LUKE

— Ainda não entendi

— Quer que eu te explique de novo? - respondeu Bella não irônicamente, porém com uma paciência invejável.

— Sim, por favor – eu estava um pouco envergonhado por ter que fazê-la repetir, porém o que estava dizendo era… Impossível.

— Hmmmm… Deixa eu ver. Como eu te explico isso? Bom, todos os livros, filmes, séries, a maioria das coisas que tem nessas coisas é real. Qualquer coisa que pensar: lobisomens, fadas, anjos, deuses… Mas também tem as coisas ruins, como demônios, cadernos…

— Cadernos? - interrompi

— O Death Note, um caderno que mata pessoas – ela respondeu

— Ai meu deus… - estava com minha cabeça prestes a explodir – continue

— Bom, as coisas ruins e boas existem, e todas elas, pelo menos a maioria, se juntam em um só infeliz ser, que no caso podemos concluir que sou eu

— Mas como… Quando… E seus pais? São seus pais mesmo? - quinhentas perguntas surgiam em minha mente sem parar, porém me contive para que ela respondesse pelo menos algumas delas.

— Mais ou menos. - ao perceber minha cara confusa fez menção de explicar – Assim: Essas criaturas, todas: boas e ruins, representam algum perigo aos humanos. E uma bruxa, não qualquer uma, a bruxa original, a mais poderosa, etc, etc, decidiu que todos deveriam morrer para que os humanos pudessem viver em paz. Só que a irmã dessa bruxa discordava, e ainda achava o contrário, achava que todos os humanos tinham que morrer para que o outro mundo, assim chamamos o mundo onde as criaturas vivem, pudesse viver em paz. Aí a irmã matou temporariamente a bruxa maior e com o sangue dela colocou características de todas as criaturas em um embrião humano – parou um instante e olhou para mim – está entendendo?

— Mais ou menos – ao ver sua cara de decepção, me senti culpado e disse - mas continue

— Uma mulher engravidou e a irmã bruxa colocou as características das criaturas em seu bebê. Assim, se a bruxa maior matasse todas as criaturas, e ela mesma também, no caso, haveria uma continuação da linhagem do outro mundo. Acabou que a bruxa maior descobriu, e ficou muito brava com sua irmã. Só que, por algum motivo o qual eu não sei, a bruxa maior não consegue achar o híbrido…

— Que é você – interrompi-a mais uma vez

— Sim – demorou alguns segundos para lembrar aonde tinha parado de falar – Ah, sim. A bruxa não consegue me achar, então prendeu sua irmã até que ela dissesse onde o híbrido estava, porém a mulher é forte e não diz. E o resto eu não sei. Só isso.

— E seus pais sabem disso?

— Não. Eu já tentei contar a eles, porém a mesma magia que oculta o outro mundo dos humanos faz eles esquecerem toda vez. Então já desisti de tentar.

— Magia? - cada vez mais, a menina conseguia fazer surgir mais perguntas em minha cabeça

— É. Na mitologia grega chamam de névoa. É como uma cortina que separa o meu mundo do seu. Você quer ver o meu mundo?

Refleti um pouco sobre aquela pergunta. Nos livros e filmes, no final a pessoa sempre se arrepende de escolher ver o mundo oculto. Normalmente diria a mim mesmo: “ São apenas livros e filmes”, porém agora que havia descoberto que livros e filmes contém a realidade não sabia o que fazer. Enfim decidi:

— Pode ser. Nada de tão mal pode sair disso, certo? - recebi como resposta uma cara que dizia: “ Isso pode dar muito errado”, porém decidi ignorá-la. Ao fazer algo parecido como uma massagem em minhas têmporas, Bella dizia:

— O que você verá agora é uma vista que alguns autores e roteiristas tem vislumbres curtos que inspiram seus livros e filmes. Terminei – ao falar isso, ela se afastou, e pude ver que a rua não estava vazia como antes aparentava, estava cheia de… Gente? Não, eram criaturas estranhas, algumas coloridas, outras humanoides e alguns que semelhavam monstros.

— Luke… Esse é o outro mundo

Olhei para Bella e vi que estava totalmente diferente. Seus olhos não eram mais castanhos, e sim coloridos, sua pele tinha diferentes texturas e cores, seus cabelos eram curtos, e ela vestia um vestido curto com escritos em uma língua estranha.

— Gostou do meu vestido? Serve para eu me esconder da bruxa maior. Ele faz eu parecer apenas uma de minhas criaturas. - e por um minuto inteiro, me mostrou ela, porém em várias formas e cores diferentes

— Porque me mostrar tudo isso agora, e não antes?

— Porque você não esqueceu imediatamente sobre a luta entre o lobisomem e o vampiro. Isso nunca tinha acontecido antes – lembrei me das criaturas que havia visto mais cedo. Claro: o peludo era o lobisomem e o pálido era um vampiro – Luke, você é um de nós

Só a ideia já me dava náuseas. Eu também era um monstro? Não que eu tivesse preconceito ou nada com as criaturas, mas eu? Como se lendo meus pensamentos (o que provavelmente fez), ela se virou e olhou para rua.

— O estranho é que eu não consigo ver o que você é - disse baixinho. Ela examinava a rua, junto com cada pessoa nela. Depois de um momento de silêncio, virou-se abruptamente e disse - Quer dar uma volta?

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa me senti dentro de uma máquina de lavar, girando e girando em uma confusão colorida e ao finalmente parar, olhei ao redor e me vi em um beco

— Que estranho. Não estamos em uma jacuzzi – ela falou isso como indignação tão grande que também estranhei não estarmos em uma jacuzzi.

— Calma, aonde estamos?

— No Japão. - ela olhava para os lados, como se procurando algo – Aonde esse safado está...

— Bella…

— Vejo que não está sozinha hoje minha querida Isabella – uma voz forte, bruta e com um leve sotaque ressoou de algum lugar acima de mim e Bella. - Humano? Acho que não, você não é de se interessar por criaturas miseráveis

— Shi, esse é Luke

— Shi, tipo, morte em japonês? - perguntei. A resposta foi uma risada forçada e escura.

— Sim, porém meu nome completo é Shi no Tenshi, em japonês anjo da morte, prazer em conhecê-lo Luke - disse irônicamente, e depois , apareceu.

O homem que estava em minha frente não era um homem. Tinha um corpo longo escamoso, e suas escamas eram vermelhas com detalhes prateados. Sua feição era constantemente mudada, provavelmente era a magia tentando ocultar Shi, porém o feitiço de Bella bloqueando esta. Seus olhos eram vermelhos e sua boca aberta em um sorriso mostrava fileiras de dentes afiados como os de um tubarão. Ele parecia até bonito, porém não sabia dizer se era a magia que me deixava com essa impressão ou algum outro feitiço.

— O que você quer, Shi? - Bella parecia entediada com a imagem do demônio – só diga logo para que eu possa ir para a minha jacuzzi em NY, porvafor.

— Mas que graça teria isso? - sua risada forçada voltou – De todo jeito, a boboca maior aumentou a recompensa pelo seu coração. E eu preciso de uma escama dupla de sapo. Ligue os pontinhos

Bella virou os olhos e se transformou rapidamente em um sapo humanoide. Arrancou uma de suas lindas escamas multicoloridas e soltou um urro que até me fez sentir dor. Voltou ao normal e entregou a escama a Shi

— Não precisava fazer tanto escândalo – brincou Shi. Antes que Bella pudesse nos teletransportar, disse – Ah, e mais uma coisa. Eu preciso da alma do garoto.

Por um instante de terror absoluto, Bella arregalou os olhos e ficou encarando Shi, até que esse desfêz sua cara séria em um sorriso maldoso.

— Você realmente precisa aprender a brincar – ele riu.

— Demônios… Sempre se metendo na vida dos outros – reclamou baixinho. E, virando-se para mim, disse – agora vamos para aquela jacuzzi para eu te explicar o que vamos fazer, ok?

Antes que pudesse responder já estava na máquina de lavar, girando e girando. Esperando mesmo que o próximo destino fosse uma jacuzzi quente em Nova York.