Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 77
CAPÍTULO77




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CAPÍTULO77

— Ele deixou o cartão no bolso do meu casaco sem que eu percebesse,
menina! - assim confidenciava Camila para Ana Luísa, sentada junto a bancada
do apartamento da médica:
— E você não percebeu mesmo quando ele colocou o cartão lá?
— Não, não percebi nada!
— Quer que eu seja sincera, enfermeira Camila? Eu acho que ele está afim
de você!
— Que é isso, menina? São José é um coroa; é bonitão, mas é um coroa!
— Então porque é que ele colocou o cartão no bolso do seu casaco e não
te entregou?
— Eis a questão, amiga! Mas acontece que o cara já foi casado duas
vezes, traiu Florianópolis, saiu de casa por causa daquela executiva
bonitona e bem mais nova do que ele, depois se separou dela também, tem
cinco filhos sendo um bebê, duas adolescentes, uma de nariz empinado, e
pior, a outra se casou hoje com a minha amiga!
Ana Luísa não conseguiu se conter e deu uma gargalhada que pôde ser
ouvida no prédio todo, tamanha lista que a amiga lhe apresentou:
— Calma, amiga - falou a médica -, calma! Se o coroa do quinto andar
realmente estiver afim de você ele vai dar um jeito de falar com você de
novo!
— E falando nisso, Ana, Chapecó a essa hora já está de casa e
vida nova!
— É verdade! O apartamento delas é aonde?
— É aqui pertinho; dá pra ir andando daqui até lá! Eu quero dar uma
passada lá mas vou esperar uns dias, sabe! Eu nem estava aqui quando ela
saiu do flat; a gente foi vizinhas durante tanto tempo, socorremos uma a
outra tantas vezes!
— Eu imagino, amiga! Coloquei um vinho no gelo; vamos pedir uma pizza?
— Só se for agora!
— Mas antes deixa eu te perguntar, enfermeira Camila! Você guardou o
cartão dele?
— Claro que guardei, doutora Ana Luísa; quando a vendedora me entregou
dentro da loja eu guardei na minha bolsa!
Naquela noite, ao descer de um taxe vestida de noiva, Joinville foi
fotografada por algumas pessoas; afinal de contas, não era nada comum
uma noiva circulando pelas ruas em uma noite qualquer. As fotos foram
muito comentadas na internet, e muitos se perguntavam os motivos que ela
teria tido.
Depois que Joinville saiu de casa para viver com Chapecó, Blumenau
sentia que tinha de assumir o posto de irmã mais velha que era seu, mas
que ela nunca fez bom uso dele. São Joaquim, seu irmão caçula estava
crescendo, já fazia graça, ria para as irmãs e a mãe e enchia aquela
casa de alegria.
São José passava pelo apartamento para ver os filhos quase todos os
dias; mas de uma coisa ele tinha certeza, seu casamento não tinha mais
volta. Tornou-se amigo de sua ex-mulher, conversava sobre todos os
assuntos com ela, não foram poucas as vezes em que o pai de família
voltou para seu apartamento mais de meia noite.
— Não tem volta mesmo, amiga? - perguntou seriamente Lages para
Florianópolis; as duas estavam no carro, voltando do super mercado. A
mãe de família, que dirigia com atenção, respondeu:
— Não, Lages! Eu perdoei São José pelo que ele fez, perdoei sim, mas a
confiança é como um cristal; quando ela quebra não tem como concertar!
Eu desejo tudo de melhor pra ele, eu sei que ele pode vir a se casar
novamente um dia, eu agora só quero cuidar dos meus filhos e dos dois
netos que estão por vir!
— E falando em netos, e Joinville, como está?
— Está ótima! Passei por lá ontem, ela está numa felicidade contagiante;
elas querem marcar um jantar lá no apartamento pra família toda;
Joinville disse que vai ficar muito chateada se você não for!
— Fala pra ela que é só marcar o dia!
E de fato, ainda naquela semana, Chapecó e Joinville chamaram a
família toda e alguns amigos mais próximos para um jantar; dona
Margarida, que trabalhou na casa de Blumenau enquanto ela viveu com São
Bento do Sul, foi contratada por Joinville a pedido de sua irmã, que não
queria que ela ficasse desamparada.
Chapecó entrou em casa as seis horas da tarde e encontrou Joinville
com dona Margarida, na sala do apartamento; as duas estavam cuidando de
cada detalhe para o jantar de logo mais:
— Eu queria te dizer uma coisa! - falou Joinville, agora sozinha na sala
com Chapecó:
— Fala, meu amor!
— É que... bem... Chapecó, tem uma coisa que está me deixando
preocupada, talvez, me incomodando um pouco!
— Tipo o quê?
— É que... em fim, você está sustentando a nossa casa sozinha, eu não
acho justo, entende? Meu pai ainda me ajuda, ainda paga os meus estudos
mesmo eu vivendo com a minha companheira...
— Joinville, olha pra mim - Chapecó levantou calmamente o rosto dela -,
deixa eu te falar uma coisa, meu amor! Você está estudando, você não
passa o dia todo em casa de papo pro ar não; você vai ser uma
profissional brilhante só que tudo tem seu tempo; enquanto a sua hora
não chega, deixa eu te ajudar, deixa eu cuidar de você! Eu não me
importo de sustentar a nossa casa enquanto você não estiver trabalhando,
a sua hora vai chegar! Não se preocupa não, tá!
Camila saiu pela porta da frente do flat; havia deixado o carro logo
ali em frente quando chegou do hospital, estava indo para o apartamento
de Chapecó. Antes de entrar no carro, a enfermeira leu uma mensagem no
celular, onde Ana Luísa escreveu que iria direto pra lá assim que saísse
do trabalho, também havia sido convidada.
Camila ligou o motor do carro e se preparou para sair; foi tudo
muito rápido, nem ela mesma soube explicar o que aconteceu. Ao dar o ré
para poder arrancar o carro, acabou batendo em um outro veículo que
estava estacionado próximo a o seu. Muito nervosa, a enfermeira
desembarcou para ver o que havia acontecido de fato; acabou amaçando a
parte da frente da caminhonete, e pior, era justamente o carro da
presidente do hospital onde ela trabalhava.
A dona do automóvel apareceu, Camila não sabia o que dizer:
— Doutora Dilma, me desculpe, eu não sei o que aconteceu!
A médica já tinha seus sessenta anos de idade e era temida dentro do
hospital por seu jeito autoritário e irredutível:
— Eu espero que a senhora tenha uma boa explicação pra isso, enfermeira
Camila; explicação e grana pra cobrir o prejuízo!
— Eu não sei o que aconteceu comigo, doutora Dilma; mas pode ficar
tranquila, eu vou arcar com as consequências do que aconteceu!
— Camila! - a enfermeira quase caiu pra trás; a voz que chamou por
ela era conhecida, e ao olhar pra trás, lá estava o par de olhos azuis,
o coroa do quinto andar, São José:
— O que aconteceu, Camila? - ele perguntou calmamente, com um olhar
compreensivo em direção à enfermeira; foi a doutora Dilma quem
respondeu, furiosa:
— A sua excelentíssima esposa deveria ir pro olho da rua por causa disso!
— Ela não é minha... isso não importa agora, eu só quero saber o que
aconteceu!
— Eu bati no carro da doutora Dilma - explicou a enfermeira -, foi um
acidente, eu não sei o que aconteceu...
— Mas eu sei o que vai acontecer - continuou a presidente do hospital -,
essa enfermeira cabeça de vento vai pro olho da rua e ainda vai ter que
pagar o prejuízo que eu tive!
— Calma, doutora - ponderou São José -, em primeiro lugar, eu conheço
essa moça, Camila não vai fugir da responsabilidade dela porque isso não
combina nada com ela; e em segundo lugar, não é justo que ela perca o
emprego por causa disso!
— Doutora Dilma - continuou Camila -, a senhora não vai sair no
prejuízo, eu não vou fugir da minha responsabilidade! Eu vou te passar
meu telefone, eu vou arcar com a minha responsabilidade!
— Assim é melhor! E da próxima vez, enfermeira Camila, trata de ficar de
olho, caso contrário você vai pro olho, pro olho da rua!
A doutora Dilma embarcou na caminhonete, e mesmo com a frente do carro
toda amaçada, ligou o motor e saiu em alta velocidade.
— Você estava indo pra onde? - perguntou calmamente São José, na
tentativa de tranquilizar a enfermeira:
— Pro apartamento de Chapecó, aliás, eu já deveria estar lá...
— Eu também estou indo pra lá; eu vou tirar o seu carro daqui,
estacionar direito e você vai comigo!
O par de olhos azuis encontrou os olhos da enfermeira; aquela mulher,
quase vinte anos mais jovem do que ele, tinha uma beleza própria, uma
beleza que ia além do físico, que vinha de dentro para fora:
— Parece que a gente só se encontra nas situações mais tumultuadas! -
deduziu a enfermeira -, me desculpe!
São José apenas sorriu para ela, não sabia o que responder.


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