Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 4
CAPÍTULO4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742293/chapter/4

CAPÍTULO4

    - O que foi que você aprontou dessa vez, menina? - perguntou Márcia
ao colocar os olhos em Palhoça, que entrava com a mãe pela porta da
cozinha:
— Um terrível acidente, Marcinha - ela respondeu divertida -, quase quebrei o
ginásio da escola; com a cabeça!
— Já está tudo bem, Márcia - interveio a mãe -, a professora só achou
melhor que ela viesse pra casa!
— Marcinha - anunciou a menina jogando a mochila na mesa -, to com fome!
— Daqui a pouco eu sirvo o almoço!
Quando a filha já se preparava pra sair da cozinha, Florianópolis
impediu:
— Ei, senhorita, pega sua mochila daqui e leva lá no quarto; aqui não é o
lugar dela!
Ela obedeceu; voltou e pegou a mochila antes de ir ao quarto:
— Ah, Márcia - comentou Florianópolis -, um dia essa menina ainda me
mata de susto!
— O doutor vem almoçar?
— Vem; acabei de falar com ele, já ia me esquecendo de te avisar; ele
passa na escola e trás Jaraguá a o meio dia!
    Na sexta feira, Joinville saiu da faculdade com um pequeno grupo de
colegas e foi a um barzinho conforme havia sido combinado durante a
semana. Na mesma noite, Chapecó, com um grupo de colegas do curso de
engenharia civil, foi para o mesmo lugar.
    Quando chegou no tal barzinho escolhido pelos colegas, a futura
engenheira civil sentou-se com eles bem próxima à porta; e minutos
depois, viu de longe a moça que acabou esbarrando nela a alguns dias na
biblioteca.
O fato é que, Chapecó, que já estava sozinha a algum tempo, havia
prometido a si mesma que se daria um tempo, não se envolveria com
ninguém naquele monento; mas aquela moça, definitivamente lhe chamou a
atenção. O que fazer? Chapecó estava diante daquela mesma dúvida, de
novo; queria saber mais sobre Joinville mas não sabia como fazer isso
sem lhe causar uma impressão ruin. Será que Joinville poderia
corresponder? Iria ignorar? Chapecó só descobriria se tentasse de alguma
forma.
    Não teve dúvidas; em meio a o papo descontraído dos colegas de turma
ela abriu a bolsa e tirou dali um bloquinho e uma caneta; começou a
escrever um bilhete enquanto a tela enorme da televisão do
estabelecimento passava o vídeo clipe da música Why, interpretada com
perfeição por sua compositora, Andra.
No bilhete, Chapecó deixou apenas o número do celular e um pedido para
que a destinatária ligasse para ela; assinou, deixou uma observação, chamou o garçom e pediu
que ele entregasse o bilhete.
Ela acompanhou o garçom com os olhos até que ele fizesse o que lhe foi
pedido; o bilhete foi entregue nas mãos de Joinville, que ao desdobrar o
papel e ler o que estava escrito nele, descobriu que a moça que lhe
enviou o bilhete era a mesma da biblioteca de alguns dias atrás.
Na mesma hora, Joinville fez questão de salvar o contato no celular;
lembrou-se do que ouviu sua irmã Blumenal contar para os pais na mesa de
café da manhã, e imediatamente se deu conta de que Chapecó poderia ter
algum tipo de interesse nela:
— Não - disse a si mesma -, acho que não; ela só me viu uma vez!
    Chapecó, que morava sozinha desde os dezoito anos, precisou aprender
quase tudo com a vida. Hoje ela era universitária e uma dona de casa
exemplar, cuidava como ninguém daquele cantinho que era apenas seu. O
flat tinha uma pequena cozinha, muito prática, que era separada da sala
por uma bancada; na sala havia um sofá, a televisão, a mesinha de centro
e uma escada de ferro que dava para o quarto. Lá em cima a cama de casal
ainda desarrumada, os lençóis brancos, o criado mudo com alguns objetos
em cima, o armário e o banheiro, com uma linda banheira redonda.
    Chapecó estava sentada junto à bancada; para alguém que morava
sozinha como ela, aquilo era mais que suficiente. A xícara vazia estava
à sua frente, ao lado o jornal do dia e o celular; e ela estava ali, com
o rosto entre as mãos, pensando na vida ao som da música Love Me Lick
You Do, de Ellie Goulding, que tocava em um desses canais de televisão
que funcionam vinte e quatro horas por dia. Ela costumava dizer que
respirava música, sempre estava com o som ligado quando estava em casa.
Sua vida lhe passava pela memória como um filme enquanto a música
tocava; lembrou-se da perda dos pais, da vida que teve ao lado dos
parentes que lhe assumiram até completar a maior idade, do dia em que
chamou a família inteira e revelou que era homossexual, da frase dita
por uma tia naquele dia:
— Sua mãe morreria de vergonha se estivesse viva!
Esta frase ainda ecoava em seus pensamentos e lhe doía na alma; faziam
cinco anos que isso havia acontecido.
    Chapecó nunca conseguiu ter um relacionamento duradouro com ninguém;
namorou bastante, mas nenhum dos seus relacionamentos durou mais de um
ano. O problema seria ela? Ela se recusava a acreditar nisso; pois
quando se apaixonava por alguém, vivia para seu amor e por seu amor..
    O toque do celular tirou-a de seu devaneio; pegou o aparelho e
percebeu que não tinha aquele número na agenda:
— Alô!
— Bom dia! - cumprimentou uma voz doce do outro lado da linha; a dona da
voz parecia ter acabado de acordar:
— Bom dia! Quem fala?
— Você não me mandou um bilhete ontem no barzinho pedindo que eu te
ligasse?
— Não acredito! Joinville...
— Eu mesma! Te acordei?
— Não, claro que não; já estou de pé faz uma meia hora! E você, como é
que passou de ontem?
— Passei bem; eu logo vim pra casa, estava morta de cansaço!
— Você mora com quem?
— Mãe, pai e três irmãs!
— Eu conheço sua irmã mais velha; está cursando direito!
As duas conversaram por um tempo sobre assuntos do cotidiano; até que
depois de alguns minutos, Chapecó, movida pela vontade de conhecer
melhor a sua mais nova amiga, encheu-se de coragem e fez o convite:
— Almoça comigo aqui no flat hoje?
— É, pode ser! Aonde é que você mora?
— É bem pertinho da universidade; eu te mando a localização! A não ser
que você prefira sair; a gente pode ir pra algum lugar se você quiser!
— Não, acho que é melhor aí no flat mesmo! Me manda a localização que
perto da hora do almoço eu chego aí!
    Quando a ligação terminou, Chapecó já sabia exatamente o que queria
fazer; deixou tudo como estava, a xícara vazia e o jornal do dia na
bancada da cozinha e subiu pro quarto.
Despiu-se da camisola e deixou-a na cama ainda desarrumada; abriu o
armário e pegou a primeira roupa que encontrou, um vestidinho preto, que
ela vestiu sem demora. Terminou de se arrumar em poucos instantes e foi
até o espelho; sentiu-se uma verdadeira rainha. Estava com os longos
cabelos soltos e sem maquiagem; apenas com um batom rosa fraco.
Desceu de volta pra sala, pegou a bolsa e a chave do carro e saiu; foi
ao mercado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estado de amor e de sonhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.