O Naufrágio - HIATO escrita por Juffss


Capítulo 4
O primeiro Jantar




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POV Jasper

 

O ódio que tomei quando Irina perguntou de onde a pequena e frágil Alice havia roubado seu vestido foi imenso. Uma pessoa normal que sentisse isso pela noiva já teria acabado o casamento com ela há muito tempo, mas eu não era normal. Eu fazia o que a sociedade esperava que eu fizesse. O que senti naquele momento, no momento em que a pequena era acusada de ser ladra, foi a coisa mais estranha e ignorante que já fiz. Eu apertei o braço da Irina com tanta força que me surpreenderia se não ficasse uma marca ali. Minha vontade também era socar Royce, mas não o fiz. Poderia mandá-los para o tribunal que tinha no navio, mas por serem mais ricos ganhariam por terem comprado a corte. Não havia o que fazer, a não ser sentir. Sentir o ódio profundo e duplicado pelos King e Denali.

Em Cherbourg, embarcou uma mulher chamada Margaret Brown. Mamãe a chamava de Molly.  Eu e Rose a denominávamos ''A lnafundável Molly Brown''. A mulher era inafundável, em detalhes. Quando pequenos as nossas babás contavam a história de Molly Brown, uma mulher que acordou numa ilha deserta e nadou até a civilização. Molly era uma nova rica. Mesmo assim ela era a mulher que possuía a quarta maior riqueza da Europa. Não tinha herdeiros. Eu a amava, ela era uma mulher fantástica, cabelos negros, olhos esverdeados, aproximadamente 50 anos, milionária, apaixonada por mim e pela Rose. Segundo ela, éramos “os filhos perfeitos”.

- Molly!_ a cumprimentei quando chegou a hora do jantar.

- Jazz, Rose_ ela falou nos abraçando.

Molly era como uma mãe para nós, ela se fez mais presente do que qualquer outra mulher em nossa vida, mais presente que qualquer uma de nossas empregadas. Era ela que sempre aparecia nos nossos aniversários e sempre estava nas apresentações de ballet da Rose, ou nas minhas demonstrações de luta. Ela praticamente nos criou.

- Como foi a temporada sem a Molly?_ ela perguntou com seu sorriso perfeito.

- Horrível_ Rose respondeu_ ficamos com saudades.

- Eu também, pequenos_ ela falou_ eu também.

Nós sentamos a mesa gigante. Os King, as Denali, nossos pais e a única mulher que considerávamos mãe nós acompanharam no primeiro jantar a bordo do Titanic.

- Vamos querer Salmão defumado_ Royce pediu para ele e para minha irmã.

- Vai querer obrigá-la a vestir suas roupas também menino King?_ perguntou Molly.

- Em pouco, estarão casados, não vejo erro_ papai reclamou do modo com que tratava seu genro.

- Eu vejo_ Molly riu_ Por que temos apenas um prato com carne bovina e uma variedade tão grande de peixes?

- Estamos em alto mar, às pessoas gostam e apreciam peixes_ mamãe respondeu.

- Mas se fosse uma boa mãe, saberia que seus filhos são alérgicos ao peixe._ Molly disse deixando mamãe a encarar enraivecida, ninguém nunca a disse o quão ausente era._ Os gêmeos vão querer a carne bovina_ completou e sorriu para nós, que correspondemos o seu sorriso.

 

POV Alice

 

Assim que Emm me convenceu que Irina estava com inveja de minhas roupas eu as guardei novamente no armário e me arrumei para jantar. Arrumei-me com uma roupa simples, daquelas que mesmo a pessoa sendo pobre, ela tem. Esperei Emm tomar banho e se arrumar para que pudéssemos finalmente saborear a refeição.

A terceira classe não era ruim, na verdade ela é muito boa, até juraria que estávamos na segunda se não soubesse. E eu sei que esse navio é perfeito, como também sei que nesse navio há injustiças.

- Vamos nos sentar onde?_ perguntou meu irmão.

- Não sei_ respondi olhando para os lados.

Por incrível que pareça às mesas que havia no restaurante do navio já estavam lotadas, não tínhamos lugar para ficar, para sentar e jantar em paz. Somente estávamos parados ali, esperando uma mesa esvaziar para que finalmente pudéssemos nos sentar e relaxar, sem fome.

Não sei como essas coisas acontecem, mas elas acontecem. Senti uma forte necessidade de andar ao redor das mesas puxando meu irmão, normalmente ele me acharia louca, mas já estava acostumado com isso. Como meu instinto sai o puxando pelo local sem me preocupar com nada, e não é que funcionou? Em uma mesa distante e quase sem iluminação, eles estavam sentados quase escondidos.

- Ei Emmett_ chamou o homem. Sorri para o meu irmão.

- Oi_ Emm disse risonho. _ Você sabia disso não é?_ ele me perguntou em um sussurro.

- Não sei_ respondi enquanto caminhávamos para a mesa onde estavam aqueles dois.

- Vocês querem nos fazer companhia?_ perguntou a mulher com uma voz doce e suave.

- Não queremos atrapalhar o momento de vocês_ meu irmão disse educado.

- Não estamos em um momento, e seria uma honra tê-los sentados em nossa mesa_ respondeu o senhor.

- Nunca diga que não está tendo um momento quando estiver com uma mulher_ falei sincera_ o mínimo detalhe conta para a gente._ sorri.

- Está vendo Eric, ela sabe o que você devia fazer_ A mulher resmungou.

- Estávamos em um momento?_ o tal de Eric perguntou. A mulher o olhou com raiva_ ah Ang, me desculpe querida._ ele se desculpou.

- Mas em uma parte ele estava certo: seria uma honra que nos acompanhassem_ ela falou enquanto ignorava os pedidos de desculpas do homem_ não ache estranho, em uma hora de sua vida de casada você vai escutar isso do seu marido._ se dirigiu a mim.

Sorri. Ele afinal não estaria tão acabado, algumas noites sem ter o que mais quer, mas depois isso voltará ao normal.

Nós nos sentamos antes que as coisas piorassem para o coitado. Afinal, ele escutaria se saíssemos naquele momento, e isso até Emm percebeu. Pedimos qualquer coisa, não importava agora o que iríamos comer. Sorri ao lembrar o meu dia. Eu estava a bordo do RMS Titanic, comendo uma maravilhosa refeição e eu ainda tinha conhecido os gêmeos Hale, e eles não são como meu irmão sempre fica falando na minha cabeça, na verdade eles são simplesmente legais.

 

POV Rose

 

Olhei em volta daquela mesa de impressões. Sim, eu não considero as pessoas que estão nessa mesa como seres humanos, tudo deles se resume ao que os outros irão pensar sobre agir de tal forma. Meus olhos se encontraram com os de Molly. Como adoro essa mulher, ela é mais que uma mãe pra mim, ela é como uma amiga, uma tia... Não sei, ela é perfeita em suas atitudes. Ela sim é uma pessoa, ela age quando acha que deve agir e da forma que acha que deve fazê-lo, sem se importar com o que as pessoas pensam ou irão pensar, ela age, sem pisar nos outros e sempre ajudando quem precisa. Ela é a mulher de ouro para mim.

Sorri ao ver o seu sorriso de covinhas. Os seus olhos claros me transmitiam calma e seu cabelo escuro me falava que ela não é tão fácil de machucar, ela é forte, eu sentia sempre que estava com ela, desde muito pequena, segura, sabia que se alguém tentasse pisar em mim ela se poria a minha frente e me defenderia, independente da pessoa.

Levantamos-nos tranquilamente. Já estava na hora de mulheres irem se deitar, segundo papai. E era verdade, eu realmente precisava me deitar, dormir, respirar tranqüila e sentir as mudanças do dia. Molly estava aqui agora, e não sairia de perto de mim tão cedo. Enquanto Jasper acompanhava papai e seus amigos em uma dose a mais de bebida e enquanto eles fumavam alguma coisa, Molly me acompanhava até o meu quarto.

- Pequena menina Rose, como você cresceu_ ela disse assim que nos vimos longe das demais mulheres da alta sociedade_ já encontrou alguém melhor que Royce?_ ela me perguntou.

- Quem me dera, Molly! Quem me dera!_ lamentei.

- Oh pequena_ Molly pegou meu rosto entre as suas mãos, me fazendo olhá-la nos olhos._ não precisa se preocupar, eu tenho certeza que encontrará alguém antes que esse navio chegue perto da America._ ela me assegurou e meu deu um beijo na testa.

E era nesses momentos que a sentia como mãe, sempre zelando por meu bem estar e por minha felicidade, nesses momentos é que se percebe que ela é muito mais mãe do que a minha mãe.

- Obrigada Molly_ agradeci de todo meu coração, não por hoje, por sempre.

- Não há de que Menina Hale_ ela falou parando em frente a minha cabine_ irá ter uma boa noite de sono?_ ela me perguntou.

- Acredito que sim_ respondi, um sorriso tímido surgiu em minha face.

- Qualquer coisa você sabe o numero da minha cabine, e sabe que é só você entrar. Eu estarei lá para qualquer coisa, mesmo se apenas quiser conversar caso não esteja com sono._ seu sorriso era materno, como uma mãe que explica para um filho que se ele tiver pesadelo é só caminhar até o seu quarto que ela irá abraçá-lo e protegê-lo de tudo.

- Obrigada_ voltei a agradecê-la.

- Boa noite menina Hale_ ela disse, seu sorriso intacto e sua covinhas marcadas.

- Boa noite Molly_ falei antes de abrir a porta do meu quarto.

Ia entrar, mas parei, voltei-me para ela, sorri. Não iria me despedir, mesmo que por uma noite, dela assim. Caminhei até ela e falei:

- Você é mais que uma mãe pra mim. Eu te amo_ beijei sua face jovem, mesmo para sua idade, que segundo minha mãe, é um pouco avançada.

Que minha mãe olhe seus 53 anos antes de falar de Molly.

 

POV Emmett

 

Alice se deitou e adormeceu sem nenhum problema. Esperei até que Angela e Eric também adormecessem para me levantar e andar pelo navio.

Foi passeando pelo navio que escutei o capitão gritar para a tripulação aumentar a velocidade. Senti o ar frio cortar cada vez mais rápido o meu rosto, me congelando aos poucos.

- 21 nós, senhor_ gritou um dos tripulantes.

Fui andando para a ponta do navio. Subi na primeira barra e fiquei observando as águas escuras do profundo oceano que tinha ali. Olhar aquilo me deu uma sensação ruim, porém continuei a fitá-la por momentos. Estava sem sono, e havia algo naquela sensação que eu gostava, ela me prendia ali.

Abracei meu próprio corpo para me proteger do frio, frio que já não me deixava mais respirar direito.

- É o maior objeto móvel já feito pelo homem em toda a História, e todo o projeto foi do Sr. Andrews._ falou uma voz de algum lugar.

- Sim, mas a idéia foi do Sr. Hale. Ele imaginou um vapor tão imenso e luxuoso que sua supremacia jamais seria contestada. E aqui está ele, transformado em sólida realidade._ disse outra voz.

- Isso mesmo._ respondeu a primeira.

Não prestei mais atenção nessa conversa. Tudo que queria era caminhar até minha cabine e deitar embaixo de cobertores para que esses aquecessem meu corpo, já frio pelo vento.

E foi isso mesmo que fiz. Deitei minha cabeça sobre o travesseiro, me cobri e acabei adormecendo aos poucos. Quando minha mente voltou a realidade já havia amanhecido, sai da minha cama e olhei para Alice que ainda dormia abraçada a um ursinho, que segundo meu pai era da mamãe. Ajeitei a coberta da Alice e olhei o pequeno objeto em seus braços, era tão bonito como ela considerava aquela coisa a coisa mais preciosa do universo.

Voltei a me deitar e tentei dormir novamente, mas não dava. Alguma coisa estava me animando e me deixando nervoso hoje. Normalmente é a Alice que sente isso, mas hoje isso estava mais que mudado. Uma onde de felicidade me deixou mais calmo e meu pensamento se voltou para o que me deixava assim.

Pouco vi o tempo passar, mas ele fazia isso. Alice acordou e bocejou, se espreguiçando. O pequeno objeto que antes ela abraçava com devoção, agora estava preso em uma de suas mãos.

- Bom dia_ ela me desejou e olhou para os lados._ Eles demoraram a dormir?_ me perguntou.

- Bom dia!_ a desejei_ não, e nem brigaram, acho que ela acabou esquecendo_ sorri.

- Onde foi ontem?_ ela me perguntou.

- Você ainda estava acordada ou eu te acordei?_ perguntei.

- Estava acordada, mas você não me respondeu_ argumentou.

- Dar uma volta no navio_ respondi.

- E ele é tão luxuoso?_ ela me perguntou animada.

- Muito, muito mesmo_ sorri para ela.

Seus olhos brilhavam mais que todas as estrelas do céu. Ela realmente estava animada, tanto quanto eu. E naquela tarde iríamos seguir para o oeste da costa irlandesa, o que aconteceria lá?


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Notas finais do capítulo

Como previ, sem nenhum atraso...


Beijooos

Juuh