Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 24
Twenty Three




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Estava começando a chover quando Edythe entrou na minha rua. Até aquele momento, eu não tinha dúvidas de que ela ia ficar comigo enquanto eu passava algumas poucas horas no mundo real. O problema é que havia algo martelando em minha cabeça.

Algo que precisava ser feito.

Mas vi o carro preto velho estacionado na entrada de carros de Charlie e ouvi Edythe murmurar alguma coisa ininteligível numa voz baixa e rouca.

Fugindo da chuva na pequena varanda da frente, Jacob Black estava atrás da cadeira de rodas da mãe. O rosto de Bonnie era impassível como pedra enquanto Edythe estacionava meu carro junto ao meio-fio. Jake olhou para baixo com expressão mortificada.

A voz baixa de Edythe soou furiosa.

— Isso está passando dos limites.

— Ela veio alertar Charlie? — conjecturei, mais apavorada do que irritada.

Edythe limitou-se a assentir, respondendo ao olhar de Bonnie com os olhos semicerrados.

Pelo menos, Charlie ainda não estava em casa. Talvez o desastre pudesse ser evitado.

— Deixe que eu cuido disso — sugeri.

O olhar de Edythe parecia... sério demais.

Para minha surpresa, ela concordou.

— Acho que é melhor. Mas tome cuidado. A criança não faz ideia.

— Criança? Sabe, Jake não é muito mais novo do que eu.

Ela olhou para mim, a raiva desaparecendo. Sorriu.

— Ah, eu sei.

Eu suspirei.

— Leve-os para dentro, para eu ir embora — disse ela. — Voltarei ao anoitecer.

— Pode ir com o Tracker — sugeri.

Ela revirou os olhos.

— Andando consigo ir até em casa mais rápido do que este carro.

Eu não queria me separar dela.

— Você não precisa ir embora.

Ela tocou na minha testa franzida e sorriu.

— Na verdade, preciso. Depois que se livrar deles — ela lançou um olhar sombrio na direção dos Black — você ainda terá que preparar Charlie para conhecer sua nova namorada.

Ela riu da minha cara. Acho que conseguia perceber o quanto eu estava animada com isso.

— Sobre isso... Será que... Podemos conversar, você e eu, antes de você conhecer o Charlie? — perguntei em voz baixa.

Ela uniu as sobrancelhas em confusão.

— Algo de errado?

— Apenas vá até meu quarto antes de tudo, ok?

Ela me encarou por um segundo antes de assentir, desconfiada.

— Volto logo — prometeu ela.

Seus olhos voltaram à varanda, e ela se inclinou para me dar um beijo rápido no queixo. Meu coração quicou na caixa torácica e também olhei a varanda. A cara de Bonnie não estava mais impassível e suas mãos se fecharam nos braços da cadeira.

— Logo — falei enquanto abria a porta e saía para a chuva.

Pude sentir os olhos dela nas minhas costas enquanto quase corria até a varanda.

— Oi, Jake. Oi, Bonnie. — Cumprimentei-os do modo mais animado que pude. — Charlie está passando o dia fora. Espero que não estejam aguardando há muito tempo.

— Não muito — disse Bonnie num tom de derrota. Seus olhos escuros eram penetrantes. — Eu só queria trazer isto. — Ela indicou um saco de papel pardo em seu colo.

— Obrigado — eu disse automaticamente, mas não fazia ideia do que podia ser. — Por que não entram por um minuto e se secam?

Fingi não perceber sua análise cuidadosa enquanto eu destrancava a porta e acenava para que passassem na minha frente. Jake deu um meio sorriso ao passar.

— Deixe que eu leve isso — ofereci, virando-me para fechar a porta.

Troquei um último olhar com Edythe. Ela estava perfeitamente imóvel enquanto esperava, os olhos solenes.

— Vai precisar colocar na geladeira — instruiu Bonnie enquanto me passava o pacote. — É peixe frito caseiro de Harry Clearwater. O preferido de Charlie. A geladeira o mantém mais seco.

— Obrigado — repeti, com mais emoção. — Eu estava ficando sem novas maneiras de preparar peixe, e ele deve trazer mais para casa hoje.

— Foi pescar de novo? — perguntou Bonnie. Ela ficou atenta de repente. — No lugar de sempre? Talvez eu passe por lá para vê-lo.

— Não — menti, rapidamente. — Ele ia a um lugar novo... Mas não faço ideia de onde fica.

Ela olhou meu rosto e apertou os olhos. Era tão óbvio quando eu tentava mentir.

— Jacob — disse ela, ainda me olhando. — Por que você não vai pegar aquela foto nova de Aaron no carro? Vou deixar para o Charlie também.

— Onde está? — perguntou Jake. A voz soou meio desanimada. Olhei para ele, mas ela estava olhando para a porta, as sobrancelhas pretas unidas.

— Acho que vi na mala — disse Bonnie. — Talvez tenha que procurar.

Jake voltou curvado para a chuva.

Bonnie e eu nos encaramos em silêncio. Depois de alguns segundos, a quietude começou a parecer estranha, então eu me virei e fui à cozinha. Pude ouvir suas rodas molhadas guinchando no linóleo enquanto ela me seguiu.

Coloquei o saco em um espaço na prateleira de cima da geladeira e me virei devagar para olhar os olhos que conseguia sentir grudados em mim.

— Charlie vai demorar a voltar. — Minha voz era quase rude.

Ela assentiu, concordando, mas não disse nada.

— Obrigado novamente pelo peixe frito — falei.

Ela continuou balançando a cabeça. Eu suspirei e me encostei na bancada.

— Isabella... — disse ela, e depois hesitou.

Esperei.

— Querida — falou, novamente — Charlie é um dos meus melhores amigos.

— Sim.

Ela pronunciava cada palavra com cuidado com sua voz grave.

— Percebi que você anda passando seu tempo com a filha dos Cullen.

— Sim — repeti.

Seus olhos se estreitaram.

— Talvez não seja da minha conta, mas não acho que seja uma boa ideia.

— Tem razão — concordei. — Não é da sua conta.

Headshot, bitch!

Ela ergueu as sobrancelhas grossas ao ouvir meu tom de voz.

— Você não deve saber disso, mas a família Cullen tem uma fama ruim na reserva.

— Na verdade, eu sei disso — afirmei com voz dura. Ela pareceu surpresa. — Mas essa fama pode ser infundada, não é? Porque os Cullen nunca colocaram os pés na reserva, colocaram? — Pude ver que meu recado nada sutil do acordo que ambos fizeram para proteção da sua tribo a fez parar.

— É verdade — concordou ela, os olhos em guarda. — Você parece... bem informada sobre os Cullen. Mais do que eu esperava.

Olhei-a de cima.

— Talvez ainda mais bem informada do que você.

Ela repuxou os lábios grossos ao pensar no assunto.

— Talvez — admitiu ela, mas os olhos eram astutos. — Charlie também está bem informado?

Ela encontrou uma brecha em minha armadura.

— Charlie gosta muito dos Cullen — observei.

Ela entendeu minha evasiva. Sua expressão era infeliz, mas não trazia surpresa.

— Não é problema meu — disse ela. — Mas pode ser problema de Charlie.

— Mas seria problema meu pensar se é ou não problema de Charlie, não é?

Perguntei-me se ela entendeu minha pergunta confusa enquanto eu me esforçava para não dizer nada de comprometedor. Mas ela pareceu entender. Pensou no assunto enquanto a chuva batia no telhado, o único som que quebrava o silêncio.

— Sim. — Ela se rendeu, por fim. — Acho que também é problema seu.

Eu suspirei de alívio.

— Obrigado, Bonnie.

— Mas pense no que está fazendo — pediu ela.

— Tudo bem — concordei, rapidamente.

Ela franziu o cenho.

— O que eu queria dizer era: não faça o que está fazendo.

Olhei nos olhos dela, cheios apenas de preocupação por mim, e não havia nada que eu pudesse dizer.

A porta da frente bateu com um estrondo alto.

— Não tem foto nenhuma no carro.

A voz queixosa de Jacob chegou a nós antes dele. Ele entrou na cozinha. Os ombros da camiseta estavam manchados de chuva e o cabelo pingava.

— Hmmm — grunhiu Bonnie, distante de repente, girando a cadeira para olhar o filho. — Acho que deixei em casa.

Jake revirou os olhos dramaticamente.

— Que ótimo.

— Bem, Bella, diga ao Charlie — Bonnie hesitou antes de continuar — que passamos por aqui.

— Vou dizer — murmurei.

Jake ficou surpreso.

— Já estamos indo embora?

— Charlie vai chegar tarde — explicou Bonnie ao passar por ele.

— Ah. — Jake parecia decepcionado. — Bom, acho que a gente se vê depois, Bella.

— Claro — concordei.

— Cuide-se — alertou-me Bonnie.

Não respondi.

Jacob ajudou a mãe a sair pela porta. Dei um aceno breve, olhando rapidamente para meu carro agora vazio, e depois fechei a porta antes que eles tivessem ido.

E então, não tive nada para fazer além de esperar.

Depois de alguns segundos olhando a cozinha vazia, eu suspirei e comecei a limpar as coisas. Pelo menos, minhas mãos ficaram ocupadas. Meus pensamentos, nem tanto.

Agora que eu estava longe das alterações de humor provocadas por Jessamine, comecei a me estressar pelo que tinha aceitado fazer. Mas não poderia ser difícil. Edythe disse que eu não teria que jogar. Tentei me convencer de que eu ficaria bem, mas esfreguei a louça que estava lavando com força demais.

Eu estava terminando o banheiro quando ouvi o carro de Charlie chegando. Arrumei os produtos de limpeza em ordem alfabética debaixo da pia enquanto o ouvia entrar pela porta. Ele começou a fazer barulho debaixo da escada, guardando o equipamento.

— Bella! — chamou ele. Urgh. Odiava gritos.

— Oi, pai — respondi.

Quando cheguei no andar de baixo, ele estava lavando as mãos na pia da cozinha.

— Onde estão os peixes? — perguntei.

— Coloquei no freezer.

— Vou separar uns dois enquanto ainda estão frescos. Bonnie deixou um pouco do peixe frito de Harry Clearwater esta tarde. — Tentei parecer entusiasmada

— Deixou, é? — Os olhos de Charlie se iluminaram. — São meus favoritos!

Charlie foi tomar banho enquanto eu preparava o jantar. Em pouco tempo, estávamos sentados à mesa, comendo em silêncio. Charlie gostou da comida. Eu me perguntava como tocaria no assunto da minha nova... namorada.

— O que fez hoje? — perguntou ele, arrancando-me dos meus devaneios.

— Bom, hoje à tarde só fiquei em casa... — Só a parte mais recente da tarde, na verdade. Tentei manter a voz tranquila, mas meu estômago estava oco. — E hoje de manhã fui à casa dos Cullen.

Charlie largou o garfo.

— À casa da Dra. Cullen? — perguntou ele, surpreso.

Fingi não perceber a reação dele.

— É.

— O que foi fazer lá? — Ele não pegou o garfo de novo.

— Bom, eu tenho uma espécie de encontro com Edythe Cullen esta noite, e ela queria me apresentar aos pais...

Ele ficou me olhando como se eu tivesse anunciado que passei o dia assaltando lojas de bebida.

— O quê, pai? Você não disse que queria que eu socializasse?

Ele piscou algumas vezes e pegou o garfo.

— É, eu disse. — Ele comeu outro pedaço de comida, mastigou devagar e engoliu. — Mas... — ele tossiu — você não me disse que nenhum dos garotos da cidade faz seu tipo.

— Eu não disse isso, você disse.

— Não venha me enrolar, garota, você sabe o que quero dizer. Por que você não contou nada? Achou que eu teria problemas com isso?

— Não, pai, é que... é tudo meio novo, tá? Eu não queria estragar.

— Ah. — Ele pensou por um minuto enquanto comia mais um pouco. — Então você foi conhecer os pais dela, é?

— Er, é. Quer dizer, eu já conhecia a Dra. Cullen. Mas conheci o pai dela.

— Earnest Cullen é ótimo. É meio quieto, mas muito... gentil, eu acho que é a melhor palavra. Tem alguma coisa nele.

— É, reparei nisso.

— Mas conhecer os pais... não é meio sério? Isso quer dizer que ela é sua namorada?

— É. — Não foi tão difícil quanto achei que seria. Tive uma sensação estranha de orgulho de poder reivindicá-la assim. Coisa do meu eu neandertal, diria Lauren. — É, ela é minha namorada.

— Uau. Também vou ganhar uma visita?

Eu ergui uma sobrancelha.

— Você vai se comportar?

Ele levantou as duas mãos.

— O quê, eu? Já constrangi você alguma vez?

— Eu já trouxe alguém aqui?

Ele bufou e mudou de assunto.

— Que horas você vai buscá-la?

— Ah, ela vem me encontrar aqui. Sabe, você vai ter sua visita. Ela chega daqui a pouco, na verdade.

— Aonde você vai levá-la?

— Bom, acho que o plano é que vamos... jogar beisebol com a família dela.

— Você deve gostar muito dessa garota.

Pensei em deixar isso de lado, mas achei que ele enxergaria de qualquer jeito.

— É — falei. — Gosto, sim.

O celular prateado vibrou no bolso da minha calça jeans. Abri a barra de notificações apenas para ver uma mensagem, de número desconhecido.

 

Estou aqui, como você queria.

 

Quase engasguei com a comida, mas levantei rápido e lavei meu prato em uma velocidade impressionante. Charlie me fitava indecifrável.

— Ela está vindo. — expliquei — Vou pro meu quarto... Me arrumar, e tal.

Ele apenas assentiu, voltando sua atenção para o próprio prato.

Subi as escadas apressadamente e fechei a porta do quarto, trancando-a em seguida. Ela estava encostada à janela, a luz da lua iluminando seu rosto perfeito.

— Ei. — eu disse, meu coração disparando.

— Olá.

Ficamos em silêncio por um segundo, enquanto ela avaliava minha expressão.

— Bella, tudo bem? — ela se aproximou com passos lentos, tocando a minha bochecha de forma carinhosa. Eu estava prestes a chorar.

Por favor, não me odeie.

— Preciso te contar algo. — eu disse, sem olhá-la nos olhos.

Ela esperou, a mão ainda em meu rosto.

— É que você... Eu não te contei tudo a meu respeito. — falei de uma vez — Quando me perguntou sobre quem eu falava, a garota de olhos esmeraldas... E sobre minhas experiências com... Sexo e humanos...

Eu parei, um bolo se formando em minha garganta.

— Shh, calma, querida. Tudo bem. Não precisa...

— Preciso sim. — eu disse firme, olhando-a — Você precisa saber a verdade.

Ela uniu as sobrancelhas em confusão novamente.

Permanecemos em silêncio novamente enquanto eu reunia coragem para falar.

— Você pode me contar qualquer coisa. — ela disse e olhou nos meus olhos por alguns segundos e respirou fundo. — Sabe, eu tive um ataque típico de rebeldia adolescente, uns dez anos depois que eu... fui criada. — ela começou e eu a olhei, sem entender — Não concordava com a vida de abstinência de Carine e me ressentia dela por restringir meu apetite. Então... me afastei para ficar sozinha por algum tempo. Sabe, desde a época do meu novo nascimento, tive a vantagem de saber o que todos em volta de mim pensavam, tanto humanos como não humanos. Foi por isso que precisei de dez anos para desafiar Carine. Eu conseguia ler sua sinceridade total, entender exatamente por que vivia daquela maneira.

Ela desviou o olhar, passando a encarar a lua que brilhava lá fora.

— Precisei de poucos anos para voltar para Carine e me comprometer novamente com seu modo de viver. Pensei que estaria isenta da... depressão... que acompanha a consciência. Como eu sabia dos pensamentos das minhas presas, podia descartar os inocentes e perseguir somente os maus. Se eu seguisse um assassino por uma viela escura, onde ele atacaria uma jovem, e a salvasse, certamente eu não seria tão horrível... Mas, à medida que o tempo passava, comecei a ver o monstro em meus olhos. Não podia escapar da dívida de tantas vidas humanas roubadas, mesmo sendo justificado. E voltei para Carine e Earnest. Eles me receberam de volta como a filha pródiga. Era mais do que eu merecia.

Ela finalizou e seus olhos voltaram-se aos meus, calorosos.

— Pode me contar qualquer coisa. — repetiu — E já que estamos falando de... segredos... agora você sabe quem eu realmente sou.

Ela sorria triste.

Respirei fundo novamente e puxei-a para sentar ao meu lado na cama. Edythe segurou minhas mãos, fazendo um carinho reconfortante.

— Preciso que você saiba sobre... Eu, Lauren e... Victoria Parker.

— Eu já ouvi você falar sobre essa Lauren, mas quem seria Victoria Parker?

A fitei por um segundo.

— Minha professora. E a mulher com quem tive um caso em Phoenix.


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Notas finais do capítulo

Como estamos?

TT: @pittymeequaliza



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