Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 53
CAPÍTULO53




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CAPÍTULO53

    Quando terminou de ler a carta deixada por sua irmã, Concórdia
estava aos prantos; percebia que Brusque estava mais distante do que
nunca nos últimos tempos, sentia que havia algo errado, mas jamais
imaginou que a verdade fosse essa.
Ela estava sozinha no mundo com seu sobrinho; começou a pensar no que
faria quando chegasse a hora de contar a ele o que aconteceu; ele
certamente estava na escola à aquela hora, e teria que se adaptar a uma
dura realidade quando voltasse pra casa.
    Já fazia algum tempo que São José e Criciúma viviam juntos, mas a
relação dos dois mudou muito depois que passaram a dividir o mesmo teto.
Ele continuava sendo um pai de família, prometeu a Florianópolis que
nada faltaria para ela e para seus filhos; iria cumprir o que prometeu a
todo custo. Criciúma por sua vez, tornou-se insegura, incompreensiva,
passou a agir como se quisesse disputar a atenção de seu homem com os
filhos dele.
    A jovem executiva sentia que as coisas não iam bem, sentia que
corria um sério risco de perder São José e precisava evitar isso de
qualquer jeito. Queria engravidar, precisava de um filho dele mas por
mais que tentasse, não acontecia. Decidiu mentir para ele; sabia que não
poderia manter aquela farça por muito tempo, mas até lá, pensaria no que
fazer.
    Naquela manhã, Criciúma não foi trabalhar, disse a o marido que iria
a uma consulta. São José estava saindo de uma reunião, e antes de entrar
em sua sala, passou pela mesa de sua secretária, que avisou que Criciúma
estava esperando por ele:
— Criciúma, aqui, Juliana? Ela me disse que não vinha trabalhar agora de
manhã?
— Ela disse que só veio pra conversar com o senhor; pediu pra esperar na
sua sala e... me desculpe se...
— Claro, eu entendo; eu vou lá pra falar com ela!
O homem sorriu de leve para a jovem secretária antes de entrar em sua
sala e fechar a porta:
    - Oi, minha querida - cumprimentou ele -, você me disse que não
vinha agora de manhã!
— Oi, amor - ela respondeu -, eu não ia vir mesmo; só que eu não
aguentei esperar por você em casa!
— Como assim? - São José agora trazia uma cadeira para junto dela;
sentou-se e segurou-lhe a mão esquerda:
— Eu tenho uma notícia pra te dar!
— Uma notícia? E por acaso essa notícia tem alguma coisa a ver com a sua
consulta de hoje?
— Tem, meu amor, tem sim!
Calmamente, Criciúma levou a mão de seu marido até sua barriga; olhou
nos olhos dele e sorriu:
— Seu sexto filho está aqui, meu amor!
São José ficou pálido; seu coração parecia querer saltar do peito, ficou
todo atrapalhado:
— Sexto filho? Você está grávida?
— Estou; meu médico acabou de confirmar!
    O pai de família estava sem ação; seu filho homem havia nascido a
pouco tempo, era difícil acreditar que teria outro. Ele jamais poderia
supor que na verdade, o sexto filho não existia.
São José saiu da empresa mais cedo naquela manhã; fez questão de almoçar
com a mãe do filho que ele acreditava estar a caminho.
    São Miguel do Oeste entrou em casa com o mesmo sorriso de sempre e
ficou surpreso ao encontrar sua tia lá. O garoto logo percebeu que algo
não ia bem, sua mãe não havia ido trabalhar naquela manhã, e ao chegar
em casa, percebeu que ela também não estava ali.
    - Aconteceu alguma coisa, tia? - perguntou São Miguel, desconfiado:
— Senta aqui, meu amor, senta! - Concórdia apontou o lugar ao seu lado
no sofá para que seu sobrinho se sentasse. Ele o fez sem demora, e
sentiu a mão gélida da tia segurar a sua firmemente:
— O que foi, tia?
— Meu querido! Uma vez quando você era pequeno, você pegou na minha mão
quando eu  descia a escada da casa do seu avô, eu estava doente naquele dia e você disse que era meu super
herói! Eu vou precisar que você seja meu super herói agora, mais do que
nunca!
— Por que, tia? A minha mãe... aconteceu alguma coisa com a minha mãe?
— Sua mãe deixou o país hoje cedo, meu amor! - Concórdia não conseguiu
conter as lágrimas ao dar a notícia para o sobrinho:
— Como assim deixou o país, tia? Me explica isso direito! - São Miguel
agora estava nervoso:
— Calma, eu vou te explicar tudo, eu vou te contar tudo!
    Concórdia estava diante da difícil missão de contar tudo o que
aconteceu para São Miguel do Oeste, seu sobrinho; contou toda a verdade
para ele, teria de começar uma nova vida junto dele e não queria começar
com mentiras. Contou sobre o envolvimento de Brusque com um aluno menor
de idade, sobre o reaparecimento do pai do garoto, em fim, contou tudo:
— Não pode ser, tia - pela primeira vez, Concórdia estava vendo seu
sobrinho chorar -, como é que a minha mãe teve coragem de fazer isso?
Ela não podia ter feito isso comigo, tia, ela nunca se importou comigo e
de repente se envolve com um garoto da minha idade?
— Eu não quero te enganar, meu sobrinho - dizia Concórdia completamente
desolada -, eu não queria estar aqui te contando essa história mas não
posso te enganar! A sua mãe é uma mulher guerreira, e o fato dela ter se
apaixonado por um aluno menor de idade não a torna inferior, meu amor!
Ela sempre se importou com você, ela foi embora justamente pra evitar
que você sofresse, que você fosse apontado na escola como filho da
professora que seduziu um aluno!
    São Miguel não sabia o que pensar; era muita informação para um
garoto de dezessete anos de idade, que apesar dos problemas, sempre teve
sua mãe como uma heroína:
— Tia, eu vou pra capela; preciso ficar um pouco sozinho!
São Miguel saiu pela porta da frente e foi para a capela, deixando a tia
sentada no sofá, chorando.
Ficou lá por mais ou menos meia hora e voltou mais calmo. Entrou em casa
com passos leves e foi lentamente se aproximando de Concórdia, que
continuava sentada na mesma posição, com os olhos avermelhados:
— Está mais calmo? - ela perguntou; uma lágrima rolou de seus olhos e
seu sobrinho enxugou-a com a ponta dos dedos:
— Tia, não chora! Eu ainda não entendi o que aconteceu, eu conversei
muito com Santa Rita lá na capela mas ainda não entendi! A minha mãe
escolheu o caminho dela, apesar do que aconteceu eu vou cuidar de você,
você vai cuidar de mim e vai ficar tudo bem! Fica sossegada, eu sou o
seu super herói, você é minha super heroína!
E nada mais precisou ser dito; tia e sobrinho se abraçaram; agora, tudo
o que São Miguel do Oeste tinha era sua tia, e Concórdia acabou se
tornando quase que uma mãe aos trinta e um anos de idade, de um garoto de dezessete.
    Passaram-se alguns dias. Chegou o dia da viagem de Joinville para a
casa de praia onde aconteceria a festa de aniversário de sua colega. São
José e Florianópolis fizeram questão de levá-la até o polo da
universidade naquela tarde de sexta feira, era lá o lugar combinado para
o embarque.
    - Tomamos um café em algum lugar? - perguntou São José para a
ex-mulher, sem tirar os olhos da estrada; estava dirigindo:
— Não - ela respondeu educadamente -, eu preciso ir pra casa, Blumenau
quer falar comigo! Ela tem andado meio aéria, ela nunca foi assim!
— Qualquer coisa me avise, Florianópolis!
— Claro, pode deixar que eu te aviso sim! É verdade que Criciúma está
grávida?
— É; foi uma cacetada na cabeça, a gente não planejava ter filhos mas...
— Um filho é sempre motivo de alegria, São José; seja como for, um filho
é sempre motivo de felicidade! E apesar de tudo, eu desejo que tudo dê
certo pra ela, que vocês sejam felizes!
    Florianópolis entrou pela porta da sala de seu apartamento e lá
estava sua Blumenau, sentada em uma das poltronas com o irmãozinho no
colo:
— Oi, filhos! - exclamou ela enquanto seu rosto se enfeitava com um
lindo sorriso:
— Oi, mãe - respondeu Blumenau sem tirar os olhos de São Joaquim:
—, tudo bem?
— Tudo bem! Embarcamos Joinville, saíram fazendo a maior festa no
ônibus! Seu irmão, está tudo bem com ele?
— Está, mãe; ele estava inquieto lá no berço, acho que era cólica; daí
eu peguei ele, viemos pra cá, agora está tudo bem! Mas eu preciso falar
com você, mãe; eu tenho que te contar uma coisa!
Florianópolis se sentou ao lado de seus dois filhos; o pequeno estava
tranquilo, e a mais velha agora a encarava enquanto mantinha o irmão
confortavelmente aninhado em seu colo:
— Eu estou grávida, mãe!


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