Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 17
Um Para O Outro (Final Parte I)


Notas iniciais do capítulo

Não demora muito, e eu posto a segunda parte.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/738032/chapter/17

[“...Tô com saudade de tu, meu desejo
Tô com saudade do beijo e do mel
Do teu olhar carinhoso
Do teu abraço gostoso
De passear no teu céu

É tão difícil ficar sem você
O teu amor é gostoso demais
Teu cheiro me dá prazer
Quando estou com você
Estou nos braços da paz...”]

****

Diana.

A minha única vontade foi rir, mas não sabia se é porque realmente tinha achado graça na piada mal contada de Pedro, ou de raiva do mesmo. Como ele tinha tamanha cara de pau de me ligar tarde da noite pra fazer uma proposta tão sem cabimento? Eu realmente estava pagando pelos meus pecados.

— Você ficou maluco Pedro? – Me levantei da cama num pulo levemente alterada. – Você tá ouvindo o que você tá falando?

— Eu não estou maluco, apenas te dando a chance de recomeçar uma vida longe de tudo aí. – Ele parecia estar tão tranquilo, o que me deixava ainda mais raiva.

— Eu mereço – ri – você deve me ver como uma demente, não é mesmo? Mas escuta uma coisa, mesmo que você fosse o último homem do mundo, eu nunca ficaria com você!

— Nossa Diana, pra quê todo esse rancor? – Sua calmaria havia ido embora.

— Você ainda me pergunta? Sério? Eu não tenho nenhum motivo pra querer distância de você, né Pedro? Ah, me poupe!

— Você prefere mesmo criar seu filho sem pai do quê quebrar seu orgulho? – Sua voz aumentou em algumas oitavas.

— Com certeza! E mais, prefiro que meu filho nunca tenha que olhar pra você, e vou fazer o possível pra isso, agora, por favor, me deixa em paz! Deleta meu número e esquece que eu existo!

Sem esperar qualquer resmungo a mais dele encerrei a ligação, e mais, desliguei o celular pra dissipar toda e qualquer proximidade possível entre nós dois. Realmente Pedro tinha um alto poder de me surpreender, e desde que nos conhecemos ele havia feito isso de diversas maneiras. O que tinha dado nele pra pensar que eu voltaria com ele? Que canalha!

...

Os dias e as semanas foram passando vagarosamente, e eu já não aguentava mais ficar encostada na casa de Wanda, por mais que eles repetissem inúmeras vezes que eu não estava atrapalhando, eu me sentia como uma pedra no sapato deles.

Com o passar dos dias eu ficava ainda mais envolvida com aquele serzinho dentro de mim, mesmo sem ter muita diferença na barriga, sentia que ele ou ela me entendia muito bem.

Quanto a minha família, eu quase não os via, às vezes me encontrava com a minha mãe, que por incrível que pareça, ainda não tinha descoberto meu paradeiro, mas não desistia em me perguntar toda vez que nos encontrávamos.

— Tem certeza que vai ficar nessa cama? Não vai jantar? – Wanda perguntou piedosa.

— Tenho Wanda, tô sem fome. – Tava sem ânimo nenhum.

— Diana, há dias que você tá assim, murchinha, o que tá acontecendo?

Respirei fundo e me sentei ao seu lado na cama.

— To cansada sabe. Parece que a vida tá movendo um complô contra mim. Há dias eu tô procurando uma casa, e nada. Fui em uma, e o preço do aluguel era alto demais, na outra, só estaria disponível depois de cinco meses, e a que era perfeita, era longe demais da escola. – Desabafei.

— E se não for pra você alugar nada?

— Ham? – Eu não havia entendido bulhufas do que ela estava falando.

— Será que não tá na hora de você voltar pra sua vida? Eu não tô querendo te expulsar daqui, longe disso – adiantou – mas acho que você já deu tempo suficiente, não? Tá na cara que você anda pra baixo todos esses dias desde que vocês brigaram, você o ama Diana, isso é evidentemente!

Eu a olhei piscando muito com a maior cara de tapada, como se ela tivesse descoberto algo que não tivesse nenhuma solução.

— Eu poderia debater com você a noite toda dizendo que você tá errada, mas não, eu acho, acho não, tenho certeza que você está mais que certa. – Me calei olhando pro chão sem saber bem o que dizer. – Ah Wanda, me desculpa – me joguei em um abraço chorando um pouco, eu estava bastante sensível – me desculpa por tá incomodando vocês quando eu sei o que devo fazer.

— Ei – ela segurou meus ombros me fazendo encara-la – eu já te disse mil vezes que nunca incomodou, não chora, por favor! Eu só quero que você siga o seu coração, só isso.

...

Chico.

Por que os dias tinham que ser tão cruéis? E justo comigo, que tentava ao máximo ser uma pessoa justa!

Cada dia que se passou ao longo daqulas três semanas era como se um pedaço meu fosse arrancado de mim, e agora já não sabia se era o Chico ou uma pequena parte minha que zanzava por aí. Eu não sabia até quando conseguiria viver sem ter notícias, sem saber como ela estava, sem vê-la. Sem que eu desse conta, Diana se tornou essencial na minha vida.

Ao acordar aquela manhã, senti que meu dia não seria igual aos dias se sucederam aquele episódio, não sabia o que estava por vir, mas no meu íntimo alguma coisa me dizia que aconteceria algo diferente, também não sabia se era algo bom ou ruim.

Olhei no calendário e me dei conta que dia era: o dia que seria o dia do meu casamento com Diana. Sentei pesado no sofá e fiquei pensando na única coisa que precisava pra concretizar o casamento: a própria Diana. Todos os papéis estavam acertados, as alianças estavam compradas, e só faltava mesmo ela.

Fui caminhando até onde ficava o cartório onde se realizavam os casamentos da região, talvez eu quisesse me machucar um pouco vendo todos aqueles casais felizes, realizando seus sonhos, e eu ali, sofrendo por uma mulher que não queria me ver nem pintado. Ou não.

Olhei pro lado rapidamente e vi uma mulher igual a Diana, mas não podia ser, o que ela estaria fazendo ali? Maneei a cabeça de um lado pro outro tentando ver melhor por conta do sol que fazia aquela manhã, e quanto mais a mulher se aproximava, mais eu tinha certeza que era Diana, mas não fazia sentido nenhum ela estar ali.

— Oi Chico. – Sim, era ela, e com o sorriso mais doce, ela me saudou.

Não consegui responder sua saudação, estava em choque. Ela não estava com cara de que estava ali pra brigar, muito pelo contrário, parecia que nada tinha acontecido entre nós.

— D-D-Diana – gaguejei um pouco, engolindo um pouco da saliva que estava na minha boca – o que você tá fazendo aqui? – Perguntei sem jeito, mas muito feliz por ver ela novamente.

— Hoje é o dia do nosso casamento, não é? Ou acaso você se esqueceu?

— Não, claro que não! – Eu estava mais confuso que nunca. – Eu só não esperava te ver aqui, e mais linda ainda.

Não sabia dizer se era o amor, ou se ela estava realmente mais linda do que já era. Talvez fosse a maternidade que estava deixando ela com um brilho a mais. A mulher a minha frente estava simples, mas exuberante. Um lindo vestido claro e longo, os cabelos soltos davam a ela um ar juvenil, ainda não tinha muito barriga, mas eu já estava doido pra ver nosso bebê crescendo forte e saudável.

— Bom, acho que nada nos impede de entrarmos lá e de nós casarmos. – Seu olhar faceiro me intrigava mais a cada minuto.

— Espera aí Diana, você tá falando sério? – Meu coração estava a ponto de sair pela boca.

— Eu nunca falei tão sério, meu amor. – Num toque suave, ela segurou minha mão. – Eu não quero passar mais um dia longe de você.

— Então quer dizer que você me perdoa? – Eu tava tão emocionado que só sabia fazer perguntas.

— Esquece o que passou, chega de intrigas, vamos nos preocupar só com o que interessa: você, eu e nosso filho, ou filha. – Com a outra mão, ela tocou sua barriga sorrindo.

Sem esperar mais um minuto sequer, a beijei. Ah, como eu estava com saudades daquela boca, daquele corpo, daquele cheiro, ou melhor, dela como um todo! Um beijo cheio de saudades, carimbando um novo começo, uma nova era nas nossas vidas, um beijo cheio de paixão pra esquecer tudo o que passou, e concentrarmos somente no que estava por vir.

Não queria me afastar dela. Era como se a vida que foi tirada estivesse sendo devolvida a mim. Cada pedaço arrancado estava voltado ao seu devido lugar. Poder toca-la, poder beija-la, poder chamá-la de minha novamente me dava um novo sentido.

— Te amo, te amo, te amo muito Diana! – Depois do beijo demorado, segurei seu rosto, e disse aquela pequena frase pra que ela entendesse muito bem o meu sentimento por ela.

— Eu também te amo Chico – ela secou algumas lágrimas dos meus olhos – como eu consegui ficar esse tempo todo sem você, hein?

— Teimosa do jeito que é. – Nós dois rimos.

— Bom – ela se afastou um pouco de mim – acho melhor entrarmos se quisermos nos casar ainda hoje.

Dito isso, entramos adentramos pelas portas do cartório. Os funcionários checaram se nossos documentos estavam em ordem, e nos mandaram para pequena sala onde seria realizada a cerimônia. Havia apenas um casal na nossa frente, e logo chegou a nossa vez.

Pedimos um casal de testemunhas emprestado, já que não esperávamos está ali. E pronto, ali estávamos nós dois frente ao juiz de paz.

— Bom dia meu jovem casal! Vocês têm certeza do que vieram fazer aqui? – Nós dois confirmamos com a cabeça. – Bom – ele olhou a certidão em cima da mesa a qual ele estava atrás, e logo após me olhou – Francisco, o que fez você se apaixonar por Diana?

— Bom – eu ri discreto – o jeito mandão dela, a teimosia, o deboche, e o jeito que ela não leva desaforo pra casa. – Eu a olhei rindo, ela ria também.

— E você Diana, o que te levou a se apaixonar por Francisco?

— Ah, o fato de ele ser um grosseiro, carinhoso, mal educado, romântico, troglodita, cuidadoso, homem das cavernas, terno, turrão, meigo, bom – por fim ela terminou a série de adjetivos sobre mim – tudo isso me fez me apaixonar por ele. – Me olhou com olhar afetuoso.

— Nossa, pelo visto a relação de vocês não é nada monótona! – Ele brincou, e nós três rimos. – Mas indo ao que realmente interessa. Francisco – me encarou – você aceita como sua esposa Diana, para amar, cuidar, respeitar, na alegria e na tristeza na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?

— Sim! – Respondi com toda minha alma, com todo meu coração, e com toda a convicção que havia em mim.

— Diana, você aceita Francisco como seu esposo, para amar, cuidar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?

Com um olhar harmonioso ela me olhou e segurou firme a minha mão, e eu senti que aquilo significava que ela segurava seu mundo agora, e então respondeu:

— Sim, eu aceito!

— Então, troquem as alianças.

Com as mãos trêmulas, coloquei aquele simples objeto em seu anelar esquerdo, e em seguida recebi de volta aquele gesto. E por fim estávamos casados!

— Que nessa linda jornada que acaba de se iniciar, vocês não se esqueçam do juramento que acabaram de fazer. Quando os problemas bateram a porta, lembrem-se que o amor que vocês sentem um pelo outro é maior que qualquer coisa. Felicidades ao casal!

...

Chegamos em casa com todo o fogo do mundo, o fogo que há estava acumulado dentro de nós há algum tempo. Entrei no meu quarto, ou melhor, nosso agora, com ela nos braços, como mandava o figurino, a olhei de cima a baixo admirando a perfeição de mulher que estava a minha frente.

— Você é a mulher mais espetacular que eu já vi Diana.

Com essa simples frase, eu arranquei um sorriso malicioso dela.

Eu sabia muito bem o que eu queria naquele momento, mas não sabia por onde começar, pois estava tão ansioso, e ver Diana na minha frente ainda parecia um sonho.

A encarei mais uma vez, e me aproximei dela. Eu não tinha pressa, afinal não tínhamos nada a esconder, não estávamos mais fora da lei como antes, pelo contrário, agora estávamos sobre a benção de Deus.

Minha diaba tinha se convertido num anjo de luz, e eu não me cansava de admitir sua beleza, seu encanto e sua graça. Uni nossos corpos num beijo cheio de desejo e fascínio, minhas mãos dançavam sobre seu corpo tateando cada detalhe, buscando traze-la pra mais perto de mim, como se ainda houvesse espaço entre nós dois.

Cessei aquele beijo ardente e vi um desejo incandescente na sua face. Me coloquei atrás dela, e lentamente fui desabotoando seu vestido, e deixando beijos quentes por todo seu pescoço e parte das suas costas, minha prima respondeu bem a cada gesto, sua pele se arrepiava a cada beijo ali deixado. Não demorou muito Diana estava nua a minha frente, portando apenas uma pequena calcinha, deixando todo meu corpo em alerta.

Ficamos frente a frente mais uma vez. Diana estava um pouco calada, o que não era de costume, mas demonstrava total satisfação.

— Agora é a minha vez.

Ela sorriu com aquela cara de menina levada que tinha, e botão por botão, começou a tirar minha blusa, que logo fazia companhia ao seu vestido. Fomos caminhando até a cama, e logo eu estava sobre ela, enchendo seu corpo de carícias quentes.

Já não agíamos com a nossa razão, éramos como dois adolescentes agindo fraudulentamente, como se o mundo estivesse prestes a acabar, como se o que nos restasse eram apenas instantes. Um turbilhão de emoções tomava conta nós, era como se estivéssemos à mercê de uma grande ventania e ela nos levava pra onde tinha vontade.

Depois de idas e vindas, do vai e vem incessante, e de toda aquela luxúria da qual éramos reféns, chegamos ao extremo prazer. Eu poderia morrer ali, que seria o homem mais feliz e mais satisfeito da terra.

— Você é maravilhoso, sabia. – Ela disse depois de finalmente nos acalmarmos. – Meu maridinho. – Seu olhar doce enchia meu coração de alegria.

— A primeira e única mulher da minha vida – me coloquei por cima dela deixando o peso do meu corpo sobre meus cotovelos – eu sempre soube que era você. E esse meninão aqui – acariciei sua barriga, pela primeira vez – como é que tá?

— Pode ser uma menininha, não se esqueça.

— Seja o que for, vai ser a criança mais amada desse mundo! – Falei um pouco mais alto que o normal, mas não estava nem aí, eu tava feliz demais! – E tomara que seja tão lindo quanto a mãe.

Essa era a deixa perfeita pra roubar um beijo demorado da minha morena. Eu não me cansava de beija-la, de ficar grudadinho com ela, talvez ela até se irritasse de tão meloso que eu estava.

Depois daquela hora que passou voando, nos levantamos afinal nossas barrigas já estavam reclamando pedindo por comida.

— Mais tarde vou na casa da Wanda pegar minhas coisas, e agradecer a ela por tudo que ela fez por mim. – Diana explicava enquanto colocava o único vestido que ela tinha ali presente.

— Ah, então era lá que você estava o tempo todo?

— Sim. Vai dizer que você não teve a curiosidade de me seguir?

— Claro que não! – Aleguei. – Você já estava furiosa comigo, eu não queria te dar mais um motivo pra continuar brigada.

— Ai meu Deus, como ele é um fofo! – Ela apertou minha bochecha como se eu fosse uma criança, com voz de criança.

Devidamente vestidos, fomos pra cozinha procurar alguma coisa pra preencher o rombo que estava no nosso estômago. Enquanto minha rainha do Egito estava assentada no seu trono, ou na cadeira da cozinha, eu, seu servo, seu escravo, colocava aquelas uvinhas verdes na sua boca perfeitamente desenhada, exatamente como nós tempos antigos, é claro que também roubava uns beijos, eu era seu escravo, mas recebia alguns privilégios.

Estávamos numa melação total, e nem nos demos conta que tia Ana estava parada na entrada da casa com a cara mais engraçada que eu já tinha visto, como se o que ela estivesse vendo fosse algo de outro mundo.

— Valquíria, corre aqui! – Ela gritou pra minha mãe que veio correndo saber o porquê tanto minha tia gritava.

— Ah meu Deus!

Foi o que dona Valquíria conseguiu dizer, e claro, nós dois rimos da cena das duas senhoras.

— Que foi? Que caras são essas? – Diana perguntou num tom brincalhão.

— Eu não acredito que vocês dois fizeram às pazes! – Minha mãe não esperou mais um minuto e veio abraçando nós dois. – Já não era hora né! E meu netinho, como ele tá? – Ela abraçava mais a Diana que a mim, e fazia carícias em sua barriga também.

Depois de pararem um pouco com os abraços, Diana e eu estendemos as nossas mãos esquerdas, e as duas senhoras arregalaram os olhos vendo as alianças nos nossos dedos.

— Bem a cara de vocês se casarem às escondidas né? – Minha tia protestou, não sabia se ela estava brincando ou falando sério.

— Ah mãe, nós não nos casamos às escondidas, só não avisamos ninguém, porque nem nós mesmos sabíamos que íamos nos casar hoje. – Diana explicou.

— Sei. – Tia Ana replicou nos olhando meio de lado.

— Mas é mais pura verdade. E eu ainda vou levar minha linda esposa numa viagem de lua de mel, ainda não dá, porque não temos muito dinheiro, mas em breve essa viagem sai. – Disse confiando nas minhas próprias palavras.

— Não precisa se preocupar com isso meu amor, qualquer lugar que você esteja, pra mim já é o melhor lugar do mundo. – Ela finalizou sua frase me dando um selinho. Ainda era constrangedor fazer isso perto das nossas mães.

— Bom mãe, nós estávamos pensando em ficar aqui por enquanto, até a gente conseguir comprar uma casinha, e eu espero muito que não demore.

— Como assim comprar uma casinha? Vocês não vão morar aqui? – A cara de felicidade dela mudou da água pro vinho.

— Não mãe, Diana e eu queremos ter a nossa privacidade, nosso cantinhoe eu sei que avós estragam os netos, e outra, não pensamos em ir pra longe, pensamos num lugar aqui perto. – Tentei amenizar.

— É isso que a gente recebe depois de tanto esforço pra criar um filho, ingratidão.

— Ah tia Valquíria, deixa de ser exagerada, não vamos nos mudar pra outro estado nem outro país, vamos ficar aqui por perto.

Diana e seu jeito estravagante de ser acabou fazendo minha mãe rir, e mudar aquela cara emburrada. Ela ia ter que aceitar, uma hora ou outra eu ia ter que sair daquela casa.

...

Diana.

Felicidade me resumia. Há tempos não me sentia tão viva, tão útil, tão mulher como estava me sentindo. Era como se algo novo estivesse nascendo dentro de mim todos os dias. Eu continuava sendo a mesma Diana de sempre, mas agora tinha os melhores motivos pra seguir em frente: um marido superprotetor, e um filho que mesmo sem ver, eu já amava incondicionalmente.

Parece que quando estamos tristes o tempo só se arrasta, mas quando nos sentimos bem com a vida, o tempo passa num estalo, e era isso que estava acontecendo. O tempo estava voando, e ali estava eu, junto com a minha mãe, na sala de ultrassonografia, e nós duas ansiosas, pois já íamos saber quem estava prestes a vir ao mundo.

— Parabéns Diana, você será mãe de um meninão!

Um misto de sensações me envolveu naquele momento: eu quis gritar, chorar, abraçar minha mãe, o médico, e no fim, eu fiz tudo isso. Em breve eu seria mãe de um menino! Ele tinha tão poucos dias de existência, mas já teria alguém maravilhoso pra se espelhar, com certeza ele iria ser um homem tão exemplar como o pai era.

Na volta pra casa minha mãe e eu passamos em algumas lojinhas de produtos infantis e fizemos a festa. Compramos tudo em azul e verde. Roupinhas, sapatinhos, bonezinhos, chupetas, e tudo mais que meu bebê tinha direito.

Ao nos aproximarmos de casa, logo avistamos Chico trabalhando, e alguns colegas com ele, e meu coração começou a bater mais forte, eu mal esperava pra ver a reação dele ao saber o sexo do nosso bebê.

— Amor?! – Dei um grito, e ele logo me olhou. – Atrapalho?

— Claro que não, Diana. – Ele parou o que tava fazendo e dedicou a mim sua atenção.

— Bom, tá preparado?

— Pra quê? – Franziu a testa.

— Você vai ser pai de um menino.

Chico me arregalou os olhos, e por alguns segundos ficou sem reação, mas não demorou muito e ele me abraçou e me levantou do chão, beijando meu rosto, meu cabelo e meu pescoço todo suado e quando ele me colocou no chão, começou a gritar e saiu correndo como um louco.

— É menino! É menino! Eu vou ser pai de um menino!

A vizinhança logo saiu pra ver o que estava acontecendo, e logo se deram conta do que era. Todos nos parabenizaram, mostrando-se felizes por nós.

Mais tarde, nós dois estávamos agarradinhos na rede, jogando conversa fora, dessa vez ele estava devidamente banhado e sem resquícios de suor.

— Eu tô muito feliz, sabia?

— E você acha que eu tenho dúvidas disso? Depois do que você fez mais cedo? – Brinquei.

— Eu não me contive. – Ficamos em silêncio por um instante, apenas curtindo a presença um do outro, e admirando o céu que estava estupendo. Depois de uns cinco minutos em silêncio, ele voltou a falar. – Eu sou o homem mais feliz e mais rico do mundo, porque eu tenho ao meu lado você e o... – Ele parou e me olhou com uma cara meio confusa. – Ainda não decidimos o nome dele Diana.

— E, é verdade. Hum... – Pensei. – Nada de Francisco Junior, por favor, essa coisa de Júnior é muito cafona.

— Não acho. – Revirou os olhos. – E a lindinha tem alguma sugestão? – Perguntou num tom de deboche.

— É claro que tenho, nosso filho vai se chamar Gael. – O olhei com ar de vencedora, pois sabia que no final a minha vontade prevaleceria.

— Gael. – Ficou pensativo. – Tá aí, gostei do nome.

A parte mais difícil da gravidez estava resolvida. Entramos num acordo e ficou decidido que nosso bebê se chamaria Gael. O nome mais lindo que eu já ouvira.

...

Num pulo, e nove meses se passaram. Eu andava com uma pata, e isso já era um motivo suficiente pra Chico ficar zombando de mim, mas ele deixava bem claro que eu era a patinha mais linda do mundo, bem a cara dele dizer isso. Já estávamos com tudo pronto, somente esperando o momento que Gael quisesse vir, e novamente minhas emoções estavam à flor da pele, pois no mesmo instante que eu queria que ele nascesse logo, eu também queria ao máximo adiar a vinda dele só de imaginar a dor que estava a minha espera.

Numa noite qualquer estávamos nós quatro na sala assistindo Tv, muito descontraídos, eu já estava tendo leves pontadas, mas não me passava pela cabeça que já fossem as contrações, e por isso não avisei, pra não preocupa-los. Porém quando menos esperei, senti como se estivesse um balão de festas entre minhas pernas e o mesmo estivesse cheio de água, e do nada ele estourava, era minha bolsa se rompendo.

— Gente, eu não quero preocupar vocês não – eu era a calma em pessoa – mas eu acho que minha bolsa estourou.

Esse foi o apito inicial para a confusão. Chico se colocou desesperado entre as minhas pernas achando que Gael já estava às portas, eu tive que rir, e o tirar dali. Minha mãe e minha tia estavam mais calmas, porém tensas. Como as coisas já estavam preparadas, somente as pegamos e chamamos um táxi.

— Tem certeza que não tá sentindo nada demais Diana? Por favor, não me esconde nada! – Chico estava tão nervoso, que me dava vontade de rir enquanto as dores aumentavam aos poucos. – Tá rindo de quê Diana?!

— De você! – Joguei na lata. – Calma meu amor, vai dar tudo certo!

Eu repeti esse mantra pra mim mesma tentando me acalmar na medida em que a dor subia, mas nessa mesma medida, ia ficando difícil manter a calma.

O táxi logo chegou e fomos rumo à maternidade. Eu queria bater no Chico por ele não ficar em silêncio um minuto, e sempre perguntando a mesma coisa: “ta tudo bem?”, “será que vai dar tempo?”, “você precisa de alguma coisa?” era como se ele pudesse fazer algo por mim, mas na verdade não tinha muito o que fazer.

O combinado era que ele assistisse o parto, e até o último segundo era isso mesmo, mas parece que no segundo final, ele deu pra trás.

— Vai Chico – minha mãe disse enquanto eu era encaminhada para a sala de parto – pode acompanhar eles.

— Sabe o quê que é tia – ele suava – eu não vou conseguir assistir, é melhor a senhora entrar, eu fico aqui com a minha mãe.

Minha mãe apenas revirou os olhos e me seguiu. Ela concordou com a proposta dele, e daria notícias assim que fosse possível.

Conforme o tempo ia passando a dor só ia aumentando, e os intervalos ficavam cada vez menores, eu não sabia se iria resistir, essa tarefa estava sendo muito dura pra mim.

— Mãe – eu urrava de dor – eu não tô aguentando mais! – Minha mãe estava o tempo todo ao meu lado segurando a minha mão.

— Claro que vai Diana, força, já, já vai acabar essa dor!

Minha mãe havia sido essencial pra mim naquele momento, sem ela do meu lado, talvez eu sucumbisse, Chico foi prudente em trocar de lugar. A dor vinha com frequência e com força total, e minha mãe ali proferindo palavras de ânimo, chegou um momento eu que eu não mais as ouvia, mas me dediquei somente em fazer toda a força possível pra que Gael viesse ao mundo.

Uma, três, cinco, oito horas se passaram e nada. Eu já não sabia mais de onde tirar forças, parecia que toda ela tinha se esgotado.

— Vai mãe, mais um pouco que tá vindo! – Disse o médico que fazia meu parto.

Era tudo ou nada. Respirei fundo e puxei do fundo do meu âmago todo pouco gás que ainda havia em mim, e fiz então a força que seria decisiva.

— Ahhhhhhh!

Depois desse grito, por fim escutei o mais lindo som que eu já tinha ouvido na minha vida, o choro do meu filho.

— Parabéns mamãe, seu filho é lindo e muito saudável!

Continua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bem Me Quer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.