Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 94
CAPÍTULO94




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    Ela não sabia se ria ou chorava; Palhoça, aquela que nunca levou
absolutamente nada a sério, que brincava com todas as situações
possíveis, estava ali, ouvindo uma canção que falava sobre ela, que
falava para ela.
Santo Amaro da Imperatriz estava diante da garota que amava, tocando e
cantando só para ela; Palhoça olhava hora para ele, hora à sua volta;
estavam na sala de estar da casa dele, um ambiente sem luxo, muito
aconchegante.
Então esse é o amor? Perguntava a garota a si mesma; ela nunca havia
sentido isso antes. A canção terminou, Santo Amaro conseguiu vencer a
emoção daquele momento e cantar a música toda; soltou o violão e
virou-se para olhar nos olhos de sua garota; segurou-lhe as duas mãos e
as levou até seu peito. O problema é que as palavras sumiram, o garoto
não sabia o que dizer; talvez soubesse, mas como?
— Não precisa dizer nada - murmurou Palhoça -, não diz nada agora! Eu
tenho medo de estar sonhando, de acordar e perceber que esse momento...
— A gente está aqui, Palhoça; eu, você e uma enorme gana de viver, de
ser feliz! Eu fiz essa música, foi a primeira vez que eu consegui compor
uma música inteira pra te dizer que eu te amo, pra te dizer que a partir
de agora eu sei que eu amo de verdade! Eu te amo, garota; você aceita
namorar comigo?
    Palhoça queria rir, chorar, gritar pro mundo o que estava
acontecendo; o sim veio acompanhado por uma lágrima, enchendo de
felicidade o coração do garoto.
    Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz estavam namorando oficialmente;
o jovem fez questão de ir até a casa dela, conheceu e conversou com a
família toda e fez questão de pedi-la em namoro também para São José.
Palhoça jamais imaginou que isso aconteceria um dia; mas estava
apaixonada; seus olhos brilhavam com uma simples mensagem de bom dia do
namorado, se sentia a mais feliz das mulheres por ter servido de
inspiração para que Santo Amaro compusesse uma canção.
    Depois de algumas semanas de namoro, Palhoça e Santo Amaro decidiram
que era hora de suas mães se conhecerem; promoveram um encontro entre
elas, Joaçaba fez questão de oferecer a casa e o jantar para a sogra de
seu filho.
As duas ficaram amigas imediatamente; e essa união seria parte da
felicidade de seus filhos. Trocaram experiências, e mais do que isso,
trocaram telefones.
    Florianópolis, Concórdia e Joaçaba; eram três mães de família que
agora estavam unidas por um único motivo, o amor. Passaram a promover
verdadeiras festas em família aos domingos, saíam todos juntos,
aproveitando ao máximo aquela felicidade que lhes pertencia.
    Passaram-se quatro anos; anos que ficariam pra sempre na memória de
todos.
    Dos cinco filhos de Florianópolis e São José, apenas dois ainda
moravam com ela; o pequeno São Joaquim, com sete anos de idade, e
Jaraguá, recém formada em psicologia; uma jovem com muitos sonhos, e um
deles se realizaria dentro de alguns meses, o casamento com São Miguel
do Oeste.
Ele por sua vez não cabia em si de felicidade; realizou o sonho de se
formar em medicina, e em pouco tempo estaria casado com a mulher que
amava, sua primeira namorada.
    Joinville e Chapecó continuavam juntas, felizes, realizadas; tinham
suas profissões, trabalhavam juntas em seu próprio escritório e criavam o filho, São Lourenço do
Oeste, que aos seis anos de idade era um menino esperto, muito amoroso,
e apesar da pouca idade, compreendia que sua família era um pouco
diferente das outras. Era filho de duas mães, uma lhe deu a vida, e
amor, bem, amor ele tinha de sobra, das duas.
    Blumenau formou-se em direito mas não estava atuando como advogada;
tornou-se o braço direito de seu pai na empresa de cristais. Morava
sozinha com sua filha, Içara, também com seis anos de idade.
Hoje, São José era dono de cem por cento das ações da empresa; casado
com a enfermeira Camila a quatro anos, ele se considerava um homem
totalmente realizado.
    Depois que concluiram o curso de fotografia, Palhoça e Santo Amaro
da Imperatriz decidiram que era o momento de começarem sua vida juntos.
Com a ajuda de ambas as famílias, montaram seu próprio estúdio de
fotografia, estavam morando de aluguel mas faziam planos de construir
sua própria casa. Trabalhavam fotografando festas e eventos em geral,
Palhoça se transformou em uma dona de casa e mãe de família exemplar;
ainda não tinha filhos, mas esse era o próximo sonho a ser realizado.
    Era madrugada de domingo para segunda feira, para Blumenau, uma daquelas noites que
custam a passar:
— Está frio, mamãe! - reclamava Içara, abraçada à sua mãe:
— Vai passar, meu amor, a mamãe promete que vai passar! Feche os olhos,
tenta dormir um pouquinho!
— Me leva lá na vovó, mãe!
— Vamos combinar uma coisa! Você vai fechar os olhinhos, vai descançar,
o dia já está nascendo, e quando você acordar a mamãe te leva; pode ser?
Já passava de cinco horas da manhã quando Içara finalmente pegou no
sono, deitada na cama de sua mãe, abraçada a o gatinho de pelúcia; teve
febre a noite toda.
Blumenau não teve dúvidas; teria uma reunião importantíssima na empresa
na primeira hora do dia e ligou para sua mãe as sete horas da manhã.
Enviou uma mensagem para a babá despensando-a naquele dia e fez a
vontade de sua filha; Içara passaria o dia com a avó.
    O sol já brilhava intensamente quando Florianópolis se levantou,
abriu as janelas de casa e esperou que a filha chegasse trazendo sua
neta. Quando Blumenau anunciou pelo interfone que estava subindo, a avó
de família abriu a porta de casa e ficou ali, esperando, apostos para
qualquer coisa.
A porta do elevador se abriu e Içara teve uma reação surpreendente ao
ver a avó, uma reação que deixou sua mãe e a própria Florianópolis
preocupadas. Depois de uma noite praticamente em claro com uma febre de
quase quarenta graus, a garotinha tirou forças de algum lugar para
correr para sua avó, atirar-se em seus braços e chorar:
— Vovó - ela dizia entre os soluços de um choro que ninguém conseguia
definir -, vovó!
— Oi, minha princesa, o que aconteceu?
— Um febrão a noite toda, mãe - explicou Blumenau -, pegou no sono as
cinco da manhã, eu trouxe ela pra você porque ela pediu muito...
— Não precisa explicar nada, filha; avó é mãe duas vezes, vai tranquila
pra sua reunião que eu cuido dela o tempo que for necessário!
    Florianópolis se sentou no sofá com a neta no colo; Içara ainda
chorava, com os pequenos braços entrelaçados no pescoço da avó como se
corresse um sério risco de perdê-la, ou que alguém lhe arrancasse dela:
— Olha pra vovó, meu amor - Florianópolis levantou o rosto da neta -, o
que é que você tem? Não foi você que disse que nós somos melhores
amigas?
Mas a menina continuava calada, aninhada ao corpo da avó; Florianópolis
insistiu:
— Vamos deitar lá na cama da vó?
Içara fez que sim com a cabeça; Blumenau despediu-se das duas e foi pra
empresa, dizendo que voltaria assim que fosse possível.
    São Bento do Sul, já formado em direito, era um dos advogados da
empresa; era competente, transformou-se em um pai exemplar, capaz de
tudo pela filha. Ele e Blumenau não voltaram a viver juntos, mas nutriam
um sentimento de amizade pelo bem de Içara. Se encontraram no elevador
no início do espediente, e Blumenau contou a o ex-marido o que estava
acontecendo com a filha:
— Você podia ter me ligado, Blumenau; eu teria ido até o seu apartamento
mesmo que fosse no meio da noite!
— Não ia adiantar, São Bento; eu medi a febre dela, dei remédio, ela
pedia muito pela avó! Deixei ela na casa da minha mãe antes de vir pra
cá, eu fico mais tranquila!
— Depois eu vou até lá pra dar um beijo nela! Eu estava pensando em sair
com ela no fim de semana, ir na praia, claro se você não se incomodar!
— É claro que não, São Bento - Blumenau sorriu de leve -, eu jamais me
incomodaria! Faz o convite você mesmo, ela vai gostar!
— Ótimo, depois eu vou lá no apartamento da sua mãe!
    Antes de ir pra reunião, Blumenau passou pela sala onde trabalhava
Rio do Sul, seu pai biológico. A anos atrás, ela disse com todas as
letras que nunca o chamaria de pai; mas se tornaram amigos, almoçavam
juntos uma vez por semana e ele visitava a neta com frequência. E Içara,
ela ainda era muito pequena pra entender que aquele homem também era seu
avô, mas adorava tudo aquilo.
    São José, sentado atrás da mesa de seu escritório, organizava
algumas folhas impressas que estavam à sua frente:
— Com licensa, doutor! - Juliana entrou nervosa na sala de seu chefe:
— Pode entrar, Juliana; aconteceu alguma coisa?
— A sua esposa ligou, não conseguiu falar com o senhor pelo celular; ela
sofreu um acidente!
— Um acidente? - ele se levantou apressado -, e como é que ela está?
— Calma, doutor, dona Camila está bem, foi ela mesma quem falou comigo!
Ela foi atropelada quando saía do banco, o motorista prestou socorro e a
levou pro hospital pra ser examinada!
— Em qual hospital que ela está?
— Ela pediu pro motorista levá-la pro hospital onde ela trabalha,
doutor!
 Eu vou pra lá, Juliana; você me faz um favor, vá até a sala de
reuniões e avisa pra minha filha que depois eu converso com ela sobre o
que foi decidido!
— Sim senhor, pode ir sossegado!
    São José estava preocupado com sua mulher, foi até o hospital para
ver como estavam as coisas. Segundo Juliana, a própria Camila falou com
ela, mas ele precisava vê-la.
    Ainda na recepção do hospital, São José encontrou-se com Ana Luísa;
a médica trazia no olhar uma expressão tranquila, reconfortante:
— Ana - perguntou ele nervoso -, cadê a Camila? O que aconteceu com ela?
— Calma, compadre - ponderou ela -, por favor calma! Ela teve algumas
escoriações pelo corpo, no mais foi só o susto mesmo! Nós achamos melhor
deixá-la em observação por algumas horas por que... bem, eu não sei se
vocês já sabiam, mas a Cami está grávida, compadre!
São José sentiu seu coração estremecer no peito; em questão de segundos,
lembrou-se do dia em que Criciúma, a alguns anos atrás, disse com todas
as letras que seu sexto filho estava a caminho; e aquilo não passava de
uma grande mentira. Sentiu vontade de chorar, uma emoção inexplicável,
dessa vez era verdade:
— Não, a gente não sabia! Vocês falaram pra ela?
— Não; eu pedi que ninguém falasse nada por enquanto, quis conversar com
você primeiro! Vamos lá falar com ela?
    São José entrou no quarto onde sua esposa estava, acompanhado por
Ana Luísa. Encontrou-a deitada, e apesar do susto, ela estava
sorridente:
— Oi, meu amor - falou a enfermeira ao colocar os olhos em seu marido -,
eu não consegui falar com você, liguei pra Juliana!
Ele se aproximou, beijou o rosto da mulher e se sentou ao lado dela;
Camila não pôde deixar de notar quando a lágrima rolou dos olhos dele, o
par de olhos azuis:
— Não fica preocupado, meu marido, eu estou legal! Uma dorzinha aqui e
ali, um desconforto mas é normal; eu fui atropelada, o motorista fez
questão de me socorrer, não fica assim! Hoje mesmo eu volto pra casa...
— Eu estou chorando de felicidade, minha mulher; porque eu te amo...
— É por isso que a gente tem que sorrir, sorrir cada vez mais...
— Eu amo vocês mais do que tudo, enfermeira Camila!
— Vocês? Como assim?
Com um sorriso de felicidade, Ana Luísa entrou na conversa:
— Amiga, você deu entrada aqui no hospital, o médico que te atendeu fez
todos os exames necessários e me chamou! Você está esperando um filho,
amiga!

CAPÍTULO94

Ela não sabia se ria ou chorava; Palhoça, aquela que nunca levou
absolutamente nada a sério, que brincava com todas as situações
possíveis, estava ali, ouvindo uma canção que falava sobre ela, que
falava para ela.
Santo Amaro da Imperatriz estava diante da garota que amava, tocando e
cantando só para ela; Palhoça olhava hora para ele, hora à sua volta;
estavam na sala de estar da casa dele, um ambiente sem luxo, muito
aconchegante.
Então esse é o amor? Perguntava a garota a si mesma; ela nunca havia
sentido isso antes. A canção terminou, Santo Amaro conseguiu vencer a
emoção daquele momento e cantar a música toda; soltou o violão e
virou-se para olhar nos olhos de sua garota; segurou-lhe as duas mãos e
as levou até seu peito. O problema é que as palavras sumiram, o garoto
não sabia o que dizer; talvez soubesse, mas como?
— Não precisa dizer nada - murmurou Palhoça -, não diz nada agora! Eu
tenho medo de estar sonhando, de acordar e perceber que esse momento...
— A gente está aqui, Palhoça; eu, você e uma enorme gana de viver, de
ser feliz! Eu fiz essa música, foi a primeira vez que eu consegui compor
uma música inteira pra te dizer que eu te amo, pra te dizer que a partir
de agora eu sei que eu amo de verdade! Eu te amo, garota; você aceita
namorar comigo?
Palhoça queria rir, chorar, gritar pro mundo o que estava
acontecendo; o sim veio acompanhado por uma lágrima, enchendo de
felicidade o coração do garoto.
Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz estavam namorando oficialmente;
o jovem fez questão de ir até a casa dela, conheceu e conversou com a
família toda e fez questão de pedi-la em namoro também para São José.
Palhoça jamais imaginou que isso aconteceria um dia; mas estava
apaixonada; seus olhos brilhavam com uma simples mensagem de bom dia do
namorado, se sentia a mais feliz das mulheres por ter servido de
inspiração para que Santo Amaro compusesse uma canção.
Depois de algumas semanas de namoro, Palhoça e Santo Amaro decidiram
que era hora de suas mães se conhecerem; promoveram um encontro entre
elas, Joaçaba fez questão de oferecer a casa e o jantar para a sogra de
seu filho.
As duas ficaram amigas imediatamente; e essa união seria parte da
felicidade de seus filhos. Trocaram experiências, e mais do que isso,
trocaram telefones.
Florianópolis, Concórdia e Joaçaba; eram três mães de família que
agora estavam unidas por um único motivo, o amor. Passaram a promover
verdadeiras festas em família aos domingos, saíam todos juntos,
aproveitando ao máximo aquela felicidade que lhes pertencia.
Passaram-se quatro anos; anos que ficariam pra sempre na memória de
todos.
Dos cinco filhos de Florianópolis e São José, apenas dois ainda
moravam com ela; o pequeno São Joaquim, com sete anos de idade, e
Jaraguá, recém formada em psicologia; uma jovem com muitos sonhos, e um
deles se realizaria dentro de alguns meses, o casamento com São Miguel
do Oeste.
Ele por sua vez não cabia em si de felicidade; realizou o sonho de se
formar em medicina, e em pouco tempo estaria casado com a mulher que
amava, sua primeira namorada.
Joinville e Chapecó continuavam juntas, felizes, realizadas; tinham
suas profissões, trabalhavam juntas em seu próprio escritório e criavam o filho, São Lourenço do
Oeste, que aos seis anos de idade era um menino esperto, muito amoroso,
e apesar da pouca idade, compreendia que sua família era um pouco
diferente das outras. Era filho de duas mães, uma lhe deu a vida, e
amor, bem, amor ele tinha de sobra, das duas.
Blumenau formou-se em direito mas não estava atuando como advogada;
tornou-se o braço direito de seu pai na empresa de cristais. Morava
sozinha com sua filha, Içara, também com seis anos de idade.
Hoje, São José era dono de cem por cento das ações da empresa; casado
com a enfermeira Camila a quatro anos, ele se considerava um homem
totalmente realizado.
Depois que concluiram o curso de fotografia, Palhoça e Santo Amaro
da Imperatriz decidiram que era o momento de começarem sua vida juntos.
Com a ajuda de ambas as famílias, montaram seu próprio estúdio de
fotografia, estavam morando de aluguel mas faziam planos de construir
sua própria casa. Trabalhavam fotografando festas e eventos em geral,
Palhoça se transformou em uma dona de casa e mãe de família exemplar;
ainda não tinha filhos, mas esse era o próximo sonho a ser realizado.
Era madrugada de domingo para segunda feira, para Blumenau, uma daquelas noites que
custam a passar:
— Está frio, mamãe! - reclamava Içara, abraçada à sua mãe:
— Vai passar, meu amor, a mamãe promete que vai passar! Feche os olhos,
tenta dormir um pouquinho!
— Me leva lá na vovó, mãe!
— Vamos combinar uma coisa! Você vai fechar os olhinhos, vai descançar,
o dia já está nascendo, e quando você acordar a mamãe te leva; pode ser?
Já passava de cinco horas da manhã quando Içara finalmente pegou no
sono, deitada na cama de sua mãe, abraçada a o gatinho de pelúcia; teve
febre a noite toda.
Blumenau não teve dúvidas; teria uma reunião importantíssima na empresa
na primeira hora do dia e ligou para sua mãe as sete horas da manhã.
Enviou uma mensagem para a babá despensando-a naquele dia e fez a
vontade de sua filha; Içara passaria o dia com a avó.
O sol já brilhava intensamente quando Florianópolis se levantou,
abriu as janelas de casa e esperou que a filha chegasse trazendo sua
neta. Quando Blumenau anunciou pelo interfone que estava subindo, a avó
de família abriu a porta de casa e ficou ali, esperando, apostos para
qualquer coisa.
A porta do elevador se abriu e Içara teve uma reação surpreendente ao
ver a avó, uma reação que deixou sua mãe e a própria Florianópolis
preocupadas. Depois de uma noite praticamente em claro com uma febre de
quase quarenta graus, a garotinha tirou forças de algum lugar para
correr para sua avó, atirar-se em seus braços e chorar:
— Vovó - ela dizia entre os soluços de um choro que ninguém conseguia
definir -, vovó!
— Oi, minha princesa, o que aconteceu?
— Um febrão a noite toda, mãe - explicou Blumenau -, pegou no sono as
cinco da manhã, eu trouxe ela pra você porque ela pediu muito...
— Não precisa explicar nada, filha; avó é mãe duas vezes, vai tranquila
pra sua reunião que eu cuido dela o tempo que for necessário!
Florianópolis se sentou no sofá com a neta no colo; Içara ainda
chorava, com os pequenos braços entrelaçados no pescoço da avó como se
corresse um sério risco de perdê-la, ou que alguém lhe arrancasse dela:
— Olha pra vovó, meu amor - Florianópolis levantou o rosto da neta -, o
que é que você tem? Não foi você que disse que nós somos melhores
amigas?
Mas a menina continuava calada, aninhada ao corpo da avó; Florianópolis
insistiu:
— Vamos deitar lá na cama da vó?
Içara fez que sim com a cabeça; Blumenau despediu-se das duas e foi pra
empresa, dizendo que voltaria assim que fosse possível.
São Bento do Sul, já formado em direito, era um dos advogados da
empresa; era competente, transformou-se em um pai exemplar, capaz de
tudo pela filha. Ele e Blumenau não voltaram a viver juntos, mas nutriam
um sentimento de amizade pelo bem de Içara. Se encontraram no elevador
no início do espediente, e Blumenau contou a o ex-marido o que estava
acontecendo com a filha:
— Você podia ter me ligado, Blumenau; eu teria ido até o seu apartamento
mesmo que fosse no meio da noite!
— Não ia adiantar, São Bento; eu medi a febre dela, dei remédio, ela
pedia muito pela avó! Deixei ela na casa da minha mãe antes de vir pra
cá, eu fico mais tranquila!
— Depois eu vou até lá pra dar um beijo nela! Eu estava pensando em sair
com ela no fim de semana, ir na praia, claro se você não se incomodar!
— É claro que não, São Bento - Blumenau sorriu de leve -, eu jamais me
incomodaria! Faz o convite você mesmo, ela vai gostar!
— Ótimo, depois eu vou lá no apartamento da sua mãe!
Antes de ir pra reunião, Blumenau passou pela sala onde trabalhava
Rio do Sul, seu pai biológico. A anos atrás, ela disse com todas as
letras que nunca o chamaria de pai; mas se tornaram amigos, almoçavam
juntos uma vez por semana e ele visitava a neta com frequência. E Içara,
ela ainda era muito pequena pra entender que aquele homem também era seu
avô, mas adorava tudo aquilo.
São José, sentado atrás da mesa de seu escritório, organizava
algumas folhas impressas que estavam à sua frente:
— Com licensa, doutor! - Juliana entrou nervosa na sala de seu chefe:
— Pode entrar, Juliana; aconteceu alguma coisa?
— A sua esposa ligou, não conseguiu falar com o senhor pelo celular; ela
sofreu um acidente!
— Um acidente? - ele se levantou apressado -, e como é que ela está?
— Calma, doutor, dona Camila está bem, foi ela mesma quem falou comigo!
Ela foi atropelada quando saía do banco, o motorista prestou socorro e a
levou pro hospital pra ser examinada!
— Em qual hospital que ela está?
— Ela pediu pro motorista levá-la pro hospital onde ela trabalha,
doutor!
Eu vou pra lá, Juliana; você me faz um favor, vá até a sala de
reuniões e avisa pra minha filha que depois eu converso com ela sobre o
que foi decidido!
— Sim senhor, pode ir sossegado!
São José estava preocupado com sua mulher, foi até o hospital para
ver como estavam as coisas. Segundo Juliana, a própria Camila falou com
ela, mas ele precisava vê-la.
Ainda na recepção do hospital, São José encontrou-se com Ana Luísa;
a médica trazia no olhar uma expressão tranquila, reconfortante:
— Ana - perguntou ele nervoso -, cadê a Camila? O que aconteceu com ela?
— Calma, compadre - ponderou ela -, por favor calma! Ela teve algumas
escoriações pelo corpo, no mais foi só o susto mesmo! Nós achamos melhor
deixá-la em observação por algumas horas por que... bem, eu não sei se
vocês já sabiam, mas a Cami está grávida, compadre!
São José sentiu seu coração estremecer no peito; em questão de segundos,
lembrou-se do dia em que Criciúma, a alguns anos atrás, disse com todas
as letras que seu sexto filho estava a caminho; e aquilo não passava de
uma grande mentira. Sentiu vontade de chorar, uma emoção inexplicável,
dessa vez era verdade:
— Não, a gente não sabia! Vocês falaram pra ela?
— Não; eu pedi que ninguém falasse nada por enquanto, quis conversar com
você primeiro! Vamos lá falar com ela?
São José entrou no quarto onde sua esposa estava, acompanhado por
Ana Luísa. Encontrou-a deitada, e apesar do susto, ela estava
sorridente:
— Oi, meu amor - falou a enfermeira ao colocar os olhos em seu marido -,
eu não consegui falar com você, liguei pra Juliana!
Ele se aproximou, beijou o rosto da mulher e se sentou ao lado dela;
Camila não pôde deixar de notar quando a lágrima rolou dos olhos dele, o
par de olhos azuis:
— Não fica preocupado, meu marido, eu estou legal! Uma dorzinha aqui e
ali, um desconforto mas é normal; eu fui atropelada, o motorista fez
questão de me socorrer, não fica assim! Hoje mesmo eu volto pra casa...
— Eu estou chorando de felicidade, minha mulher; porque eu te amo...
— É por isso que a gente tem que sorrir, sorrir cada vez mais...
— Eu amo vocês mais do que tudo, enfermeira Camila!
— Vocês? Como assim?
Com um sorriso de felicidade, Ana Luísa entrou na conversa:
— Amiga, você deu entrada aqui no hospital, o médico que te atendeu fez
todos os exames necessários e me chamou! Você está esperando um filho,
amiga!


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