Estamos quase no fim da segunda semana de ensaios e os preparativos para o show estão a todo vapor. Os professores nos ajudaram a montar um palco que era utilizado em eventos na escola, alguns alunos de outas turmas se juntaram com Armin para instalarem algumas luzes no porão para melhorar ainda mais o ambiente, Rosa se ofereceu para preparar alguns trajes para o dia da apresentação e Alexy se propôs a ajuda-la e, por fim, todos os integrantes da banda evoluíam em uma velocidade impressionante.

Com o término das aulas, fui ao porão junto com os integrantes da banda para acompanhar o ensaio e organizar alguns detalhes sobre o evento com o Nath. Enquanto eu preenchia relatórios aproveitava para curtir o momento e ouvir a música.

As coisas fluíam perfeitamente e eu continuava anotando a papelada sem me preocupar com o que acontecia ao meu redor quando de repente a música para. Quando levanto a cabeça para ver o que aconteceu percebo que Lian havia chegado ao local extremamente pálido, como se estivesse dado de cara uma assombração. Ao seu lado, Kentin segurava o riso.

— Ei cara, aconteceu alguma coisa? – Castiel perguntou, demosntrando preocupação e os outros olhavam para Lian atentamente.

— E-Eu não sei ao certo... Estou sentindo uma perturbação. –Preocupados, os membros da banda o olhavam atentamente enquanto Kentin ainda se esforçava para segurar o riso. – Eu acho que vi o fantasma de John Lennon no corredor. – Neste momento, todos soltam uma sonora gargalhada.

— Estava bom demais para ser verdade. No fundo o erro foi meu em acreditar que essa garota teria nos apresentado alguém normal. –Disse Castiel, enquanto fazia um sinal de negação com a cabeça.

— O Faraize, ele encontrou o nosso professor de história.

— Por que você não me disse antes que eu fizesse papel de idiota?!

— “Imagine there’s no heaven...” – Lysandre cantava para provoca-lo.

— Eu não imaginava que você faria piada com isso também.

— Desculpe Lian, mas nem mesmo eu pude resistir. – Todos caíram na gargalhada, menos Lian que estava desconcertado com a cena.

— É o que eu ganho por ajudar vocês. – Ele nega com a cabeça, em sinal de desapontamento e, em seguida, pega algumas folhas com letras de música e melodias para analisar.

  Após isso, o grupo se aproxima e eles começam a conversar sobre arranjos e composições. Em alguns momentos eles faziam piadas e deixavam o clima bem descontraído. Castiel começa a dedilhar sua guitarra e Lian pega a de Íris emprestado para ajuda-lo no processo criativo. Lysandre também participa, sugerindo arranjos e unindo letra e melodia. Nath e Íris se aproximam de mim para debaterem sobre a organização e o representante aproveita para assinar alguns dos papéis demandavam sua permissão.

Depois de certo tempo, Alexy e Rosalya(que eram os responsáveis pelo figurino) decidiram ir até o porão para tirarem as medidas dos rapazes e começarem o trabalho.

— A papo está bom, mas nós precisamos trabalhar. – Rosa começa a bater palmas para chamar a atenção da banda.

— Rosa, isso é realmente necessário?

— Mas é claro Lys-fofo! A imagem é algo essencial para o sucesso de um artista.

— Ela tem razão, tomem o Lian como exemplo. Ele tem talento, mas por se vestir como um veterano de guerra alcoólatra e falido, não conseguiu fazer sucesso. – Diz Alexy, arrancando risadas de todos, inclusive de meu amigo.

— Quem disse que não existe uma lógica por trás do meu estilo? Tem até uma tendência que se chama... É... Grunge? – Explica, enquanto Alexy solta uma gargalhada.

— Você está afirmando ou perguntado para mim?

— Estou afirmando, é o estilo grunge. – Dava para perceber a hesitação em seu tom de voz há quilômetros de distância.

— Sei... – Alexy coçava o queixo, olhando fixamente para o moreno.

Por um momento, o azulado para e começa observar cada detalhe do corpo de Lian como se estivesse realizando uma inspeção o que obviamente não deixou meu amigo indiferente. O moreno cruza os braços e dá alguns passos para trás, com o rosto levemente corado. Em seguida, Alexy pega sua mochila, tira um dos bottons presos a ela e se aproxima de Lian.

— O-O que você vai fazer com isso?

— Tentar fazer com que pareça que você teve o mínimo de capricho para se vestir. – Ele se aproxima e começa a fazer alguns ajustes na roupa de Lian.

— Ai! –Ele dá quase um pulo para trás. –Você acha que sou um boneco de vodu que você pode chacoalhar e espetar quando quiser?

— Se você fosse, seria bem mais fácil. – Ele o puxa de volta para perto e continua fazendo os ajustes. – Pronto! – Alexy o puxa e o coloca em minha frente. – Quando foi que você o viu tão arrumado?

— Acho que no baile de formatura... Não, ainda sim ele parecia não ter feito o mínimo esforço para se vestir bem.

— Me parece que não ter a menor noção de estilo é um pré-requisito para ir a escola militar. Aquele visual do Kentinho também não é dos melhores.

— Concordo plenamente.

— Vocês dois não prestam mesmo, o pobre Kentin nem está aqui para se defender.

— Vem logo me ajudar com essas medidas, Alexy! – Disse Rosalya impaciente.

— Estou indo, chefe! – Ele a segue, ainda rindo.

— Bom, pelo visto nós não poderemos mais continuar com a música então eu me despeço. – Lian sorri e arruma suas coisas para sair.

— Eu vou com você.

Saímos juntos da escola e começamos a caminhar pela cidade.

— Não sabia que você e o Alexy eram tão próximos.

— Nós já nos conhecíamos, porém acabamos nos aproximando mais nos últimos dias graças ao Kentin.

Naquele momento, percebi que a mudança repentina de comportamento que Alexy teve combinava justamente com a chegada de Lian da escola e, aos poucos, as coisas começaram a fazer sentido em minha mente.

— Vocês dois já...

— Não é nada sério. – Ele continuava com o semblante calmo. – Nenhum de nós dois tem altas expectativas sobre isso, tente não criar também.

— Por que não?

— Eu vou sair do país e não pretendo voltar tão cedo, seria burrice entrar em um relacionamento.

— Ele sabe mesmo disso?

— Sim, está tudo bem entre a gente.

— E como você está em relação a isso?

— Está tudo numa boa, fica tranquila. – Ele suspira. – Por isso eu não queria que você soubesse, sempre acaba criando tempestade em copo d’água.

— Eu não sou assim! – Falo com firmeza e ele apenas me encara por alguns segundos. – T-Talvez eu exagere um pouco, mas não é nada extraordinário.

— Tanto faz. – Lian sorri e bagunça meus cabelos. – Eu estava pensando em ir acampar neste final de semana. O que acha de ir comigo?

— Claro que eu aceito!

— Perfeito, eu também estava pensando em chamar a Lety e o Kentin. Nós precisamos nos reunir novamente, como nos velhos tempos.

Acabei desfazendo meu sorriso, pois ainda estou brava com ken por causa da última que ele fez com a Ambre. Contudo, não pretendo deixar de aproveitar este momento para poder reunir o pessoal. Além disso, minha amiga também não é muito querida por Kentin, se tudo der errado, sei que posso contar com ela para perturba-lo um pouco.

Os dias se passaram e logo chegou o fim de semana. Assim que recebi a ligação de lety, desci correndo as escadas do meu apartamento e cheguei à entrada, onde todos me esperavam no carro. Lian dirigindo, Ken no banco da frente e Lety logo atrás. Assim que me viu, Kentin se ofereceu para pegar as minhas coisas e colocar no porta-malas do carro. Eu logo recusei e coloquei tudo sozinha. Sabia que não poderia ignorá-lo durante toda a viagem, mas faria o possível para manter o gelo durante o maior tempo possível.

Apesar das minhas desavenças com kentin, caminho foi tranquilo, nós cantávamos e relembrávamos os velhos tempos. Assim que chegamos ao acampamento, os meninos começaram a montar as barracas enquanto Lety e eu aproveitamos para sondar o local. E quando minha amiga se propõe a fazer algo do tipo, é sempre sobre garotos. Em pouquíssimo tempo já encontramos alguns rapazes pelo acampamento, no começo eu não estava muito animada com a ideia, mas aquela seria uma oportunidade excelente de fazer o meu ex provar um pouco do próprio veneno. Depois de terminarmos a nossa patrulha pelo lugar, Lety e eu paramos perto de um lago para descansarmos.

— Ele mudou muito.

— Eu que o diga! Preferia o meu Ken...

— Não brinca! Até eu sairia com o Ken de agora, ele está um sonho.

— E sua atitude mudou tanto quanto sua aparência, você acredita que eu o peguei aos beijos com a maldita da Ambre?

— Ambre?

— A imbecil que te falei.

— Sim, a garota que fez com que ele fosse mandado para a escola militar? No lugar dele eu também a beijaria, ele deveria ser eternamente grado por ela ter feito aquilo. – Ela começa a rir e eu fecho a cara imediatamente. – Calma, foi só uma brincadeira. Você sabe que eu nunca morri de amores por ele, mas o que aconteceu foi sério. Talvez o Ken apenas tenha feito aquilo para se vingar, ser beijado por alguém e tomar um toco não é algo muito bom.

— Ele tentou se justificar dizendo isso, mas ainda sim é um péssimo jeito de se vingar de alguém.

— Convenhamos que o Ken nunca foi um gênio do mal, o negócio dele  era matemática, biologia e ser seu namorado fofo. Ariel, aquele garoto sempre foi caidinho por você, para de se fazer de difícil, aproveita que agora ele se transformou em um deus grego e se joga.

— Você não tem jeito mesmo! –Começamos a rir.

— Nós já terminamos de arrumar as coisas, meninas. – Lian se aproxima e arruma um espaço entre nós para se sentar. – O que era tão engraçado?

— O resultado da nossa busca foi melhor do que o esperado, nós só estávamos comemorando a conquista. – Menti.

— Achei que você estivesse namorando, Lety.

— Benjamin e eu terminamos há três dias, eu preciso conhecer gente nova para poder esquece-lo.

— Mas você não estava com um tal de... – Interrompi Lian antes que Lety começasse com mais uma extensa lista de ex-namorados que ela já teve.

Conversamos por mais algum tempo até que Kentin se aproxima e desafia Lian para alguns jogos de acampamento. Em pouco tempo, todos já estávamos envolvidos nas atividades do lugar. Passamos uma ótima tarde juntos e, ao anoitecer, Lian pegou o violão e começamos a cantar algumas músicas. Com o tempo isso foi atraindo mais pessoas e cada um contribuía com algumas indicações e aquilo durou quase a noite toda. Após o grupo se dispersar, cada um foi para sua barraca. Lety e eu dividimos uma, enquanto Lian e Kentin ficaram em outra.  Minha amiga adormeceu rapidamente, mas eu não conseguia e por isso resolvi sair um pouco para tomar um ar. Ao deixar minha barraca, percebi que não era apenas eu que senti dificuldades em pegar no sono. Bufei ao perceber que Ken estava do lado de fora, enrolado em um cobertor. Ele, no entanto, estava perdido em seus pensamentos e só percebeu minha presença quando eu fiquei há poucos metros de distância dele.

— Não consegue dormir?

— O Lian começou um monólogo assim que pegou no sono. – Ele bufa e aperta mais o cobertor em seu corpo. – E você?

— Insônia. – Sento-me ao lado dele.

— Achei que você não passava mais por isso...

— Não é algo que desaparece facilmente.

— Entendo. – Ele respira fundo e começa a olhar para o céu. – Eu... Eu sinto muito que tenha visto aquilo. Meu plano era realmente me vingar dela por tudo que ela me fez passar, eu iria dispensa-la na frente de todos e... Eu percebi que sou tão ruim em vinganças quanto sou em adivinhações. – Ele sorriu e eu acabei rindo também.

— Sabe, eu detesto ficar separada de você assim... – Encostei a cabeça em seu ombro.

— E-Eu também. – Ele move o braço, me deixando ainda mais próxima.

Neste momento, eu percebo o rubor em seu rosto e, por um momento, volto a enxergar o antigo Ken. Aproximo-me um pouco mais e ele me envolve em seus braços.

— Eu sei que nós dois não voltaremos a ser como antes da noite para o dia, mas eu gostaria muito que recomeçássemos.

— Como eu disse antes, me afastar de você não é algo que me deixa feliz.

— Então isso é um sim?

Eu apenas sorri e ele entendeu exatamente a minha resposta. Ficamos papeando até o dia clarear e, após todas essas horas de conversa, percebi que minhas preocupações não tinham o menor fundamento, já que o meu Ken ainda estava no mesmo lugar.

Decidimos partir logo depois que Lian e Lety acordaram, Kentin e eu dormimos durante todo o trajeto, graças ao tempo que passamos acordados durante a noite. Ao chegar em casa, me despedi dos meus amigos e fui correndo para meu quarto. Foi ótimo passar um tempo com meus amigos e relembrar dos bons momentos que passamos juntos no passado. Além disso, fazer as pazes com Kentin fez com que eu chegasse em casa com um sorriso de orelha a orelha.