Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 96
Capítulo96




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CAPÍTULO96

A garota meio atrapalhada e que não levava absolutamente nada a
sério se tornou uma esposa exemplar; Palhoça aprendeu a cuidar do que
era seu como ninguém, sua casa, seu marido e seu trabalho.
O jovem casal morava em um apartamento sem muito luxo, mas que
transbordava amor, companheirismo e cumplicidade mútua. Ao lado do
prédio onde moravam ficava o estúdio; os dois fotografavam eventos,
ganharam fama pelo trabalho sério e repleto de carinho que
desempenhavam, e Santo Amaro da Imperatriz não abandonou sua outra
grande paixão, a música.
Palhoça terminou de organizar a cozinha depois do jantar; ainda não
tinha empregada, mas cuidava como ninguém daquele cantinho que era seu;
a menina meio desatenta se transformou em uma dona de casa perfeita.
Depois de tudo pronto, ela entrou silenciosa na sala e encontrou seu
amor lá, sentado no sofá, dedilhando o violão em uma melodia linda
suave, talvez, triste. Palhoça conhecia o homem que amava; sempre que ele fazia isso,
era porque algo lhe preocupava.
Sentou-se ao lado dele e tocou em seu rosto:
— Tem alguma coisa lhe preocupando, moço; pode me contar!
Ele parou de tocar e olhou firme nos olhos de sua mulher:
— Não dá, Palhoça, não consigo engolir essa história!
— Que história, meu amor?
— Eu estava pensando em Içara, Palhoça; pensando em tudo o que ela
passou com aquela babá maluca, essa moça não tinha o direito de fazer a minha
sobrinha chorar, não tinha!
— Ah, meu amor, eu também estou com o meu coração pequenininho aqui
dentro; mas a gente tem que pensar que agora está tudo bem, Içara é uma
menina muito amada por todos nós, ela vai superar...
— Mas não vai esquecer, Palhoça! Quando eu era criança, eu fiquei por
alguns meses na casa de uma vizinha enquanto a minha mãe trabalhava, eu
ouvia aquela mulher dizer que não tinha obrigação nenhuma de cuidar do
filho dos outros e que só aceitou porque estava precisando da grana! Eu
nunca consegui esquecer, não se fala essas coisas pra uma criança de
cinco anos!
— Amanhã eu vou buscar a nossa sobrinha na escola, já combinei com
Blumenau; depois trago ela aqui, a mana tem uma reunião na empresa e vai
ter que ficar até mais tarde! Daí a gente curte ela bastante!
— E já vai treinando pra quando vier o nosso!
O rosto de Palhoça se iluminou com um lindo sorriso:
— Com certeza! Vai ficar tudo bem, meu marido, eu te garanto que vai
ficar tudo bem; eu não posso te ver assim!
E o jovem casal permaneceu ali, na sala, conversando. Palhoça saiu da
casa da mãe, a casa onde cresceu e teve tudo do bom e do melhor para
construir sua família; hoje ela vivia uma vida sem luxo mas era feliz em
todos os sentidos.
São Joaquim entrou silencioso no quarto de sua mãe; estava com quase
sete anos, era levado como qualquer outra criança, cheio de energia, mas
muito carinhoso.
Florianópolis estava deitada na cama, de olhos fechados; o garotinho se
aproximou e sentou à beira da cama da mãe:
— Oi, meu filho - sussurrou a mãe ao abrir os olhos e ver o sorriso de
seu pequeno -, você não estava dormindo?
— O sono não vem, mãe!
— Você rezou?
— Rezei! Você está triste, não é, mãe?
— Estou, meu pequeno! Mas vai passar!
— Feche os olhos; eu faço você dormir!
— Jura? - Florianópolis não conseguiu conter o sorriso diante do filho;
ficou deitada de lado na cama, enquanto o garoto afagava os cabelos e o
rosto da mãe com uma das mãos.
— Mãe! - Blumenau ainda estava acordada quando ouviu o chamado de
Içara; se levantou da cama e foi até o quarto da pequena:
— Oi, filha, estou aqui!
A garotinha estava sentada na cama, muito agitada:
— Mãe, liga pro meu pai!
— Ah, meu amor - Blumenau sentou-se à beira da cama de sua menina -, o
papai já está dormindo, amanhã ele trabalha, a mamãe fica aqui do seu
lado até você dormir de novo!
— Liga, mãe, por favor, liga pro papai!
Blumenau conhecia sua filha, Içara sempre teve temperamento forte, era
geniosa como a mãe; a advogada voltou ao quarto e pegou o celular.
Procurou na agenda o número do celular do pai de sua filha e ligou para
ele; chamou umas duas vezes e São Bento Atendeu:
— Oi, Blumenau, aconteceu alguma coisa?
— Oi, São Bento, não aconteceu nada; tem uma mocinha aqui querendo falar
com você; já estava dormindo e acordou pedindo que eu te ligasse!
Içara pegou o celular da mão de sua mãe e se deitou:
— Oi, pai!
— Oi, filhota, tudo bem? Isso são horas de criança estar acordada?
— Eu já estava dormindo, pai; só que eu acordei e lembrei que eu não te
dei boa noite!
— Ah, meu amor, então boa noite, dorme com os anjinhos, o papai ama
muito você!
— Eu também te amo, pai! Me leva na escola amanhã?
— Levo, eu passo na casa da vovó e te pego, combinado?
— Combinado!
Blumenau pegou o celular da mãozinha da filha e cobriu a menina com
cuidado:
— Oi, São Bento! - disse ela enquanto se preparava pra sair do quarto:
— Achei ela muito agitada, Blumenau!
— Foi muita informação pra cabecinha dela; aconteceu tudo o que
aconteceu, depois veio a notícia da gravidez da Cami, ela fez mil
perguntas! Você leva ela na escola amanhã?
— Claro que sim; eu passo na casa da sua mãe!
— Eu vou ter uma reunião importante amanhã, Palhoça vai buscar Içara na
escola e leva pra casa dela! Eu ainda estou meio mexida com o que
aconteceu, pior é que a minha mãe sempre quis que Içara ficasse na casa
dela na parte da manhã, eu é que achava que não devia, entende? Eu
achava que ia dar trabalho pra ela, eu dei trabalho pra ela a vida toda
e achava que a minha mãe não precisava...
— Blumenau, desacelera, por favor; você deixa a menina nervosa!
— Eu sei, você tem razão! Ela está dando pulos de alegria porque vai
ficar na casa da vovó de manhã!
— Então, Blumenau? Deixa a poeira baixar, mais tarde a gente procura
alguém de confiança se for o caso!
E os dois continuaram aquela conversa; sobre a filha, sobre o que era
melhor pra ela.
As coisas pareciam estar entrando nos eixos.
Itajaí estava tentando reconstruir sua vida; saiu da prisão depois
de três anos, e mesmo não sentindo por Laguna nada além de um grande
carinho, foi viver com ela.
As vezes, a jovem ex-presidiária custava acreditar que sua vida se
transformou tanto; ela tinha tudo pra ser feliz, mas a tentativa de
assassinato contra Chapecó a alguns anos atrás destruiu todos os seus
planos.
Ela agora tentava recomeçar de onde parou, tentava conseguir um
emmprego, e talvez voltar a estudar.
Era madrugada; Laguna saiu do banheiro do quarto e voltou pra cama
com passos leves; encontrou Itajaí acordada, deitada de frente:
— O que foi, minha querida?
— Eu estava sonhando, acordei assustada!
Laguna se ajeitou melhor na cama e puxou a companheira calmamente para
si, fazendo com que ela se deitasse em seu peito. Viu rolar uma lágrima
dos olhos de Itajaí:
— Eu queria tantto conseguir te amar, Laguna, eu queria tanto te amar
como você merece!
— A gente não precisa falar sobre isso agora! Vai dar tudo certo pra
você, pra gente, pode ter certeza que vai! Agora dorme, descanse, pode
ter certeza que, no que depender de mim, você vai estar sempre segura,
protegida!
E era verdade; Laguna amava aquela moça mesmo sabendo que dificilmente
teria o amor dela; e faria o impossível para protegê-la de qualquer
coisa.


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