Eu ainda acho que estava vendo uma miragem. Ver Nathaniel e a irmã caminhando sorridentes em nossa direção pedindo para que participássemos de uma partida de frescobol com eles era algo um tanto quanto... Surreal. Principalmente depois de saber que a ideia havia partido da Ambre.

Assim que formamos os times, descobri as intenções da loira. Ao começarmos a formar as duplas, ela fez questão de largar o irmão comigo e ir para o time de Lian. Pensei em interferir (para livrar meu amigo de uma furada), mas ver aquela peste tomar um fora é algo que não quero perder.

 Depois de passar um longo tempo jogando, eu finalmente me rendi ao cansaço e pedi uma pausa, mas os rapazes ainda queriam jogar mais. Finalmente, Ambre e eu saímos da partida enquanto eles continuavam, sem demonstrar o menor sinal de cansaço.

— Muito obrigada por estragar o meu domingo, “princesa”.

— Pode parecer loucura, mas terminar aqui com você não estava nos meus planos. –Ela disse, em um tom irônico. - Só queria aproveitar a queda que o meu irmão tem por você para me livrar dos dois e ficar com o seu amigo 4,8.

 - Como assim 4,8?

— Ele seria um 5, mas como tem um péssimo gosto para amizades...

— Continuo sem intender nada. Que papo é esse de números?

— Esquece. – Ambre revira os olhos. – Isso vai além do seu mundinho.

— Para de bancar a superior. – Parei por alguns minutos, pensativa. – Esse seu esquema não é tão difícil de entender. Você dá uma nota de 0 a 5 para os rapazes e tirou 2 décimos dele porque não gosta de mim e ele é meu amigo. – Sorri com um ar superior e lancei um olhar malicioso. - Como foi a recuperação?

— Maldita... – Murmura furiosa e, em seguida, retoma a pose. – Meu querido irmãozinho fez com que eu conseguisse uma segunda chance e me ajudou a me recuperar. No fim, minhas notas ficaram excelentes e meu histórico... Bom, ainda impecável.

— Infeliz... – Murmurei e ela deu uma gargalhada.

— Você até que não é fraca, se não fosse tão sem sal eu até consideraria te chamar para o meu grupo. – Ambre sorri e joga os cabelos.

— Eu sei que você só não me coloca nele porque, de certa forma, eu represento uma ameaça para você.

— Até parece! – Desta vez, a loira parecia incomodada e eu fiz questão de rir.

— Parece que eu finalmente toquei na ferida. Legal! – Continuei rindo enquanto ela tentava manter a pose.  – No entanto, não sou tão má assim. – Retirei o protetor da bolsa. – Toma, não quero que você acabe descascando. Se bem que seria memorável...

— Espero que você não tenha sabotado isso aqui. – Ela toma o frasco da minha mão.

— Eu posso passar nas suas costas, se quiser.

— Nem pensar! – Ela se aproxima dos rapazes com uma voz manhosa. – Nath... – Contudo, eles a ignoram completamente, totalmente imersos na partida.

— O convite ainda está de pé...

— Faça rapidamente. – Ela joga o frasco em minha mão e se vira furiosa.

Enquanto eu aplico o produto, um surfista se aproxima de nós. Ele tinha os cabelos loiros, olhos verdes e algumas tatuagens pelo corpo.

— Vocês querem ajuda com isso? – Ele disse, já pegando o protetor. – Eu me chamo Dakota, vocês duas...

— Nós estamos bem, não precisamos de você. – Disse, tirando o objeto das mãos dele.

— Além disso, já estamos acompanhadas. – Ambre comenta, apontando com o olhar os rapazes, que perceberam a aproximação de Dakota e andavam em nossa direção.

— Eu não sabia, mas se vocês resolverem mudar de ideia...

— Elas disseram não! – Lian lança um olhar assassino para o surfista, que sai sem questionar muito.

— Vocês não podiam afastá-lo logo no começo? -Nathaniel comenta, aparentemente irritado. 

— Nós mal trocamos uma palavra com ele! - Ambre se defende.

— Vamos sair daqui? – Propus, antes que acabasse rolando uma briga. – Esse lugar já perdeu a graça.

— Mesmo? – Lian parecia contrariado. – Não faz muito tempo que chegamos, seria bom ficarmos até o pôr do sol.

— O Nath e eu não vemos o menor problema nisso.

— Não vemos? – Antes de dizer mais alguma coisa, Ambre sussurrou algo no ouvido dele. – É verdade, podemos ficar mais um pouco.

— Essa garota está começando a me assustar. – Lian comenta próximo ao meu ouvido.

— Você ainda não viu nada...

A tarde seguiu agradável (apesar das incontáveis investidas da Ambre para o meu amigo), conversamos e caminhamos pela praia. No fim do passeio, decidimos nos reunir em uma sorveteria para continuarmos a conversa.

— Então, você pretende sair do país no próximo mês?

— Acredito que sim, mas talvez eu fique mais um pouco. Minhas aulas começam em setembro, eu apenas gostaria de ir mais cedo para poder me organizar um pouco melhor.

— Sim, ele é um nerd no corpo de um punk. – Eu comentei e todos riram.

— Não sabia que você me achava tão quadrado.

— Fique tranquilo, eu te amo mesmo assim. – Pisquei para ele.

— Vocês são amigos de infância? - Nath pergunta. 

— Nos conhecemos no ensino médio, mas ficamos tão próximos que é quase como se nossa amizade fosse mais antiga que isso. – Disse, com um sorriso nos lábios. – Vou sentir saudades quando você for sair do país.

— Eu sei, mas é por uma boa causa.

— Com o que pretende trabalhar?

— Música, eu tive uma banda há algum tempo. No entanto, ficar no palco não é para mim, descobri que trabalhar nos bastidores é bem mais interessante.

— Não me considero um expert no assunto, mas acredito que subir no palco deve ser igualmente bom. Sei lá, poder sentir a adrenalina e a energia das pessoas... Sempre tive interesse em aprender a tocar, só que meus pais achavam perda de tempo e eu nunca pude estudar.

— Sei como é, passei por algo parecido. Meu pai só aceitou a ideia depois de perceber que eu realmente poderia fazer dinheiro com isso, antes eu passei um bom tempo ensaiando escondido. Aliás, eu não me importaria em te ensinar a tocar alguma coisa.

— Nós dois adoraríamos, eu também amo música! – Ambre comenta e se aproxima um pouco mais de meu amigo, o abraçando.

— E-Eu acho que seria uma boa ideia. – Ele tenta se soltar, aparentava estar totalmente desconfortável. Em seguida, olha para o celular. – Está ficando tarde, eu preciso ir.

Despedimo-nos e cada um foi para casa, assim que cheguei não pude deixar de enviar uma mensagem de texto para Lian rindo da situação constrangedora. Ainda é um pouco difícil de acreditar que eu acabei me divertindo com aqueles dois.

No dia seguinte, me preparei para ir à escola e, assim que cheguei, fiquei sabendo pela Peggy sobre um novo evento que a escola estava organizando. Descobri também que os gêmeos que atendi na loja estavam em minha turma, eles logo me reconheceram e conversamos por um tempo. Acabei me oferecendo para ajuda-los com o processo de inscrição e a conhecer a escola, já que estavam um pouco perdidos.

Antes de ir para casa, recebi um formulário sobre a corrida para preencher, espero muito que tudo dê certo. Contudo, estou com um mau pressentimento em relação a esse tal evento.