Ainda era difícil para o meu cérebro processar a cena que acabara de ocorrer. Senti vontade de colocar para fora todo o meu café da manhã naquele exato momento. Ambre estava aos beijos com... Com o MEU Kentin.

—Não faça essa cara, um dia você vai conseguir encontrar alguém louco o bastante para te beijar.

 Olhei para os dois e, antes que eu fizesse algo que me trouxesse arrependimentos no futuro, dei um longo suspiro e me virei para entrar na sala de aula.

Ao entrar na sala, não pude evitar bater a porta com toda força. Caminhei em direção ao Castiel, que dormia profundamente mesmo com o estrondo da porta, e me sentei ao lado dele. Enquanto organizava meu material na carteira, ouvi a voz de Kentin dizendo algumas coisas para Ambre, mas resolvi colocar os meus fones de ouvido e ignorar aquele circo.

Alguns minutos depois, a sala foi ficando cada vez mais cheia e, finalmente, a professora de ciências chegou ao local. Assim que percebeu o “belo adormecido” ao meu lado, caminhou em nossa direção e bateu uma pilha de livros para acordá-lo.

— Ficou louca?! – Disse Castiel, levemente atordoado.

Ela apenas o ignora e volta para onde estava.

— Tenho um anúncio a fazer. Esta será nossa última semana juntos, eu irei me aposentar e, na próxima segunda-feira, uma nova professora irá me substituir.

— A múmia me acordou para isso? – Ele revira os olhos.

— Aparentemente.

— Eu perdi mais alguma coisa?

— Porra nenhuma.

— Perfeito. - Ele esconde a cabeça atrás da mochila e volta a dormir.

Ao meu lado, Lysandre me observava inquieto.

— Eu sei que está tentando adivinhar o que aconteceu. – Digo, apenas o olhando com a minha visão periférica.

— Perdi. – Ele se ajeita da cadeira e solta um leve sorriso. – No entanto, entendo que não queria falar sobre o que te incomoda.

— Acho que as aulas de ciências são motivo suficiente. – Sorrio e me viro para ele.

— Não acredito que seja apenas a presença da professora. – Ele abre seu bloco de notas começa a escrever. – Eu só quero que saiba que pode contar comigo se precisar. Nós apenas nos conhecemos há alguns meses, mas eu me importo com você. – Disse, sem tirar os olhos do bloco.

Eu apenas o tranquilizei e não conversamos muito depois disso. Com o fim das aulas, resolvi ir ao clube de jardinagem para realizar minhas tarefas e, chegando lá, encontrei Kentin.

— O que você está fazendo aqui?

— Ainda faço parte do clube de jardinagem.

— Perfeito, tem uma lista de tarefas em uma bancada dentro da estufa. Aproveite o tempo para recuperar o atraso. – Virei-me e comecei a caminhar em direção ao pátio.

— Nós precisamos conversar. – Disse Kentin, caminhando ao meu lado.

— Eu não tenho nada para falar com você. Por que não vai ficar com a sua namoradinha?

— É justamente sobre isso que eu queria falar com você. Aquela garota e eu não temos nada, eu fiz aquilo por vingança, se você estivesse ficado ao menos mais um minuto no corredor...

— Só termina o que tem que fazer no clube e me deixa em paz!

Ele apenas parou de me seguir e eu continuei andando pelo pátio até os corredores. Caminhei até o refeitório, peguei o meu almoço e comecei a procurar por meus colegas. Após pensar um pouco, escolhi a mesa onde estavam os gêmeos.

— Ariel! Dia lindo, não?

— Pelo visto você passou um bom final de semana, Alexy.

— Fui ao shopping este final de semana, mas não é apenas isso. Vou começar a correr, estou ansioso.

— Legal. Eu também tinha o hábito de praticar esportes, mas parei por um tempo. Eu adoraria te acompanhar, se você quiser.

— Eu não acho que ele queria companhia... – Armin lança um olhar sacana para o irmão que revira os olhos.

— O aluno novo se ofereceu para treinar comigo, mas não é nada de mais.

— Aluno novo?

— Sim, ele se chama Kentin e...

— Claro, o Kentin. É verdade que ele já não estava mais aqui quando vocês chegaram.

— Vocês se conhecem?

— Estudamos juntos. Ele veio comigo para Sweet Amoris, mas o pai o mandou para a escola militar.

 - Acho que vi a ficha dele quando terminei a minha transferência. Era um garoto de óculos e um cabelo de tigela?

— É ele mesmo, chegou na escola logo depois de mim.

— Ele mudou bastante. Dá para dizer que ele evoluiu como um Pokémon.

— É ele mudou mesmo... Eu já vou indo, quero ver como estão os ensaios.

— Espere um pouco, eu vou com você. – Alexy se apressa para terminar a comida e logo se levanta.

 Caminhamos em silêncio em direção ao porão. Quando eu estava prestes a abrir a porta, Alexy encosta na escadaria e sinaliza para que eu espere um pouco.

— Entre você e ele... Aconteceu alguma coisa?

— Kentin? Isso realmente importa?

— Eu tenho motivos para me importar?

— Tanto faz... Ele é meu ex-namorado. Vocês se viram naquele dia? Ele comentou alguma coisa?

— Você ainda está pensando na sexta-feira? Nós não nos vimos naquele dia, eu... Eu reencontrei alguém e aquilo me deixou pensativo, mas não é sobre o Kentin.

— Danem-se os ensaios e as próximas aulas. A gente precisa esclarecer algumas coisas.

 - Estou com você.

Caminhamos em direção à saída da escola e paramos em uma lanchonete. Pedimos um suco e ficamos em uma das últimas mesas do lugar, para não corrermos o risco de que alguém nos visse.

— Agora somos oficialmente delinquentes. O nosso próximo passo será assaltar um banco ou uma joalheria.

— Muito ambicioso... Podemos começar por uma loja de conveniência ou fraudar alguns cartões de crédito. – Ele completa e começamos a rir.

— Tê-lo como meu parceiro de crime é algo sensacional, mas vamos falar sobre... Enfim, me pergunte o que quiser.

— Kentin e eu nos conhecemos este final de semana e ele foi ótimo comigo, nós dois criamos uma conexão quase que instantaneamente. Eu não vou mentir, comecei a gostar dele logo de cara.

— Acredite, eu sei exatamente como se sente.

— Assim que cheguei em casa, começamos a conversar e esse papo durou a madrugada inteira. Eu estava criando expectativas até ele mencionar a ex...

— Ele abriu aquela boca grande?!

— Fica tranquila, o Kentinho não entrou em detalhes. No entanto, eu logo percebi que ele não era para o meu bico. – Alexy apoiou a cabeça em sua mão, tirou o canudo do copo de suco, apontou para mim e continuou. – Ele ainda é apaixonado por você.

— Aí que você se engana, hoje mesmo eu o vi aos beijos com a nossa rainha das pestes favorita.

— Ambre? Que horror!

— Pois é, a Ambre. Talvez eles tenham tido um namoro relâmpago antes dele mudar de escola.

— Essa história está estranha... Talvez a Ambre tenha roubado um beijo, sei lá. Mas me conta o que aconteceu entre vocês, confesso que saber que você é a famosa ex dele despertou a minha curiosidade.

— Nosso namoro começou no fim do ano passado, nós já éramos amigos bem próximos e eu comecei a vê-lo de uma forma diferente. Eu logo soube que ele também se sentia da mesma forma e assim nós dois começamos o namoro.

— Não foi nada muito extraordinário.

— Não mesmo, o começo foi exatamente igual a maior parte dos romances clichês da escola.

— Por que acabou?

— É uma longa história, tudo começou com um falso positivo.

— O terror dos héteros. – Ele soltou uma gargalhada.

—Exatamente. – Disse, enquanto ria. – Para resumir, aquele falso positivo acabou me fazendo questionar o motivo de estarmos juntos e se eu realmente queria aquilo. E por isso resolvemos dar um tempo.

— Então vocês não terminaram de fato.

— Eu já não sei, tantas coisas aconteceram depois que nós dois demos aquela pausa... A minha única certeza é de que não quero pensar nisso por enquanto, preciso organizar algumas coisas na minha vida antes de começar ou recomeçar algum relacionamento.

— É compreensível, mas eu acho que você não deveria deixar alguém como o Kentinho escapar tão facilmente. Mostre para a Ambre quem é que manda!

— Se é com ela que ele quer ficar, que se dane! Aquela cena me deixou furiosa, ele me deixou de molho e foi sair com aquela... Aquela vaca!

— Espere um pouco, tente entender o contexto... Eu tenho certeza que ele não fez aquilo para magoar você. Pense pelo lado positivo, ao menos ele não ficou com você em uma noite, sumiu e depois veio conversar como se nada estivesse acontecido.

— Exemplo pessoal?

— Nem me lembre... Quer ir ao shopping? Jogar o meu dinheiro no lixo com coisas que eu nunca mais vou usar em pouquíssimo tempo sempre faz com que eu me sinta melhor.

— Só se for agora!

Logo pegamos o ônibus e começamos a visitar as lojas assim que chegamos ao local. Alexy se divertia ao experimentar e comprar novas roupas e com o tempo eu acabei me soltando e experimentei alguns modelos. Aproveitamos para ir ao cinema e também a sala de jogos. Eu o desafiei para jogar algumas partidas e, apesar de ter resistido um pouco no começo, ele acabou aceitando. No fim do dia, nos despedimos e eu fui ao trabalho.

Confesso que me senti culpada por matar aula hoje, mas foi por uma boa causa. Aproximar-me mais do azulado foi uma das melhores coisas que poderiam ter me acontecido, ele tem uma ótima energia e passar um tempo ao lado dele foi simplesmente incrível.

A cada dia que passa, a data do show fica mais próxima. Não vejo a hora de saber como será o evento e se meu projeto dará certo. Estou ansiosa para que chegue o dia!