Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 76
CAPÍTULO76




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CAPÍTULO76

Naquele início de noite, Blumenau foi agredida por São Bento do Sul,
e devido a o estado em que estava, passou muito mal. Foi seu pai de
sangue quem a encontrou, sentada em uma poltrona em seu apartamento,
totalmente sem forças.
Pela primeira vez, Rio do Sul se sentiu pai, de verdade; sentiu vontade
de matar, morrer, de fazer o que fosse preciso para defender Blumenau.
Naquela noite ele chorou com a filha nos braços, ouviu seu desabafo,
enxugou suas lágrimas, e principalmente, a levou para a casa de sua mãe
a pedido dela.
Blumenau viveu com São Bento do Sul por aproximadamente três meses;
mas os conflitos com ele, o ciúme exagerado, a agressividade daquele
rapaz a fez voltar para a casa de sua mãe.
Suas irmãs a receberam com carinho; as quatro se reuniram no quarto de
Blumenau, com uma bandeja cheia de guloseimas e ficaram conversando
até altas horas. A jovem chorou tudo o que tinha pra chorar, falou tudo o
que precisava falar ali, nos braços das irmãs; o próximo passo para ela agora seria voltar a sua vida
normal, voltar a estudar, tentar superar o que havia acontecido.
Depois de muita conversa, Chapecó e Joinville decidiram fechar
negócio e compraram o apartamento. O imóvel era exatamente do jeito que
as duas precisavam, estava mobilhado, era perto de tudo, estava pronto
pra morar. Chapecó deixaria o flat dentro de poucos dias, e Joinville
sairia da casa de sua mãe para viver com ela. Itajaí continuava presa;
sua situação se complicou quando ela acabou confessando que pretendia
matar Chapecó e Joinville na manhã em que esteve com elas. Estava
sofrendo na prisão, era humilhada pelas outras detentas e passou a se
envolver em brigas com as companheiras de cela quase todos os dias.
A enfermeira Camila desceu de um taxe naquele fim de tarde, havia
saído do trabalho e pretendia ir no shopping, andar um pouco, talvez
comer alguma coisa por lá. De onde estava, ela podia ver o prédio onde
funcionava a empresa de cristais onde São José trabalhava.
Camila subiu na calçada, e como que num passe de mágica foi surpreendida
por um carro preto; o motorista parecia estar bêbado, invadiu a calçada
e quase atropelou a enfermeira. Ela conseguiu escapar, mas ficou
nervosa, parada na calçada:
— Camila, calma, vem comigo! - a voz que falou com ela era conhecida; a
enfermeira olhou pro lado e lá estava São José, de terno e gravata,
segurando sua mão esquerda:
— O carro subiu na calçada, São José!
— Eu vi; eu estava saindo da empresa! Vem comigo, vamos tomar uma
água...
— Eu estou legal; só fiquei meio zonza...
— Não seja teimosa - ele reagiu calmamente -, você está pálida, vem
comigo!
Minutos depois, a enfermeira mal podia acreditar no que estava
acontecendo; na maioria das vezes em que esteve na presença de São José,
isso aconteceu no hospital, em situações delicadas. Agora ela estava
ali, sentada em uma poltrona na recepção da empresa, com um copo com
água na mão e ele sentado ao seu lado, calmo, compreensivo. Pela
primeira vez, a moça prestou atenção naquele par de olhos azuis, que
lembravam muito os olhos de Jaraguá, o sorriso discreto que lembrava o
sorriso de Joinville, sentiu-se protegida, como se enquanto estivesse
ali, nada de ruim pudesse lhe atingir:
— Obrigada! - foi a única coisa que Camila conseguiu dizer quando São
José pegou o copo descartável de sua mão e jogou-o na lixeira ao lado
da poltrona onde ele estava sentado:
— Está melhor?
— Estou! Eu desci do taxe, o maluco subiu na calçada, foi muito rápido,
nem sei como eu escapei!
— Parece que ninguém respeita mais ninguém mesmo! Você ia pra onde?
— Pro shopping!
— Eu te deixo lá...
— Eu estou me sentindo bem, São José...
— Eu te levo! Meu carro está aqui no estacionamento da empresa, pela segunda vez, não seja
teimosa, enfermeira Camila!
Camila acabou aceitando; e quando São José parou o carro em frente a o
shopping, os dois se despediram, e enquanto abraçava a enfermeira, sem
que ela se desse conta, São José deixou no bolso do casaco que ela usava
um cartão com todos os contatos dele. Mais tarde, dentro de uma loja no
shopping, a enfermeira pegou o celular no mesmo bolso onde ele havia
deixado o cartão; estava lendo uma mensagem de Ana Luísa quando uma
vendedora, discretamente se aproximou dela:
— A senhora deixou cair! - disse calmamente a mulher entregando o cartão
para a enfermeira:
— Obrigada! - ela agradeceu mesmo sem ter a mínima ideia de como aquilo
foi parar no bolso do casaco. Imediatamente lembrou-se do abraço dentro
do carro, só podia ter sido naquela hora.
Chapecó chegou no apartamento novo e deixou as malas na suite; não
queria colocar as roupas no closet sem que Joinville estivesse ali
também, queria fazer isso junto com ela. Ela chegaria a qualquer
momento, as duas já passariam aquela noite ali.
A engenheira andou pelo apartamento todo, prestando atenção em cada
detalhe de sua nova casa. O quarto que ficava ao lado da suite seria o
quarto do bebê, que começaria a ser preparado para a chegada dele.
Sua história com Joinville passou como um filme enquanto Chapecó andava
pelo apartamento; lembrou-se da noite em que se conheceram na
biblioteca, da primeira vez que almoçaram juntas, do dia em que decidiu
se declarar para ela, da casa de praia onde passaram o primeiro fim de
semana juntas, em fim, as lembranças a fizeram chorar. Agora, as duas
dividiriam uma casa, uma vida, teriam uma família.
Quando Joinville interfonou da portaria e anunciou que estava
subindo, Chapecó sentiu seu coração pular como se quisesse sair de seu
peito; sentiu a mesma emoção de quando passou a primeira noite ao lado
da namorada. Abriu a porta da sala e ficou esperando.
A porta do elevador se abriu, e a engenheira quase caiu pra trás; uma
Joinville sorridente se revelou para ela, mas de um jeito diferente, um
jeito como ela jamais imaginou. Sua mulher agora caminhava em direção à
porta do apartamento com passos leves, estava vestida de noiva. O
porteiro vinha logo atrás, carregando a mala.
Os olhos se encontraram, as lágrimas foram inevitáveis:
— Será que... será que eu estou sonhando? Joinville, você...
— Não, meu amor, a gente não está sonhando! Desde pequena eu sonhava com
o meu vestido de noiva, e mesmo não podendo me casar na igreja, eu fiz
questão de chegar aqui assim, vestida de noiva! E aqui, na porta da
nossa casa eu prometo fidelidade a você, eu prometo te amar, te
respeitar, até o último dia da minha vida!
E Joinville foi vencida pelas lágrimas.
Chapecó não sabia se conseguiria falar, a emoção era grande de mais.
Segurou a mão direita daquela que agora seria sua companheira e disse:
— Eu prometo; eu te prometo fidelidade, amor, respeito, eu
prometo ser tudo o que você quiser até o último dia da minha vida!
E nada mais precisou ser dito; naquela noite, mesmo sem ter estado em
uma igreja, Joinville se casou, fez os votos vestida de noiva como sempre
sonhou. Aquilo tudo havia sido muito sonhado, planejado por ela; havia
ensaiado tudo em frente a o espelho, alugou o vestido de noiva, e tudo
saiu como planejado.
Jaraguá sabia que Joinville estava saindo de casa para ser feliz,
mas não podia evitar aquele vestígio de tristeza no olhar; sua irmã
sempre foi seu porto seguro em casa, sua melhor companhia:
— Você está triste, não é, mana? - deduziu Blumenau ao entrar no quarto
da garota e vê-la sentada na cama:
— Estou, Blumenau!
A irmã mais velha se aproximou e se sentou ao lado de Jaraguá:
— Olha, mana! Joinville vai ser feliz, eu tenho certeza que vai; ela
saiu daqui pra se casar, pra formar uma família!
— Eu sei, eu sei que ela vai ser feliz! Mas ela é meu porto seguro,
minha melhor amiga, era pro quarto dela que eu corria quando precisava
conversar no meio da noite!
— Você pode correr pro meu! Mana, eu quero muito te conhecer melhor, eu
quero muito ser sua amiga; eu sei que nada vai substituir a presença de
Joinville pra você aqui em casa, mas eu vou fazer o possível pra ser uma
irmã mais velha legal! Quer dar uma saída comigo?
— Pra onde?
— Não sei; a noite está bonita, vamos dar uma andada aqui por perto,
melhor, vamos sair pra comer, pronto!
— Pode ser! Vou me arrumar!
— Também vou trocar de roupa, pego a chave do carro e te espero na
sala!
Pela primeira vez, Jaraguá iria sair com a irmã mais velha; ficou feliz
com o convite, se produziu para aquele momento. Seria um simples
passeio, que para a menina era um acontecimento.


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