Brand New Start escrita por Ciel


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse é um dos capítulos mais carregados até o momento, mas eu prometo que pegarei leve no próximo para compensar. ;)



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Nossos olhares se encontraram, pelo jeito ela também não percebeu minha presença anteriormente. Estávamos visivelmente constrangidas, mas eu resolvi ignorar esse sentimento, pois precisava colocar aquilo tudo para fora.

—Eu me chamo Ariel, tenho dezesseis anos e há dois anos... –Meus olhos estavam marejados e minha voz simplesmente não saía.

—Você pode falar quando se sentir pronta para isso. –Disse a mulher que conduzia a reunião, em um tom amigável.

—Está tudo bem. –Respirei fundo e evitei encarar as pessoas que estavam no local. –Até os quatorze anos eu era... Era como um furacão. –Sorri. –Fazia questão de movimentar os lugares em que passava. Era a garota mais feliz do mundo, pois, até aquele momento, nunca precisei enfrentar o julgamento dos outros. Então eu iniciei o ensino médio. Minha melhor amiga e eu entramos na mesma escola e estávamos, como qualquer garota, ansiosas para essa nova fase. Contudo, entre ela e eu havia uma enorme diferença, uma que ainda não havíamos notado, mas nossos novos colegas da escola faziam questão de destacar: ela era uma menina linda e eu a amiga gorda. –Parei por alguns segundos e percebi que algumas pessoas me entendiam perfeitamente. A sensação de que finalmente alguém sabia do que eu estava falando me fez ter ânimo para continuar. –No início, eu fingia não me importar com os comentários maldosos e agia da mesma forma extrovertida de sempre, mas cada palavra me matava um pouquinho por dentro e, aos poucos, eu fui deixando de ser aquela menina falante e ficando cada vez mais tímida. Tempos depois, meus colegas ficaram mais ousados e os cochichos viraram piadas e as piadas evoluíram para brincadeiras. Eu fui me calando, me escondendo... Com o tempo já não ia mais às festas, não saia mais com tanta frequência... Comecei a acreditar em tudo que me diziam, me sentia feia. No entanto, um dia eu resolvi que iria mudar e ser uma pessoa melhor. Decidi que seria tão linda e desejável quanto minha amiga e comecei com uma “dietinha maneira”. Procurei sites e blogs que falavam sobre o assunto e entrei de cabeça nisso. Eu definitivamente não seria mais aquela porca gorda que ninguém quer ser. Sempre fui extremamente disciplinada e, por isso, meu processo seguiu em uma velocidade assustadora. Isso despertou a atenção de pessoas próximas a mim, a primeira foi minha a amiga. Ela veio me confrontar e por isso eu a afastei. E assim eu fui seguindo, expulsando todos que tentavam me parar. Os considerava invejosos, pois eu finalmente estava conseguindo atingir meus objetivos. E assim eu seguia, sempre buscando por mais, o que eu era estava longe de ser o suficiente. Eu ainda estava uma porca gorda. Aquilo foi se estendendo por meses, até que os sintomas físicos começaram a aparecer, seguidos de um turbilhão de transtornos psicológicos. Eu estava no fundo do poço. –Encarei as pessoas que me olhavam, alguns perplexos, outros emocionados. Respireis fundo e continuei. –No dia anterior a minha internação, eu já não era eu mesma. Estava deitada, praticamente sem forças, no chão frio. Naquele dia eu só queria sentir alguma coisa, mas estava vazia. Não sentia raiva, solidão ou mesmo fome. Era como se eu já estivesse morta. Até que uma brisa suave circulou pelo cômodo onde eu estava e carregava consigo um cheiro delicioso, que despertou os meus sentidos. Eu senti fome novamente. Reuni as forças que ainda tinha e corri até a cozinha. Por incrível que pareça, aquela foi a minha primeira compulsão. Vasculhei a geladeira e os armários e comecei a devorar tudo que encontrei. Quando eu finalmente terminei, fui tomada por um enorme sentimento de culpa. Eu havia jogado todo o meu esforço no lixo, mas as coisas não ficariam daquele jeito. Eu precisava miar. Corri até o banheiro e comecei a forçar o vômito. Como eu já estava enjoada por causa da grande quantidade de comida que tinha colocado para dentro, não demorou muito para que eu começasse a colocar tudo para fora. De repente, minha visão começou a ficar turva, e eu me desequilibrei e acabei ficando de joelhos e terminando o serviço no chão mesmo. Eu tentava lutar contra a fraqueza, mas ela me venceu e eu fiquei jogada no chão, sobre o meu próprio vômito. Comecei a perder meus sentidos, até que ouvi a voz da minha mãe anunciando sua chegada. Eu estava com tanta vergonha... –Lágrimas começaram a escorrer e eu tentei limpá-las rapidamente. –Ela me viu... Daquele jeito. Dava para sentir o desespero em sua voz, ela me abraçou com toda força e começou a gritar por ajuda. Meu pai se aproximou e eu pude ouvi-lo chamando a emergência. Depois os dois ficaram próximos a mim, pedindo aos céus para que eu não morresse e se perguntando o que haviam feito de errado. Eu... –Neste momento, comecei a chorar compulsivamente e senti que fui abraçada por alguém.

Era uma garota que parecia ser um pouco mais velha, ela me levou de volta para o meu lugar e ficou ao meu lado para me ajudar a me acalmar. Conversamos um pouco até a reunião acabar. No final ela me apresentou para mais algumas pessoas, todas haviam passado por experiências similares e foram extremamente amigáveis. Deixei a reunião muito mais leve, não posso dizer que estava feliz, mas fiquei extremamente aliviada.

Enquanto saía, resolvi procurar Rosalya, pois queria conversar um pouco com alguém conhecido. Também estou curiosa em conhecer um pouco mais sobre sua história, principalmente porque agora ela conhece a minha em detalhes.

—Procurando por mim? –Rosa aproximou-se, colocando a mão em meu ombro.

—Eu definitivamente sou muito fácil de decifrar. –Disse, desapontada.

—É normal, já que eu sou alguém que você conhece. –Ela desviou o olhar, um pouco desconfortável. –Não sabia que você havia passado por tanta coisa...

—E nem eu que você estava na mesma situação.

—É complicado... Eu nunca passei por nada disso. Na verdade, foi uma amiga.

—Mesmo? E por que ela não veio?

—Ela... –Seus olhos ficaram marejados.

—Eu sinto muito. –A abracei.

Ficamos assim por um tempo, eu pude senti-la soluçar baixinho.

Após nos recuperarmos, andamos pela rua e paramos para conversar um pouco mais em uma lanchonete. Sentamo-nos em uma mesa e fizemos um pedido.

—Você quer conversar sobre sua amiga? Sabe, acho que posso te ajudar a entender melhor o que aconteceu. –Peguei em sua mão.

—No começo nós éramos como você e sua amiga, sabe? –Ela esboçou um leve sorriso. –O nome dela era Camille. Ambas compartilhávamos a mesma paixão pela moda, eu queria ser estilista e ela uma modelo famosa.  Cami era linda, bem mais alta que eu, com olhos azuis e um cabelão cacheado enorme e ruivo e umas sardas super fofas. Tenho certeza que seria só uma questão de tempo até sua carreira deslanchar. Um belo dia ela me disse que faria uma dieta para ficar bonita antes de fazer um book. Ela já tinha perdido muito peso e eu brinquei dizendo que ela estava ficando paranoica.

—E aí vocês tiveram uma briga enorme e ela te mandou ir para o inferno porque você sempre teve um corpo perfeito e não fazia a menor ideia do esforço que ela precisava fazer.

—Isso mesmo, depois disso ela mudou e nós começamos a nos distanciar. Até que um dia ela passou mal na escola e quando eu fui ao hospital para vê-la a mãe dela me fez algumas perguntas sobre o comportamento dela e tudo mais.

—E ela estava doente. –Nos olhamos e ela concordou com a cabeça.

—Anorexia e bulimia, descobriram que ela tomava um monte de remédios para inibir o apetite, laxantes, diuréticos... A saúde dela estava um caos. Camille quis continuar com aquilo, mesmo sabendo que poderia mata-la. Sua paixão pelas passarelas ia além, ela continuou fazendo dietas e se automedicando sem que eu ou a família dela soubéssemos. Tudo piorou quando Cami conseguiu deixar a cidade e ir até Paris. Sem ninguém próximo a ela, sua situação foi piorando cada vez mais. Eu ainda tentei convence-la, mas ela dizia que eu estava com inveja pela carreira dela estar evoluindo e a minha não. Em um momento eu simplesmente desisti de tentar convence-la. Confesso que não estava satisfeita, mas ao menos tinha minha amiga de volta. Conversávamos, ela gravava alguns vídeos passeando pelas cidades onde desfilava, minha amiga parecia tão feliz...

—No entanto isso não durou muito tempo, não foi?

—Não mesmo. –Sua voz estava baixa e Rosa encarava o prato vazio.  -Ela desmaiou em um dos desfiles e quando chegou ao hospital já era tarde demais.

—Imagino como você e a família dela devem ter ficado... Eu sinto muito.

—Por muito tempo eu fiquei enojada com o mundo da moda, resolvi tomar distância de tudo que envolvia o tema. Senti-me tão culpada por tê-la incentivado a participar daquilo...

 -E então começou a frequentar as reuniões no centro comunitário?

—Sim, com a mãe dela. Aos poucos eu fui melhorando, mas ainda é doloroso lembrar-me do que aconteceu. Só consegui me livrar do bloqueio em relação à moda e estilismo depois que conheci o Leigh. Ele e o Lys foram como dois anjos para mim, sou muito grata por tê-los ao meu lado.

—Imagino que sim, eles parecem se importar muito com você.

Nossos pedidos chegaram e começamos a comer e um longo silêncio ficou no ambiente.

—Me fale um pouco de você. Como ficaram as coisas entre você e sua amiga?

—Lety e eu não nos falamos desde que eu fui internada. Ela me enviou alguns cartões e chegou a me visitar um dia, mas eu não tive coragem de recebê-la.

—Por quê?

—Eu não estava me sentindo segura...

—E ela tentou outras aproximações?

—Sim.

—E mesmo assim você não deu a ela uma segunda chance?

—É mais complicado do que parece, eu tenho medo de estragar tudo outra vez. Foi a mesma coisa com o Kentin, até ele resolver me seguir até Sweet Amoris.

—Eu percebi que vocês dois eram bem próximos... –Ela parou, com uma expressão surpresa. –Agora eu entendi, era por ele que você estava aos prantos?

—Sim. –Fiquei vermelha feito um pimentão.

—Era meio óbvio que vocês tinham um rolo, já que viviam juntos o tempo inteiro.

—Eu não diria um rolo...

—Ele é seu namorado?

—Não! –acabei aumentando o tom de voz e Rosalya achou graça da situação. –Somos apenas amigos.

—Eu não sei se choraria por ficar longe de um amigo, mas...

—E-Eu preciso ir, meus pais estão me esperando em casa.

—Tudo bem, a gente se vê amanhã. –Ela deixou bem claro em sua expressão que não estava satisfeita com minha resposta e que eu não me livraria deste assunto tão cedo.

O resto da noite foi calmo, meus pais não fizeram grandes questionamentos sobre o meu paradeiro e eu os expliquei, de forma resumida, tudo que aconteceu. Eles pareciam animados em conhecer Rosa e minha mãe sugeriu novamente que eu me reaproximasse de Lety, apesar disso, ela deixou claro que respeitaria meu espaço e me deixaria fazer tudo no meu ritmo.

Sinto que, aos poucos, as coisas estão melhorando. Mesmo com todas as dificuldades, percebo que estou conseguindo voltar a ser aquela garota alegre que era há dois anos atrás. Tenho plena certeza de que ainda preciso trabalhar bastante para reconquistar tudo o que perdi, mas algo me diz que estou no caminho certo.  


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, aguardo comentários. ^^



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