Essa semana foi melhor do que eu esperava, meus pais assinaram uma autorização para eu ficar alguns dias em casa por causa do meu tornozelo e eu pude me livrar das aulas e descansar um pouco. Nathaniel pediu meu endereço e me visitava todos os dias para que eu não me atrasasse com as matérias, Rosa também aproveitava para me fazer visitas, mas era para me atualizar de todos os dramas de Sweet Amoris.

Na semana seguinte, eu voltei em plena forma para a escola e já fui bombardeada pela diretora.

— Mas não é possível! – Seu coque estava desfeito e ela fazia uma cara feia que deixou até o pobre Totó assustado. – O que deu na cabeça de vocês para desviarem do percurso?!

— Sinto muito, a culpa foi toda...

— Não é justo te deixar assumir a responsabilidade por uma ideia idiota que eu tive. – Nath levanta um pouco mais a voz e continua. – Eu agi de forma estúpida, isso não acontecerá novamente.

— Eu poderia ter recusado, também tenho uma parcela de culpa.

— Que os dois arruinaram o evento não é nenhuma dúvida, ambos sofrerão uma punição. No entanto, como a senhorita acaba de chegar e o Nathaniel nunca apresentou esse tipo de comportamento, este incidente não constará no histórico de vocês.

Suspiramos aliviados e levamos os bilhetes ao professor Faraize que apenas pediu para organizarmos a sala dos professores.

— Foi menos assustador do que eu pensei.

— É verdade, mas eu prefiro não levar mais punições.

— Somos dois. – Sorri.

— Preciso resolver algumas coisas no grêmio, os professores querem discutir sobre uma nova forma de arrecadarmos o dinheiro perdido na corrida.

— Tudo bem, vejo você na aula.

Enquanto buscava minhas coisas no armário, encontrei Castiel.

— Então que dizer que você e o representante resolveram se revoltar?

— Não enche! – Dei um longo suspiro. – Se eu pudesse voltar atrás...

— Você precisa relaxar, o máximo que eles podem fazer é manchar o seu histórico e você não conseguir um emprego quando sair daqui. Pensa bem, como não terá um teto, dormirá vendo as estrelas. – Ele continuava rindo de mim.

— Te odeio, sabia?  

— Eu duvido. – Ele lançou um sorriso sapeca começou a caminhar em direção ao pátio.

— Esqueceu que temos aula?

— Tenho coisa melhor pra fazer. – Respondeu, ainda de costas.

Revirei os olhos, esse garoto me cansa!

Caminhei até a sala e sentei-me ao lado de Violette.

— Fico feliz que tenha voltado à escola.

— Confesso que senti falta de todo esse barulho. Como estão as coisas?

— Está tudo bem, o Alexy me pediu para mostrar a cidade a ele. Foi um excelente passeio.

— Imagino, ele é ótimo.

— É mesmo. – Seu rosto ficou vermelho como um pimentão.

— Não acredito! – Levantei um pouco mais a voz e ela sinalizou para que eu abaixasse o tom. – Você gosta dele?!

— Imagino que você deve me achar uma boba... A gente se conhece há tão pouco tempo e eu já estou criando expectativas.

— Não mesmo, se eu não fosse tão absurdamente mal resolvida também estaria caidinha por ele. 

— Mal resolvida?

— Longa história, mas não estamos aqui para falar de mim. Você já disse para ele como se sente?

— Ainda não, para mim é difícil falar qualquer coisa quando ele está por perto.

— Eu posso falar com ele por você.

— T-Tudo bem, mas tente ser sutil... Se ele me rejeitar eu me sentiria ainda mais ridícula.

— Não se preocupe com isso, eu vou arrancar a confissão dele sem que ele perceba. –Sorri para ela e ficamos em silêncio, pois a aula havia começado.

No fim da aula, parti para a segunda operação cupido. Se eu tiver a mesma sorte que tive com a Rosa, até o fim do dia Vio desencalha.

Caminhei por alguns minutos e nada de encontrar o rapaz. Quando tinha finalmente desistido de acha-lo, o vejo no clube de jardinagem, onde eu tinha algumas tarefas para realizar. Ele se ofereceu para me ajudar e eu vi a oportunidade perfeita de entrar em ação.

— A Violette comentou comigo que vocês dois saíram juntos nos últimos dias.

— Ela foi super gentil em me ajudar a conhecer mais a cidade, se eu fosse contar com o meu irmão...

— Percebi que ele não gosta de sair de casa.

— Não mesmo, ele prefere ficar trancafiado jogando por horas.

— Você teve muita sorte em encontrar alguém que goste de te acompanhar...

— Tem razão, é sempre melhor sair quando se tem companhia.

— E a Vio é uma ótima garota, provavelmente será uma excelente namorada. Não acha?

— Aonde você quer chegar?

— Você poderia dar uma chance a ela.

— Não mesmo.

— Por quê? Você acabou de dizer que gosta muito dela.

— É complicado... Ela não faz meu tipo. Nem a Violette, nem nenhuma outra garota.

— Agora eu entendi... Então quer dizer que você gosta de garotos tanto quanto ela.

— Exato! – Ele parou por um momento, pensativo. – Ela comentou algo com você, não foi?

— É tão óbvio assim?

— Digamos que você não é nenhuma rainha da discrição. – O azulado solta uma leve risada.

— Não conta para ela, eu prometi que seria discreta e ela não queria abrir o jogo justamente por medo de perder a sua amizade. – Minhas palavras saíam em uma velocidade enorme.

— Respira! – Ele sorri e dá uns tapinhas em meu ombro. – Eu vou conversar com ela sobre isso, sem demonstrar que sei de algo. Não é a minha intenção deixa-la desconfortável.

— Então você vai fingir que essa conversa nunca aconteceu?

— Se te deixa feliz...

— Obrigada, você não faz ideia do quanto isso me deixa aliviada. – Suspirei e ele continuou me observando com um sorriso bobo. – O que foi?

— Eu realmente tive sorte, encontrei duas garotas ótimas em pouquíssimo tempo. – Ele sorri e bagunça os meus cabelos. – Dá para ver o quanto você se preocupa com as pessoas que gosta, é bom tem alguém assim por perto.

— O-Obrigada. – Senti minhas bochechas queimarem, por um breve momento odiei o fato de ele gostar de garotos.

— Te vejo depois!

Após despedir-me de Alexy, terminei as minhas tarefas e corri para assistir a última aula. Meu rendimento nela não foi dos melhores, já que passei boa parte do tempo conversando com Violette e as meninas sobre o que aconteceu entre ela e Alexy. No fim, decidimos passar um tempo na lanchonete reclamando sobre coisas da vida e desilusões amorosas.

— Bom, ao menos não foi uma rejeição de verdade. Não é como se ele gostasse de outra, Vio.

— Íris tem razão, você deveria continuar de cabeça erguida. Olha o meu exemplo, em minha antiga escola eu nem precisava me declarar para os garotos correrem de mim. Isso é bem mais traumático, acredite. Contudo eu ainda sigo em frente, mais positiva do que... Do que... Tá, eu não sou a pessoa mais bem resolvida daqui, mas estou vivendo!

— Eu estou bem, de verdade. – Timidamente, Violette tentava se justificar. – Ele foi ótimo comigo, não tenho do que reclamar.

— Esse é o espírito, guria!

— Desilusões amorosas acontecem mesmo. – Disse Íris, enquanto pegava um pedaço de bolo de chocolate. – Você pode sempre contar conosco para desabafar.

— É verdade. – Olhei rapidamente para a tela do meu celular e percebi que estava quase na hora do meu turno. - Eu preciso ir meninas, não posso me atrasar para o trabalho. Até amanhã!

— Até! – Responderam em coro.

Segui para a papelaria e consegui chegar a tempo. O meu expediente foi extremamente tranquilo, pois o movimento na loja não estava muito intenso. Contudo, cheguei totalmente esgotada em casa.

Conversei um pouco com meus pais durante o jantar e depois me joguei na cama. Todo esse papo sobre relacionamentos fez com que eu me lembrasse de Kentin. Estiquei o braço e peguei o urso que ele havia me dado e estava sobre a minha cômoda. Por fim acabei adormecendo abraçada a pelúcia e imersa em minhas lembranças.