Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 54
CAPÍTULO54




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CAPÍTULO54

    Um filme passou pela cabeça de Florianópolis; em questão de segundos
ela reviveu cada momento de sua filha mais velha. O dia em que descobriu
que estava grávida, o nascimento dela, o primeiro aniversário, o
primeiro dia de aula, o primeiro namoradinho:
— Grávida, filha? Você tem certeza?
— Tenho, mãe! Eu já estava desconfiada a alguns dias; fiz um exame de
farmácia, e como esse exame deu positivo eu fiz um exame de sangue, que
também deu positivo! Marquei uma consulta com a doutora Ana Luísa, eu
estou de quatro semanas, mãe!
Florianópolis estava sem palavras, pela primeira vez ela não soube o que
dizer. Olhou por um instante seu filho dormindo no colo da irmã, depois,
procurou os olhos dela:
— Bem, minha filha... eu estou muito surpresa com isso... mas não deixa
de ser uma notícia boa!
— Eu não queria, mãe!
— Como assim não queria?
— Eu não fui consciente; eu estava tomando remédio mas as vezes eu
acabava esquecendo!
— Mas se você acabava esquecendo de tomar o remédio, qual é a
surpresa, Blumenau?
— A gente acha que não vai acontecer, mãe! Foi burrísse minha...
— Isso agora não tem importância, meu amor! E São Bento, o que é que ele
acha disso?
— Ele foi comigo no consultório da doutora; disse que vai fazer tudo
como deve ser, vai assumir, ajudar em tudo o que eu precisar,
registrar, mas o problema sou eu, mãe!
— Como aassim o problema é você?
Blumenau chorou pela primeira vez depois que descobriu que seria mãe:
— A minha vida, mãe; os meus estudos, a minha juventude! Um filho nesse
momento era tudo o que não podia me acontecer!
— Blumenau, olha pra mim; agora você está sendo imatura, filha! Em
primeiro lugar, você não vai parar a sua vida porque você não está
doente, meu amor; você só vai precisar parar por um tempo, quando o seu
filho nascer e enquanto você estiver amamentando! Você vai continuar
estudando, filha, eu vou te ajudar, essa criança tem pai também, ele
também vai te ajudar! E apesar de tudo, apesar dessa criança não ter
sido planejada por vocês nesse momento, eu estou muito feliz com esse
neto! E conte comigo, minha querida; eu vou fazer o que estiver a o meu
alcanse para que você tenha uma gravidez tranquila, saudável!
    Agora, Blumenau tinha uma nova realidade diante de seus olhos; não
estava mais sozinha, dali em diante teria que pensar por ela e por seu
filho.
Depois que falou com sua mãe, a moça se sentiu mais aliviada; naquela
noite, Florianópolis chamou seu ex-marido em casa e contou para ele
sobre o neto que estava pra chegar:
— Quando foi que ela te contou? - quis saber o pai de família, confuso,
com uma xícara de café na mão direita:
— Hoje, depois que a gente chegou em casa da universidade! Eu cheguei e
ela estava aqui nessa sala, em uma das poltronas com o irmãozinho no colo; daí ela me
contou!
— Meu Deus, Florianópolis! Parece que foi ontem, parece que foi ontem
que você me disse que estava grávida dela, que eu te pedi em casamento,
que a gente foi pra maternidade pra ela nascer! A nossa menina vai ter
um bebê, ela vai dar um neto pra gente! E como é que ela está,
Florianópolis, pelo amor de Deus, como é que a minha filha está?
— Calma, homem, a gente tem que manter a cabeça no lugar agora! Ela estava muito preocupada; preocupada com o que seria da vida dela
com um filho pra criar! Mas a gente conversou bastante, eu falei que vou
ajudá-la no que for preciso e essa criança tem pai também...
Florianópolis parou o que estava dizendo quando ouviu passos no
corredor; Blumenal entrou na sala com um vestidinho amarelo, os longos
cabelos molhados, sem maquiagem:
— Pai! - exclamou a moça:
— Meu amor - respondeu ele ficando em pé diante da filha -, como é que
você está?
— Bem, pai! A mamãe já te contou?
— Já, filha, ela já me contou! Eu queria te dizer que... bem, mesmo que
tudo isso tenha acontecido sem um planejamento, uma criança é sempre
motivo de alegria, eu vou ser avô e estou feliz com isso!
— Eu achei que você fosse me condenar por isso, pai; foi burrisse minha,
eu poderia ter evitado mas...
— Eu não tenho esse direito, filha! E seu namorado?
— Ele está bem; foi comigo na doutora Ana, disse que vai me apoiar, está
tudo bem!
— Ele agiu com responsabilidade, isso facilita tudo!
— Sim, pai; ele vai assumir essa responsabilidade junto comigo, a
responsabilidade que é nossa!
— Senta com a gente, toma um café...
— Obrigado, pai! São Bento está passando aqui pra gente conversar, pode
ser que a gente saia, não sei ainda!
— Tudo bem, filha! Mas se cuida, cuida desse bebê!
— Pode deixar, pai; eu vou cuidar dele sim!
    Camila estava chegando em casa depois de um dia de muito trabalho;
passou pela recepção, e uma funcionária do flat lhe entregou um pequeno
embrulho que alguém deixou para ela. A enfermeira sentou-se em uma das
poltronas da recepção, soltou a bolsa preta ao seu lado e cuidadosamente
desfez o embrulho de papel vermelho. Deparou-se com um sapatinho
de bebê amarelo e seu coração desparou. Pensou que talvez tivesse um sobrinho a
caminho; pensou em sua irmã, Karlla, pensou em Davi, que estava noivo e
se casaria no anos seguinte. Qual deles lhe enviou o embrulho? Qual
deles lhe daria um sobrinho?
Junto com o sapatinho de bebê havia uma cartinha escrita a mão; a
enfermeira desdobrou cuidadosamente o papel e começou a ler:
— Tia Camila, eu estou a caminho! Minha mamãe descobriu hoje e você
será a primeira a saber! Ela me contou que você é a melhor amiga dela,
que você é a maninha que ela não teve! Estamos muito felizes, e a mamãe
conta com você pra essa nova etapa da vida dela!
E bastaram essas palavras para que Camila entendesse o recado; seus
olhos estavam cheios de lágrimas quando ela terminou de ler.
Levantou-se, pegou a bolsa e caminhou em direção a o elevador, levando
na mão esquerda o sapatinho amarelo, a cartinha e o papel do embrulho.
    Quando chegou no quinto andar, a enfermeira saiu correndo do
elevador e foi até a porta do apartamento de Chapecó; tocou a campainha
e logo ela veio atender.
Ainda na porta, seus olhos se encontraram; Camila mostrou o sapatinho
que estava em sua mão:
— É sério, amiga? - a pergunta veio acompanhada por um sorriso de
felicidade contagiante:
— É - confirmou Chapecó -, é sério, Cami; eu consegui, meu filho está a
caminho!
Camila deu um passo a frente e puxou a amiga para um abraço:
— O que é que te passou pela cabeça? - perguntou Chapecó, sem saber se
ria ou chorava:
— Que fosse coisa da Karlla ou do Davi! Quando eu vi o sapatinho
amarelo eu podia jurar que era um deles que ia me dar um sobrinho! Mas
não deixa de ser isso mesmo, eu vou ter um sobrinho, só que da minha
irmã do coração!
    As duas soltaram-se dos braços uma da outra e enxugaram as lágrimas:
— Chapecó, eu dou meia hora pra você se arrumar; a gente sai, senta em
um lugarzinho gostoso, come alguma coisa, joga conversa fora, e
principalmente comemora!
— Eu ia te chamar pra jantar aqui comigo, enfermeira Camila!
— Isso fica pra outro dia, madame! Eu vou pro meu apartamento, tomo um
banho, volto aqui em meia hora; e ai de você se não estiver pronta!
Camila estava visivelmente feliz, animada:
— Sim senhora - concordou Chapecó caindo na risada -, eu vou me arrumar,
te espero aqui em casa dentro de meia hora!
    Meia hora depois, Camila e Chapecó sairam do flat; a noite estava
linda e as duas decidiram ir andando até o lugar que escolheram pra
comer, que não ficava longe dali:
— Me conta, menina, Joinville já sabe?
— Não, Cami, ela não sabe ainda! Hoje ela foi para aquela casa de praia
onde vai ter a festa de aniversário de uma colega de turma dela amanhã,
e coinsidência ou não, no exato momento em que ela estava embarcando, eu
estava indo no laboratório pra pegar o resultado do exame!
— Chapecó, eu vou te contar uma coisa, mas você tem que me prometer que
vai guardar segredo!
— Eu prometo, claro! Mas o que é que foi, criatura?
— A doutora Ana Luísa fez uma consulta na terça feira, eu sei porque eu
acompanhei tudo! Sua cunhada também está grávida, amiga!
— Minha cunhada... Blumenau?
— Sim! Eu te pedi segredo porque ninguém sabe ainda, e sendo enfermeira
eu não podia contar uma coisa dessas nem diante do espelho!
— Claro, menina; eu entendo, fica sossegada que de mim não sai nada!
    As duas logo chegaram à pizzaria que escolheram e se sentaram em uma
mesa bem próxima à porta. A noite estava linda, a rua estava
movimentada.
Não demorou muito Para que Chapecó tivesse uma surpresa desagradável:
— Que surpresa, meu amor! Quer dizer que Joinville virou as costas e
você logo deu um jeito de arranjar outra companhia pra passar essa
noite? - era ela, Itajaí, que agora se aproximava da mesa onde as duas
estavam sentadas.


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