Perto de Ti escrita por Stormy McKnight


Capítulo 2
Jane


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem?

Segundo capítulo de Perto de Ti.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/736768/chapter/2

 

No dia seguinte, eu acordei pensando na Jane. Eu precisava muito fazer uma pintura para ela.

Me levantei da cama e fui logo pintar. Acabei até me esquecendo do meu café.

Então eu dei mais uma refletida sobre a tela. Nada. Acho que eu não estava me sentindo inspirada ainda para começar a pintar o quadro de Jane.

Tentei voltar para os girassóis, e fui pintar mais um pouco, mas depois vi que não estava do meu gosto. O vento até me ajudou atirando o meu pincel no chão.

"Droga!", praguejei.

Catei o pincel do chão, que ainda estava com um pouco de tinta e acabou manchando um pouco o chão, e tentei voltar a pintar.

Nada outra vez. Eu já estava ficando com vontade de quebrar o pincel, a tela, e esquecer a pintura. Mas, acabei largando a pintura ali, e fui preparar um café para mim.

Assim que o café ficou pronto, eu comecei a beber.

Continuei pensando na Jane.

Enquanto bebia o meu café, rezei para a campainha tocar mais uma vez.

Após mais um gole de café, afastei a xícara da minha boca, e fechei os olhos.

"Por favor, campainha, toque para mim. E traga a Jane até mim.", entoei aquele mantra.

Campainha tocando em 5...4...3..2..

A campainha tocou. Deve ser a Jane. De repente fiquei muito animada e curiosa também.

Fui até a sala, peguei a roupa no chão e vesti. A campainha continuava tocando.

"Já vai!"

Nessa hora eu estava quase pronta. Apenas dei uma arrumada no meu cabelo, jogando o para trás e penteando com as mãos.

A campainha insistia em ser atendida.

Pronto! Eu então fui atender a porta. Abri e para a minha surpresa...

Era um cara  querendo me vender a assinatura de uma revista —Quem assina revista hoje em dia, quando se tem Internet?— . O mesmo tentou me convencer de todas as formas a assinar a revista, mesmo eu dizendo não.

Encerrei a conversa dizendo:

"Olha, no momento eu não estou mesmo interessada. Mas, obrigada."

"E não volte mais aqui, se não eu chamo a polícia!", eu blefei.

"Tudo bem, desculpa incomodá-la. Até mais!"

O Cara então se retirou e eu fechei a porta.

Logo a campainha tocou novamente. Eu já estava bastante irritada e já achando que o cara tinha voltado para tentar mais uma vez.

Abri a porta, e...

Era Jane com uma caneca vazia nas mãos.

"Oi, vizinha!", disse aquela beleza exótica que eu tenho como vizinha.

"Oi, Jane! Tudo bem?", eu a cumprimentei.

"Eu estou bem. Obrigada por perguntar.", ela replicou abrindo um sorriso.

"Desculpa, acho que eu não perguntei o seu nome.", A mesma continuou.

"É Karen, Karen Morgan.", respondi.

"Muito prazer, Karen.", ela devolveu.

"O prazer é meu, ter uma vizinha como você.", elogiei.

"Garota! Você está me cantando?"

"Desculpa, eu não sei me expressar direito...", me desculpei. Me senti muito sem graça naquela hora.

"Está tudo bem? Você parece ser muito fofa", Jane comentou.

"Obrigada, tia", brinquei.

Então nós duas nos olhamos fixamente e depois começamos a gargalhar de nós mesmas.

"Eu já disse para me chamar só de Jane. Pare de me chamar de tia. Eu não tenho uma sobrinha como você...quem dera eu tivesse, mas...a vida é assim.", Jane me lembrou.

"Tudo bem, Jane. Eu só estava brincando.", falei para ela.

"Sem problemas..."

"Então, Jane, do que você precisa?", eu quis saber.

"Bom, é que eu estava pensando em fazer um bolo, mas...acabou o açúcar, então...você teria uma xícara de açúcar para me emprestar?", Jane disse para mim.

"Claro. Tem um pacote no armário da minha cozinha. Você pode ir lá pegar. Faz um tempo que eu não faço nenhuma receita, então...", comentei.

"Certo. Posso entrar?", Jane inquiriu.

"Claro.", consenti.

"Licença", Jane foi entrando.

Assim que Jane entrou na minha casa, fechei a porta atrás dela.

Eu guiei a mesma até minha cozinha.

"Então, essa é a minha cozinha.", eu apresentei.

"A minha geladeira é logo ali. Ainda tem café quente na jarra. Eu acabei de fazer.", falei para ela.

"Obrigada. Na verdade, acho que vou pegar um pouco do seu café. Acabei de ter uma ideia aqui, acho que vou fazer um bolo de café", Jane comentou.

"Bem, fique à vontade."

"Obrigada", Jane agradeceu.

"O armário fica do lado da geladeira", indiquei para ela.

"Obrigada."

Então Jane foi até o armário e pegou o pacote de açúcar. Em seguida, ela deixou o mesmo na bancada onde estava a cafeteira para não esquecer, e encheu a caneca com um pouco do café que estava na jarra de vidro.

Assim que terminou de encher a caneca, ela colocou a jarra no lugar, e pegou o pacote de açúcar e a caneca com café.

"Espera! Você não gostaria de ficar um pouco para nós conversarmos? Eu estou sem nada para fazer, e já que você está aqui...", sugeri.

"Acho que pode ser...eu moro sozinha na casa ao lado e passo os dias sozinha...", Jane comentou.

"Ótimo! Pode deixar as coisas ai, depois você leva.", avisei para a mesma não se preocupar depois.

"Tudo bem", ela depositou a caneca e o pacote de açúcar na bancada.

"Vem, vamos conversar lá no sofá.", eu a chamei.

"Tudo bem.", Jane consentiu.

Então lá fomos nós para o sofá.

"Você tem uma bela casa para alguém da sua idade. Como você consegue se sustentar?"

"Eu pinto quadros, e também dou Workshops de pintura".

"Que interessante.", Jane ficou empolgada.

"Bem, na verdade, eu me mudei para essa casa quando tava namorando com um cara. Eu disse para ele que eu queria um apartamento para nós morarmos juntos, mas ele queria uma casa, pois se nós nos casássemos um dia, já teríamos um lugar para morar.

Então, nós chegamos a tentar dividir as contas no começo, mas quando eu terminei com ele, o dinheiro acabou, e eu não tinha como continuar pagando. Meus pais nunca gostaram desse meu ex, mas quando eu falei com eles sobre a minha situação, eles concordaram em me enviar periodicamente algum dinheiro para eu poder me sustentar na casa.  E assim eu consegui ficar nessa casa.

"Entendi. Mas, você é tão jovem, e já trabalha com arte? Eu estou impressionada.", Jane comentou.

"Pois é. Você gostaria de ver um pouco do meu trabalho?"

"Eu adoraria. Sabe, eu sou curadora de uma galeria de arte, e ando procurando novos talentos...", Jane me contou.

Nós nos levantamos do sofá, e eu mostrei a Jane a área onde eu pintava os meus quadros.

"Aqui é onde eu pinto os meus quadros. Eu costumo pintar pelada mesmo, pois isso me inspira. Então, quando eu te vi, eu estava desse jeito por causa disso.", falei para ela.

"É, eu fiquei um pouco deslocada com isso. Eu até podia te denunciar por atentado ao pudor.", Jane balbuciou.

Então eu mostrei para ela a pintura dos girassóis.

A mesma pegou a tela na mão e a admirou.

"Nossa! Você pinta muito bem!" , Jane exclamou de alegria.

"Obrigada. Mas, essa tela ainda não está terminada ainda...eu acabei ficando com bloqueio criativo depois que nós nos falamos...", contei para ela.

"Eu sei como é isso. Uma vez um artista da minha galeria ia expor um quadro dele numa exposição, mas acabou que no dia ele me ligou dizendo que estava com bloqueio criativo, e que não ia poder vir expor a tela. E ai eu tentei abafar o caso porque eu não queria que o caso viesse a público. Então eu dei um jeito de encaixar outro artista no lugar. E inventei alguma desculpa para convencer os convidados de que o artista que iria expor naquela exposição, não poderia comparecer ao evento.", Jane me contou.

"Nossa! Que história!", fiquei pasma com aquela história.

"Foi de fato um aperto esse dia"

Então, Jane viu a tela em branco e ficou curiosa.

"E essa tela em branco?", ela inquiriu enquanto me devolvia a tela dos girassóis.

"Bem, eu ainda estou tentando pensar no que eu vou pintar", eu tentei convencê-la.

Eu me senti deslocada, pois eu estava com medo de contar para Jane que eu queria pintar ela naquela tela.

Congelei por um tempo.

"Karen, você está bem?", Jane quis saber.

Voltei a mim.

"Sim, eu estou. Não é nada.", respondi.

"Mas, olhando pela sua expressão, parece que você tem algo a dizer...conte para mim.", Jane ficou curiosa.

"Você não iria acreditar", justifiquei.

"Experimente!", a mesma me encorajou.

"Bem, é que...a razão para eu ter ficado com esse bloqueio criativo é...você", revelei.

"Eu? Mas...eu moro ao lado de ti, você não precisa se fechar tanto dentro da sua casa, se você quiser me visitar, você pode. Aliás, eu adoraria te conhecer melhor. Eu acho que nós nunca tivemos esse contato antes...", Jane comentou.

Acabamos não vendo a hora passar. Já devia ser umas seis da tarde.

"Nossa! Olha a hora! Deve ser umas seis da tarde", Jane exclamou.

"Jane, desculpa eu perguntar...eu sei que parece chato eu falar isso, mas...posso jantar na sua casa hoje?", quis saber.

"Claro que sim. Venha, eu vou preparar alguma coisa, e ai depois você me ajuda com a sobremesa.", Jane retrucou.

"Tem certeza de que eu não estou te alugando?", falei meio sem graça.

"Não, imagina. Eu sei que nós ainda não sabemos muito sobre nós, mas...eu ficaria lisonjeada se você viesse.", Jane falou sendo muito cortês.

"Obrigada", eu a agradeci pela oportunidade.

Então, eu peguei as chaves de casa no porta - chaves atrás da porta e fui abrir a porta de casa.

Jane foi na cozinha e pegou os ingredientes. Em seguida saímos, eu tranquei a porta de casa, e guardei as chaves no bolso da calça que eu estava usando.

Acompanhei Jane até a casa dela. A mesma havia esquecido a porta aberta com a chave nela, e então entramos e ela fechou a porta.

Jane tinha uma casa maior que a minha, era estilo vila espanhola.

Havia um relógio do vovô numa parede da sala, uma mesa de jantar, uma escada de degraus largos e bastante longa, uma cozinha...

"Bem, Karen, essa é a minha casa. Seja muito bem vinda.", Jane me recebeu.

"Muito obrigada, Jane.", agradeci a gentileza dela.

"As ordens. Então...eu acho que vou preparar algo na cozinha para nós, então...por quê você não toma um banho?", Jane disse solícita.

"Mesmo? Eu não quero ser abusiva."

"Sem problemas, Karen. Vá lá, ponha uma roupa limpa...tem umas roupas minhas de quando eu e o meu marido começamos a morar juntos nessa casa. Experimente."

"Tem certeza?"

"Claro. Vá lá!"

"Tudo bem, Jane."

Me despedi de Jane e subi as escadas até o andar de cima. Comecei a procurar pelo banheiro.

Depois de ficar um tempo andando para lá e para cá acabei encontrando a porta aberta do quarto de Jane. Entrei e fechei a porta em seguida.

Olhei ao redor. O quarto dela era todo bagunçado, parecia denotar que a dona havia passado os piores dias ali, possivelmente chorando litros pela morte do marido. Acho que Jane não arrumava a cama nunca.

A enorme cama de Jane era bem antiquada, com aquelas cabeceiras douradas que lembravam as camas da nobreza na idade média. O quarto era todo decorado com um papel de parede rosa choque com bolinhas pretas, mas estava bastante desbotado e as pontas do papel estavam ou enroladas com o lado colante virado para cima ou então rasgadas.

Havia vários lenços de papel espalhados pela cama, e as roupas íntimas de Jane estavam jogadas pelo quarto, junto com o lençol e o edredom.

Aquele cenário era medonho.

Mas, voltei a procurar o banheiro, e o achei. O mesmo ficava próximo da cama. A porta estava aberta. Eu acendi a luz e entrei.

Havia esse Box, no estilo de um Box de motel. O banheiro ao contrário do quarto, pelo menos era limpinho.

Tirei as roupas que eu tava e entrei no Box, fechando a porta em seguida.

Abri o registro do chuveiro e deixei a água cair sobre meu corpo.

Logo, o vapor da água quente do chuveiro começara a se espalhar pelo Box e transformar aquilo numa sauna.

Deixei a água me molhar toda.

Depois peguei emprestado um xampu de Jane, passei no cabelo e ensaboei antes de tirá-lo.

Em seguida, peguei o sabonete que estava no suporte no canto do banheiro, e comecei a ensaboar todo o meu corpo, limpando até a minha intimidade.

[...]

Depois do banho, me senti mais relaxada. Peguei uma toalha que estava no suporte da parede perto do Box, e comecei a me enxugar.

Quando já estava bem seca, enrolei a toalha no corpo, e voltei para o quarto de Jane.

Fui até o armário de roupas e cacei algumas roupas para vestir e fui jogando na cama da dona.

Depois eu tirei a toalha do corpo e a levei até o banheiro. Devolvi a mesma estendida no suporte da parede.

Voltei de novo para o quarto e comecei a vestir as roupas.

Vesti a roupa íntima primeiro, mas a mesma ficava um pouco larga no meu corpo, apesar do sutiã fechar bem no meu busto, e a calcinha ficar não muito justa.

Vesti uma camiseta branca, uma saia jeans bem curta com um cinto de couro marrom, e depois fui procurar um sapato da Jane para pegar emprestado.

Jane parecia ter uma coleção de sapatos, a maioria de salto alto. Vesti um par, mas notei que ficou um pouco largo no calcanhar, mas...achei que por hora dava para o gasto.

Sai do quarto de visual novo, desci a escada e fui para a mesa de jantar.

Jane havia preparado um verdadeiro banquete. Havia uma salada fresquinha na mesa, um salmão grelhado com arroz e batatas...coisa bem simples.

Os pratos e os talheres estavam dispostos na mesa.

Ela me esperava já sentada no seu lugar na mesa, como uma mãe que espera a filha se sentar para então jantar.

Havia uma cadeira vaga na ponta da mesa com um prato vazio e talher. Achei um pouco estranho.

"Por quê esta cadeira está vaga?", perguntei, embora eu achasse que não devia ter feito.

"Meu marido sempre sentou na ponta da mesa. Ele dizia que parecia um Rei, e eu era a Rainha. Então...eu gosto sempre de deixar esse lugar vago em homenagem à ele.", Jane explanou.

"Tudo bem, eu entendo.", respondi.

"Você pode se sentar em qualquer lugar da mesa, só não na ponta",  a mesma me avisou.

"Tudo bem.", sentei-me de frente para Jane.

Então começamos a nos servir.

"Como estava o banho?", Jane quis saber.

"Muito relaxante.", comentei. "Senti que os poros da minha pele se abriram na água quente."

"Que bom", a mesma comentou.

"Jane, você é uma mulher muito bonita, mas...parece infeliz (observei).  Eu adoraria te fazer feliz com minha arte...por isso eu deixei aquela tela em branco. Eu estava querendo te pintar.", dei o meu parecer sobre a mesma.

"Como em O Retrato de Dorian Gray?", Jane me interrogou.

"Sim.", repliquei.

"Eu...eu adoraria.", Jane rebateu.

"Bem, está tarde para eu voltar para a minha casa, então...eu vou dormir com você esta noite. Quero te fazer companhia.", falei para ela.

"Obrigada por se preocupar comigo, Karen. Eu a vejo como uma filha que eu não tive. Eu adoraria vir  como sua mãe, caso tivesse tido essa oportunidade". Jane devolveu.

"Eu me sinto tão sozinha aqui...se eu tivesse te conhecido quando você se mudou para essa vizinhança, acho que nós talvez pudéssemos ter nos enturmado melhor...", a mesma continuou, porém, um pouco abalada.

"Jane, não fica triste.  Nós somos amigas, não?"

"Sim...eu acho que sim."

Então Jane começou a chorar e suas lágrimas caíram sobre a carne do peixe, molhando-a.

Me levantei da cadeira e fui até ela.

"Jane, não chora.  Eu estou aqui com você. Olha para mim?", eu a pedi.

A mesma então voltou seu olhar para mim. Ela estava com uma cara chorosa.

"Eu gostei de você. Você foi muito gentil me convidando para a sua casa.", eu declarei.

"Obrigada, Karen. Mas...eu sinto que eu não sou boa para você.", Jane ficou insegura sobre seus sentimentos.

"Jane...não fale isso. Eu adoraria passar o tempo com você."

"Você mudou meu coração...eu até me senti mal por não conseguir pintar as telas que eu te mostrei...".

"Por quê? Por quê você se preocupa comigo?", Jane quis saber.

"Porque...bem, eu te admiro muito. Você é uma pessoa maravilhosa. Acredito que você deveria se desapegar do passado e concentrar suas energias no futuro...você não está sozinho, e o passado não deve ser sua âncora.", eu disse aquelas palavras, mesmo não tendo noção do que eu estava falando.

Jane refletiu um pouco naquilo, e então me agradeceu.

"Obrigada, Karen".

"De nada. Eu nem sei o que eu acabo de dizer.", balbuciei.

Depois do jantar, nós duas fomos dormir juntas na cama dela, peladas.

Não imaginava que Jane também dormia pelada na cama. Nós dormimos de conchinha.

E assim foi o meu dia com Jane. Logo despertarei, assim como  o sol que anuncia um novo dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"Eu adoraria vir como sua mãe, caso tivesse tido essa oportunidade", aqui tem uma mensagem escondida nas entrelinhas, pois originalmente tinha um contexto religioso, e eu resolvi editar.

Espero que tenham gostado.

Até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perto de Ti" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.