A contagem regressiva para o dia do show começou, temos apenas dez dias para que o evento comece. Todos estavam agitados e ansiosos para o grande dia. Mesmo com as turbulências, aos poucos tudo ia se encaixando. Castiel voltou aos ensaios, os trajes estavam quase prontos, as vendas estavam indo bem e tudo caminhava lindamente em direção ao sucesso.  Ou melhor. Quase tudo.

A tensão ente Liam e Castiel era mais forte do que nunca e meu amigo não podia nem sonhar em colocar os pés em Sweet Amoris. Sem falar nas idas e vindas da Debrah pela escola, aquela garota consegue ser tão insuportável que faz com que a Ambre pareça um verdadeiro anjo. Aos poucos ela vai envenenando o Castiel e o afastando do resto da banda, a garota sequer disfarça o fato de querê-lo com ela, assim que o evento acabar eu precisarei elaborar um plano para intervir na situação antes que a pestinha consiga seu objetivo.

Com o passar dos dias, a ansiedade em todos foi aumentando cada vez mais e os envolvidos, principalmente os membros da banda, mal tinham tempo para respirar. Poucos dias antes do evento, Liam propõe que eu parasse um pouco para descansar. Nós marcamos de nos encontramos em uma lanchonete perto da escola e depois decidiríamos o que fazer.

Acabei demorando mais que o combinado e quando cheguei o encontrei em uma mesa no canto da lanchonete. Ele brincava com alguns copos vazios de café, aparentemente entediado e completamente desligado do mundo ao seu redor.

— Eu pedi um milk-shake para você, mas acabei tendo que beber antes que ficasse ruim.

— Espero não ter que pagar por ele. – disse em um tom brincalhão.

— Mas é claro que vai, era seu. – brincou, enquanto arrumava os copos vazios em um canto. – Por que demorou tanto?

— Eu não podia deixar a Melody na mão, o Nath está totalmente envolvido com os ensaios e o trabalho administrativo teve que ficar com ela.

— Descansa um pouco, o Nathaniel resolve isso depois do show. Um pouco de trabalho acumulado não vai matar ninguém.

— Quem é você e o que fez com meu amigo?

— Meu disfarce era genial, como você descobriu? – brincou.

— Eu tenho uma genialidade fora do comum, é uma de minhas melhores qualidades. – retruquei.

 A conversa seguiu leve e tranquila, até que nossos lanches acabaram.

— Para onde vamos?

— Provavelmente ao shopping, tem um filme bom em cartaz e eu preciso comprar um novo terrário para o meu filho, já que ele irá morar com o tio Kentin.

— Aquele lagarto nojento ainda está vivo?

— Iguana, o Duque é um iguana.

— Tanto faz! – me irritei e ele se divertia com o meu comportamento. – Estamos esperando mais alguém?

 - Os gêmeos e o Kentin.

— Que fofo! Agora você está se aproximando da família dele. – Lancei um olhar sapeca. – Ainda vai me dizer que a coisa não está ficando séria?

— Isso não significa nada, o Kentin é nosso amigo e os gêmeos são muito próximos dele.

— Se você diz...

— Mas...

—Mas?

— As suas suspeitas tem um fundo de verdade... Você acha que nós conseguiríamos fazer dar certo?

— Eu sabia! – disse em um tom alto e esganiçado. – Bom... – respirei fundo para me recompor. – Não posso ter certeza, mas acho que vocês dariam conta sim. Ele sabe que você considera a possibilidade disso se tornar algo sério?

— Nós dois conversamos sobre isso na última vez que nos encontramos, eu... É complicado.

Eu o interrompi antes que continuasse, pois os rapazes chegaram ao local.

— O Armin não vem conosco?

— Ele tinha um encontro com a namorada virtual.

— Um encontro de verdade ou...

— Do jeito dele. – O azulado responde com desdém e o grupo cai na gargalhada.

— O pior é que eu acho que ele está começando a gostar da suposta garota, logo o mais desconfiado de nós cai numa dessas.

— Eu tenho certeza que não é nada sério, o Armim não me parece ser do tipo que entraria em um relacionamento assim. – disse Liam, tentado acalmá-lo.

— Pois eu já acho o contrário, aquele maluco deve estar mesmo namorando dentro do RPG. – diz Kentin.

— Não tenho dúvidas que ambas as teorias podem estar certas, mas vamos deixar isso para depois. Eu tenho que trabalhar em pouco tempo, então se ainda quiserem a minha companhia terão que se apressar.

Pegamos o ônibus até o shopping e, como as sessões do primeiro horário estavam esgotadas, só passeamos pelas lojas e matamos o tempo na sala de jogos. No fim do passeio fomos ao pet shop, onde os rapazes escolheram a nova casa de Duque, para que fizessem logo a mudança do bichinho. Confesso que sobrei um pouco nessa parte, já que não sou muito fã do réptil. No fim, além de cuidar de seu “sobrinho”, Kentin decidiu que adotaria um cachorro também. Ele conversou bastante com a atendente e disse que pediria a autorização aos pais e voltaria assim que possível para adotar seu novo companheiro.

— Bom, acho que é isso. Agora só nos resta fazer a mudança do Duque.

— Assim do nada? Eu quero passar essa última noite ao lado do meu filho, agora nós dois só nos veremos durante os feriados.

— Eu mereço! – Kentin revira os olhos e cruza os braços. – Bom, ao menos venha comigo para me ajudar a montar o terrário.

— A gente resolve isso amanhã, eu acordo cedo e arrumo tudo para você.

— Mas...

— Kentinho, amanhã vocês resolvem isso. – disse Alexy.

— Não acredito que você também está contra mim!

— Me acompanha até o trabalho? – Eu o puxo na direção oposta a dos meninos e me despeço deles com um gesto.

Enquanto caminhamos em direção ao ponto, Kentin finalmente se solta.

— Você já foi mais esperto.

— Como é?

— Estava meio óbvio que os dois queriam ficar sozinhos.

Eu o encaro, dando ênfase na palavra “sozinhos” até que finalmente a ficha cai e ele se dá conta que a última preocupação dos dois era com o réptil asqueroso.  Um silêncio constrangedor dominou o ambiente até a chegada do ônibus. Nós subimos, pagamos as passagens e sentamos nos primeiros bancos.

— É engraçado pensar que dois dos nossos melhores amigos estão juntos, às vezes eu me sinto meio que sobrando no meio deles agora.

— Não deixa de ser justo, já que o Liam aturou todo o nosso drama. – disse esboçando um leve sorriso.

— E por falar em nós... Eu gostaria de saber se ainda posso... Se ainda podemos... Se eu ainda tenho alguma chance com você.

— Eu não sei, é complicado... Não penso nisso agora.

— Você já tem alguém?

— Não e não quero mais falar sobre isso.

Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente, Kentin parecia viver um conflito interno. Ele olhava para mim e tentava falar alguma coisa, mas se arrependia e virava o rosto para a janela. Eu não conseguia dizer mais nada, as memórias de nosso passado juntos, no nosso “quase” namoro, a amizade que tínhamos, as decepções que vieram depois... Nenhum de nós sabia o que fazer e eu tenho certeza de que tocar naquele assunto trazia a ele arrependimentos. Eu também me sentia culpada por não dá-lo uma resposta definitiva, queria muito tê-la naquele momento, mas era tudo tão difícil...

Na parada de ônibus eu me levantei e ele continuou em seu lugar, olhando para a janela. Eu me despedi e ele retribuiu com um sorriso amarelo.

 Caminhei lentamente até a papelaria na esperança dele descer do ônibus e me encontrar para que continuássemos aquela conversa, mas não aconteceu. Ele sempre foi muito tímido e imagino que conseguir energia para tocar nesse assunto tenha sido bem difícil para ele.

O dia passou e eu continuei pensando no que realmente sentia por ele, o pior de tudo é que, mesmo gastando boa parte do meu tempo e energia para decidir isso, a maldita resposta não vinha.

No fim das contas decidi dormir, esperando que minha resposta viesse através de uma epifania ou algo assim. Mas, para variar, eu só consegui mesmo um sono agitado e alguns pesadelos. Espero(mas duvido) que ao menos ele tenha conseguido dormir direito essa noite.