Estado de amor e de sonhos escrita por Camila Maciel


Capítulo 5
CAPÍTULO5




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CAPÍTULO5

    Naquele dia, Chapecó fez questão de cozinhar para sua nova amiga; o
cardápio escolhido foi uma maça e um bom vinho.
Joinville chegou no flat por volta de onze e trinta, e logo depois, as
duas se sentaram para almoçar.
— Me conta um pouco mais de você! - começou Joinville com um sorriso
lindo, sentada diante de sua mais nova amiga; as duas estavam almoçamdo:
— Bem, minha amiga! Fazem dois anos que eu moro aqui no flat; morava em
uma casa mas a dona precisou usá-la e eu tive que sair! Agora eu só saio
daqui quando comprar o meu apartamento!
— E você sempre morou sozinha?
— Desde os dezoito anos; perdi pai e mãe muito cedo, morei em casa de
parentes, mas assim que completei a maior idade decidi ter um cantinho
meu, entende?
— Entendo sim! Eu as vezes penso em morar sozinha, sabe; mas a nossa
família é muito unida, minha irmã caçula é uma graça, tem quinze anos,
minha apoiadora incondicional!
— Eu sou filha única; pedi muito um irmão pra minha mãe... mas em fim,
acabou ficando só eu mesmo!
    Joinville olhou à sua volta como se procurasse algo; depois, seus
olhos voltaram para Chapecó, e ela finalmente teve coragem de perguntar:
— Chapecó, eu queria te perguntar uma coisa mas... bem... minha irmã
falou que você...
— Que eu prefiro me relacionar com mulheres?
— É, é isso!
— Não precisa ficar constrangida, minha querida; eu nunca escondi isso
de ninguém! Quando eu fiz dezoito anos, antes de sair de casa eu contei
pra minha família sobre a minha opção sexual; até hoje eu ainda lembro
da voz da minha tia dizendo que se minha mãe estivesse viva, teria
vergonha de mim! Mas eu segui firme e forte; moro sozinha desde então,
tive que aprender muita coisa com a vida, hoje sou muito feliz!
— Seus pais devem ter muito orgulho de você!
— Eu sei; nunca tive dúvidas disso! Mas me conta mais sobre a sua
família; pelo jeito é todo mundo um barato!
— É, todo mundo bacana! Meu pai tem quarenta e cinco anos, esbanja
charme e simpatia, minha mãe é uma quarentona de parar o trânsito
também; Jaraguá, minha irmã mais nova que eu te falei que é minha
apoiadora incondicional, Palhoça, a mais divertida de nós três, e
Blumenal, que você conhece!
— Coitado do seu pai; com cinco mulheres em casa!
— Ele é um barato; um paizão!
    Depois que almoçaram juntas no flat naquele dia, Joinville e Chapecó
ficaram amigas; e não demorou muito para que as duas se tornassem
confidentes. Ficavam conversando no intervalo das aulas na universidade,
saíam juntas aos fins de semana, e Chapecó não sabia mais como esconder
que estava gostando da amiga de um jeito diferente.
Tinha medo de revelar isso a ela e perdê-la pra sempre, mas era um risco
que ela ia ter que correr.
    Em uma sexta feira, na saída da faculdade, Blumenau abordou Chapecó
no estacionamento:
— Eu quero falar com você! - impôs a futura advogada ao se aproximar de
Chapecó, que abria a porta do carro:
— Claro - ela respondeu sem perder a calma -, vamos conversar; e pelo
seu tom de voz eu acho melhor a gente conversar aqui dentro do carro;
vem!
Blumenau deu a volta e embarcou pela porta do carona, fechando-a em
seguida; Chapecó já estava ali, sentada ao volante:
— Eu quero saber o que é que você está pretendendo! - começou Blumenau,
ríspida, não fazia questão de esconder o despreso que sentia pela jovem
que estava ao seu lado:
— Não entendi!
— Eu quero saber qual é a tua, Chapecó! Todo mundo aqui sabe que você
não presta, que você já namorou meio mundo, eu quero saber o que é que
você pretende fazer com a minha irmã!
— Eu gosto dela - declarou corajosamente Chapecó -, sua irmã é sensata,
amiga, companheira...
— Minha irmã é inoscente, Chapecó; não sabe se defender de...
— Olha aqui - irritou-se a futura engenheira -, eu quero que você saiba
de uma coisa! Eu amo sua irmã, jamais me atreveria a encostar um dedo
nela sem que ela também quisesse! E se você pretende ser advogada um
dia, antes você vai ter que jogar esse preconceito absurdo no ralo!
— Não é preconceito; é cuidado de irmã mais velha!
— Então comporte-se como tal; a maior mágoa da sua irmã é o fato de você
nunca ter se importado com ela de verdade!
Chapecó desarmou Blumenau completamente com suas palavras e ela não
conseguiu mais dizer nada; simplesmente abriu a porta, e ao sair
apressada e furiosa do carro, acabou trombando com Joinville, que vinha
a procura de Chapecó:
— Oi, mana! Aconteceu alguma coisa?
— Sua amiga te leva pra casa; eu vou sair com o pessoal agora pra beber
alguma coisa!
Joinville ainda tentou dizer mais alguma coisa mas não teve tempo;
Blumenau desapareceu como que em um passe de mágica.
    Ao entrar no carro, Joinville percebeu que algo não ia bem:
— O que foi que aconteceu?
Chapecó deu a primeira resposta que lhe veio à mente:
— Ah, minha querida, não aconteceu nada! Na verdade eu quase fui
atropelada aqui no estacionamento, sua irmã veio ver se eu estava bem!
— Minha irmã? Ela não é disso!
— Sua irmã te ama muito; do jeito dela mas pode ter certeza que ela te
ama! Eu vou te levar pra casa, tudo bem?
— Claro que sim; amanhã a gente sai?
— Pode ser; eu te ligo e a gente marca alguma coisa!
    Chapecó deixou a amiga em casa e seguiu para o flat. As palavras de
Blumenau não lhe saíam da cabeça, e ali, ela percebeu que sua maior luta
seria essa. Já lidou com o preconceito tantas vezes, mas ele nunca lhe
doeu tanto.
A jovem entrou em casa, foi pro chuveiro e chorou; foi a primeira vez
que o pensamento em Joinville a fez chorar.
    De madrugada, São José acordou com sua esposa, que estava sentada na
cama, parecia assustada:
— O que foi? - perguntou ele sentando-se também:
— Tive um sonho ruim - ela respondeu -, não conseguia abrir os olhos,
Deus me livre!
O pai de família ajeitou-se na cama e puxou sua mulher para um abraço;
colocou-a deitada em seu ombro e beijou-lhe a testa:
— Não quer me contar o sonho?
— Foi horrível! Como se fosse uma lembrança, acho que nem isso; talvez
tenha sido um retrato do que poderia ter acontecido quando eu engravidei
da nossa filha mais velha!
— Como assim, meu amor?
As lágrimas vieram implacáveis, inoportunas; ela envolveu os braços no
pescoço de seu marido e revelou, em meio a um choro de dor, de medo, nem
ela mesma sabia dizer:
— Eu sonhei que eu estava deitada em uma maca, em uma clínica; Blumenau
estava sendo arrancada de dentro de mim a força, meu marido!
São José, embora tentasse disfarçar, estava chorando também!
— Pronto, minha querida - ele disse afagando o rosto dela -, agora você
falou, vai se sentir melhor! Não aconteceu nada disso; ela nasceu,
cresceu, está aqui com a gente! Quando eu entrei no berçário e vi aquela
coisinha pequenininha lá na maternidade, meu amor, eu me senti o cara
mais realizado do mundo, disso você pode ter certeza!
    Os dois permaneceram como estavam por algum tempo, sentados na cama,
abraçados. De repente, São José se levantou e convidou sua mulher a
fazer o mesmo; os dois saíram do quarto, andaram pelo apartamento e
entraram silenciosos no quarto da filha mais velha; ela já havia chegado
e estava lá, dormindo tranquila:
— Esse foi o primeiro presente que o nosso pai lá de cima mandou pra
gente! - sussurrou ele; os dois estavam de mãos dadas, em pé junto à
cama da filha
Ficaram ali por um tempo, velando o sono dela e depois voltaram para o
quarto. Se deitaram, se aconchegaram um junto do outro e adormeceram.


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