Prenda-me se for capaz escrita por Luna Lovegood


Capítulo 1
Capítulo 1 - Até que a morte nos separe


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui! Sim, sou eu Luna com outra fic ;)

Please, don't kill me!

Eu meio que já expliquei porque ando sumida, mas eu tô agarrada com algumas coisas e sem tempo, porém mesmo assim eu consegui um tempinho para finalizar essa short aqui.

Eu acho que todo escritor deve procurar sempre melhorar e evoluir ao invés de ficar preso em mais do mesmo, por isso estou tentando um pouquinho de comédia romantica (juro tô tentando ter menos drama na minha vida) essa fic é um pouco diferente do meu habitual e por isso a fic vai ficar em FASE DE TESTE como um produto novo no mercado que precisa de aprovação. Então eu apreciaria a opinião de vocês, para saber se devo ou não continuar.

Boa leitura.

Enjoy :*



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Felicity Smoak

Eu encarava a foto dele

E talvez, só talvez eu tenha me esquecido de como respirar por alguns minutos, porque eu sentia tudo em mim tenso e estático, eu não conseguia puxar o ar para dentro dos meus pulmões ou soltar o que eu havia prendido lá. Cada músculo, cada terminação nervosa minha havia apertado o botão autodestruição e reagia por si só ao encarar o que a foto de Oliver Queen causava em mim.

Merda. 

Não era bom.

Eu até mesmo podia me sentir hiperventilar.

Meus dentes se apertaram com força no meu lábio inferior, e a língua imediatamente  percorreu o local amenizando o pequeno lampejo de dor, o ato me tornando ciente de outra coisa, querendo outra coisa, uma outra coisa que eu recusava a permitir que meu cérebro pensasse enquanto olhava para a foto de Oliver.

Talvez fosse o maldito efeito que aqueles olhos azuis tão intensos e escuros quanto duas lagoas que sempre pareciam ver através de mim, olhos nos quais eu me perdi tantas vezes no passado, olhos em que confiei, olhos que um dia eu amei, olhos que um dia pensei que meus filhos teriam. Esses mesmos olhos ainda tinham o dom de me fazer fraquejar e causar um agito familiar no meu estômago. Talvez fosse o fato de que o seu rosto continuasse ainda tão bonito e esteticamente quase perfeito como eu me lembrava, e toda essa beleza parecia zombar de mim. Como eu gostaria que o tempo o tivesse o deixado mais feio! Que ele estivesse careca e barrigudo, seria muito mais fácil controlar a reação do meu corpo a simples visão da sua foto.

Ou não, meu coração discordou veemente dizendo que essa não era uma reação unicamente física. E montes de sentimentos enterrados tentavam fazer seu caminho de volta a superfície.

É melhor não me trair agora, seu filho da mãe! Eu disse em pensamento, para o meu próprio coração que parecia inflar cada vez mais apenas em encarar a foto, eu podia me sentir desmanchar apenas em observar seus pequenos detalhes que continuavam ali, exatamente iguais. O leve arquear da sobrancelha direita, os lábios que sempre pareciam esconder um sorriso, até mesmo o nariz ligeiramente torto que deveria ser uma falha, mas até mesmo isso o deixava mais charmoso... Havia leves mudanças, como o corte de cabelo mais rente e a barba por fazer, mas ainda assim, o meu coração parecia não se importar, aliás, o desgraçado parecia até mesmo contente, como uma criança que finalmente reencontrou seu brinquedo favorito e estava ansioso para brincar de novo.

Até que o brinquedo se revela ser na verdade uma bomba prestes a te destruir.

— Não se atreva! – me repreendi, um pouco alto demais e vi algumas pessoas estavam perto da minha sala me observando e depois revirando os olhos ou dando de ombros, como se já soubessem que eu era a louca que sempre falava sozinha. Apesar de eu ter uma as só para mim, as paredes de vidro e a porta sempre aberta não me davam muita privacidade.

Eu deveria parar de encarar a maldita foto e agir como uma pessoa normal. Afinal eu havia inegavelmente o superado. Não havia? Depois de um mês chorando as mágoas no ombro de Helena, depois de cinco quilos mais cheinha graças aos potes de sorvetes ingeridos durante as noites em que eu passava sozinha assistindo filmes melosos, depois de encher minha playlist com as músicas mais tristes do Ed Sheeran e deixar meu sono ser embalado por elas. Eu havia sobrevivido àquele término estranho e apressado que ocorreu apenas três dias antes da cerimônia do que deveria ser nosso casamento. O coração permanecia dolorido, e talvez sempre permanecesse, mas eu voltei a sorrir nem que às vezes fosse um sorriso forçado, eu deixei que Helena me arrastasse naquelas baladas que eu sempre odiei e dancei com outros caras – babacas com a mão boba em sua maioria, mas eu me esforcei, e eu o superei. E aos poucos eu fui voltando a ser eu mesma.

Não exatamente eu.

Eu havia aprendido uma lição valiosa e isso me mudou, me deixou mais atenta e madura para lidar com os meus próximos relacionamentos. Não que houvesse muitos, mesmo três anos depois do fiasco do meu noivado eu ainda estava indo devagar – na velocidade de uma tartaruga sedentária para os padrões de Helena. Mas havia Billy Malone que trabalhava comigo, sempre sorridente e prestativo, que comprava meu café todas as manhãs. Foi natural que eu deixasse a amizade evoluir. Eu havia saído com ele poucas vezes, e então no dia anterior ele até mesmo me beijara, mas... Beijar Billy tinha sido terrivelmente amador, como se eu estivesse beijando pela primeira vez e não soubesse o que fazer, eu pensei que seria doce e suave, já que Billy era assim, mas ele sequer sabia aonde colocar suas mãos, e nossos dentes bateram algumas vezes, foi tão estranho e eu não via a hora da tortura acabar, mas por senso de cortesia eu fiquei apenas parada esperando ele acabar com aquela coisa que ele dizia ser beijar.

Sem contar que quando ele partiu eu precisei limpar a boca, havia muita saliva envolvida quando Billy me beijara.

Eu sei que ele poderia melhorar, eu poderia dar um curso intensivo para ele, mas além da tortura havia um problema a mais... Ao olhar para Billy eu não sentia nadica de nada.

Nem mesmo uma atraçãozinha, nem mesmo uma fagulha ou uma mera excitação, nenhuma reação lá embaixo, não era como quando eu olhava para aquela foto... Suspirei mais uma vez me sentindo ser hipnotizada por seus olhos, lá estava eu deixando minha mente ser seduzida pelo diabo. Porque se tinha algo que Oliver Queen fazia bem era beijar, tocar e seduzir, às vezes ele conseguia fazer isso apenas com suas palavras ou até mesmo só com um olhar, ele conseguia me colocar em chamas sem sequer me tocar. Eu não ia mentir para mim mesma e negar aquilo, a atração entre nós era arrebatadora e o sexo era incrível, sensual e ao mesmo tempo cheio de sentimentos, nós nos encaixávamos perfeitamente, era perfeito. Era. Verbo no passado simples. Muito longe do presente ou do meu futuro. Frisei, antes que me deixasse levar.

Encarei com certa raiva a imagem na minha frente, tantos sentimentos conflitantes em mim, mas ela sobressaia a todos, raiva pelo o que nós tínhamos e que ele destruiu tão levianamente, raiva por sempre comparar todos os outros homens com ele, raiva de tê-lo amado e acreditar que nunca mais encontraria algo parecido com esse sentimento outra vez. Essa raiva foi acumulando dentro de mim, e agora eu sentia uma vontade irracional de socar aquela imagem. Eu normalmente não era uma pessoa violenta. Normalmente. Mas Oliver sempre aflorava um lado diferente de mim. E só porque eu havia superado Oliver Queen, não significava que eu queria vê-lo novamente, que eu não guardava rancor.

Eu deveria fechar a página daquela foto, isso sim. Eu deveria não encará-lo mais e me livrar de todos aqueles pensamentos e lembranças. Eu deveria. Minha mão estava pousada sobre o mouse e eu só precisaria arrastar e clicar, mas meus dedos normalmente ágeis não faziam qualquer movimento. Havia algo de perversamente doentio e masoquista em encará-lo, eu sabia que não deveria, eu sabia que deveria afastá-lo da minha vida, cada segundo a mais que eu passava encarando aquela foto minha consciência me recriminava, mas eu não conseguia não olhar.

Era fascinantemente destruidor.

Deixe eu me explicar melhor.

Eu não estava agindo como uma ex perseguidora que analisava cada pessoa que curtia a foto do meu ex noivo no facebook, e tentava desvendar que tipo de relacionamento eles tinham ou ainda, controlava cada um dos seus passos pela internet, ficando louca com cada nova foto postada e criando contas fakes para atormentá-lo. Oh, não. De jeito algum. Se tinha algo que eu havia colocado entre Oliver e eu desde o dia em que ele entrara no meu apartamento dizendo que precisávamos cancelar o casamento, tinha sido distância. Não apenas física, mas principalmente emocional. Eu bani o seu nome da minha vida, nenhum dos meus amigos tinha permissão para dizê-lo, não atendi seus telefonemas, eu não escutei suas desculpas. Afinal, que outro motivo poderia haver para cancelar um casamento três dias antes de acontecer, se não fosse por falta de amor? Não importava, Oliver havia me mostrado que ele era alguém nenhum pouco confiável.

Encarei novamente aqueles olhos, ainda que uma simples fotografia não fosse capaz de registrar a essência do que havia ali, ainda assim, meu corpo inteiro, cada parte de mim reagia àqueles olhos, eles me faziam me sentir tantas coisas, tudo e...

— Felicity, você conseguiu o que eu pedi?

— O quê? - Eu praticamente pulei da cadeira abaixando a tela do meu notebook quase que ao mesmo tempo, eu sabia que provavelmente estava parecendo uma pessoa que tinha sido pega no flagra enquanto assistia pornô no trabalho, mas eu preferia que pensassem isso de mim à me pegarem encarando uma foto do meu ex.

Melhor ser tarada do que patética.

— A investigação. – Billy que estava logo atrás de mim, me lembrou. Sua mão estava estrategicamente colocada sobre meu ombro o apertando num toque que deveria ser amigável, mas apenas me fez notar o quão pequena sua mão era. Tão diferente das de Oliver que eram grandes e fortes e quando apertavam alguma parte do meu corpo... Movi meu rosto encarando Billy com intensidade, me forçando a focar em outra coisa que não me fizesse pensar naquela sensação, e Billy era essa coisa, uma vez que olhar para ele me provocava um grande nada.

Nada era bom.

Seguro.

Bem vindo.

E então eu sorri para ele, Billy que tinha um olhar inocentemente feliz e um sorriso doce nos lábios e se inclinou ficando muito mais próximo do que eu gostaria, meu sorriso desmanchou a medida que notei sua boca fazendo um caminho que eu não queria.

De jeito nenhum eu ia deixar ele me beijar!

Me inclinei para o lado na cadeira, ficando até mesmo desconfortável, mas pelo menos longe daquela boca cheia de saliva dele. Billy não se incomodou.

— Eu te pedi para que rastreasse o dinheiro, se lembra? – Eu assenti vagarosamente, só então, finalmente me recordando de como eu havia chegado até a foto de Oliver.

Eu trabalhava no departamento de polícia de Starling City, eu era meio que uma policial. Eu digo meio porque embora eu tivesse porte de armas, um distintivo e um par de algemas comigo, e pudesse prender alguém se eu quisesse, eu era muito boa com computadores e modéstia a parte eu era inteligente o suficiente para lidar sempre com a parte investigativa da coisa, sem ter que apelar para a parte da violência. E mesmo assim, meu setor sempre lidava com os chamados “crimes do colarinho branco” o que basicamente se resumia a muito desvio de dinheiro e caras gordos que ficavam atrás de um computador e que não resistiam a prisão quando um policial apontava a arma e mandava se render, então, sem muita ação por aqui.

E o que isso tem a ver comigo olhando para a foto do meu ex noivo durante o horário de trabalho?

Não foi intencional.

Eu juro que não.

O filho da mãe simplesmente apareceu! Como um diabo para me atormentar e fazendo questão de tirar toda a minha paz de espírito!

Eu estava no meio de uma investigação, eu rastreava o dinheiro desaparecido de um empresário e ele havia me levado direto a uma conta em nome de Oliver Jonas Queen na Suíça. Agora, que a minha mente estava voltando a si eu finalmente me tocava o que aquilo significava. Oliver Queen havia colocado na sua conta um dinheiro que não era seu.

Ele havia cometido um crime.

Ele era um criminoso, e bem, eu pegava os criminosos.

Não literalmente, porque eu sempre ficava atrás de uma mesa fazendo o trabalho de T.I. então eu nunca prendi ninguém realmente. Mas eu poderia se eu quisesse, eu quero dizer eu tinha o treinamento para isso, só precisaria colocar em prática.

Toda essa situação podia ser mais irônica?

— Então, Felicity, baby, seus dedos mágicos encontraram nosso suspeito? – Billy insistiu, se aproximando mais e me fazendo inclinar mais na direção oposta. Se eu continuasse a fugir da boca dele daqui a pouco eu estaria com a bunda colada no chão. O que não seria nada mau se eu estivesse longe o suficiente de Billy.

— Ainda não, preciso de mais tempo. – Menti e Billy franziu o cenho estranhando minha demora, não sei o que me fez proteger Oliver naquele momento. Meu ex noivo claramente não merecia essa cortesia vinda de mim, e ainda assim eu a fiz. – Eu te aviso quando conseguir. – sorri com um pouco mais de convicção tentando deixar a mentira mais suave, e logo me arrependi ao sentir a mão de Billy apertando a minha bochecha.

Que diabos?! Quem aperta a bochecha de uma pessoa adulta se não forem vovós ao verem seus netinhos?

— Obrigado, minha princesa - eu odiava quando ele me chamava de sua princesa, baby, ou qualquer outro pronome ridículo que ele escolhesse ( e para meu tormento ele tinha uma lista bem grande!), não apenas porque era terrivelmente brega, mas na minha mente eu gritava: Ei, a gente apenas se beijou uma vez, ou melhor você babou na minha boca e chamou essa merda de beijo, isso não te dá direito de me chamar de sua nada! Mas não o fiz porque ele já estava indo embora e quanto mais longe da boca babona dele melhor.

Me deixei relaxar por um segundo na minha poltrona, massageando o pescoço dolorido de tanto tentar me afastar de Billy. Aproveitando aqueles minutos para pensar no que fazer.

— Você parece culpada, irmãzinha... – eu escutei o som dos saltos vindo em minha direção e antes mesmo de ouvir sua voz, eu já sabia que era Helena. Eu não sabia como ela conseguia perseguir bandidos usando salto agulha de dez centímetros, mas ela era Helena Bertinelli, ela era como aquelas mulheres perfeitamente perfeitas de comerciais de absorventes que fazem mil coisas malucas durante o dia e continuam a esbanjar um sorriso enorme, enquanto nós, reles mortais permanecemos em casa embaixo das cobertas comendo chocolate e chorando sem razão alguma. Eu tive muito dessa perfeição na minha vida, Helena era minha irmã postiça, minha mãe havia se casado com o pai dela quando eu mal tinha completado cinco anos, minha primeira lembrança dela era de uma garotinha com cabelos escuros presos em traças, faltando os dentes da frente e que me recebeu com o abraço mais apertado que uma criança consegue dar, minha segunda lembrança dela era dessa mesma garotinha doce me dando ordens e me colocando nas piores encrencas. Abri meus olhos a encarando sentada displicente na minha mesa, suas unhas compridas arranhando o tampo do meu notebook  – É por causa do detetivizinho? – sorri. Helena nunca gostou dele e eu nunca entendi o porquê. Billy era gentil, educado e sorridente, mas sempre que ela o via ela revirava os olhos e bufava. Ela a tinha a cara de pau de fazer isso na cara dele.

Aproveitei aquela deixa para levar o assunto por um território seguro.

— Eu apenas não sei como dizer a ele que...

— Que você preferia beijar um sapo a colar sua boca na dele outra vez? Que morder uma melancia solta menos água que a boca dele? Que beijá-lo é como se afogar numa piscina cheia até a borda...?

— Está mais para o oceano atlântico. – troquei um olhar cúmplice com ela que fez cara de nojo.

— Você é má, Felicity Smoak. – havia um brilho de aprovação em seus olhos – Que tal falarmos das mãos minúsculas dele? Eu tenho mãos maiores que as dele... – as ergueu  um pouco analisando clinicamente as próprias mãos - E sabem o que dizem sobre homens com mãos pequenas! – completou dirigindo um olhar malicioso para mim.

— Eu pensei que fosse o tamanho do pé. – franzi o cenho.

— O pé dele também é minúsculo. – ela riu com vontade, e eu não consegui não acompanhá-la. Billy nos encarava de longe através do vidro com olhos curiosos, como se soubesse que falávamos dele. Helena não perdeu a oportunidade e sorriu, mandando um tchauzinho o qual Billy correspondeu tão animado.

O pobre coitado era tão ingênuo!

— Ele não faz ideia que você vai dar um pé naquela bunda magra dele. – ela disse para mim, ainda sorrindo falsamente para Billy – Eu vou me divertir tanto! Quero assistir de camarote! Não ouse me privar desse espetáculo! – avisou enfaticamente.

— Eu realmente não entendo como minha vida é um entretenimento para você. – girei na cadeira ficando mais de frente para a minha irmã que sorria diabolicamente para mim.

— Não é, sua vida tem sido como um longo e tedioso filme mudo e eu prefiro dramas mexicanos. Mas eu prevejo que estamos prontas para mudar de gênero e acrescentar um pouco de diversão! Além disso, o sorriso sonso de Billy me irrita e estou ansiosa para vê-lo chorar como uma menininha. – seus olhos brilhavam como uma garotinha ansiosa para receber seu presente de natal adiantado.

— Você não presta. – comentei num sorriso, Helena nunca tomaria jeito.

— Eu sei, é por isso que nós somos tão perfeitas uma para outra! – ela se ergueu olhando diretamente para mim - Você não me deixa ser uma vadia completa, enquanto eu faço de você mais vadia!

— Eu não sei se isso é uma coisa boa...

— É claro que é!

— Mas...

— Vamos parar de rodear e ir ao assunto que me fez andar toda essa delegacia até sua mesa?

— Sua mesa é logo ali – apontei para a mesa que ficava logo em frente a porta da minha salinha. – às vezes acho que você a escolheu apenas para bisbilhotar a minha vida.

— Você ainda acha? - ela riu com gosto. - Eu gosto de cuidar da minha irmã mais nova, e talvez de ter uma visão privilegiada de toda a ação e por mais que eu esteja contente que essa coisa com o detetive babão esteja com os dias contados, e que eu esteja muito feliz em dizer um belo eu te avisei que nada ia dar certo com esse merdinha, você precisa de alguém que coloque fogo em você e aquele cara ali, é mais frio do que  o iceberg que afundou o Titanic. Mas voltando ao que me trouxe aqui, eu te conheço, e eu sei muito bem que você, Felicity Smoak está me escondendo algo. – seus olhos se estreitaram e se tornaram mais ameaçadores como de uma gata prestes a agredir alguém. – recuei instintivamente, eu reconhecia aquele olhar.

— Eu não sei como você pode achar que a minha vida tem alguma ação.

— Pare de me enrolar, e me conte o que está escondendo. – ordenou, naquele tom imperativo que eu estava tão acostumada.

— Eu não sei do que está falando. – me coloquei imediatamente na defensiva.

— Mentirosa. – acusou como se fosse a dona da verdade.

— Eu não minto! – Me ergui ficando de frente para Helena e usando toda a credibilidade que eu tinha.

— Mentiu de novo. – apontou acusadoramente para mim, seu sorriso se estendendo por seus lábios e se tornando maior na medida em que ela falava – Eu sei disso porque toda vez que você mente, você franze o nariz. – pisquei aturdida ao escutar aquela informação lançada de forma tão deliberada por Helena.

— Eu não! – neguei, tampando o nariz.

— Felicity, eu sou sua irmã, nós dividimos o mesmo quarto por doze anos, eu sei quando você está mentindo para mim e seu nariz franze todas as vezes. – Oh, aquilo não podia ser sério! - Ele franziu todas às vezes que eu te perguntava se você sentia falta do seu pai e você respondia não. Franziu quando você mentiu para mim dizendo que meu ex namorado não tinha te cantado. Franziu naquela vez que você disse que não estava chateada por eu viajar e perder o seu aniversário, e franziu quando você falou que Oliver.... – ela numerava cada uma das minhas mentiras, me deixando boquiaberta.

— Oh meu Deus! - a minha vida inteira passou pela minha frente, todas as mentiras que eu contei, todas às vezes em que menti descaradamente para alguém acreditando que nunca seria pega. E se mais alguém soubesse? – Eu amo ir ao Verdant com você – eu disse e imediatamente senti meu nariz franzir, sem que eu sequer controlasse meu ato. – Eu gosto de beijar o Billy – franziu de novo – Como eu resolvo isso? O que eu vou fazer se eu não puder mais mentir!? O que vai ser da minha vida? – deixei meu corpo cair na cadeira enquanto ainda absorvia a seriedade daquilo.

Meus dias de mentiras estavam contados.

— Não se preocupe, eu guardo seu segredo! Obviamente eu vou usá-la em meu próprio benefício, e claro vai ter algum custo, por exemplo se me contar de livre espontânea vontade o que tem escondido de mim a tortura vai ser muito menor. – Ela bateu docemente as pestanas para mim, mas eu não estava prestando atenção na tentativa frustrada dela de parecer inocente. Eu conhecia minha irmã bem o suficiente para saber que inocente e Helena Bertinelli seriam palavras nunca vistas juntas em uma frase, a não ser que esta fosse uma frase negativa. Por isso me atentei aos seus atos, seguindo com olhos temerosos os dedos de Helena que deslizavam sobre o meu notebook.

— Não é nada importante. – refutei por fim a encarando com um sorriso incerto, e Helena sorriu ao ver meu nariz franzir novamente.

— Ao que parece eu vou ter que descobrir sozinha... – seus dedos se encaixaram na tampa do notebook.

— Não! – meu reflexo foi lento e tardio, Helena já fitava a imagem na tela do meu computador, seu sorriso satisfeito por ter me pego aos poucos desaparecendo de seu rosto e sendo substituído por uma linha reta e fina nos lábios. Eu podia sentir a recriminação no olhar de Helena, misturada a outro sentimento que eu odiava quando alguém lançava para mim: pena.

— Mas que merda é essa, Felicity? – graças à Deus Helena optou por apenas me recriminar e eu poderia lidar com isso - Tem razão de você estar tão disposta a mentir para mim. - Helena deixou o usual sarcasmo de lado e se dirigiu a mim com um olhar consternado e suave, seguido de um longo suspiro onde se lia uma óbvia preocupação.  Eu comemorei cedo demais. - Eu pensei que já o tivesse o superado. – senti sua mão sobre a minha num aperto sutil. Helena tinha sido aquela a secar as minhas lágrimas e quem esteve ao meu lado quando tudo acabou, ela tinha sido quem cancelou o bufê, avisou os convidados, devolveu o meu vestido de noiva. Ela tinha sido a única telespectadora da minha dor e também, aquela que jurou chutar Oliver nas bolas se ele alguma vez cruzasse o caminho dela.

Encontrei um momento entre minha vergonha de ter sido pega e a recriminação de Helena, para analisar as palavras dela. Eu havia superado Oliver?

Superar Oliver tecnicamente significava conseguir alguém melhor do que ele, e no momento tudo o que eu tinha era Billy que era seu oposto em praticamente tudo, e eu nem preciso dizer o qual longe estava, mas... Oh, merda, eu mesma não estava me ajudando.

— Não é o que você está pensando! – Me defendi, um pouco tardiamente tentando amenizar a preocupação em seus olhos.

— Então você não estava encarando pateticamente a foto dele? – interrogou. Seus braços se cruzaram e ela me olhou daquele jeito policial dela que me fazia suar frio, diferente de mim, Helena era uma policial ativa, ela sempre conseguia arrancar uma confissão de um criminoso. – Eu te vi com olhar vidrado no computador momentos atrás antes de Billy entrar aqui, você sequer respirava, foi isso o que me fez vir até aqui.

— Talvez eu estivesse só um pouquinho. – confessei, ciente da minha inabilidade de mentir para Helena.

— Eu espero que você não esteja usando os recursos da polícia para perseguir seu ex noivo sacana, pelo qual você tem guardado rancor há longos três anos, e está pronta para jogar toda a sua raiva e frustração sexual numa épica e bem elaborada vingança. – encarei Helena que parecia séria, da onde ela havia tirado aquela ideia? – Eu não preciso dizer o quão errado isso seria.

— Claro que não! – neguei veemente.

— Que pena! – a fitei, notando que ela parecia realmente chateada - Nem mesmo uma vingancinha pequena? Eu tenho contatos! O que você quer? Contratar um assassino de Aluguel para assustá-lo... Talvez uma grávida pedindo pensão? Você não faz ideia de quanta dor de cabeça isso pode gerar. Podemos falsificar um exame médico, oh, já sei! Vamos contratar uma prostituta e fingir que passou para ele alguma doença sexual! Ou então vamos fazer uma prostituta realmente passar para ele uma doença sexual, de preferência uma que faça o pinto dele cair...

— Helena! Isso é muito errado! – exclamei, notando o quanto ela parecia séria. – Eu não vou prejudicá-lo!

— Então vamos apelar direto para uma macumbeira! Assim podemos manter sua consciência tranquila e ele nem vai saber o que o atingiu e eu conheço uma, na verdade ela é minha amiga e faz maravilhas, só precisamos de uma cueca dele, você deve ter alguma antiga, certo? – perguntou, mas nem sequer me esperou responder – Deixe eu pegar o contato dela no meu celular, Zatana... – ela escreveu o nome num pedaço de papel que havia sobre a minha mesa, e logo abaixo  anotou o número dela - Ela é ótima! Não vai se arrepender.

— Você não pode estar falando sério! Eu não vou fazer nada disso... – deslizei o papel de volta para ela.

— É claro que estou falando sério! E é uma pena que você não goste das minhas ideias! Eu estava torcendo pela macumbeira. Mas nunca se sabe quando vai precisar dos serviços dela então é melhor guardar. – Disse colocando o papel dentro do bolso da minha calça. Eu tentei sorrir, porque no fundo eu sabia que Helena com seu jeito torto estava apenas tentando me ajudar. Eu gostaria que tudo fosse simples assim como Helena via, planejar uma pequena vingança que deixasse as coisas entre Oliver e eu quites, e então colocar um ponto final nessa história. Mas não era. Soltei um longo suspiro ao pensar que por mais que eu seguisse em frente, sempre haveria algo me prendendo ao meu passado com Oliver. Meu suspiro não passou despercebido por ela, e logo senti sua mão vir até a minha, seus braços me envolvendo e novamente senti aquele caloroso abraço de irmã que apenas Helena era capaz de me dar - Tudo bem não precisamos nos vingar se você não quiser, apenas me diga que não estava perdida olhando para a foto dele porque sente saudades, eu odiaria saber que mesmo depois de tanto tempo e do que ele te fez, Oliver ainda tivesse esse poder.

Eu encarei apreensiva Helena quando o abraço teve fim  e meu corpo ficou rígido enquanto eu analisava as palavras de Helena.

Eu sentia saudades dele?

Mais do que isso, o que aquela maldita foto despertou em mim?

— Eu não sinto...- senti meu nariz começar a contrair, pronto para entregar aquela mentira que eu tanto odiava. - eu não estava encarando a foto dele porque eu queria, ele apenas apareceu como suspeito no caso que estou trabalhando. – tentei dar um ar casualmente desinteressado.

Helena analisou meu nariz, esperando por um franzir que não veio e então ela sorriu.

— Ora, mas isso é muito melhor do que uma macumbeira! – fitei Helena, com seu sorriso deslumbrante brilhando de orelha e orelha, seus olhos pareciam maiores e muito animados.

Será que algum dia eu a entenderia?

— Eu queria entender como a sua mente funciona. – balancei a cabeça, ainda sem entender o porquê de toda aquela animação.

— Não é óbvio? – Helena sorriu, não um sorriso qualquer, mas aquele que ela resguardava para todas as suas péssimas ideias, e que sempre me colocavam em alguma enrascada. - Você Felicity Smoak irá prender o seu ex noivo!

Eu fiquei estática.

Mas depois eu gargalhei, eu ri tanto que dos meus olhos começaram a sair lágrimas. Ri tanto que minha barriga doeu, mas quando eu encarei Helena, ela tinha o semblante mais sério que já vi em seu rosto, e até mesmo ofendido por todo o meu riso.

— Você não pode estar falando sério.

— Mas é claro que estou! – bateu o pé - Você tem essa história com Oliver te impedindo de seguir em frente e você não quer se vingar. Além disso você não pegou ninguém decente desde que terminaram.

— Não é verdade.

— Não? – seu olhar desviou para Billy como se aquilo resumisse tudo. –  ele está em zero na escala T – a encarei confusa, vinte e dois anos juntas e eu ainda não a entendia. – É a escala de tesão, que mede o quanto um cara é transável. – Ela disse como se aquilo fosse óbvio, e como para mim não era ela tratou de explicar detalhadamente - Você soma tudo aquilo que torna um cara excitante: o coeficiente de gostosura, se ele tem uma ar de cafajeste e se tem pegada, e se ele te coloca em chamas só de olhar... são as coisas que montam um cara decente para o sexo!

— Mas Billy é um cara decente! Ele apenas...

— Não é transável? – Completou com um sorriso convencido. Senti meus lábios se contraírem em uma careta de desgosto só de imaginar, se beijar Billy já era ruim, eu tinha pena de quem dormisse com ele! – Vê como a escala T. é importante? Nos impede de perder tempo com caras assim.

— As coisas não são bem assim!

— Pelo amor de Deus há quanto tempo você não transa, Felicity? – os cílios escuros que adornavam seus olhos se estreitaram ao redor deles, lhe dando uma expressão ferina que me deixou preocupada.

— Não tem tanto tempo assim! – minha pressa em negar me entregou.

— Seu nariz não mente. – bufei e levei ambas as mãos ao traidor desejando estapeá-lo – Eu espero que não esteja assim há três anos. – neguei com a cabeça ainda com as mãos escondendo o meu nariz. – Ok, vou te dar o direito a privacidade dessa vez, mas não se acostume. E é melhor focamos no mais importante.

— O que é mais importante que a minha vida sexual?

— Ou a ausência dela? – Não mordi a isca e Helena continuou - Você, tendo o prazer de colocar algemas de metal ao redor do pulso do cachorro do seu ex-noivo! E não do jeito divertido.

— Eu não vou fazer isso! - me ergui da cadeira de uma só vez, não apenas porque a ideia de Helena era absurda, mas porque ela me despertava algumas dessas memórias divertidas.

— Não vê que seria a vingança perfeita? Depois de Oliver Queen estar devidamente preso atrás das grades, você finalmente pode se livrar desses três anos de abstinência sexual. – abri a boca para contestar, mas Helena foi mais rápida – Eu te conheço, Felicity, às vezes não preciso olhar seu nariz para detectar a verdade.

— Mas de todo modo eu não vou fazer isso. - respondi resoluta - eu fiz uma promessa de me manter o mais distante possível de Oliver, e se, apenas se por acaso ele cruzar o meu caminho, eu serei profissional e superior. – ergui meu queixo, e comecei a falar de um modo mais confiante. Eu não sabia se tentava convencer Helena, ou a mim mesma das palavras que saiam da minha boca. - Eu não preciso disso, eu o esqueci completamente, mais do que isso eu o superei, - Helena ergueu uma das sobrancelhas em claro sinal de dúvida, e eu encarei isso como um desafio. Peguei as chaves do meu carro sobre a mesa e minha bolsa e lancei um olhar mortal à ela - E se para provar isso eu preciso transar com um cara aleatório que preencha todos os requisitos da escala T., então eu vou agora mesmo sair por essa porta e agir como uma vadia completa até encontrar esse cara decente para transar! – Anunciei, deixando Helena boquiaberta, e eu mesma assombrada com a minha reação.

***

É claro que eu não encontrei nenhum cara para transar.

Eu sequer procurei por um. Na verdade eu nem sei o porquê eu agi daquela forma com Helena. Tudo bem que ela sabia me irritar como ninguém mais, afinal, esse é um dom das irmãs mais velhas em geral, mas normalmente eu manejava isso com mais bom humor.

A quem eu queria enganar? Só havia uma razão para eu agir daquela forma.

Oliver Queen.

Eu suspirei e bati com força ambas as mãos no volante do carro descontando um pouco da minha frustração. Eu já estava parada há uns bons minutos, mas eu ainda não tinha tido coragem de deixar o carro e entrar em casa. Eu havia levado bem três anos sem ele, sem falar nele, sem escutar o nome dele e bloqueando meus pensamentos sobre ele. E agora, bastou uma única foto e a minha mente já estava disposta a fazer um flashback dos melhores momentos ao som da nossa música favorita.

— Já chega! – dei um basta naquela situação patética, saindo do carro e batendo a porta com toda a força. Eu iria para a minha casa, eu tomaria um banho gelado e começaria uma campanha de exorcizar Oliver Queen da minha mente de uma vez por todas. Talvez eu ligasse para a amiga macumbeira de Helena afinal.

Coloquei a mão no bolso apenas checando se o papel ainda estava ali, mas assim que girei a maçaneta da porta e entrei em casa, o que eu vi, bem ali parado a minha frente me deixou sem reação.

O próprio diabo.

Eu precisaria mais do que uma macumbeira para me livrar dele.

— Graças a Deus, eu pensei que teria que ir lá fora e te arrancar de dentro do maldito carro! – E o diabo falava, constatei enquanto piscava ainda o encarando como se eu estivesse completamente louca. Eu estava alucinando? Coloquei minha bolsa sobre a pequena mesinha da entrada e caminhei em direção a ele ainda me questionando se aquilo era real. – Felicity? Você está bem?

Sua pergunta me fez refletir, como eu poderia estar bem se a razão de todo o meu tormento estava bem ali na minha frente? Talvez eu estivesse alucinando, eu tive um dia estressante. Provavelmente era isso. Eu marcaria um psiquiatra, a não ser que a tal macumbeira cuidasse disso também.

 - Xô! Suma! – pedi chocalhando os braços na direção da alucinação, dando a volta e esperando que quando eu voltasse ela tivesse ido embora. Mas alucinação prendeu sua mão ao redor do meu pulso, me fazendo girar e encará-la ainda ali. - Para uma alucinação você é bem forte. – a alucinação de Oliver segurou um sorriso de canto, e seus olhos se tornaram levemente mais divertidos.

— Felicity, eu sou de verdade. – sua voz veio despertando lembranças, mas mais do que isso, seu hálito era conhecido. Alucinações conseguiam reproduzir isso também? Encarei mais uma vez aquele quase sorriso, odiando o que ele me fazia. - Sinta isso. – nem tive tempo de reagir, no segundo seguinte minha alucinação levava minha mão junta com a sua e a apoiava sobre o peitoral duro. Meu corpo inteiro reagiu por instinto, se inclinando em direção aquela voz, deixando que ela comandasse meus sentidos. – Você sente isso? Reconhece? Meu calor. Me coração acelerado. Minha pele junto a sua. – Eu imediatamente soltei a mão dele me afastando ao me dar conta de que aquela não era uma alucinação, mas sim Oliver Queen em carne, osso e uma porção extra de gostosura!

Eu sempre imaginei que se um dia encontrasse Oliver novamente, eu seria capaz de agir com frieza, de lhe lançar um olhar apático e superior. Sorrir e agir como se o passado não tivesse significado nada e que no fim eu descobri que estava melhor sem ele. Na minha mente eu sempre seria aquela a demonstrar nada menos do que indiferença.

Mas existe um abismo imenso entre como a gente imagina agir numa situação e como a gente realmente reage.

Encarei o sorriso do desgraçado mais uma vez.

Maldito seja esse sorriso que quase me enganou!

Eu respirei fundo uma única vez e então senti tudo em mim queimar, como se eu estivesse pronta para me transformar no próprio Hulk e destruir tudo ao meu redor num ataque de fúria.

— Seu filho mãe! Desgraçado! Cachorro egoísta! Como você entrou aqui? – Avancei sobre Oliver com toda a minha fúria, dando pequenas pancadas em seu peitoral. E lá se foi todo o meu plano de ser indiferente e superior.

— Eu usei a chave sobressalente que você ainda esconde debaixo do tapete. – eu não sei o que me irritou mais, a referência dele ao nosso passado ou o pequeno sorriso em seu rosto quando ele o fez.

— Você tem muita cara de pau de... Eu não acredito que...! Argh! – Eu grunhi girando em meus próprios pés. Eu sequer sabia o que falar primeiro, toda coerência e capacidade de raciocinar haviam subitamente desaparecido de mim e foram substituídas por todos aquelas emoções que Oliver despertara em mim, e antes que eu pudesse tomar qualquer atitude, antes que eu pudesse pensar ou respirar, eu tinha minha mão fechada em punho voando em direção ao rosto perfeito dele.

— Ai – ele gritou levando os dedos até a superfície do local - Você me bateu? – perguntou, seus olhos arregalados em surpresa. Para ser honesta eu estava mais surpresa do que ele.

— Nope, sua cara acidentalmente acertou o meu punho. – me defendi, enquanto acariciava os nós dos meus dedos que agora estavam avermelhados graças a cara dura dele.

— E eu estou sangrando! – Oliver comentou ao tirar a mão do lábio e olhar ainda incrédulo, o sangue que havia ali.

— Oh, meu deus! Está mesmo! – notei que ele não apenas sangrava, mas que o canto de seus lábios começava a inchar. - Você precisa de gelo? Você acha que pode ter quebrado um dente? – perguntei voltando um pouco a mim, eu tinha o treinamento básico de uma policial, mas eu nunca tinha socado alguém na minha vida, e desconhecia completamente a minha força.

— Você me bate e depois você me oferece os primeiros socorros? – ele sorriu, mas seu sorriso retraiu se transformando em uma careta de dor.

— Prefere ficar ai sangrando? – Devolvi já atravessando a sala até a cozinha conjunta, indo a geladeira de onde tirei um pacote de ervilhas congeladas.

— Eu não posso dizer o que eu realmente prefiro fazer sem correr o risco de levar outro.  – ignorei o meio sorriso e o tom de flerte.  Notei também que ele havia se sentado na minha poltrona favorita, e estava todo espalhado nela como se ali fosse o seu lugar. Como ele podia estar tão a vontade depois de tudo o que aconteceu entre nós? Não apenas agora, mas de todo o resto.

Eu precisava me livrar dele.

— Toma! – joguei o pacote de ervilhas com mais força do que deveria acertando em seu rosto, bem do lado machucado. Quase me desculpei pela reação exagerada. Quase.

— Ai. –  ele reclamou enquanto ajeitava o pacote sobre o canto dos lábios. - Quando foi que você se tornou tão violenta? A Felicity que eu me recordo não seria capaz de acertar uma aranha com o chinelo.

— A partir do momento que um idiota invadiu a minha casa.  – respondi mal humorada - E eu não sou a Felicity que você se recorda – acrescentei desafiadoramente erguendo o queixo, e tentando erguer também aquele muro invisível que não deixaria qualquer emoção que Oliver despertasse em mim passar.

— Definitivamente não é. – tentei ler o que era aquilo nos olhos dele. Decepção? Tristeza? Mas ele os desviou antes que eu pudesse me aprofundar no que havia ali. Sentei no braço do sofá, e inconscientemente comecei a analisar Oliver, seu rosto tão perfeitamente esculpido, a forma como ele e erguia uma das sobrancelhas e o pequeno sorriso que, mesmo com a boca machucada, jamais deixava seus lábios. Deixei um longo suspiro escapar de mim quando meus olhos encontraram os dele. Quantas vezes estivemos assim, perdidos um no olhar do outro? Quantas juras e promessas foram feitas olhando dentro desses mesmos olhos?

— Apreciando a vista? – Por mais que a frase fosse uma provocação havia um leve tom de esperanças ali que Oliver não conseguiu disfarçar.

— Não. – refutei – Apenas pensando o que você pode querer de mim depois de tanto tempo, Oliver. – deixei a pergunta entre nós, já estava cansada de tê-lo não apenas permeando cada pensamento meu, mas agora também preenchendo minha casa, e minha vida com sua presença.

Eu precisava me livrar dele logo ou eu poderia me encrencar.

— Eu poderia fazer uma lista de todas as coisas que quero de você, eu... – ele não completou, mas eu percebi que havia muito mais escondido em suas palavras, algo ali me fizera de alguma forma me sentir culpada e eu não entendia o porquê – Mas agora eu preciso apenas da sua ajuda. – tudo nele mudou quando ele pronunciou essas palavras, sua postura relaxada se tornou tensa, e sua voz até mesmo mais humilde. Suas sobrancelhas se ergueram levemente e eu vi seus olhos tomarem aquele formato que me lembrava muito o de um gatinho abandonado que precisa de carinho. Quantas vezes Oliver me pediu algo com essa mesma expressão? Muitas. E quantas vezes eu neguei seu pedido? Nunca. - Eu estou meio encrencado com algo, digamos, um pouco ilícito. Eu sou inocente, eu juro a você que sou! – Ele frisou sua voz tomando um tom mais forte que me passara certeza e convicção, seus olhos também eram igualmente certeiros. Me ergui do sofá e comecei a andar pela sala, não conseguindo mais ficar sentada o encarando, eu não queria que aqueles olhos me convencessem. Por mais que parte de mim tivesse um fraco quando o assunto era Oliver Queen, eu não conseguia mais acreditar em suas juras, não quando ele já havia quebrado todas elas. – Mas eu me meti em uma confusão, eu não sei como resolver, eu nem sei por onde começar e eu preciso que alguém confie em mim, alguém que...  

—... Que seja uma policial e possa intervir por você. – completei para ele me sentindo usada. Olhei para trás apenas para ver seu semblante envergonhado, ele tão pouco gostava da ideia de me pedir ajuda. Continuei a andar até parar na pequena mesinha onde eu havia colocado a minha bolsa, me encostei ali enquanto observei Oliver dar passos vacilantes até mim.

Senti um alerta apitar pelo o meu corpo.

Ele estava perto.

Perigosamente perto.

— Não é o que você está pensando. – sua voz veio humilde e simplória, meneei a cabeça, fugindo de seus olhos cheios de pedidos novamente. Era exatamente o que eu pensava.

— Você me procurou por que eu trabalho na polícia e precisa da minha ajuda para te livrar de uma encrenca? – senti meu coração gelar quando ele não negou - Você sabe o que policiais fazem, Oliver? – perguntei num sopro de voz erguendo o olhar para ele, eu não gostava da nossa proximidade, ela me fazia pensar em coisas que eu não deveria e sentir outras que exigia muito de mim para bloqueá-las. Mas nesse momento eu precisava dela. - Nós prendemos os caras maus. – Eu disse e antes que ele pudesse processar minhas palavras eu rodeei seu punho com uma das algemas que eu sempre deixava dentro da minha bolsa. Oliver encarou incrédulo do pulso cercado pela pulseira prateada e então de volta para mim, mas sua reação não foi tão lenta quanto eu esperava.

— Diferente do que você acha eu não sou um canalha, mas se for preciso para conseguir o que eu quero então eu vou agir como um. – disse se aproximando ainda mais de um jeito quase predador. Fui surpreendia por sua mão livre que rodeou minha cintura puxando o meu corpo para o seu, eu sabia que deveria recuar, mas seu calor era mais do que convidativo, ele era saudoso, me permiti apenas um segundo ali, um segundo era o que eu teria para alimentar aquela fome e então me afastar e voltar a viver em abstinência. Mas em algum momento no meio desse mero segundo eu me esqueci de minhas convicções e permiti que meu corpo acompanhasse o dele, me deslumbrando com o quanto ainda se encaixavam perfeitamente, com o quanto isso não havia mudado. Eu ergui um pouco minha cabeça para ele, sabendo que deveria soltar um desafio ou pelo menos revidar, mas assim que abri a minha boca senti seu hálito  quente preenchendo o meu e me deixando ligeiramente tonta com a prévia daquele gosto mentolado que um dia conheci tão bem. Eu estava tão absorta por aquela súbita proximidade, por aquela atração que ainda estava lá e que me arrebatava mais do que eu gostaria de admitir, que eu sequer notei quando Oliver pegou meu pulso e o prendeu junto a outra parte da algema que eu ainda segurava em minhas mãos.

Pisquei atônita.

— Mas que inferno, Oliver! – praguejei tentando me afastar e chegar até a chave que estava em minha bolsa, mas sendo impedida por aquele maldito pedaço de metal que nos unia e me impedia de ir para longe.

— Procurando por isso? – Oliver sorriu vitorioso, erguendo uma das mãos onde uma pequena chave prateada brilhava, eu já me preparava para tentar arrancá-la dele. Oliver apenas sorriu ao ler minha intenção, e seus olhos mostraram-me nada mais do que desafio. E então, para meu completo desespero ele fez o inimaginável: abaixou as mãos e colocou o pequeno objeto com o poder de me libertar dentro do único lugar que eu não me atreveria a chegar perto.

Sua cueca.

— Eu não vou colocar minha mão aí. – verbalizei meus pensamentos.

— Esse é o plano.

— Você não vê a falha? - ergui nossas mãos unidas mostrando o óbvio - Agora estamos presos um ao outro!

— Agora estamos presos um ao outro. – ele repetiu com um sorriso sacana no rosto – Não são alianças, mas acho que a prerrogativa de um casamento é mais ou menos a mesma. – bufei expressando minha frustração, o que o fez sorrir ainda mais. – Acho que isso é o nosso até que a morte nos separe, Felicity.


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Notas finais do capítulo

E agora, como esses dois vão conviver literalmente ligados um ao outro? Muita coisa vem aí pela frente ;)
Espero que tenham gostado, eu não sou a melhor para comédia romântica, mas prometo me esforçar. Deixando em fase de testes como disse então, please, digam se querem que a fic continue :)



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