Casa da Marlene, verão de 1975

Lily Evans

Acordei cedo com um barulho tranquilizante de chuva. Peraí.

—Chuva!

Meu grito acordou Marlene e Dorcas que dormiam serenamente ao meu lado. Nós três nós levantamos e corremos pra janela. Parecia que o mundo estava desabando lá fora. Chuvas de verão são as piores.

—Não acredito que está chovendo! - Marlene disse com uma voz esganiçada. - Quando finalmente te arrumamos um biquini!

—Que droga! - Dorcas disse se sentando na cama de novo. Ainda não tinha conversado com ela sobre Remus nem sobre nossa amizade e isso me deixava preocupada. - Vamos ter que passar o dia em casa.

—Podíamos fazer um dia das garotas e ver filmes, cozinhar e fazer as unhas! - Marlene disse me olhando. Parece que ela queria cumprir a promessa. Sorri pra ela aprovando. Isso me daria tempo de falar com a Doe.

—Oh, bem… tudo bem por mim - Dorcas disse, mas parecia que ela ia dizer outra coisa. Será que tinha planos com o Remus? Porque ela simplesmente não nos contava?

—Excelente! - Marlene disse entrando no banheiro - Vou tomar um banho e depois vou no James avisar que nenhum maroto entra aqui hoje e aí o dia das meninas pode começar oficialmente.

Ela se trancou no banheiro e eu decidi que era a hora ideal pra ter A conversa com a Dorcas. Me sentei do lado dela e percebi que ela me observava atentamente.

—Doe, nós vimos você e o Remus se beijando ontem de manhã. - Eu comecei a olhando atentamente. Dorcas tinha o cabelo loiro e liso, que raramente estava sem algum penteado cheio de fitas, com olhos azuis e uma porção de sardas no rosto, que era em formato de coração. E usava um pijama de ursinho que eu conhecia muito bem, já que era o mesmo de Hogwarts. E agora estava toda vermelha e com os olhos azuis me encarando arregalados.

—Oh, Lily! Quem mais viu? Achamos que todos ainda estariam dormindo!

—Todos nós vimos, Doe, mas porque você não nós contou? Achei que fossemos melhores amigas - Eu finalmente demonstrei a mágoa que vinha guardando dela desde ontem. E vi que ela estava visivelmente perturbada.

—Lily, não contei pra vocês porque é complicado… O Remus não quer que ninguém saiba… - Ela se enrolou toda com as palavras. Mas Hogwarts inteira sabia que eles tinham um penhasco um pelo outro, porque Remus não queria que ninguém soubesse?

—Mas porque Doe? Ele gosta muito de você! A não ser que…- E aí eu entendi tudo. O Remus não tinha vergonha da Dorcas, tinha vergonha dele mesmo! - É porque ele é um lobisomem?

E a cara que Dorcas fez quando eu disse isso foi impagável! Ela desmanchou nos meus braços e soluçou.

—Sim Lily, ele tem medo que alguém descubra e que isso manche minha imagem, ele não entende que não ligo pra isso! Se soubesse que você sabia já teria contado na hora, mas achei que ninguém soubesse então pra não ter que explicar porque ele não queria, mantive em segredo.

—Ora Doe, eu descobri no primeiro ano! Reparei que ele “ficava doente” sempre na mesma época e notei que sempre era noite de lua cheia.

—Você é a bruxa mais inteligente que eu conheço, Lils! Porque não contou a ele que sabia? - Ela perguntou secando as lágrimas e dando um sorriso enorme.

—Porque se ele quisesse que eu soubesse, ele teria me contado - Eu disse simplesmente.

E aí Lene abriu a porta do banheiro e sorriu quando nos viu sorrindo.

—Finalmente botaram o papo em dia! Agora vai me explicar porque não nos contou sobre o Lupin, Doe?

—Foi porque eles estavam com medo de que não desse certo, aí só iam nos contar depois! Acredita nisso? - Eu disse olhando pra Lene mas pelo canto do olho vi a Dorcas me olhar agradecida. Não era segredo nosso pra contarmos.

—Sinceramente, como se não fossemos descobrir com vocês dois se agarrando no jardim! - Lene disse revirando os olhos.

—Bom, é minha vez no chuveiro! - Dorcas disse sorrindo e puxando a toalha que estava em cima da porta. Sorri satisfeita e fui procurar uma roupa de casa pra usar depois do banho. Pelo menos não teria que ver o Potter depois daquela discussão. Ainda não sei o que deu em mim! Eu simplesmente fiquei tão chateada com ele! Porque ele tem que ser ótimo uma hora e um galinha amostrado na outra? O que mais me incomodava era o medo dele contar os meus segredos a alguém. Precisava falar com ele e dizer pra não contar a ninguém. O que, obviamente, era a última coisa que eu queria.

Lene e eu nos arrumamos em silêncio e notei que ela olhava pra casa do James com um olhar engraçado. Quem diria que ela se apaixonaria. Ainda mais pelo Black (a Lene pediu pra que eu começasse a chamar ele de Sirius e hoje seria minha primeira tentativa, mas ainda bem que vai ser dia das garotas e eu não vou precisar).

Assim que a Doe saiu eu entrei no banheiro e não existem palavras pra descrever o quanto eu amava esse lugar. Sim, sou apaixonada por banheiros. Principalmente esses que têm chuveiros imensos e um ofurô com vista enfeitiçada (você vê o que quiser quando entra nele, é maravilhoso!)

Tomei um banho e vesti um short limpo e uma camiseta, saindo rapidamente, mas as meninas não estavam no quarto. Desci as escadas e ouvi uma barulheira na cozinha que só podia significar uma coisa: os marotos estavam aqui.

Assim que entrei na cozinha vi uma cena um tanto engraçada: A Lene e o Sirius cobertos de farinha, o Potter segurando um saco gigante de vazio e o Remus e a Dorcas abraçados em cima da mesa.

—Mas o que diabos aconteceu aqui? - Eu perguntei e todos se viraram pra mim, mas no lugar de uma boa explicação, eles simplesmente começaram a rir. Uma vida depois o Potter teve a bondade de parar de sufocar de rir e me explicar.

—A Lene e o Sirius apostaram comigo que o Remus e a Dorcas não iam assumir o namoro e essa foi a vingança pela derrota!

—VOCÊS ASSUMIRAM? - Eu gritei correndo pra abraça-los! Estava tão feliz por eles! Demorou muito tempo pra que ficassem juntos e eles mereciam muito isso.

—SIM! - A Doe gritou quase me deixando surda - Ele me pediu em namoro cerca de meia hora atrás!

—Estou muito feliz por vocês! - Eu disse rindo e me escorando no balcão. A Lene e o Sirius subiram pra tomar banho e Doe e o Remus se olhavam apaixonadamente.

—Lily? - O Potter me chamou e quando eu ergui o olhar pra ele (porque ele era infelizmente cerca de 10 cm mais alto que eu) percebi que ele estava me olhando com um sorriso estranho - Posso conversar com você?

—Claro, Potter, o que foi? - Eu disse, mas no lugar de me responder, ele me puxou varanda do quintal da Lene e se sentou num banquinho de madeira. Acabei me sentando ao seu lado. Passamos um tempo olhando a chuva e em um silêncio estranhamente confortável.

—Queria pedir desculpas pela forma que me comportei. Você tem razão, eu estava sendo um babaca…

—Potter eu…-Tentei interromper e dizer que o que ele fazia ou deixava de fazer não era da minha conta porém ele me silenciou.

—Deixa eu terminar Lils. Eu sei que você não confia nem acredita em mim, mas também sei que não dei motivos pra que você fizesse isso e saiba que eu vou tentar mudar isso. Não vou contar nada do que você me disse ontem a ninguém, seus segredos estão a salvo comigo. Também não vou mais te chamar pra sair nem nada daquilo. Só te peço uma coisa, Lily.

—O que Potter? - Acho que meu coração doeu um pouco ao ouvir isso. Eu sempre quis que o Potter me deixasse em paz, mas agora que ele disse com todas as letras que faria isso, não estou feliz.

—Lily Evans, aceita ser minha amiga?

E quando ele disse isso, meu coração afundou Deus sabe porque, mas olhando o sorriso esperançoso dele percebi que ele duvidava que eu fosse aceitar (talvez pela grande quantidade de foras que levara) mas dessa vez eu sentia que era certo, sentia que era o começo de algo bom e o aperto no meu peito diminuiu quando eu apertei a mão dele. Definitivamente era o começo de algo bom.

—Aceito, James.