Moon's Consort escrita por Labi


Capítulo 3
Dois


Notas iniciais do capítulo

Eu acho que as coisas ainda estão meio confusas então peço desculpa. Estou a tentar ao máximo evitar descrições exageradas ;; E o espaçamento entre parágrafos está estranho porque o editor do Nyah odeia-me.



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O único senão de Basil com o verão é que tinha de abdicar do seu chá quentinho (frio não lhe era tão prazeroso) mas isso não era um problema de primeiro mundo.

A maioria das flores exóticas floresciam naquela altura do ano o que lhe dava um pouco mais do que fazer assim como os legumes e frutas. Não que ele tivesse muitas, afinal, essa era uma tarefa ao qual os velhos agricultores ainda faziam questão de se dedicar, mas alguns vegetais exigiam cuidados mais intensos que ele podia ter ali na estufa protegida das condições climatéricas. 

Faltavam alguns minutos para o sol nascer e o loirinho adorava aquela hora da manhã enquanto Mirfield estava vazia, o céu claro e toda a claridade entrava pela janela enquanto ele se sentava na sua beirada com o chá, ainda com o pijama velho e os seus longos caracóis dourados presos num coque desfeito junto da sua nuca.

Morava no sotão por cima do ervanário e a proximidade com o trabalho permitia que se demorasse um pouco mais e fizesse as suas manhãs serem lentas. Lentidão essa que se opunha às últimas semanas bem movimentadas. O medo dos lobos provocou um aumento excessivo de clientes à procura de papoilas e Basil tinha de explicar, no mínimo três vezes por dia, que era só uma superstição idiota. Mas que de adiantava quando aquela gente era mais teimosa do que um anão? 

Assim que terminou o seu chá e se foi arranjar, desceu para a loja e abriu a porta de entrada, logo vestindo o seu avental verde escuro e colocando um cristal numa caixinha colada à parede junto ao balcão para que pudesse acender as luzes na parte mais escura da loja. Com um encantamento rápido, a água começou a fluir pelos tubos de rega e a salpicar delicadamente as plantas da estufa.
Os vasos que ficavam na entrada tinham de ser regados manualmente mas ele não se importava. Depois dessa tarefa, estava na altura de verificar o estado das suas "crianças" e mudar alguns vasos. Isso sim era a coisa preferida do loiro: mexer na terra.

 Entreteve-se durante horas, sem nem dar pelo tempo passar. Era já meio da manhã quando Basil ouviu o sininho da porta mas não levantou a cabeça daquilo que estava a fazer, aguardando que a pessoa falasse (e talvez ele reconhecesse a voz). Mas tal não aconteceu. Assustou-se ao ouvir uma voz nova que tinha um tom tipicamente entusiasmado.

"Bom dia!"

O loiro olhou pelo ombro e pousou o vaso que estava a trocar, limpando distraidamente as mãos no avental, "Bom dia." 

Encarou bem o rapaz, concluindo que não o reconhecia. Talvez fosse algum viajante. Ele era bem mais alto, moreno tanto de pele como de cabelo e apesar de sorrir parecia nervoso, amassando um papel que trazia na mão, "Ah eu... Eu gostava de saber se...", coçou a nuca, "Na verdade eu... Raios, esqueci-me do que tinha planeado dizer..."

Basil levantou uma sobrancelha, paciente, e o outro pigarreou e entregou-lhe o papel.

Pior que entender a péssima caligrafia era entende-la com o papel amarrotado. 

Semicerrou os olhos até conseguir entender e depois voltou a encarar o rapaz, "Papoila canis?"

"Sim."

"É para afugentar os lobos?", perguntou num tom seco já pronto para voltar a explicar a mesma coisa pela milésima vez.

"N-Não!", o outro respondeu de imediato com o nervosismo, "É para fazer chá..."

Surpreendido, Basil pestanejou levemente. As folhas e pétalas secas de papoilas canis faziam um chá doce delicioso mas eram poucos os que sabiam disso. O ervanário já tinha lido que em algumas zonas do país há quem as cultive nos parapeitos da janela durante a primavera para enfeite mas assim que a planta seca, aproveitam as suas qualidades.

"Em vaso ou folhas secas?"

"Folhas secas. É para fazer chá."

O loirinho passou por ele, dirigindo-se a uma estante que tinha todo o tipo de frascos etiquetados. O outro rapaz ficou a olhar em seu redor, curioso sobre todas aquelas plantas coloridas.

"Frasco grande ou pequeno?"

"Ahm...Dois grandes."

Basil suspirou uma vez, "De momento só tenho um. Mas talvez consiga ter outro preparado para amanhã.", suspirou outra, "Tem havido uma procura grande dessa flor mas talvez consiga usar alguns encantamentos mais logo para acelerar o crescimento das sementes que tenho."

"Ok, parece-me bem. Para já levo esse."

 Retirou o frasco da estante e encaminhou-se para o balcão, registando a compra na velha máquina registadora e embrulhando num saco de papel.

"Só por curiosidade, sabe utilizar as ervas?"

O rapaz abanou com a cabeça, "Não mas a minha avó foi quem pediu e ela deve saber."

"Então não precisa de indicações?"

"Não me parece."

Basil deu um leve aceno com a cabeça e fechou o saco, passando-o ao cliente, "Aqui tem. São três moedas de ouro."

Ele retirou a quantia pedida do bolso e Basil escreveu num papel, "Vais querer deixar encomenda?", assim que o outro assentiu, questionou, "Em que nome fica?"

O rapaz pestanejou e sorriu abertamente, "Lukas!"

Basil apontou e guardou o papel na gaveta, "Pronto. Amanhã ao final da tarde já deve estar pronto o outro frasco."

"Obrigado. Só mais uma pergunta...", caminhou até junto dos vasos onde estava uma flor particularmente grande, "O que é isto?"

"É uma Orquidea Cromada. Não tem particularidades mágicas. É só enfeite."

Lukas ficou a olhar para flor por uns momentos mas depois encarou o ervanário, "Obrigado, hum..."

"Basil."

O moreno voltou a sorrir, "Obrigado, Basil!"

Acenou em despedida e saiu dali em passos apressados, deixando o ervanário a olhar estupidamente para a porta apenas voltando a si quando um gato preto passou a correr na rua.

 

  

Voltar a "casa" era sempre o caos para Lukas durante o período em que todos estavam ocupados em montar as cabanas. Os seus  primos mais velhos tratavam de cortar madeira e os tios juntavam as peças para as construir. Os mais novos? Corriam de um lado para o outro a brincar com uma bola. Todos falavam alto, riam, discutiam, cantavam.

As mulheres estavam a descarregar os seus pertences das carroças e a sua avó bordava calmamente, sentada na erva apesar de já ter a sua cadeira de baloiço pronta. 

Era a ela que Lukas se dirigia quando uma das suas primas se aproximou com as mãos na cintura, "Demoraste."

"Não sabia o caminho."

Ela rolou os olhos, "Sabias o caminho de volta! Tu leste o jornal, não leste? Tem havido roubos lá em baixo e já sabes que acabamos sempre culpados de tudo!"

Lukas suspirou profundamente. Scarlett conseguia ser a criatura mais insuportável do planeta. Mas para sua sorte, Shay chegou nesse momento. Ele quase que parecia assustador naquela sua forma canina, com os olhos amarelos a brilhar e o seu tamanho absurdo. O seu focinho alongado e as patas enormes faziam de Shay um dos melhores caçadores do clã.

O moreno sorriu ao ver o irmão e fez-lhe carinho entre as orelhas, despenteado o pêlo macio e fofo, tão cinzento quanto o seu. Shay ladrou e abanou a cauda antes de esfregar o focinho na barriga de Lukas e se transformar em humano.

"Eu pensei que o pai tinha avisado para evitarmos andar na forma de lobo nas redondezas enquanto não tiver tudo esclarecido."

O mais velho deu uma gargalhada e ajeitou a sua roupa, que sempre enroscava quando voltava à forma humana, "Eu não pude evitar. Fui procurar riachos na floresta. É mais fácil correr com quatro patas do que com duas."

Como abusado que era, aproveitou a diferença gritante de alturas e retribuiu o carinho de antes, despenteando os cabelos de Lukas.

"Não te preocupes, maninho. Está tudo controlado."

O mais novo resmungou, tentando afastar-se dele e Scarlett suspirou, "Fizeste o que a Vó te pediu?" 

Ele limitou-se a pestanejar e Scarlett esfregou a testa, "Os baús..."

Shay deu um guincho e bateu com a palma da mão na testa, "Eu esqueci! Obrigada, Scar!"

"Não me chames isso!", resmungou mas ele já ia a correr para longe enquanto dava os bons dias a toda a gente por quem passava.

Ela voltou a encarar o outro primo, "E tu estás à espera de quê? A Vó reclamou já umas quinhentas vezes que queria chá."

Lukas bufou, "Eu já tinha levado se não me viesses chatear."

 Aquilo foi o suficiente para começar uma discussão idiota. Mas isso era tão habitual que os adultos já ignoravam aqueles dois. Tinham a mesma idade, foram educados e cresceram juntos mas as suas personalidades, que não podiam ser mais opostas, chocavam demais.

Scarlett tinha o temperamento curto e uma opinião a dar sobre tudo. Não havia dúvidas que um dia seria a alfa daquela (ou de outra) família.

Já Lukas era mais extrovertido e humilde, procurando ajudar toda a gente sempre que podia. Apesar do seu pai ser o actual alfa e de Shay estar em preparação para ser o próximo, Lukas tinha a certeza que a última coisa que ele queria para si era um cargo tão importante.

Só se calaram quando a voz da velha Ingrid se fez ouvir, "Meninos, meninos... Parem com isso."

Scarlett amuou, "Desta vez escapas! Vai lá levar-lhe o chá que eu vou fazer alguma coisa de útil."

Lukas mostrou-lhe a língua, "Finalmente~!"

Ela deu-lhe uma palmada no braço que ele ignorou, rindo, e caminhou até à avó, "Aqui está o pedido que sua excelência pediu. O senhor da loja disse que amanhã tinha mais um frasco pronto. Pelos vistos as papoilas venderam-se rápido..."

 Ingrid pousou o pano que bordava no colo e sorriu, precisando de semicerrar os olhos para tentar ver melhor, "Já esperava isso. Não tem mal. Consigo fazer uma infusão para todos beberem no fim do jantar. Obrigado Gale."

"Não sou o Gale."

"Drake?"

"Vó!", fez biquinho e a mais velha voltou a rir.

"Ai, desculpa, desculpa. Vocês são tantos que eu troco o nome de todos." ,piscou-lhe o olho, "Obrigada, Lukas."

O rapaz sorriu e vergou-se para lhe beijar a testa, "De nada, Vó. Volto amanhã para ir buscar o que falta."

Ingrid assentiu com a cabeça e tornou a pegar no bordado, "Tudo bem. Podes ir buscar os teus priminhos? Ainda ninguém lhes conseguiu dar o pequeno-almoço."

Lukas fez uma continência e virou costas, facilmente identificando as duas crianças que brincavam na sua forma de lobo.

A sua família era o caos. Um aglomerado de barulhentos, às vezes um pouco implicativos mas unidos e fortes. 

Lukas não trocava aquele caos por nada do mundo.


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