Ainda era cedo quando Sasuke ouviu as batidas na porta da sua casa, abrindo-a e encontrando Hinata postada do lado de fora. Enquanto esperava que ela lhe dissesse o que fazia ali, encarou-a tempo suficiente para relembrar o quanto era bonita.

— Ahn… bom dia! - começou ela, desconcertada. - Acho que a Hokage já avisou que eu te faria companhia por um tempo e provavelmente você deve ter ficado chateado com isso. Imaginei que talvez quisesse perguntar ou falar algo antes de chegarmos ao esquadrão…

— Bom dia. - Sasuke deslocou-se para o lado, abrindo passagem para a garota, perguntando-se se Hinata sabia que a exigência dela ser sempre sua parceira era iniciativa sua. - Entre.

— Não!... quer dizer... não quero incomodar... Podemos conversar no caminho. Não se preocupe, esperarei aqui fora.

— Tsc, entre. Estou tomando café. - “qual é o problema dessa garota? Qualquer outra daria tudo para entrar” , pensou. Mas de alguma forma, ele sabia que ela não era qualquer outra e talvez por isso tenha chamado tanto sua atenção.

Hinata entrou e o seguiu até a cozinha. Ele não perguntou se ela aceitaria algo, pois sabia que negaria, então colocou uma xícara de chá na frente da garota e aproximou uma cesta com biscoitos e frutas.

— Coma, eu que fiz. - ordenou, estendendo um biscoito para ela.

Ela mordeu o biscoito e tomou um gole do chá, sorrindo ao descobrir o quanto o gosto era bom. Devia ter imaginado: como se não bastasse ser lindo, Sasuke ainda tinha que ser bom em tudo que fazia.

O sorriso de Hinata foi retribuído pelo moreno, e foi uma surpresa para ela ver os cantos da boca dele se curvarem levemente. Ela nunca havia visto nada próximo a um sorriso vindo do jovem e encantou-se a descobrir que, embora parecesse impossível, ele podia ficar ainda mais bonito. Estava tão absorta que não percebeu que ainda o encarava.

Ele analisava atentamente cada gesto da garota, tão diferente de todas com quem teve contato. Observou a mão delicada pegando o biscoito e o levando até os lábios carnudos. O sorriso que apareceu era doce e ele não conseguiu deixar de retribuir, acabara de descobrir que fazê-la sorrir aquecia seu peito de uma forma estranha, mesmo que fosse com um pequeno agrado. Então ela olhou dentro dos seus olhos, sem desviar como geralmente fazia, e ele perdeu-se nos orbes perolados. Pouco depois ela piscou algumas vezes, como se tivesse acordando de um transe, e percebeu o que estava fazendo. Corou imediatamente e abaixou a cabeça.

— E-e-está muito b-bom! - não conseguiu impedir-se de gaguejar.

— Obrigado. - esperou que ela voltasse a olhá-lo, mas a Hyuuga não o fez. - Sinto muito pelo que estão fazendo com você, exigindo que seja vigiado. Sei que é uma boa pessoa.

— Não tenha tanta certeza. Você não tem ideia de todas as coisas horríveis que fiz. - o rosto dele endureceu com a afirmação.

— É verdade que não sei o que você fez, mas tenho certeza de que se arrependeu e isso basta, todos merecem uma segunda chance. Você ajudou a salvar todos nós, não foi? É um herói também.

Ele a olhou surpreso, nunca pensaria em si mesmo como um herói. Hinata fazia tudo aquilo parecer tão simples, quando nem ele havia se perdoado ainda.

Seguiram para o esquadrão pouco depois, sendo designados para fazer a segurança de parte do perímetro da vila pelo resto da semana, no período diurno.

Caminhavam lado a lado. Embora exigisse atenção, para ninjas acostumados a situações de alto risco e estresse, fazer a ronda era uma tarefa tranquila e entediante. Para espanto de Sasuke, ele queria conversar com a garota, só não sabia como pois nunca foi bom com diálogos. No fim das contas, Hinata quem iniciou uma conversa trivial.

— Sua cabeça ainda dói?

— Não, eu estou bem. Por sua causa, na verdade. - ela corou levemente com o comentário.

— Não foi nada…

— Foi sim. Você é incrivelmente habilidosa.

— Eu? - ela franziu o cenho, não estava acostumada a ter sua capacidade reconhecida. Seu próprio pai sempre frisou o quanto ela era fraca. Suspirou, triste. - Você só está sendo gentil...

— Não estou não. Ser agradável não é parte da minha natureza. - retrucou o garoto.

— Imaginei que não fosse, mas você sempre tem sido gentil comigo.

— Talvez eu só consiga ser uma pessoa melhor quando estou com você. - Ela não poderia ficar mais vermelha do que estava agora. Ainda assim, não conseguiu impedir o sorriso que espalhou-se em seus lábios rosados.

Depois disso trocaram poucas palavras, a garota sempre ruborizava e desviava os olhos quando ele a fitava. Pela primeira vez Sasuke sentiu-se frustrado pelo silêncio de alguém, mas aproveitou o tempo para estudar discretamente o rosto da garota e logo já era capaz de ler suas expressões com mais facilidade. Foi justamente por isso que notou imediatamente no dia seguinte a tensão emanar dela, embora Hinata tentasse sorrir e agir como sempre.

— Aconteceu alguma coisa? - por um instante, ela pareceu desconcertada por ele ter reparado.

— Só estou preocupada, problemas do clã…

— Quer conversar sobre isso? - Ela olhou em dúvida, sem saber se deveria dividir seus problemas. Mas a vontade de compartilhar o peso que carregava venceu e ela contou todos os seus temores sobre a irmã, tão jovem, que passaria a dirigir o seu clã, notoriamente conservador e problemático. Desde que entrara na Anbu, Hinata afastou-se do clã e passou a morar em um apartamento na vila, e sentia-se culpada por deixar sua irmã levando todo o peso nos ombros.

Sasuke ouviu tudo com atenção, deixando que a jovem desabasse, para só então dar sua opinião.

— Pelo que você disse, ela parece uma mulher muito forte. Se ela for como você, não há motivos para se preocupar. - Mais uma vez o rubor intensificou-se nas bochechas de Hinata. - Além disso, mesmo não morando no clã, ela tem você para cuidar dela. Com certeza se sairá bem.

Depois disso, a conversa fluiu entre eles. Hinata passou a contar mais sobre seu universo: o clã, a família, os amigos; e Sasuke viu-se retribuindo contando coisas que não ousava dizer sequer à Naruto. Começaram a sentir-se cada vez mais confortáveis na presença um do outro e no último dia de ronda, enquanto recordavam a infância, Sasuke ousou perguntar algo que vinha incomodando bastante ele:

— Você gostava do Naruto, não é?

— Gostava, sim. - A morena sorriu, lembrando dos tempos em que seguia o loiro por todos os lados.

— Ainda gosta? - insistiu ele. Era incrível como ela conseguia ser tão monossilábica quanto ele, às vezes, e ele precisava lutar para conseguir uma informação.

— Ah, não. Era um amor infantil, bobo. Espero que ele encontre alguém que o faça muito feliz. - Sasuke sentiu-se feliz ao ouvir isso.

— A Sakura bem que podia dar uma chance a ele.

— A Sakura? Mas ela sempre foi louca por você.

— Ela acha que é. Mas ela e Naruto foram feitos um para o outro. Uma hora ela vai perceber.

— E você não ficaria chateado? Quer dizer... você não gosta dela?

— Não. Ela consegue ser bem irritante, na verdade. É uma boa amiga e devo muito a ela, mas não é o tipo de pessoa certa para mim. - Encarou a morena, que desviou os olhos e mudou habilidosamente de assunto.

Hoje era o último dia em que patrulhariam a vila e poderiam aproveitar dois dias de folga, mas Sasuke não estava muito animado com a perspectiva de não ver sua nova companheira no dia seguinte. O fato era que a morena passou a ocupar uma parte cada vez maior dos seus pensamentos e ele passara a esperar com expectativa o horário de trabalho.

— O que acha de treinarmos amanhã? - sugeriu para Hinata.

— Eu e você? - a morena o olhou surpresa. - Ahn… claro.

Ele sorriu satisfeito, sorrir ao lado dela tinha se tornado um hábito estranho e familiar. Hinata sufocou a sensação de deslumbramento que ocorria sempre que ele sorria, o que vinha acontecendo com uma frequência cada vez maior. Tentou não imaginar motivos para o convite dele, provavelmente ele apenas queria se exercitar, já que a semana foi bastante parada. Mas se era assim, por que ele não chamou Naruto ou Sakura? De qualquer forma, ela estava feliz por passar mais um tempo com ele. Desde a missão, se perguntava como poderia existir alguém assim: descobriu que ele não era só bonito, era gentil e agradável, e quando conversavam, sentia como se uma relação de confiança houvesse se estabelecido entre os dois. O problema era que a cada dia passava a reagir mais intensamente ao garoto, agora bastava vê-lo para que seu coração acelerasse e qualquer toque causava um arrepio em sua pele. Sabia que estava se apaixonando e isso era péssimo, mas não havia nada que pudesse fazer sobre isso.

Na manhã seguinte encontraram-se bem cedo no campo de treinamento. Iniciaram uma luta leve, testando os limites um do outro. Logo os golpes foram se tornando mais fortes e agressivos, e o treino tomou um ritmo intenso. Estavam arfando e suados. Em um descuido causado pelo cansaço, Hinata foi atingida por um golpe, sendo jogada no chão alguns metros atrás. Sasuke correu ao seu encontro.

— Desculpe-me, eu te machuquei? - Perguntou, preocupado.

— Não, eu estou bem. - disse, começando a erguer-se do chão.

Sasuke estendeu a mão para ajudá-la e puxou-a com cuidado. Como sempre acontecia ultimamente quando se aproximava de Hinata, sentiu a respiração acelerar. A pele dela era macia e quente e o cheiro que emanava da morena era delicioso. Segurou a mão dela por mais tempo que o necessário, resistindo a vontade de puxá-la ao seu encontro e selar seus lábios.

Depois de uma semana trabalhando juntos, Sasuke rendeu-se ao fato de que ele a queria, mas não sabia o que fazer. O fato é que o garoto era completamente inexperiente quando se tratava de relacionamentos. Tinha que falar com alguém sobre isso e só havia uma pessoa em quem confiaria sua vida: precisava conversar com Naruto.