POV Rosalie

Fechei meus olhos e respirei fundo no vazio que se fazia minha cabine, ou quase assim. Estava acompanhada por duas empregadas que continuavam imóveis em um dos cantos esperando que eu lhe desse um sinal para fazerem alguma tarefa. Minha vida era aquilo, ser acompanhada por duas empregadas por onde andava que não me deixavam fazer nada. Nada.

Sentia o cheiro da tinta fresca e apreciei ao sentar na cama, se é que aquilo é uma cama, com lençóis nunca usados. Esse era o Navio dos Sonhos, assim intitulado pela mamãe, mas se fosse reparar ele era mesmo, o mais luxuoso que já entrei. Nunca imaginaria tanto luxo dentro desse navio que por fora não me parecia diferente do que o RMS Mauretania. Então era esse é o tal navio que não afunda, era o navio que nem Deus poderia afundar. Não que ache sábio brincar com as palavras do divino.

- Qual é o numero dessa cabine?_ perguntei a uma das simpáticas empregadas.

- B52_ uma me respondeu.

- Meu irmão está na...?_ deixei minha frase no ar para que alguma completasse.

- B54, e seus pais na B56._ a mais nova respondeu.

- Obrigada_ falei abrindo um sorriso para elas._ Que tal descansarem até a hora do jantar?_ perguntei.

- Deixar a senhora sozinha?_ a mais ajuizada perguntou.

- Não irei precisar de seus serviços, ache alguém com que possam conversar e passar o tempo_ sugeri abrindo a porta da cabine para elas.

- Tem certeza senhora?_ a nova me perguntou.

- Mais certeza nunca tive_ afirmei_ e me chame de senhorita, ou apenas Rose._ falei com um sorriso simpático para ambas._ Não sou casada_ suspirei com essa minha afirmação, afinal o navio me levaria ao matrimonio.

- Obrigada senhorita_ elas falaram juntas e deixaram a cabine.

Caminhei lentamente até minha “cama” e me joguei com lágrimas nos olhos e pedindo a Deus que encontre o homem de minha vida, nessa ultima viagem que farei como uma mulher solteira. Chorei por algumas horas, ou minutos, na verdade perdi a noção que tinha do tempo, mas me forcei a levantar e caminhar até a penteadeira.

Com cuidado comecei a tirar cada grampo que prendiam o imenso chapéu em minha cabeça, não queria estragar meu cabelo. Tirei minhas luvas, mas mantive o tailleur, não conseguiria tirá-lo sozinha.

Não o encarava agora como o navio dos sonhos. Talvez ele ainda fosse para todos os outros, mas pra mim ele era um navio de escravos, que me levava, acorrentada, à América.

- Com licença_ uma voz falou abrindo a porta_ esse é um convés particular, precisa de alguma coisa?_ um dos funcionários de papai me perguntou.

- Sim_ falei calma_ de cor._ disse e o tripulante que sorriu.

- Desculpe Madame_ falou docemente.

- Não preciso de nada_ falei me levantando e caminhando até ele._ Você é um bom homem_ disse, e não sei o motivo de ter falado aquilo.

- Obrigado_ ele falou se retirando da cabine.

POV Alice

O embarque foi calmo, entramos na fila de inspeção de saúde e passamos com nossas malas, embora muitas para nossa classe, tranquilamente.

Olhei para o Emmett com a face mais doce que consegui fazer. Ele era meu irmão... Custava levar minhas coisas para a cabine? Sorri amarelo quando eu o vi se render ao meu enquanto e carregar tudo para a cabine. Ele sabia que iria querer me despedir, não das pessoas, mas da Inglaterra, pois afinal foi ali que vivemos nossa vida inteira.

- Despeça da formosa Inglaterra enquanto levo suas coisas pra G60_ ele disse pegando tudo, menos minha pasta de desenhos, eu nunca a deixava longe de mim_ Vamos para a América!_ ele afirmou animado.

Caminhei até a proa, aonde todos acenavam e diziam simples “Adeus” ou até um mais completo “Eu amo você, Adeus”, as despedidas variavam de pessoas pra pessoa, mesmo achando um Adeus longe de mais, afinal ninguém ia morrer ali e depois poderiam voltar e reencontrar essas pessoas.

- Tchau Inglaterra_ eu murmurei apenas para mim.

Olhei para o lado do convés particular das cabines de primeira classe na esperança de poder ver os gêmeos Hale parados, comemorando a inaugurarão do navio deles, e se despedindo da Inglaterra. Olhei mais a fundo e localizei o menino Hale, a mesma expressão triste, mas controlada frente a todos. A menina Hale não estava lá, parada com eles. Sorri sem graça e me virei para caminhar até a minha cabine.

Senti um corpo leve, porém maior, se esbarrar em mim. Como por impulso eu me virei para pedir desculpa, mas não acreditei quando eu vi.

- Me desculpa, me desculpa, me desculpa_ ela repetia ao ver minha cara assustada.

Eu não estava acreditando que esbarrei na Rosalie Hale, uma menina que não deveria estar no convés da terceira classe. E ainda por cima estava com o seu cabelo solto e sem luvas, onde já se viu uma mulher da primeira classe, principalmente quando se trata de Rosalie Hale que é a herdeira de metade da herança do homem mais rico de toda Europa, andar por aí sem luvas e sem chapéu? O chapéu é de uso obrigatório, sempre com seus penduricalhos que são correspondentes a riqueza.

- Esta tudo bem_ falei quando minha voz finalmente voltou_ Rose você não devia estar aqui._ eu disse sem saber o que falava.

- Rose?_ ela me perguntou.

- Me desculpe senhora Hale_ ela fez uma careta quando disse senhora Hale, mas ignorei_ é que não estou acostumada a estar na presença de moça de tão alta sociedade_ expliquei.

- Eu gosto de Rose_ ela disse com um sorriso simpático_ é porque ninguém nunca me chama de Rose, tirando meu irmão gêmeo._ ela tentou se explicar.

Ela olhou para o convés particular de sua família e seu olhar deve ter se encontrado com seu irmão, pois ambos sorriram.

- Estou fugindo de meu noivo_ ela disse triste_ eu não quero me casar_ murmurou para si mesma e eu tive a impressão que não era para mim ter escutado isso.

POV Jasper

Rosalie nunca parava? Agora ela estava na terceira classe conversando com uma mulher que parecia uma fada. Sorri pra ela quando nossos olhares se encontraram.

- E então filho, deve estar animado com o casamento, não?_ papai me perguntou e eu olhei ao redor.

Olhei o noivo de Rose e sua família composta pela mãe e o pai, olhei minha mãe e meu pai, mais distante minha irmã, na terceira classe, e meus olhos pararam nas trigêmeas Denali. Sorri superficialmente para todos (menos para minha irmã), eu não estava nem um pouco animado com o casamento.

- Podem dar-me licença?_ perguntei dando alguns passos à frente.

Eles concordaram e minhas duas empregadas resolveram que viriam.

- Fiquem_ ordenei deixando todos para trás conversando.

- O maior objeto móvel já feito pelo homem..._ o pai do King cortejava.

Até parece que papai já não se sentia nas nuvens a cada minuto de seu dia por ter financiado tal “objeto”. O pior é que todo o gasto que ele teve para construí-lo já foi recompensado pelo preço das passagens. Caminhei lentamente pelas instalações de primeira e segunda classe, até chegar às instalações da terceira o trajeto foi calmo e desanimado. As instalações da terceira, sim, ela era animada, cheia de vida. Sorri quando duas crianças passaram correndo por mim quando subi no convés da mesma. Eles festejavam.

- Rose!_ gritei chamando a atenção de minha irmã e de sua nova amiga, se é que é nova amiga.

- Jazz_ ela disse me dando um abraço apertado.

- Rose você não muda, deveria estar lá em cima aturando o Royce_ avisei.

- Royce... Ele me faz passar mal só de olhar pra ele_ ela riu_ e afinal eu preferia mil vezes curtir essa animação de terceira classe.

- Curtir?_ perguntei abismado pela palavra usada.

- Sim, significa se divertir, viver_ ela disse como se me explicasse a palavra_ a Allie que me ensinou, ela disse que ninguém usa esse termo, mas um dia ela sonhou com isso e acabou se acostumando com o termo_ eu ri para ela._ Alice é essa menina aqui_ ela disse passando o braço ao redor de uma minúscula figura e perfeitamente linda.

- Prazer Alice,_ falei pegando sua mão e me debruçando para depositar um beijo _ Jasper_ me apresentei antes de encostar meus lábios nas costas suave de sua mão.

Ela era delicada, doce, extraordinária, perfeita, linda, maravilhosa, ela era perfeita (mais já falei que ela era perfeita uma vez, mais o que custa ressaltar que é perfeita?). Rose parecia realmente ter gostado da minúscula criatura. Nós riamos.

- Rosalie e Jasper._ escutei a voz irritante de Royce próxima de nós.

- Não deveriam estar aqui_ minha odiada noiva falou.

- Estávamos preocupados, querida_ Royce disse indo abraçar Rose, que se afastou dele e não permitiu o abraço._ Cadê seu chapéu?_ ele perguntou.

- Poupe-me Royce, agora vai querer falar como devo me vestir?_ Rose perguntou atordoada com a idéia.

- Se és assim que queres_ ele falou sínico, mas no fundo eu sabia que era isso que ele iria fazer, ele gostava de mandar_ Gostaria que prendesse o cabelo, colocasse um chapéu e uma luva._ ele deu alguns passos para segurar o braço dela apertado, eu dei alguns passos para defende-la, mas ela o fez sozinha.

- Preferiria que nuca se encostasse a mim_ ela disse e deu um passo pra frente arqueando o braço para que ele não encostasse._ de modo algum e de forma alguma._ ela sorriu falsamente._ Obrigada Allie por algum tempo maravilhoso, mas o meu noivo e a noiva do meu irmão acabaram de estragar nossa felicidade, se me dá licença..._ ela pediu se retirando do ambiente festivo da terceira classe.

- Desculpe mais uma vez_ falei seguindo minha irmã e deixando a pequena fada perfeita atrás de mim.

- Belo vestido pra uma menina da terceira classe... Roubou de onde?_ escutei a voz irritante de minha noiva zombar dela.

Voltei como um jato e a puxei pelo braço. Ela não tinha direito algum de falar com uma pessoa tão bondosa e perfeita assim.

- Olha quem fala primeiro_ resmunguei para minha noiva idiota_ Andem, não vou deixá-los aqui para zombar dos bons homens da terceira classe_ falei a jogando um pouco longe e soltando seu braço.

Os dois caminharam com um ar de perda enquanto eu me desculpava com a pequena e perfeita fada de nome Alice.

POV Emmett

Allie havia conseguido me enrolar novamente. Com sua carinha angelical ela vez com que eu levasse sua nada pequena mala até nossa cabine. Mas, sabia também,que ela iria querer se despedir da Inglaterra, vivemos nossa vida inteira ali, e depois, eu ainda pretendia voltar quando conseguisse algum dinheiro. A cabine estava habitada por duas pessoas, um homem e uma mulher, eles me pareciam ser legais.

- Oi,_ falei me aproximando deles._ Tudo bem?_ perguntei

- Tudo, e com você?_ o homem me perguntou com um sorriso sincero nos lábios.

- Tudo_ falei sorrindo do mesmo jeito._ e como são seus nomes?

- O meu é Angela_ falou a mulher_ e esse é meu marido Eric_ ela falou apontando para o homem.

- Prazer_ disse_ meu nome é Emmett.

- O prazer é nosso Emmett_ disse o homem estendendo a mão para que eu a pegasse, a peguei e apertei_ Se nos dá licença, iremos ver um pouco do Canal da Mancha_ ele disse saindo do quarto.

Joguei nossas coisas de um lado e me deitei numa das quatro “camas” que tinha ali. Esperava que minha irmã entrasse, mas acabei adormecendo.

Quando acordei Allie olhava com olhar analítico a cada peça de seu vestuário e a cada desenho espalhado sobre sua cama.

- Acha que minhas roupas são da alta sociedade?_ ela me perguntou.

- Você desenha para a alta sociedade, então sim._ respondi.

- Não Emmett, as roupas que eu visto..._ ela me explicou.

Olhei para ela, olhei para o seu traje. Se a visse na rua e não a conhecesse falaria que era mais uma riquinha insuportável como todos os outros. Olhei para o vestido que ela segurava nãos mãos, mais uma vez o traje típico dos ricos. Sim, ela se vestia como uma mulher da alta sociedade.

- Sim_ respondi sorrindo para ela, afinal acho que toda mulher queria ouvir isso.

- Mais que droga_ ela disse jogando o traje em sua mão longe.

- O que aconteceu maninha?_ perguntei.

- Irina Denali perguntou de onde roubei minhas roupas._ Ela respondeu com os olhos cheios d’água.

Corri para abraçá-la. Irina iria pagar caro por ter falado isso algum dia pra minha irmãzinha. Como eu disse todos os ricos são fúteis e insuportáveis.