Brand New Start escrita por Ciel


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/739080/chapter/5

Estava tudo muito bom para ser verdade, eu duvido muito que os pais de Kentin aceitaram qualquer desculpa que ele tenha inventado e a prova de que meu raciocínio estava certo era a cena a minha frente. Ele estava péssimo, os olhos inchados e uma cara de cachorro abandonado. Eu suspirei fundo e o abracei, ele retribuiu.

—Meu pai voltou de uma missão durante o final de semana. Ele queria ver como estava a minha adaptação na nova escola, foi me fazendo perguntas e...

—Calma, deve ter alguma coisa que a gente possa fazer. –Eu disse, enquanto o envolvia ainda mais em meus braços.

—Ele estava irredutível, disse que não poderia aceitar o fato de que eu apanhei para menininhas. Ele vai me mandar para a escola militar, eu só vim me despedir mesmo. Sinto muito.

—Isso não é justo, ele nem perguntou se era isso que você queria. –Minha voz estava um pouco mais firme, toda aquela situação começara a me irritar.

—Ele só está preocupado comigo, talvez essa seja a coisa certa a se fazer.

—Como é? –Eu me afastei dele quase que instantaneamente.

—Eu quero ficar perto de você, mas... –Ele desviou o olhar.

—Mas? Agora eu não estou entendendo nada, primeiro você diz que não queria partir, e agora... Qual é o seu problema?!

—Não será por muito tempo, eu só ficarei até conseguir apagar essa... Essa humilhação. Se você realmente se preocupa comigo, deveria entender.

—Entender? –Eu estava com os braços cruzados. –Eu pensei que você estaria aqui por mim. –Meu semblante caiu.

—E eu realmente estava. –Ele se aproximou de mim e me lançou um olhar acolhedor. -Por isso tomar essa decisão foi difícil para mim. –Ele puxou os meus braços delicadamente e segurou em minhas mãos. –Eu volto assim que puder, prometo. –Ele me olhava fixamente, ansioso por uma resposta.

—T-Tudo bem. –Minha voz estava mais baixa que o normal, eu voltei aos seus braços, apoiando meu rosto em seu ombro. –Só tome cuidado... E não se esqueça de mim, nunca.

—Me esquecer de você seria impossível. –Ele sorri, aliviado. –Meu pai está me esperando, eu preciso ir agora. –Kentin se despede, me dando um beijo na bochecha.

Eu o acompanhei com o olhar até que o carro de seu pai sumisse do meu campo de visão. Não estava com o menor ânimo para assistir aulas naquele momento, então fiquei em um canto escondido do pátio, na esperança de que ninguém me visse. Estou sozinha agora, preocupada com o que pode acontecer com ele naquela escola e pensando em como iria me virar daqui pra frente. Não demorou muito para que toda aquela mistura maluca de sentimentos me arrancasse lágrimas.

—Olha, parece que a novata também odeia segunda-feira.

Eu reconheci aquela voz, era Castiel. A última coisa que queria era que alguém me visse neste estado, principalmente ele.

—Então resolveu faltar aula também? Deveria tomar cuidado, depois de me ajudar eu aposto que o nosso querido representante terá o maior prazer de te trazer uma folha daquelas que mandou pra mim. –Ele disse, enquanto tirava o celular do bolso.

Eu estava me esforçando para cobrir o rosto, mas ele acabou reparando. Confesso que sua reação me surpreendeu. Ele guardou o aparelho em sua mochila e se aproximou de mim, e disse:

—Aquele idiota disse alguma besteira para você? –Ele aumentou o tom de voz e cerrou os punhos. –É bem a cara dele mesmo, sempre que alguém não faz o que ele quer o desgraçado arruma um jeito de se vingar. Muito parecido com a irmã, se quer saber.

—O Nathaniel não me fez nada.

—E então quem foi? –Ele parecia furioso.

—Eu não quero falar sobre isso. Só preciso ficar sozinha e depois dar um jeito de sumir daqui.

—Se é isso que você quer... -Castiel dá de ombros e tira o telefone e os fones de ouvido, me ignorando completamente.

Ele ainda parecia irritado e preocupado comigo, mas não me dizia mais uma palavra. Eu fiz o mesmo que ele e comecei a ouvir algumas músicas. Fechei os olhos e me desliguei daquilo tudo por um momento. Continuei assim por alguns minutos até cair no sono.

—Acorda. –Castiel começou a bater no meu ombro.

—O que você quer agora? –Perguntei ainda meio sonolenta.

—Fiquei sabendo que uma turma será liberada mais cedo, a gente pode se misturar com eles e sair daqui. –Ele disse, esticando sua mão para me ajudar a levantar.

Nós esperamos o momento certo e saímos sem chamar muita atenção. Começamos a seguir em direção ao ponto de ônibus.

—Eu vou a pé pra casa, nos vemos amanhã.

Apenas assenti com a cabeça e me sentei em um banco que ficava no ponto. Não planejava sair de lá tão cedo, já que os meus pais estariam em casa essa tarde e não ficariam nem um pouco satisfeitos com a minha atitude. Com o tempo os ônibus foram passando e o local ficando cada vez mais vazio, até que só eu sobrei.

—Você sabe o que está fazendo?

—Achei que tivesse ido para casa. –Eu olhei para Castiel, com um semblante tranquilo.

—E eu ia, até perceber que você ficou parada bem na frente da escola com essa cara de quem saiu de um funeral. –Ele disse, enquanto sentava-se ao meu lado.

—Não posso voltar para casa agora, meus pais estão lá.

—E daí? Por isso vai ficar na porta da escola esperando por uma punição?

—Como assim? Do que você está falado?

—Você é lerda assim mesmo ou só se faz? Em pouco tempo darão falta de nós dois, se você continuar aqui vai tomar uma punição.

—Faz sentido.

—Claro que faz!

Ele me puxou pelo braço e levou-me até uma lanchonete que ficava um pouco mais afastada da escola. Pedimos uma água e eu aproveitei para pegar um pedaço de torta também, pois não há nada melhor que um doce quando se está em um mau momento. Assim que nossos pedidos chegaram, Castiel pegou um pedaço do meu lanche e começou a comer.

—Você me deve, já que te livrei de uma punição. –Ele disse, enquanto se deliciava com a minha torta.

—Fica para você, te ver comendo como um troglodita me fez perder o apetite. –Eu empurrei o prato na direção dele que deu de ombros e continuou comendo como se nada estivesse acontecido.

—Duvido que tenha sido eu quem te deixou desse jeito. Conheço essa cara, você deve ter tomado um fora daquele seu namorado quatro-olhos.

—Ele não é o meu namorado, somos apenas amigos.

—Claro que são, acredito muito. – Ele disse, enquanto me lançava um olhar malicioso. –Eu os vejo demonstrando o quanto são amigos o tempo inteiro pelos corredores.

—Acredite no que quiser, eu não vou mais insistir com você. Ele me encontrou hoje cedo para se despedir, o pai o convenceu de ir para a escola militar.

—E então ele disse que era melhor terminar tudo enquanto vocês ainda estão bem e... Bom aí está o resultado. –Ele apontou para mim, desanimado.

—Você não tem jeito mesmo. Contudo, você me parece ter experiência no assunto, tomou muitos foras na vida? –Agora o jogo virou, eu quem estava lançando um olhar malicioso para ele.

—A minha vida não é da sua conta! –Seu tom de voz estava mais alto e ele bateu na mesa, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam na lanchonete.

Ele deixou algumas notas na mesa e se levantou rapidamente, eu fui até o caixa e paguei pela comida.  Depois disso voltei a segui-lo, continuamos o trajeto em silencio por alguns segundos até que ele entrou no parque.

—Eu não deveria ter ajudado você, agora nem posso fumar em paz. –Ele  tirou um maço de cigarros da mochila.

—Você explodiu do nada, só quis ver se você estava bem. –Sentei-me no chão, ao lado dele.

—Você é bem mais estranha do que pensei. –Ele disse, enquanto acendia o cigarro.

—Ei! Fumaça passiva é prejudicial também, você me ajuda e agora quer me matar?!

Ele traga e sopra para o lado oposto em que eu estava. Em seguida sorri e balança a cabeça, em sinal de negação.

—Você é doidinha mesmo.  –Ele dá outro trago.

—Você está se matando lentamente e eu é quem sou louca? –Cruzei os braços e lancei um olhar de reprovação. –Além disso, a sensação é horrível. Eu já tentei uma vez e...

—A “senhorita” fumando? Essa eu pagaria pra ver.

—Foi um momento de estupidez, me falaram que emagrecia e resolvi tentar.

Ele caiu na gargalhada.

—Não acredito! E por que uma tábua como você iria querer emagrecer?

—Tábua? –Não pude conter o riso.

—Mas é louquinha mesmo. Essa é a primeira vez que encontro uma garota que ri com esse tipo de comentário.

—Não foi pelo comentário em si, eu apenas me lembrei de uma situação. No ano passado eu provavelmente acharia isso a coisa mais gentil que alguém poderia me dizer. –Fiquei pensativa por alguns instantes, meu semblante caiu e virei-me para um lado. –Aquele foi mesmo um momento de estupidez.

Castiel apagou o cigarro quase que instantaneamente e ficou olhando para mim como se esperasse uma tragédia acontecer.

—Calma cara, eu estou bem agora. Não vou me debulhar em lágrimas, se é isso que está pensado.

—E depois vem falar comigo sobre se matar aos poucos, você sabe que isso poderia ter acabado com você, não é?

—Tem uma turma que já me diz isso, mas, como disse antes, agora estou bem.

Ele deu de ombros e por um momento um silêncio mortal se instaurou no ambiente. Eu não sabia o que dizer, mas por um lado era bom finalmente tocar no assunto. Acho que o fato de não sermos tão próximos acabou me ajudando a me abrir. Queria sentir a mesma tranquilidade ao lado dos meus amigos, contudo, o fato deles estarem envolvidos em parte do processo cria uma espécie de bloqueio. Sei que é contrario ao esperado, só que não consigo evitar. É como se eu não conseguisse me perdoar por ter despejado toda aquela sujeira neles, eu de fato não consigo.

Na tentativa de amenizar um pouco o clima, resolvi mudar de assunto.

—Então, como ficou a situação da folha de ausência?

—Eu acabei resolvendo tudo, o representante desistiu da ideia de me jogar para fora da escola. Pelo menos por enquanto.

—Isso é bom. –Abri um leve sorriso para ele. –Mas não são os seus pais que devem assinar esse tipo de documento?

—Eu sou emancipado, meus pais viajam muito por causa do trabalho e eu fico sozinho na maior parte do tempo. Eles perceberam que era melhor passar a responsabilidade para mim de uma vez.

—Imagino o motivo, a diretora vivia atrás deles por causa das suas punições. –Sorri para ele e dei um leve empurrão em seu ombro.

—Ei, perdeu o juízo? –Ele retribuiu o empurrão, com um pouco mais de força, rindo também. –Mas o que você disse não deixa de ser verdade.

—Eu te entendo um pouco, meus pais são médicos. Meu pai era diretor de um hospital e minha mãe é obstetra, às vezes eles mal tinham tempo para respirar. Viemos para essa cidade para desacelerar o ritmo, ambos estão trabalhando em um hospital menor e posições que exigem menos tempo deles.

—Deve ser bom para você. Eu já me acostumei em não tê-los por perto. Meu pai é piloto e minha mãe comissária de bordo, quando eles cancelam os voos de longa distância para ficar comigo chega a ser estranho. –Ele faz uma pausa e abre um sorriso. –Só não é tão estranho quanto quando minha mãe resolve relembrar o dia em que eu fui... Feito: “Naquele dia seu pai e eu quem causamos a turbulência, querido” - Ele disse, imitando a voz de sua mãe.

 -Que horror! –Não pude conter os meus risos, muito menos ele.

A conversa seguiu por algumas horas, fomos descobrindo mais pontos em comum e isso nos aproximou bastante. Não esperava nada disto vindo dele, mas estava feliz com o resultado. Apesar de parecer difícil no começo, Castiel era um cara legal. Eu nunca irei me esquecer deste dia, acho que fiz um bom amigo.

Nós nos despedimos e eu fui para casa. Como eu imaginei, meus pais estavam lá e aproveitei o momento para conversar sobre a escola e os sintomas que vinha sentido.

—E por causa disso você quer reduzir a dosagem?

—Exato.

—Você acha mesmo que as coisas são simples assim? –Minha mãe levantou um pouco a voz. –Como podemos ter certeza que isso não é uma recaída? Primeiro você irá ao terapeuta, não pretendo deixar nenhum detalhe passar dessa vez.

—E como eu faço com a escola? Não posso ir ao médico com a mesma frequência, só confia no que eu digo.

—Confiar em você? Está falando sério?

—Filha, o que sua mãe quer dizer é que...

—O que EU quero dizer é que quero ir ao trabalho sem me preocupar em encontrar você quase morta no chão do banheiro.

—Claro que a sua tranquilidade no trabalho vem em primeiro lugar...

—Não foi isso que eu quis dizer, mas confiança é algo que se conquista. –Ela me olhou com preocupação.

—Você foi imprudente, mentiu para nós e...

—Mas que merda! Isso é tudo que vocês dizem desde que...

—Cuidado com o que fala, mocinha. –Meu pai lançou um olhar severo.

—Tanto faz, eu vou para o meu quarto. –Revirei os olhos e levantei-me.

—Volte aqui! Nossa conversa ainda não acabou.

—Ela acabou sim, vou para a droga do meu quarto.

—Eu exijo respeito, sou a sua mãe!

—É minha mãe porque quis. Eu não pedi pra nascer, merda!

Corri para o meu quarto, pois não estava com a menor vontade de encarar os meus pais novamente. Sei que fui imatura, mas não aguento mais ouvir a mesma coisa o tempo todo.

Joguei-me na cama e coloquei os meus fones de ouvido para não ouvir a discussão que estava acontecendo fora do meu quarto. Esperava que eles aparecessem aqui, mas contrariando as minhas expectativas, o barulho cessou e as luzes se apagaram. Aquilo fez com que eu me sentisse ainda mais culpada pelo que disse aos meus pais, principalmente a minha mãe.

Acabei dormindo com o celular ligado e ao amanhecer constatei que não poderia leva-lo à escola, pois estava sem bateria. Comecei a me arrumar, tomei o café da manhã e fui até a escola. Íris e as outras meninas me perguntaram o que havia acontecido comigo para ter faltado no dia anterior e eu inventei uma desculpa qualquer. Ela me falou que não perdi muita coisa e que teve de procurar o cãozinho da diretora por toda a escola. Acho que Castiel está certo, essa velha é louca mesmo.

As aulas seguiram normalmente, entre o intervalo de uma e outra eu tive que mudar de sala e a diretora me parou no caminho.

—Olá senhorita. Venha comigo, por favor.

Eu apenas concordei com a cabeça e a segui em direção à diretoria. O caminho que era curto me pareceu durar uma eternidade. Comecei a pensar em tudo que poderia ter me levado a uma punição, desde o meu pequeno desentendimento com o representante até ter matado aula ontem. Para piorar, assim que entro na sala, encontro a última pessoa que gostaria de ver em um momento como esses.

—Papai?!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Brand New Start" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.