Bem Me Quer escrita por Maitê Miasi


Capítulo 16
Quero Que Você Viva Sem Mim


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo.
Espero que gostem.



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[... ”Depois de sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos
Nós nos abandonamos como tantos casais
Quero que você seja feliz
Hei de ser feliz também”...]

****

Chico.

Isso não podia estar acontecendo, Diana não podia me abandonar! Meu mundo estava se esvaindo pelas minhas mãos, uma parte minha estava sendo arrancada de mim sem a minha permissão.

— Como assim Diana?! – O desespero tomou conta de mim. – Você não pode ir, você não pode me deixar!

— Como assim eu não posso? É claro que eu posso, e não são meia dúzia de palavras suas que vão me fazer mudar de ideia!

— Pra onde você vai? E o meu filho?

— Meu filho você quis dizer – ela apontava para si mesma – esse filho deixou de ser seu desde o momento que você falou todas aquelas palavras agressivas a mim, você abriu mão! Francisco, você quis assim, agora arque com as consequências dos seus atos. Agora se você me der licença, eu tô de saída.

Ela saiu sem dizer mais nenhum A, e sem ter misericórdia de mim. Ok, eu merecia todo aquele tratamento, mas mesmo tendo ciência disso, doía de uma forma inexplicável.

Aquela noite eu chorei sem cerimônia, sem me importar com os comentários das duas, eu só queria mesmo chorar. Me culpava a todo instante por ser um estúpido e idiota. Como pude deixar de acreditar nas palavras de Diana, a mulher que eu tanto amava, pra acreditar nas palavras de Rosa, a pessoa que mais queria o fim desse relacionamento? Só de pensar nisso, tinha mais ódio de mim, e ainda me odiaria pelo resto da vida se Diana nunca mais me perdoasse.

Nunca na minha vida uma noite tinha demorado tanto pra passar quanto aquela, e meu humor não era lá grandes coisas, pra variar, provavelmente eu passaria o dia quieto só pra evitar de dar patadas em que me aperrinhace.

— Eu já te disse Chico, ela não me disse pra onde ela foi.

Minha tia já estava perdendo a paciência comigo, de tanto que eu insistia pra que ela me dissesse aonde Diana tinha ido, mas sem sucesso, ou ela não sabia, ou estava convicta de que não iria me dizer.

— Pra quê sua tia ia mentir Chico?

— Motivos não faltam né mãe. – Respondi com a pouca paciência que tinha, e terminei logo meu café.

Nós três já estávamos preparados pra sair, cada um para o seu afazer. Estávamos os três parados próximos à porta, até que Rosa apareceu do nada, trazendo todas as atenções para si.

— Que caras são essas? Aconteceu alguma coisa? – Sua pergunta veio após perceber que não tínhamos a melhor das feições.

— Estamos preocupados. – Minha tia começou. – Diana saiu de casa e não sabemos pra onde ela foi. – Foi sucinta.

— Ué gente, e por quê?

— Por causa da sua língua gigante!

As três me olharam de olhos arregalados sem entender o porquê do meu comentário. Essa era deixa perfeita pra eu cuspir tudo que estava preso na minha garganta.

— Vem cá garota, você tem noção do que você causou inventando aquela mentira?

— Do que você tá falando Chico? Eu não tô entendendo! – Ela se fez de vítima e começou a chorar, como sempre fazia quando era encurralada.

— Não se faça de besta Rosa, você sabe muito bem do que eu tô falando! – Nesse momento eu já gritava, e mal me importava com quem tava escutando, eu precisava tirar a máscara de boa moça dela. – Foi por sua causa que Diana foi embora – apontei em direção à porta – por causa do sua mentira!

— Ah, então foi você que inventou essa maldita história? – Minha tia indagou um pouco surpresa, mas não tinha a melhor das caras pra Rosa.

— Eu não pensei que você ia acreditar, eu não pensei que essa história ia tão longe.

O choro cínico dela já me dava nos nervos.

— Mentira! – Berrei. – Você sabia disso tudo sim, você estava com dor de cotovelo, e por isso inventou essa história!

— É claro que não, eu nunca faria uma coisa dessas por maldades. – Ela mirou minha mãe. – Madrinha, você precisa acreditar em mim!

— Você não vai apelar pra minha mãe! – Meio que por impulso, segurei seus braços e comecei a sacudir ela. – Você sabe o que causou inventando aquilo? Você acha mesmo que eu teria olhos pra você depois dessa mentira? Você acha mesmo Rosa?

— Chico, para!

Minha mãe e minha tia me separaram dela antes que perdesse a cabeça, mas minha vontade mesmo era de arrancar a cabeça daquela sonsa que só fez infernizar a minha vida.

— Rosa – minha mãe, com toda a calma do mundo, tomou a palavra – eu não quero mais você nessa casa, você não é mais bem vinda aqui.

— Mas madrinha...

— Não tem mais! – Ela aumentou um pouco o tom da voz. – O que você fez foi muito sério mocinha, agora minha sobrinha e meu neto estão em algum lugar que ninguém sabe onde, por causa das suas criancisses, portanto, não quero mais você aqui! Avise sua mãe que se ela quiser falar comigo, pra ela mesma vir, mas você, não passa mais dessa porta pra dentro.

— Madrinha... – Ela chorava muito, e seu não estivesse odiando ela, com certeza ficaria com pena.

— Sem mais, agora pode ir. Ah, eu vou passar lá mais tarde pra falar com ela, pra não correr o risco de você inventar mais uma das suas histórias maldosas.

Ela saiu correndo e chorando e minha mãe deu um longo suspiro. A decisão dela tinha sido bem difícil, pois ela tinha um grande apreço por afilhada, e a única coisa que eu podia fazer naquele momento era oferecer o meu abraço.

— Obrigado mãe. – Disse enquanto aconchegava ela no meu peito. – Sei que foi difícil pra senhora fazer isso.

— Fiz o que era certo meu filho.

Com os olhos cheios de lágrimas ela me olhou, e eu sequei todas elas, porque não tinha condições de ver a minha mãe chorar.

...

Diana.

Acordei com uma dor de cabeça daquelas, tudo por causa de uma noite mal dormida e pensante, e em alguns momentos, rodeada de lágrimas também.

A imagem de Chico chorando, implorando pra que eu ficasse não saiu da minha cabeça um minuto, e por mais que minha razão dissesse o contrário, meu coração suplicava pra que eu voltasse, o perdoasse e esquecesse tudo o que havia acontecido, mas nesse momento eu ainda preferia dar ouvidos a minha razão, estava muito cedo pra eu o perdoar, a ferida que ele causou ainda não estava cicatrizada, e eu não sabia quanto tempo ia demorar pra cicatrizar.

— Bom dia! – Saudei a família que me recebera na noite anterior com um sorriso simples.

— Bom dia Diana! – Wanda me retribuiu. – Como passou a noite? Espero que tenha se sentido em casa.

— Muito bem obrigada! Vocês são muito hospitaleiros!

Me acomodei juntos aos três – Wanda, André, seu esposo, e Sara, sua filha de dez anos – na mesa para tomar o café, mesmo sabendo que pouca coisa ficaria no meu estômago, talvez só quisesse ser agradável com eles.

— Eu prometo que não vou incomodar vocês por muito tempo, é só o tempo de eu encontrar uma casa pra alugar, e eu já deixo vocês livres de mim. – Eu estava bastante descontraída com eles, e por um momento, havia me esquecido um pouco dos meus problemas.

— Fique o tempo que for necessário – André assegurou – você é muito bem vinda aqui, amiga da minha esposa é minha amiga também!

Todos eles foram muito afetuosos comigo, eu estava me sentindo em casa mesmo, mas não ia me dar ao luxo de dar trabalho a pessoas tão boas como a família da minha querida colega de trabalho.

Depois do café super descontraído e cheio de risadas, Wanda e eu fomos pra escola, eu, um pouco antes do meu horário, mas ia ficar mais confortável assim.

A manhã na escola, como sempre, foi bem corrida, as crianças estavam dispostas como nunca, e pra elas não existia a opção “silêncio na biblioteca”.

Diante do alvoroço causado por aquelas pequenas coisinhas, saí um pouco mais tarde pro almoço, mas fui às pressas a uma lanchonete próxima ao colégio, ao encontro da minha mãe.

— Então você não vai contar onde tá ficando? – Ela perguntou cheia de curiosidade.

— Claro que não, pra senhora ir correndo contar pro seu queridinho, tchutchun. – Dei uma bela garfada naquele strogonoff de frango maravilhoso.

— Ai como você é teimosa! Vai ficar nisso pra sempre?

— Não sei – dei de ombros – pode ser que um dia passe, pode ser que não.

Ela maneou a cabeça de um lado pro outro discordando da minha atitude.

— Ah, tenho uma coisa pra te contar. – Ela se animou bastante. – Sabe quem foi que inventou essa história toda pro Chico?

— Ah mãe, esquece isso, não quero saber, já passou mesmo. – Disse num tom conformado, ou meio que isso.

— Mas eu vou dizer assim mesmo. – Revirei os olhos, e é claro, ela continuou. – Bom, quem armou essa história foi nada mais nada menos que Rosa.

— Claro! Como eu não podia ter pensado nela!

Por mais que fosse óbvio, não tinha passado pela minha cabeça em nenhum momento que fosse ela, ou eu ainda não tinha parado pra analisar tudo isso com calma. Ai, como eu fui inocente!

— Teve um bate boca lá em casa de manhã, e sua tia proibiu a entrada dela lá em casa.

— Mentira mãe!

Eu tive que me controlar pra não rir alto, era errado, mas amei ver aquela sem graça se dando mal.

— Pois é, tivemos que segurar o Chico, porque ele tava ficando descontrolado.

— Imagino a cena. Ah, mas essa Rosa vai me pagar, ah se vai. – Tinha um leve ar de vingança na minha voz.

— Diana, você tá grávida, não se esqueça.

— Mãe, eu tô grávida, não doente. – Dei uma piscadela travessa.

...

Logo após o meu almoço voltei pra escola contando os minutos pra saída, pois tinha um acerto de contas com a minha amiguinha.

Sim, eu falhei como amiga, mas nunca desceria tão baixo como ela. O que ela fez não se faz com ninguém, e eu não deixaria isso barato, ah não.

Fechei a biblioteca as pressas e fui correndo pra casa dela, torcendo pra não encontrar meu primo pelo caminho, já que não queria trocar uma palavra com ele. Cheguei à porta, respirei fundo e bati, e logo fui recebida por dona Marta, a mãe de Rosa.

— Oi dona Marta, tudo bem? – Fui bem cordial, eu gostava dela, afinal ela não tinha nada a ver com as tramóias da filha. – A Rosa está?

— Oi Diana, estou aqui.

Rosa apareceu na sala me olhando com sangue nos olhos, sem a mínima cerimônia, eu não esperava menos dela.

— O que você quer comigo?

Certa do porquê de eu estar ali, não fiz muito rodeio, e antes que pudesse pensar em voltar atrás, minha mão foi com toda a pressa de encontro ao rosto de Rosa, mas não parou por aí, um outro tapa foi dado com o dorso da minha mão, seguido do primeiro e logo após um terceiro com a palma da minha mão. Minha alma estava parcialmente lavada.

A princípio ela não entendeu o motivo daquele fuzuê todo. Ela e a mãe me olhavam assustadas sem saber o motivo e a razão daqueles tapas.

— Você pode me explicar o quê significa isso? – Ela gritou com a mão no rosto avermelhado.

Antes mesmo dela se recuperar dos tapas, segurei seu cabelo com força, fazendo-a me olhar. Não dei a ela a mínima chance de se defender de mim,

— Sua hipócrita, farsante! Como pôde Rosa, como!?

— Diana, por favor! – Dona Marta intercedeu, e só então eu a soltei.

— Você ficou louca ou o quê? Será que dá pra explicar isso, sua doente!

— Cala a boca! – Gritei de volta. – Voce não tem direito de dizer um A aqui, sua hipócrita! – Baixei a voz em algumas oitavas. – Como você teve coragem mentir daquele jeito, como você teve coragem de inventar uma história tão fantasiosa?

— E você, como tem coragem de me fazer essa pergunta? Eu confiei em você, o que você fez com essa confiança? Amassou e jogou no lixo sem a menor consideração. Eu sei que o que eu fiz não justifica, mas e você, deita com a consciência tranquila no travesseiro?

Ela chorava um pouco, e eu fiquei com um pouco de remorso, porque de certa forma, ela não estava errada. A mãe dela não nos fazia mais companhia, de certo deveria tá achando que era somente uma briga boba de amigas.

— É, você tem toda razão, eu agi de má fé com você, mas essa nunca foi minha intenção.

— Ah, por favor Diana, porque você não confessa logo que sempre foi apaixonada por ele, fica bem mais bonito. – Ela virou as costas pra mim, mas não demorou muito e me olhou de volta. – Sabe o que mais me irrita? Que no fim das contas eu vou ser a única errada, ninguém vai se perguntar o porquê de eu ter feito tudo isso.

— Eu errei sim Rosa, eu confesso, mas jamais faria isso com você, jamais me prestaria a esse tipo de coisa. Você não tem noção do que eu ouvi, da humilhação que eu passei por causa da sua raivinha?

— Bem feito! – Ela sorriu com uma pitada de maldade. – Pelo menos não saí perdendo em tudo. Eu juro que queria ver a sua cara sofrendo, chorando, mas nada que você passasse iria ser maior do que você – apontou pra mim – me fez passar Diana.

— Eu sinto pena de você. – Confessei. – Eu pensei, antes dessa história toda acontecer, que pudéssemos ser amigas, mas tô vendo que não vai ser possível, mas não porque você não quer, mas porque eu é que não quero do meu lado uma pessoa tão rancorosa.

— Que seja. Bom, agora que você acabou o seu discurso – ela foi até a porta, abriu-a, e estendeu a mão para fora – vá embora, não temos mais nada pra conversar.

Eu realmente não tinha mais o que dizer, acho que tudo o que eu queria dizer já tinha dito, e ali se encerrava a nossa amizade, curta, porém que eu queria que durasse mais, mas nós amávamos o mesmo homem, e nenhuma de nós cederíamos. Esse era o fim mais esperado de nós duas, infelizmente.

— Tudo bem, já vou sim. – Parei na porta para olha-la. – Eu não desejo nada pra você do que você me desejou, pelo contrário, seja feliz Rosa.

Simplesmente virei as costas e saí sem olhar pra trás, cria que tudo o que tínhamos pra dizer uma pra outra havia sido tudo dito, e não tínhamos nada mais pendente.

Cheguei à casa da Wanda exausta fisicamente e mentalmente, eu só queria um banho e cama, mas eles insistiram tanto, que não tive como negar jantar com eles.

Finalmente minha cama, emprestada, ok, mas minha, pelo menos temporariamente. Meus olhos estavam fechados, mas ainda não tinha pegado no sono, estava somente pensando na vida, no quanto ela é inusitada. Eu estava quase dormindo, já em transe, quando meu celular começou a tocar, me despertando, e eu já estava xingando a pessoa que me ligava àquela hora.

Me levantei contra minha vontade, porque a pessoa era insistente, e mesmo depois de eu ignorar duas vezes, ela não parava de ligar. Só poderia ser alguma coisa importante, o único motivo de eu levantar.

— Alô! – Respondi sem nenhum entusiasmo, com um pouco de raiva na verdade, quando vi que era Pedro do outro lado da linha.

— Oi querida, tudo bem com você? – Ele falava como se fôssemos bons amigos, ou algo mais.

— Fala logo o que você quer Pedro, não percebe que não quero falar com você? – A minha falta de paciência era bem evidente. Me deitei com o celular na orelha implorando aos céus que aquela ligação não demorasse muito.

— Nossa Diana, você já foi mais sensível, mas vou direto ao assunto. Tô sabendo que você tá grávida, meu parabéns! – Tinha uma ponta de ironia na sua felicitação.

— Nossa, como as notícias voam, hein! – Fiquei indignada e surpresa.

— Pois sim, e tô sabendo também que você e o pai do seu filho não estão mais juntos, ele te deixou, e eu queria saber se você quer voltar comigo meu amor, eu assumo seu filho.

Continua.


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