simples gesto de caminhar de mãos dadas, ou dormir abraçado, nunca foi tão importante.

Existem coisas que nossas mãos não podem pegar. Existem momentos que são tão simples, mas são muito importantes.

Fiquei toda a minha vida procurando por algo que meus dedos não podiam tocar. Fiquei minha vida esperando, até que quando eu encontrei, percebi que poderia ser tirado de mim. Isso mesmo.

Eu sou um anjo...

E meu nome?

Edward Cullen.”