Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 95
CAPÍTULO95




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CAPÍTULO93

    Camila queria sorrir, chorar, gritar, queria que o mundo soubesse
que ela realizaria um dos maiores sonhos de sua vida. Durante anos de
profissão, a enfermeira ajudou tantas mães a trazerem seus bebês para o
mundo, e se perguntou se um dia os papéis se inverteriam, se um dia ela
estaria do lado de lá. Ana Luísa ligou para sua secretária dali mesmo e
marcou a primeira consulta da amiga;; durante anos de profissão, a
médica jamais se sentiu tão feliz.
    Jaraguá entrou silenciosa no quarto de sua mãe; a futura psicóloga
continuava com a mesma doçura de sempre. Viu sua sobrinha deitada na
cama e achou estranho:
— Mãezinha - murmurou ela agachada ao lado de Florianópolis -, o que
aconteceu? Por que Içara está aqui na sua cama?
— Um febrão, filha; Blumenau a trouxe pra cá e foi pra empresa, disse
que ela chamou muito por mim!
— Deve ser uma dessas viróses que está pegando todo mundo, mãe!
    A pequena Içara abriu os olhos e espreguiçou-se na cama da avó:
— Tia! - disse a garotinha; Jaraguá se levantou, caminhou em volta da
cama e estava ao lado de Içara:
— Oi, princesa, bom dia, tudo bem?
— Eu fiquei com febre, tia!
— Eu sei, meu amor, eu sei! Está doendo alguma coisa?
— Minha cabeça!
— Vamos ver como está essa febre?
    Florianópolis, que ficou o tempo todo deitada ao lado da neta, se
levantou da cama de vagar e ajeitou os cabelos com as mãos:
— Jaraguá, fica com ela, filha; eu vou até a cozinha, dar uma palavrinha
com a Márcia e já volto!
— Pode ir sossegada, mãe; eu vou medir a temperatura dela!
    Florianópolis deixou o quarto, deixando Içara aos cuidados de
Jaraguá. Estava na cozinha conversando com a fiel escudeira de sua casa
quando Blumenau chegou com São Bento do Sul:
— Cadê ela, mãe? - perguntou a jovem advogada, soltando as chaves e a
bolsa na mesa da cozinha:
— Está no meu quarto com Jaraguá; dormiu desde a hora que você saiu até
agora a pouco!
    São Bento jamais deixou de respeitar a ex-sogra durante todo esse
tempo; cumprimentou-a com um abraço:
— Pode ir ver sua filha, São Bento; ela está lá no meu quarto com a tia!
    Sentada ao lado de Içara, Jaraguá esperava a hora de tirar o
termômetro de sua sobrinha; a pequena continuava deitada, um pouco
abatida, sonolenta:
— Olá, meninas! - Blumenau estava entrando no quarto; Içara ouviu o
cumprimento da mãe e levantou a cabeça para vê-la:
— Pai! - a garotinha tirou forças de algum lugar, deu um salto da cama e
correu para ele, desabando nos braços do pai. São Bento a recebeu,
abraçou, beijou, precisava dizer o quanto a amava. Sentou-se na cama ao
lado da mãe de sua filha, com a pequena no colo:
— Pai - Içara chorava abraçada a ele -, pai!
— Calma, meu amor, calma, está tudo bem!
— Eu quero falar com você, pai!
— Pode falar, filha, conta tudo o que você quiser!
Blumenau, sem dizer nada, observava a cena; seu coração gritava, não
podia ver sua menina sofrer:
— É verdade que você vai embora pra sempre, pai?
São Bento do Sul, pela primeira vez não soube o que fazer; olhou para
Blumenau por um instante, o rosto dela trazia uma expressão de espanto,
talvez de medo:
— Quem foi que te falou isso, filha? - perguntou a mãe pegando a mão
esquerda da pequena:
— A Luana falou, mamãe!
Luana era a babá que tomava conta de Içara desde o início daquele ano,
quando a garotinha passou a frequentar a escola só na parte da tarde.
São Bento levantou o rosto da filha e beijou-a levemente na testa:
— Conta, meu anjo, o que mais ela te disse?
— Ela disse que eu não podia contar pra ninguém, pai!
— Mas você não confia em mim? Você não disse outro dia lá em casa que
confiava no papai? Me conta, o que mais ela disse?
Içara voltou a esconder o rosto no ombro do pai como se quisesse
esconder-se de algo, ou de alguém. São Bento ficou ali, segurando a
filha no colo, esperando que ela dissesse mais alguma coisa. Depois de
alguns instantes, que para os pais duraram uma eternidade, Içara quebrou
o silêncio:
— Ela disse que você ia embora pra sempre, papai; que você ia achar
outra mulher, ia casar com ela, ia ter outro nenem e não ia mais gostar
de mim! Ela disse que isso sempre acontece quando o papai e a mamãe da
gente não moram na mesma casa! Você não gosta mais de mim, papai?
São Bento sempre fez o que pôde para evitar qualquer sofrimento para
Içara, mas esse era um daqueles momentos em que as coisas fogem do
controle de um pai. O jovem advogado fazia o impossível para que sua
filha não notasse, mas estava chorando:
— Minha filha - ele a abraçou com mais força -, ah, meu amor, é claro
que eu te amo muito, você é a coisa mais importante desse mundo pra mim!
A gente vai estar sempre juntos, assim, sempre pertinho um do outro!
— Papai, não conta nada pra ela, tá!
— Pode deixar, meu anjo, esse vai ser o nosso segredo; meu, seu e da
mamãe! Agora descansa, tenta dormir mais um pouquinho, o papai promete
que nunca vai sair do seu lado, nunca!
    Içara pegou no sono no colo do pai; Blumenau continuava ali, sentada
ao lado do ex-marido, chorando, não conseguia se quer imaginar o que sua
filha passou.
Quando a pequena dormia profundamente ainda no colo do pai, ela abraçou
os dois; choraram juntos ali, velando o sono da filha:
— Eu não consigo pensar que ela passou por tudo isso, São Bento, não
consigo! A nossa filha sofreu, isso é tortura!
— O que importa é que ela está bem, Blumenau; contou pra gente essa
história absurda, essa moça não tinha esse direito!
— Ela não vai chegar perto da minha filha de novo, São Bento! Eu vou
resolver essa história e é agora mesmo!
    Ainda naquela manhã, Blumenau foi até o apartamento onde Luana
morava; disse tudo o que ficou engasgado, tudo o que uma mãe diria e
demitiu-a em seguida, ali mesmo.
Estava claro; a febre que Içara teve foi emocional, foi por medo de
perder o amor do pai.
    Ela sempre foi forte, Florianópolis sempre foi forte; tornou-se a
melhor avó do mundo para seus dois netos, mas o que aconteceu com a
pequena Içara mexeu muito com ela.
A avó de família nunca permitiu que ninguém causasse sofrimento em seus
filhos, era capaz de tudo para evitar que isso acontecesse e nunca
pensou que o sofrimento de sua neta lhe faria sofrer em dobro.
Naquela tarde, Joaçaba foi visitá-la; as duas se sentaram, tomaram um
chá, e ali, diante da amiga, Florianópolis conseguiu chorar:
— Eu nunca pensei que fosse assim, Joaçaba! Eu sempre soube que avó é
mãe duas vezes, sempre fiz tudo pelos meus dois netos, e hoje, quando
Blumenau me contou o que aconteceu, eu tive vontade de matar, eu tive
vontade de fazer sabe-se lá o que!
— Eu sei, minha amiga...
— Que direito essa moça tinha, Joaçaba? Que direito essa moça tinha de
torturar a minha neta desse jeito, me explica, que direito ela tinha?
Joaçaba não sabia o que dizer, não sabia se deveria dizer alguma coisa;
estava diante de uma avó, que criou os filhos e era capaz de dar a vida
pelos dois netos. A professora de dança fez o que seu coração pediu
naquele momento; deixou a xícara na mesa, se levantou e caminhou até a
amiga, abraçando-a em seguida.
    Depois da tempestade, veio a luz do sol; a atitude cruel de Luana
foi esquecida rapidamente pela notícia que veio ainda naquela tarde; São
José teria mais um filho; enviou uma mensagem repleta de emoção para a
ex-mulher e suas filhas.
São Lourenço e Içara não couberam em si de felicidade ao receber a
notícia; a garotinha encheu a mãe de perguntas, com sua pouca idade ela
ainda não conseguia entender direito como isso aconteceu, mas estava
feliz:


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