Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 3
CAPÍTULO3




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Capítulo3

    - Dessa vez você desencalha, maninha! - comentava Palhoça naquela
noite de quarta feira enquanto observava sua irmã, Joinville, se arrumar
pra sair:
— E quem falou pra você que eu estou encalhada?
— Blumenau!
— Ela fala de mais; e na maioria das vezes, fala o que não deve!
— Ele é bonitinho; é aquele da foto que você me mostrou?
— É, é ele sim!
— Então? Vai que dá certo! Você só vai saber se tentar!
    E naquela noite, Joinville saiu com o tal rapaz para dançar, que era
uma das coisas que ela mais gostava de fazer. Ele realmente era educado,
respeitoso e essas qualidades a agradaram. Mas no fim da noite, dentro
do carro, as dúvidas começariam a surgir na cabeça daquela jovem futura
arquiteta.
Quando o tal rapaz a convidou para irem a um lugar mais tranquilo, seu
coração disparou; sabia exatamente onde aquilo poderia terminar, jamais
esteve com um homem, e pior, nunca imaginou que seria daquele jeito, que
seria em um  primeiro encontro, depois de uma balada, talvez dentro do
carro.
    O tal rapaz morava sozinho em um apartamento bem próximo à o prédio
onde Joinville vivia com a família, e foi para lá que ele a levou. Não
estava se sentindo bem com aquela situação, só conseguia lembrar-se dos
conselhos de sua mãe, que sempre a orientou a não fazer aquilo de
imediato, sem ter a certeza de que era o homem certo.
Ele foi carinhoso o tempo todo; mas na hora h, ela se encheu de coragem
e decidiu que não faria aquilo. Ele era lindo, carinhoso, e parecia
realmente estar interessado nela; mas ela não sentia nada, seu corpo não
sentia nada.
Disse simplesmente que não faria aquilo; e ele, surpreendentemente
compreendeu. Ficaram conversando por mais alguns minutos e ela foi
embora. Optou por ir andando até em casa; o tal rapaz a respeitou,
entendeu sua escolha e deixou claro que isso não mudaria o grande
carinho que ele sentia por ela.
Mais tarde, já em casa, Joinville entenderia que realmente fez o melhor;
ela jamais deveria ter feito isso, e pior, com alguém que conhecia a tão
pouco tempo.
    - Gente, está na minha hora! - São José deixou sobre a mesa a xícara
vazia e se levantou; estava de terno, gravata, com seus quarenta e cinco
anos de idade, ele esbanjava charme e ainda chamava muita atenção:
— Você deixa a gente na escola, pai? - perguntou Jaraguá com um leve
sorriso:
— Deixo, filha!
Florianópolis, que observava a cena, entrou na conversa:
— Você vem almoçar em casa? - perguntou calmamente para o marido:
— Não sei, minha querida - ele respondeu -, relaxa que eu te ligo
avisando! Hoje começa a nova gerente do cetor de RH e eu quero estar por
perto!
— Ela é bonita, pai? - arriscou Blumenau, que naquele dia, ia para a
universidade a tarde e a noite:
— É uma mulher bonita sim, filha; tem lá seus trinta anos, parece muito
competente, em fim, é pra dar tudo certo!
São José saiu de casa minutos depois, levando duas de suas meninas para a
escola.
    A nova gerente do departamento de Recursos Humanos da empresa em que
São José era o sócio majoritário, era a bela Criciúma; com seus trinta
anos já era uma profissional brilhante, cursou Serviço Social e optou
por atuar no campo empresarial.
Ela chegaria e mudaria a vida daquele dedicado pai de família.
    - Ai minha cabeça, mãe! - reclamava Joinvile, algum tempo depois, na
cozinha do apartamento com sua mãe:
— Eu não vi você chegar ontem!
— Já era muito tarde; a gente saiu, comeu alguma coisa e depois fomos
dançar!
— E ele?
— Super atencioso, mãe; a gente conversou muito mas eu nem conheço o
cara direito! Eu acho que ele vai com a gente pro barzinho na sexta
feira depois da aula!
— Filhota - Florianópolis aproximou-se de sua menina, que estava
sentada, com uma xícara de café na mão -, lembra do que eu te falei
outro dia lá na sala! A gente só passa pela fase da juventude uma vez na
vida, e tem que ser uma fase bem aproveitada desde que se tome os
cuidados necessários! Não é errado namorar bastante, conhecer várias
pessoas, sua mãe aproveitou muito essa vida antes de conhecer seu pai e
se casar com ele; só que isso deve ser feito com muita
responsabilidade!
— Eu sei, mãe! Eu pensei muito nisso ontem quando ele me convidou pra ir
para um lugar mais tranquilo! A gente chegou a ir até o apartamento dele
que fica praticamente aqui na nossa rua mas não aconteceu nada! Eu só me
lembrava de você, do que você sempre fala!
— Eu sei que eu as vezes pareço permissiva demais, meu amor; mas eu não
posso privar vocês de terem suas próprias vidas, de levarem seus tombos
de vez em quando, embora as vezes eu tenha vontade de colocar vocês
de volta aqui na minha barriga, pra que nada de mal aconteça com vocês!
— Será que um dia eu vou saber o que é isso, mãe?
— Vai, princesa; um dia você vai descobrir tudo isso, e vai dar pros
seus filhos os mesmos sermões que eu e seu pai damos em vocês!
    Florianópolis era sempre assim, motivo de orgulho para suas quatro
filhas. Enquanto muitas meninas não tinham a liberdade de conversar
sobre absolutamente tudo com suas mães, ela se sentia a mulher mais
realizada da face da terra quando pensava que as suas não precisavam ter
segredos para ela:
— Eu acho que eu acabei exagerando ontem, mãe, isso sim; minha cabeça
parece que vai esplodir de tanta dor!
— E pra piorar a senhora não comeu nada quando levantou! Deita um pouco
lá na cama da mamãe; eu faço um chá e te levo lá!
Joinville fez que sim com a cabeça e se levantou; deu meia volta e saiu
da cozinha em direção a o quarto dos pais. Lembrou-se de quando era
criança e ficava doente; a cama dos pais era sempre o melhor lugar.
Minutos depois, sua mãe levou o chá até o quarto.
    Depois de cuidar um pouco de sua menina, a segunda das suas quatro
filhas, Florianópolis achou que estava tudo resolvido; só que não. Por
volta de dez e trinta da manhã, ela recebeu no celular uma ligação da
escola; uma de suas filhas, Palhoça, sofreu um pequeno acidente durante
a aula de educação física. Caiu no ginásio da escola e acabou batendo
com a cabeça; estava bem, mas a equipe da escola achou melhor que ela
fosse pra casa.
    - Márcia! - Florianópolis entrou apressada na área de serviço
chamando por seu braço direito:
— Oi! - respondeu a fiel escudeira daquela família:
— Eu vou precisar ir até a escola; Palhoça sofreu um pequeno acidente no
ginásio da escola, está bem mas eles acham melhor que ela venha pra
casa; parece que caiu e acabou batendo a cabeça!
— Tudo bem; pode ir sossegada que aqui eu tomo conta!
— Eu sei, não sei o que seria da gente sem você; Joinville está lá em
cima no meu quarto, eu levei chá pra ela, qualquer coisa ela vai te
chamar!
— Pode deixar! - finalisou Márcia com um sorriso discreto.
    Márcia era uma mulher batalhadora, cuidadosa, que trabalhava naquela
casa a vinte anos, desde que aquela família teve início com o casamento
de São José e Florianópolis; viu as quatro filhas do casal nascerem e
era amada, idolatrada por todo mundo naquela casa.
Não teve dúvidas; quando a patroa saiu pela porta da cozinha, ela
decidiu ir até o quarto para ter com Joinville.
    - Oi, madame! - brincou Márcia ao entrar no quarto:
— Oi, Marcinha! - respondeu a moça sorrindo de volta para ela:
A mulher se aproximou da cama de casal com passos leves e se agachou:
— O que foi que aconteceu, menina?
— Está tudo bem, Márcia; saí pra dançar ontem, exageramos um pouco na
bebida e minha mãe disse pra eu ficar aqui na cama dela!
— Agora ela saiu pra ver sua irmã lá na escola; parece que caiu e bateu
a cabeça durante a aula de educação física!
— Palhoça não tem jeito mesmo! Na semana passada chamaram a mamãe na
escola porque ela brigou feio com uma menina na hora do intervalo! Ela
não se deixa abater, não leva desaforo pra casa; se tem um problema com
alguém na escola resolve lá mesmo!
Márcia riu; tocou na mão da moça e continuou:
— E você, quer alguma coisa? Sua mãe disse pra não deixar que nada te
falte!
— Mãe pensa que a gente não deixa de ser criança nunca! Mas está tudo
bem, Marcinha, obrigada; eu estou melhorando, daqui a pouco vou levantar
daqui, a tarde tenho que ir pra rua!
— Tudo bem! Qualquer coisa você me chama?
— Chamo, Marcinha; obrigada!
E Márcia saiu do quarto com a mesma leveza, o mesmo carinho de sempre.


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