Brand New Start escrita por Ciel


Capítulo 10
Capítulo 10




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Aceitei quase que imediatamente a chamada. Kentin estava em um ambiente mal iluminado, mas não tive dificuldades de ver seu rosto. Ele estava abatido, com olheiras e um semblante cansado. Contudo, isso não o impediu de esboçar um enorme sorriso assim que minha imagem na câmera ficou disponível.

—Olá, eu senti sua falta. –Praticamente sussurrou. –Eu preciso falar baixo, se me pegarem aqui sou um homem morto. Desde já peço desculpas por aparecer desse jeito e no vestiário. É que foi o único lugar tranquilo que pude usar o telefone e...

—Calma! –O interrompi. -Se você não tivesse falado, eu sequer perceberia que isso é um vestiário. Estou muito feliz em poder conversar com você, também senti saudades. –Sorri sem mostrar os dentes.

—Fico feliz em saber. –Ele retribui o sorriso. –E como estão as coisas?

—Está tudo bem. Agora faço parte do jornal da escola, estou fazendo novas amizades... Enfim, as coisas vão bem por aqui. Como você está?

—As coisas são bem diferentes na escola militar, mas eu vou me adaptar.

—Lembro que Lian não teve uma boa experiência por aí. Não quero que você volte fumando ou arrume confusão, entendeu bem?

—Sei lidar melhor com o fato de estar em um internato que ele, eu acho.

—Kentin...

—Prometo que não vou arrumar confusão ou virar fumante, ou pelo menos se fizer alguma dessas coisas não serei pego. Lian sempre fez besteira e nunca o descobriram, se eu seguir os passos dele talvez...

—Talvez nenhum militar te pegue, mas quando voltar encontrará uma Ariel muito irritada. Já vou logo avisando que posso ser mil vezes pior que um deles. –Lancei um olhar duro.

—Eu não duvido.

—Pois então trate de se comportar.

—Mãe?

Acabamos rindo bastante e o resto da conversa foi agradável. Descobri que o telefone que ele usou para falar comigo era de um garoto que tinha conseguido levar escondido e aceitou empresta-lo se Kentin resolvesse alguns exercícios de matemática e física em troca. Nossas conversas não seriam tão frequentes, mas ele disse que se esforçaria para falar comigo.

Como dormi tarde, tive dificuldades em acordar. Corri para ficar pronta e desci as escadas para tomar café da manhã. Assim que cheguei, encontrei meu pai com um semblante apreensivo.

—O que aconteceu?

—Ontem sua mãe assistiu a um programa culinário e decidiu preparar a receita que viu no café da manhã.

—Eu vou sair sem chamar atenção e compro um...

—Bom dia, querida. Você precisa experimentar a receita tailandesa que preparei, está com uma cara ótima.

—Imagino que sim, mamãe. –Sorri amarelo e sentei-me na cadeira.

Meu pai e eu nos olhamos, pois sabíamos que aquilo não daria certo.

Como esperado, o preparado que minha mãe havia feito estava intragável. Um verdadeiro motivo para a Tailândia declarar guerra contra a França. No entanto, todos riram da situação e eu ganhei dinheiro para fazer um lanche na rua.

Quando cheguei à escola, fui rapidamente em direção à sala de aula. Rosalya chegou um pouco depois e sentou-se ao meu lado. Conversamos um pouco e ela me disse que estava tudo certo com o namorado. Descobri também que o rapaz não era antirromântico, apenas tímido. Achei bonitinha essa relação entre os dois, me pergunto se um dia vou acabar amarrada assim a alguém.

Com o término das aulas, reuni-me com Peggy para trabalharmos no jornal. Tudo correu muito bem, mas ela parecia chateada. Após perguntar o que aconteceu, soube que hoje era o aniversário de Melody e ela não nos convidou para irmos à festa.

—Tanto faz se essa mal amada não nos convidou.

—Concordo com você, pois assim eu posso focar no que realmente importa: minha futura carreira como jornalista.

—Também não foi isso que quis dizer.

—Então o que você pensava? Que iríamos dar a nossa própria festa?

—Isso!

—Eu estava sendo irônica, não temos tempo para desperdiçar com essas bobagens.

—Hoje não, mas amanhã...

—Também não.

—Por favorzinho, Peggy. –Lancei um olhar manhoso. –Será uma sexta-feira, não teremos que nos preocupar com o jornal por causa do fim de semana. Eu levo bolo e sorvete. Vai ser divertido!

—Claro, aí mudamos para o domingo e levamos o Nath, que está caidinho por você. Aí a deixamos com inveja no dia seguinte quando nos vir chegando juntos.

—Está sendo irônica outra vez?

—Em partes...

—E-Eu não sei do que está falando, o Nathaniel só gosta do que escrevo no blog. Não há nada mais.

—Vou fingir que acredito. Se bem que sua ideia me animou, já que meus pais viajarão na sexta para passar o final de semana em um congresso teremos a casa inteira para a tal festa.

—É assim que se fala!

Combinamos tudo e saímos da escola. Peggy estava hesitante no começo, mas depois foi contaminada pela minha empolgação. Faz tempo que não me sentia assim, acho que a última vez foi antes de começar o ensino médio. Espero que dê tudo certo com nossos planos, não quero perder o ânimo.

No dia seguinte fui até a escola e combinei com Peggy os preparativos para a festa. Ao chegar à sala, sentei-me ao lado da Rosa e conversamos sobre a festa de aniversário do dia anterior. Ela comentou que poucas pessoas foram e como Melody esqueceu os salgadinhos na escola, elas acabaram tendo que comer um resto de berinjela. Confesso que nunca fiquei tão feliz por não ter sido convidada para uma festa.

Após as aulas, encontrei-me com Peggy para pegarmos as coisas e irmos até a casa dela. Compramos tudo que precisaríamos e fomos até a casa. Chegando lá, eu tentei provar para mim mesma que não havia enferrujado e ainda sabia dar uma festa e descobri que isso é como andar de bicicleta. No começo estava um pouco enferrujada, mas logo fui pegando o ritmo e as coisas começaram a fluir. Conversamos, dançamos, comemos e conversamos de boca cheia enquanto dançávamos.

Dava para perceber pela decoração do quarto que a jornalista era uma geek. Vários action figures distribuídos nas prateleiras, muitos jogos e um console em seu quarto. Não imaginei que ela tinha esse lado e confesso não ser tão imersa quanto ela neste universo, mas não quer dizer que isso não me interesse completamente. Peggy me ofereceu um controle e começamos a jogar. Obviamente fui destruída várias vezes, em alguns momentos ela simplesmente deixava o controle de lado e eu morria sozinha, mas foi divertido.

—Meus dedos estão doendo. –Murmurei enquanto pausava o jogo.

—Admite logo que você apenas cansou de perder para mim. –Ela virou-se enquanto ria da situação.

—Talvez você seja melhor no jogo, mas eu danço melhor. Se fosse um daqueles joguinhos de dança eu teria destruído.

—Para de choramingar. –Empurrou-me de leve.

Eu retribuí, com mais força e quando ela percebeu que não ganharia de mim, pegou uma almofada e me bateu. Rapidamente iniciamos uma guerra de travesseiros que durou um longo tempo. O grande vencedor de nossa pequena briga foi o cansaço, que acabou nos jogando no chão. Após nos recuperarmos, ela foi para a cama e eu fiquei em um colchão inflável ao lado.

—Até que foi divertido.

—Você deveria confessar logo que adorou a minha companhia.

—Não mesmo. –Começamos a rir. –Mudando de assunto, por que veio até Sweet Amoris?

—Eu quis escapar de algumas experiências desagradáveis.

—Fez besteira na sua antiga escola?

—Mais ou menos.

—Você não precisa falar se...

—Anorexia.

—O quê?!

—Aquela doença, sabe?

—Claro que eu sei o que significa, mas... –Ela vira-se para mim. –Como você chegou nesse ponto?

—É complicado... –Sente-me no chão, encostando as costas na parede e abraçando meus joelhos. –Acho que foi como começa com a maioria das pessoas, eu estava insatisfeita com meu corpo e quis mudar. Depois acabei extrapolando os limites e aí começaram os problemas.

—Deve ter sido difícil.

—Na verdade ainda é, existem algumas coisas que não superei completamente.

—Imagino que sim, mas eu sei de algo que pode ajudar. Enquanto procurava pautas para o jornal, descobri que existe um grupo de apoio para pessoas com transtornos alimentares em um centro comunitário próximo a escola, talvez seja bom conversar com pessoas que estão na mesma situação. Eu posso te dar o endereço, as reuniões são as quartas, se não me engano.

—Talvez eu vá. –Deitei-me novamente. –Estou morrendo de sono. Boa noite, Peggy.

—Boa noite.

Dormimos tranquilamente e na manhã seguinte despedi-me dela. Aproveitei o resto do final de semana para revisar e colocar alguns conteúdos em dia, pois as provas estão se aproximando e eu não quero tomar bomba no fim do semestre.

Os dias passaram rapidamente, até chegar à quarta-feira. Ainda não havia me decidido se iria ou não até o centro comunitário, mas acabei sendo guiada pela curiosidade e indo até lá. Dei uma desculpa qualquer aos meus pais (aquilo era algo que eu precisava fazer sozinha) e fui até a reunião. O lugar já estava cheio e eu tentei me misturar entre os outros membros, mas logo notaram a minha presença. Uma senhora simpática pediu para que eu me levantasse e me apresentasse aos outros membros, explicou-me que tudo que era falado na sala não saia de lá.

A maior surpresa que tive foi quando me levantei e pude olhar cada membro com mais clareza. Dentre todas as pessoas que estavam lá, encontrei um rosto conhecido: Rosalya.


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