Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 18
Seremos Um Só Para Todo O Sempre (Final Parte II)


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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[“...Pensamento viaja
E vai buscar meu bem-querer
Não posso ser feliz, assim
Tem dó de mim
O que é que eu posso fazer

...

Tô com saudade de tu, meu desejo
Tô com saudade do beijo e do mel
Do teu olhar carinhoso
Do teu abraço gostoso
De passear no teu céu...”]

****

Diana.

Depois de fazerem todos os rituais pós-nascimento – pesagem, medição, vacina, e tal – eles, por fim, me entregaram, e eu segurei o pequeno Gael pela primeira vez nos braços. Eu só sabia chorar e agradecer, nunca havia imaginado que tamanha dor resultaria em tal alegria. Imaginei várias vezes como seria quando o visse pela primeira vez, mas com certeza minhas expectativas foram superadas.

Um pouco depois de dar a luz, fui levada para o quarto, onde ficaria os próximos dois dias, e minha mãe, claro, sempre ao meu lado.

— Ele é tão lindo, né mãe? – Eu o olhava com tanto carinho, meu coração parecia que ia explodir. – Com quem ele se parece mãe?

— Ainda é muito cedo pra dizer, mas daqui alguns dias já vai dá pra perceber com ele se parece mais.

Foi minha mãe acabar de falar, e o pequeno acordou chorando, e eu me apavorei, pois não sabia o que fazer.

— Calma Diana! – Minha mãe riu da minha cara de assustada. – Ele deve tá com fome. Vê se ele consegue pegar seu peito.

Com todo o cuidado do mundo ela me ajudou a colocá-lo na posição, e como que por instinto ele logo abocanhou meu peito, e então mamava como se já tivesse feito aquilo inúmeras vezes. De início senti um pouco de dor, mas minha mãe disse que era tudo normal, e com o passar dos dias a dor ia sumir.

— Bom, vou sair pro Chico entrar, ele não deve tá se aguentando de ansiedade lá fora. – Apenas sorri assentindo.

Não demorou muito e logo avistei Chico entrando pela porta. Quando ele chegou até a mim, vi suas lágrimas descerem, eu o entendia muito bem, pois havia sentido, e ainda sentia o mesmo que ele.

Meu marido deixou um beijo na minha testa, e ficou a acariciar o pequeno e rechonchudo corpo do nosso filho, sem dizer nada, apenas desfrutando daquele prazer de estarmos nós três ali, como família.

— Obrigado! – Ele disse depois de muito tempo em silêncio. Eu somente sorri pra de volta, como resposta. – Obrigado por me dar o melhor presente que eu poderia ganhar.

...

Chico.

Aquelas infindáveis horas estavam acabando comigo. Parecia que o tempo não passava, e só se arrastava. Eu ficava de minuto em minuto olhando pro celular na esperança que minha tia me ligasse. E nada.

Um milhão de coisas passaram na minha cabeça. Será que Diana seria forte o suficiente? Será que iria resistir? Será que nosso bebê viria saudável? E todo aquele questionamento interno estava me consumindo por dentro, e minha mãe, coitada, falhava grandemente na missão de me acalmar.

Depois de infinitas oito horas, minha tia me ligou dizendo que ele tinha nascido e que estava tudo bem com os dois. Foi o único momento que consegui respirar aliviado, mas agora o que tomava conta de mim era a ansiedade para vê-los. Logo minha tia me ligou me informando que trocaria de posto comigo, e eu não via a hora de entrar naquele quarto.

Tudo que eu pensei em falar caiu por terra quando eu entrei no cômodo. Eu perdi a fala, nada passava pela minha gargando, eu só sabia chorar. E pra não dizer que não disse nada, apenas agradeci a minha esposa por me proporcionar esse momento tão lindo. Era a sensação mais linda que eu já tinha sentido.

— Ele não para de mamar né? – Imdaguei depois de perceber que desde que eu cheguei ele estava grudado no peito dela.

— Pois é, já tá há um tempão aqui, e nada. – Sorriu.

— Um bezerrinho.

Ela debruçou a cabeça no meu ombro enquanto amamentava Gael, e por fim ele soltou o peito, e ela cochilou, coitada, deveria estar exausta. Eu logo chamei a enfermeira, que veio depressa e tirou o pequeno do colo da mãe, o pôs pra arrotar e o colocou no bercinho móvel ao lado da cama de Diana, eu me acomodei na poltrona de acompanhante e ali fiquei até o dia clarear.

...

Nós despertamos na manhã seguinte com o choro fininho de Gael, que por sinal, era música pros meus ouvidos, a enfermeira que estava no quarto disse que podia ser fome, e era. Assim que Diana colocou ele na posição, ele logo alcançou sua fonte de alimento e pôs-se a mamar feliz da vida.

Os dois dias seguiram tranquilos e os dois logo tiveram alta. Diana não parava de dizer que queria sua casa, queria comer uma comida decente, queria vestir uma roupa decente, bem o jeito reclamão dela.

— Lar doce lar! – Dei passagem para que ela entrasse em casa com o neném tomando todo o cuidado pra que ela não tropessasse ou coisa do tipo.

— Não aguentava mais aquele hospital. – Reclamou.

— Mas foram só dois dias Diana. – Minha mãe a lembrou.

— Mas que mais pareceram vinte anos. Pensei que Gael já fosse sair formado de lá.

— Exagerada. – Minha tia revirou os olhos depois do comentário dela, e nós rimos. – Bom Diana, sem esforços tá, você está de resguardo, e nem adianta reclamar.

— Pois é Diana, sua mãe tem razão, depois que eu for trabalhar, as duas vão ficar de olho em você, e vão me passar o relatório completo do seu dia.

— Eu tô feita com vocês três.

...

Diana.

Desde o princípio, quando descobri a gravidez, tinha ciência de que não seria tão fácil como mostrava na tv, mas parecia bem mais difícil quando a gente vive essa experiência. Os primeiros três meses de Gael foram um pouco complicados, ele fazia a famosa troca da noite pelo dia, além das cólicas que me deixavam agoniada, acho que doía mais em mim do que nele. Mas o pediatra disse que era um tanto normal, e que passaria depois de um tempo, e realmente passou.

Mas quem disse que as coisas melhoraram? Não, não! Ele queria porque queria dormir na nossa cama, parecia que tinha espinhos no berço dele, e no final a vontade dele que prevalecia. Mas Chico e eu não dormiamos por medo de rolarmos pra cima dele, pois estávamos cansados, e quando o sono vinha, era um sono pesado. Minha mãe e minha tia eram as nossas salvadoras. Por muitas vezes elas ficavam com ele pra nos dar um tempinho. Algumas vezes dormíamos, outras não. Na maioria não.

O tempo passava tão rápido que eu queria segura-lo na mão pra que ele esperasse um pouco. Gael crescia tão depressa que as imagens de um menino pequenino, tão dependente se tornaram apenas lembranças.

A cada dia que se passava ele se tornava mais sapeca. Engatinhava tudo, e eu tinha que ficar atenta, pois ele era rápido e tudo colocava na boca, era uma gritaria o dia todo.

Após completar sete meses, eu voltei a trabalhar, com o coração partido, claro, mas sabia que ele estava seguro com as avós babonas. Meus colegas de trabalho também babavam com as fotos que eu mostrava, os vídeos das travessuras, Gael tinha se tornado o mascote de todo mundo.

Num belo sábado estávamos todos em casa, fazendo nada em especial, apenas brincando. Estava calor, e como o pequeno amava água, o colocamos numa piscina de bebê, ele simplesmente amou. Depois de molhar todo mundo, e arrancar risos e gargalhadas dos mesmos, ele soltou sua primeira palavrinha, e eu não ia o perdoar por isso.

— Papá.

— Ah meu Deus, ele falou papai! – Chico só faltou dar piruetas de alegria, como de costume, ele sempre agia assim em cada conquista dele.

— Claro que não Chico, foi qualquer coisa, menos papai.

— Ah Diana, para de graça, você tá mordida porque ele falou papai e não mamãe. – Implicou, e eu ignorei, pois ele tava com a razão. – Fala papai de novo meu amor.

— Papá. – A boquinha sem nenhum dente proferiu a mesma palavra de novo, e eu não resisti, comecei a rir também, era lindo como ele falava papai.

— Viu mãe, a primeira palavra dele foi papai!

— Vi Chico.

Não faltou muito pra que Chico corresse pela vizinhança espalhando a novidade. Foi assim quando ele golfou nela na primeira vez, quando ele trocou a primeira fralda, o primeiro banho, quando Gael começou a engatinhar, eu só ria né. Eu também achava lindo essas gracinhas que o pequeno fazia, mas me continha mais que o pai babão.

Nossos domingos passaram a ser um pouco diferente. Antes ficávamos em casa atoa, agora era lei sairmos nós três. Íamos na pracinha, brincávamos, e depois que Gael começou a andar, ninguém mais segurava ele.

Eu ficava na cola dele, pra que ele não caísse, mas ele não tava nem aí, queria se divertir, seguia as crianças grandes, queria fazer as coisas que elas faziam, mas coitadinho, não conseguia porque era pequeno demais. Quando ele caía, mal chorava, vinha pedindo um beijinho da mamãe, e voltava a sua sapequisse, durão igual ao pai.

Certo domingo, como se costume, estávamos na praça, mas já voltando pra casa, pois o tempo estava um pouco fechado, então decidimos voltar mais cedo. Quando contornamos o caminho, logo avistamos Rosa, ela também nos avistou, mas como acontecia quando nos encontrávamos, nós nos ignoramos, como se não nos conhcecemos, isso passou a ser regra pra nós desde quando tudo aconteceu, mas dessa vez foi diferente, ela parou pra falar conosco.

— Tudo bem com vocês? – Ela estava visivelmente sem graça.

— Tudo. – Nós dois respondemos.

— Bom, eu vou direto ao assunto pra não tomar o tempo de vocês. Eu nunca me desculpei pelo que aconteceu, e acho que eu devo isso a vocês.

— Quê isso Rosa! – Chico se adiantou. – Esquece o que passou, se você se arrependeu é isso que importa.

— Pois é Rosa, não estamos aqui pra guardar nada não.

Eu tinha ficado surpresa com o pedido dela, pois jamais imaginei que ela viria até a gente algum dia nessa condição.

— Eu precisava disso, obrigada. – Ela sorriu, mas ainda estava sem graça. – Diana – me olhou – espero que um dia possamos voltar a ser amigas de novo, eu sinto falta da sua amizade. Bom, eu já vou, meu namorado está me esperando.

Rosa nos sorriu e saiu nos deixando de boca aberta. Eu havia ficado feliz por ela, afinal, nunca tinha desejado nada de ruim, e torcia também pra que algum dia pudéssemos retomar a nossa amizade, mas dessa vez, sem segredos, sem nada oculto que pudesse nos separar de novo.

...

Parecia que tudo estava dando certo na minha vida. Um tempo depois de o Gael completar dois anos, subi um pouco de cargo na escola. De auxiliar de bibliotecaria, tinha ido a auxiliar de professora do jardim de infância. Era um pouco mais trabalhoso, pois tinha que lidar com elas o dia todo, mas era bom também, com crianças a gente tinha uma novidade todos os dias.

Com uma função nova, o salário aumentou um pouco, e enfim conseguimos comprar a tão sonhada casa que queríamos. Chico e eu decidimos comprar a mesma casa onde tivemos a nossa primeira noite de amor. Os antigos donos decidiram sair da cidade de vez, e então Chico os procurou e fechou o negócio. O casal de jovens senhores eram muito amáveis e fizeram um preço ótimo pra nós dois, tendo em vista que eles conheciam Chico há algum tempo.

Eu amei a escolha da casa, já que eu tinha um apreço por ela, pois foi ali a primeira vez que eh declarei a todos os ventos que amava o Chico com toda a minha alma.

A casa precisava de algumas reformas, e com algumas contenções, e ajuda das nossas mães, ela se tornara habitável. Nos mudamos logo em seguida, e foi um chororo danado da minha mãe e tia, como se estivéssemos indo pro outro lado do mundo.

Com alguns meses morando lá, a casa já estava a nossa cara, e eu me tornara a típica dona de casa do interior, coisa que eu tinha repulsa há uns anos atrás. Se eu soubesse que era tão bom, tinha aceitado essa vida há mais tempo.

A minha vida não era tão luxuosa como quando eu era casada com Pedro, mas eu tinha aqui coisas que eu nunca tive lá. Eu era feliz de verdade, e não precisava de roupas e sapatos caros pra me preencher, não precisava de viagens pro exterior pra ficar de bem com a vida, eu tinha o Chico e o Gael ao meu lado, podia parecer pouco pra muitos, pra mim era o necessário, o essencial.

...

Depois daquele encontro inusitado com Rosa, eu decidi que daria a ela uma segunda chance, pois todo mundo merece uma, e era também a chance que eu precisava pra me redimir com ela, afinal, eu também havia vacilado bastante com ela.

Eu conversei com a minha tia, e ela também achou que ela merecia uma segunda chance, e permitiu que ela voltasse a frequentar a sua casa. No começo era meio estranho pra todo mundo, mas todos concordamos que íamos nos esforçar pra que Rosa fizesse novamente parte do nosso convívio.

Era como se nós fôssemos crianças e tínhamosa acabado de nos conhecer. Não nos falávamos com toda intimidade de início, e era supernormal, mas com o decorrer do tempo fomos nos soltando, brincando e até saindo juntas. Gael tinha gostado muito dele, ele a chamada de titia Oginha, os dois se davam muito bem.

Parecia que dia após dia nossa relação voltava a ser como antes, ou melhor, melhor que antes, pois eu não precisava fingir em nada, e Rosa também estava muito madura, e gostava muito do seu noivo, inclusive, ela havia chamado a mim e a Chico para sermos seus padrinhos de casamento, e com muita honra, nós dois aceitamos.

Eu assumi mesmo meu papel de madrinha. Ajudei na escolha do vestido, da decoração, na maquiagem, no penteado, em tudo! Agi como se fosse eu que estive prestes a casar, e mesmo sendo uma cerimônia pequena, pra poucas pessoas, tinha dado um trabalho danado, mas no fim saiu como planejado.

No dia da festa tudo estava lindo, tudo como nós planejamos, tudo bem simples, mas tinha amor em cada detalhe. Quando vi Rosa entrando na igreja toda de branco, sendo o alvo das atenções de todos, veio em mim uma vontade de subir ao altar, mas logo afastei de mim esse desejo, não tinha boas recordações sobre um casamento lindo aos olhos de todos, mas que acabou falido. Eu era muito feliz com Chico, mesmo não tendo uma cerimônia linda, e um monte de gente prestigiando nós dois.

Rosa e seu noivo Tiago, que agora era seu marido, foram bem rápidos, e não muito tempo depois descobriram que esperavam um bebê. Eu fiquei feliz demais, pois meu Gael não cresceria sozinho, mas teria alguém que o fizesse companhia. Com o decorrer do tempo, ela descobriu que seria mãe de uma menina, Maria Vitória, eu imaginava direitinho como ela se sentia, pois senti a mesma emoção dois anos antes.

...

Um dia após o outro e a vida não parava, o tempo seguia seu curso sem esperar ninguém. A vida tinha me dado bons presentes, entre eles meu trabalho que eu amava. Após dois anos trabalhando como auxiliar de professora fui promovida para professora, mas dessa vez eu iria lidar com as crianças maiores, as do primário. O desafio seria grande, mas de maneira nenhuma recusei.

Eu amava minha vidinha pacata, com pouco movimento, era o tipo de vida que eu jamais sonhei pra mim, mas amava.

Eu amava me debruçar na janela à tardinha e ver Gael e Maria Vitória brincando, enquanto esperava Chico chegar do trabalho. Apesar da diferença de dois anos na idade deles, eles se davam muito bem, sim, brigavam às vezes, mas na maioria do tempo eles ficavam numa boa.

— Oi mulher mais linda desse mundo! – Chico chegou por trás de mim, que estava na janela observando as crianças, como sempre ele fazia, apertando minha cintura contra ele, e beijando meu pescoço.

— Oi marido mais gato! – Devolvi a saudação, e nos beijamos demoradamente, isso foi motivo pras crianças rirem.

— Eles não deixam passar nunca né?

— Não. – Rimos. – A cada dia que passa eu fico mais impressionada na semelhança de vocês dois, ele é a sua xerox!

— Só o físico né, por esse aí tem todo o seu gênio.

— Eu não acho tão parecido comigo, apenas em algumas coisas.

— Tá bom dona Diana, vou fingir que acredito. – Revirou os olhos. – Escuta – ele me virou para que ficassemos de frente, mas ainda ficamos colados – eu recebi um dinheirinho extra, e adivinha pra que vou usar?

— Hum?

— Pra te sairmos em lua de mel, afinal eu tô te devendo.

— Claro que não Chico, a gente pode usar esse dinheiro pra fazer alguma obra que falta aqui, não vamos pensar nisso agora.

— Não adianta a senhora reclamar, já tá decidido! Já falei com as nossas mães e elas concordaram em ficar com o Gael, podemos ir tranquilos.

— Mas Chico...

— Nada de mais Diana. Eu quero fazer isso por você, por nós, e há muito tempo não tiramos um tempinho só pra nós dois, nós precisamos disso. Não vai ser pra um lugar superfino, mas eu achei um hotel fazenda lindo, e acho que você vai amar. – Ele me olhou, mas não obteve respostas minha. – E então Diana, se você quiser a gente fica, por que no fim eu acabo fazendo o que você quer, mas acho que não vamos ter essa oportunidade tão cedo.

— Tudo bem então.

...

Muito a contragosto eu aceitei que fizéssemos aquela viagem, mas depois de muito minha mãe dizer que seria bom um tempo só pra nós dois, eu acabei concordando que seria mesmo bom dar um tempo da nossa vida cotidiana. Eu iria, mas uma parte minha ficaria junto com Gael. Meu coração estava num aperto só, pois nunca tinha ficado longe dele, nem mesmo por um dia.

— Tchau filho, se cuida tá, obedece suas avós, vai dormir cedo, e não se esquece de escovar os dentes antes de dormir.

— Tá bom mamãe, eu já sei. – Ele fez aquela carinha impaciente, depois de ouvir pela enésima vez minhas instruções.

— Filhote, já sabe né? Se comporta direitinho hein. – Foi a vez de Chico repetir as mesmas coisas. – Suas avós vão me passar tudo depois que a gente voltar.

— Tá bom papai.

— Bom, a gente já vai, não esquece que nós amamos muito você tá.

Como de costume, dei um selinho nele, eu sempre fazia isso quando saía, ou quando o deixava na escola, e logo depois dei um abraço apertado não querendo mais soltar ele. Chico repetiu o meu gesto, menos na parte do selinho.

Nos despedimos das nossas mães, e fomos em direção a nossa sonhada lua de mel. Não quis olhar pra trás e ver o três parados, mas foi impossível me conter, e os vi olhando o táxi até que os perdi de vista. “Era só uma semana” pensei, e ela passaria num estalo.

...

A viagem foi curta, uma hora e meia e já estávamos no nosso destino. O lugar era realmente lindo. Muito verde, com piscinas, redes, lagos com patinhos que eu tinha achado a coisa mais fofa, tinha também algumas charretes disponíveis pra levar os hóspedes a cachoeiras e rios próximos da região. Também tinha algumas trilhas, mas essa parte eu logo descartei, não era amante desse tipo de esporte, na verdade de nenhum. Foi impossível não me lembrar do meu pequeno quando vi a área infantil, com escorregas, balanços, gangorras e tudo mais que criança adora, com certeza eu voltaria ali, e traria meu pimpolho comigo.

Uma das minhas partes preferidas era a comida, cada coisa mais gostosa que a outra. Eu me esbaldava no café da manhã, no almoço, café da tarde e jantar, Chico até estranhava, pois eu nunca fui de comer muito, só mesmo durante a gravidez, quando os três primeiros meses de enjoos e vômitos haviam passado.

Eu aproveitei muito aquela viagem, e agradecia todos os dias ao Chico por ter me convencido a ir, foi simplesmente lindo. Minha cor branca sem graça tinha sumido dando lugar a um tom de pele bronzeado, e eu preferi muito mais do que minha cor natural. No último dia, saímos e fomos pra uma cachoeira, ela era linda, mas eu ainda não era uma nadadora nata, e fiquei com medo de entrar na água, em contrapartida, Chico se sentia um verdadeiro tritão.

— Você vai mesmo ficar aí? – Ele gritou de dentro da água, enquanto eu permanecia sentada próxima a beira. – Vem logo Diana, a água está ótima!

— Eu tô com medo Chico – assumi – essa água não parece tão calma como as que eu tô acostumada.

— E você não confia em mim? – Num mergulho ele chegou até a beira e me estendeu a mão. – Vem, eu tô aqui, não vai acontecer nada com você.

Eu senti um déjà vu naquele momento, como seu eu já tivesse vivido aquilo ali. Eu segurei sua mão, e com a sua ajuda, entre na água. Logo todo meu corpo foi tomado num arrepio, de tão gelada que estava a água, e em seguida comecei a tremer como uma vara verde.

— Pelo amor de Deus Chico, essa água está um gelo! – Eu me tremia toda abraçando meu corpo.

— Ah Diana, não seja fresca, água tá uma delícia! – Ele jogava água gélida em meu corpo trêmulo.

— Ah, claro, pra você, que parece não sentir frio. – Coloquei minha mão na frente dele pra evitar que ele me molhasse mais, em vão.

— Claro que não, você é frienta demais. – Ele continuava a me jogar água.

— Para! – Gritei e o bonitinho ficou rindo da minha cara.

Ainda ficamos algum tempo naquele bate boca que era comum entre nós dois. Era o tipo de discussões que acontecia entre nós, pelo fato de um sempre discordar do outro, bem, isso acontecia desde que nos encontramos.

— Ah meu amor, tá bom, você tá certa, a água tá gelada mesmo – cedeu – vem cá com seu maridinho que eu te esquento. – Ele rompeu os pequenos centímetros que nos separavam e me envolveu eu seus braços fortes. Meu corpo se arrepiou, mas por outro motivo. – Tá melhor assim? – Ele perguntou ao pé do meu ouvido.

— Bem melhor.

O puxei para um beijo, e logo todo frio que regia meu corpo se tornou um calor indissipavel. Mesmo depois de tanto tempo, nossas bocas ainda ansiavam, imploravam para estarem em contato, nossos beijos eram mais intensos do que o mar bravio, era como se houvesse a necessidade de estamos ali, naquela condição, mas no fundo havia mesmo, estávamos destinados a sermos um do outro, e nada e nem ninguém tinha o poder de nos separar.

— Eu te amo minha diaba – eu gostava quando ele me chamava assim – eu te amo muito mais que ontem, e amanhã meu amor será bem maior que hoje.

— Eu também te amo Chico, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Colamos nossas testas e ficamos a nos encarar por algum tempo. Eu não sabia o que se passava na mente dele, mas eu pensava a todo instante o que eu tinha feito pra merecer alguém tão... Tão... Tão Chico na minha vida. Eu tinha tirado a sorte grande mesmo.

— Eu tenho uma coisa pra te contar. – Disse ainda estando com o rosto junto ao seu.

— Hum.

— Nossa família vai crescer – ele me olhou meio confuso – eu to grávida, vamos ter outro bebê.

Ele se afastou um pouco de mim, e ficou me olhando. Quando as palavras pareciam ter feito sentido ele me abraçou e me beijou, a mesma reação de quando ele descobriu que íamos ter um menino.

— Ah meu deus Diana, que maravilha! Nós vamos ter outro bebê!

— Sim!

— Eu não acredito! Eu vou ser pai, eu vou ser pai de novo! – Como só tinha nós dois ali, acho que ele gritava pras árvores, pássaros e qualquer outro bichinho que estive por ali. – Obrigado, de novo você vai me fazer o homem mais feliz do mundo. – Ele me abraçou e começou a chorar de emoção no meu ombro.

— Não precisa me agradecer – ele me fitou – pois antes de eu te fazer o homem mais feliz do mundo, você me realizou como mulher, como mãe, como pessoa. Era de você que eu precisava pra minha vida fazer Chico, sempre foi você.

Seu olhar encontrou o meu e eu via nele o que eu sentia dento de mim, uma alegria infindável. Nossos lábios se juntaram mais uma vez, mas dessa vez o beijo não tinha a mesma ferocidade do anterior, mas era um beijo de cumplicidade, como se nós dissessem os um para o outro, “eu estou aqui, e sempre estarei, não importa o que aconteça, eu estarei sempre aqui”.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Com esse capítulo eu me despeço de mais uma história, mas não de vcs.
Já estou com o coração partido por ter que despedir dessa história que eu amei tanto escrever, mesmo com tanta demora nas atualizações, juro que não era proposital, era um tanto complicado conciliar esse mundo aqui com a minha filha, mas no final deu tudo certo né.
Espero muito ter agradado vcs. Isso não é um adeus, é um ate breve, pq eu volto, e vou trazer novidades.
Bjssss!!!



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