HL: Pocket Girl - Last Memories of Us escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 3
Família


Notas iniciais do capítulo

Cadê a autora sumida?
ACHOU o/
Não me matem! Eu poderia dar todos os motivos pra demorar 1 ano pra postar, mas prefiro deixar vocês matando as saudades de PG ^^

Boa leitura.



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— Grávida?!

— É, Babaca Johnson! Grávida! Tem uma coisinha viva na minha barriga, e não ouse insinuar que são parasitas! — respondeu, ainda mais irritada.

 

Perplexo com a notícia, Benny sentou-se na tampa abaixada do vaso e não disse uma única palavra. Por mais que a informação fosse simples e objetiva, raciocinar ficou extremamente difícil, ainda mais em um banheiro, ao lado de uma garota irritada e assustada.

 

— Eu… eu não sei o que fazer, Benny! Eu nem completei dezoito ainda, não entrei para a faculdade e nem sequer tenho um emprego! Como é que eu vou cuidar de um bebê, Benny?! Eu mal cuido de mim, imagina de uma coisinha minúscula e frágil! — choramingando, Annie secou as lágrimas mais uma vez. — A minha vida acabou mesmo antes de começar! Agora eu vou ter que deixar tudo o que eu já sonhei para trás e… Por que diabos você está sorrindo, Benjamin?! Não tem graça nenhuma!

 

Benny deu de ombros, sem se importar com o rosto molhado e o sorriso cada vez maior. Ele também chorou, mas cada gotinha estava carregada de alegria.

Surpreendendo Annie, tanto quanto ela havia o surpreendido, o garoto abraçou-a com força e beijou o topo de sua cabeça.

 

— Você é muito idiota mesmo, Annie! A nossa vida está só começando. Não entendo todo esse desespero. Você não está sozinha e nunca vai estar. — Riu fraco, juntando suas testas para olhar os belos olhos verdes da garota. — Eu vou ser pai! O melhor que já existiu, eu prometo! Oh, Annie! Você não imagina o quanto eu estou feliz!

— E louco! — Ela não conseguiu segurar a risada. — Não está com medo?

— Muito! Mas… É meu filho. Nosso filho!

— Nosso! — Annie sussurrou e levou as mãos até a nuca de Benny, quebrando a distância entre eles.

 

Aquele beijo suave e gentil era como um sussurro em seu coração dizendo que tudo ficaria bem. Que ela não precisava mais temer os seus constantes pesadelos. Que, mesmo sendo um garoto, Benny não fugiria de sua responsabilidade. Ela podia sentir que o amigo estava realmente feliz. Isso era, sem dúvida, um grande alívio. Tudo ficaria bem. Pelo menos era o que parecia naquele momento.

 

~*~

 

Alice olhou o relógio de pulso pela milésima vez antes de verificar se Rachel não havia estacionado em frente ao shopping, na vaga de idosos ou no meio da pista mesmo, apesar de que não fazia mais do que quinze minutos que ela havia chamado a amiga.

A Pocket Girl tinha o péssimo hábito de se atrasar, mas odiava ficar esperando.

 

Depois de uma eternidade de poucos minutos, ela viu o carro prata parar em uma vaga de táxi e ouviu a buzina mal humorada de Rachel. Correu para seu assento no lado do carona e abraçou a mulher com força, embora só tenha recebido um tapinha nas costas como retribuição do carinho. Bastou um olhar para Alice perceber que Rachel não estava muito bem. Olheiras profundas, alguns quilos a menos, os cabelos ressecados e um leve tremor nas mãos. Por um instante pensou que poderia ser algum problema do qual ela não sabia como contar. Talvez fosse sobre o Jared, Will ou a Nêmesis. Talvez fosse só a abstinência. Ela preferiu não tocar no assunto. Não naquele momento.

Durante o caminho, elas conversaram sobre a exibição da Pocket Girl na prefeitura. A cientista era contra todo aquele espetáculo, mas não tentou persuadir Alice em nenhum momento.

 

— Você já é uma mulher, Lice. Não preciso mais bancar a mãe com você como há cinco anos atrás.

— Se eu tivesse seguido seus conselhos, hoje eu estaria com uma garrafa de tequila na mão! — Ela riu, mas logo parou ao ver o olhar furioso de Rachel. — Brincadeirinha!

— Sei. — A mulher disfarçou o sorriso e olhou para frente enquanto ultrapassava uma fila de carros pela contra-mão.

 

Não demorou muito e chegaram na casa de Rachel. A construção moderna era bem isolada das demais casas vizinhas, cercada com muros altos e árvores ocultavam a entrada de olhares curiosos. O interior também revelava muito sobre a personalidade dela. Cores pastéis, móveis estilosos, mas discretos, tons de cinza em todos os lados. E claro, uma adega bem servida, principalmente de tequila. Todas as garrafas cheias, por incrível que pareça.

Enquanto Alice tagarelava sobre seu relacionamento não nomeado com Will, Rachel a guiou por um corredor estreito até uma passagem para o subsolo. Lá embaixo, ocupando quase todo o tamanho da casa em uma única sala, um laboratório pessoal estava preparado para os projetos de Alice, dos quais ninguém, além de Rachel, tinha o conhecimento.

 

— Estou doida para começar! — disse Alice, tirando os sapatos.

— Vai com calma, tampinha. Se isso der errado, eu vou me encrencar feio. E nem quero falar sobre o que vai acontecer com você.

— Eu esperei por isso a minha vida toda, Rachel. Só faça!

 

Ela suspirou e empurrou a maca para o centro da sala. Enquanto Alice se despia, a mulher tirou de uma das geladeiras um frasco com um líquido vermelho, que ela encaixou em uma máquina acoplada a maca, e outro transparente, que ela injetou no braço de Alice.

Rachel observou em silêncio a garota se deitar, usando apenas a lingerie. Era loucura, ela sabia, mas não poderia tirar essa realização da amiga. Começaram isso juntas e terminariam juntas.

Alice foi amarrada com cintas de couro e Rachel colocou em sua boca um mordedor de borracha.

— Ainda dá tempo de desistir.

 

A resposta veio com um firme balançar de cabeça.

 

— Você é mesmo doida. — Rachel deu de ombros e começou o procedimento.

 

Ela conectou cateteres nos braços e pernas de Alice, divertindo-se com a expressão de desconforto da amiga ao furá-la diversas vezes. O fluido vermelho escorreu em uma velocidade agoniante até encontrar a corrente sanguínea da Pocket Girl. Antes de esvaziar o frasco, ela começou a respirar mais rápido, e seus batimentos cardíacos subiram consideravelmente. Era hora de acelerar o processo. Rachel aumentou a velocidade da máquina e em poucos segundos o frasco estava quase vazio. A cientista tirou os catéteres e colocou vários eletrodos ao longo do corpo da garota. Alice começou a se contorcer e segurar o grito em sua garganta. Todo o corpo queimava. O coração quase saindo do peito. As pupilas dilatadas. Rachel calma e fria. Não era como se ela não tivesse presenciado isso ou coisas piores.

 

— Vamos, Lice. Pare com essa histeria. Nem chegamos na melhor parte. — Ela riu baixinho, examinando os olhos de sua nova paciente. — Pronta?

 

Alice assentiu rapidamente entre os grunhidos, como se implorasse para que ela fizesse isso antes que mudasse de ideia. Mas já era tarde. Interromper o procedimento seria fatal.

Com certo prazer nos olhos e uma breve nostalgia de seus trabalhos inescrupulosos, Rachel apertou um botão ligado na maca e se afastou. Uma corrente elétrica foi disparada no corpo de Alice e o grito preso atravessou as paredes do laboratório, chegando ao andar de cima da casa.

O choque não durou mais do que alguns segundos, mas foi o suficiente para fazê-la perder a consciência.

Em meio a escuridão de seu subconsciente, uma voz suave, tirada de sua infância, espantava seus temores.

“Não se preocupe, filha. Já acabou. Você está pronta agora.”

 

~*~

 

A mesa posta para três naquela noite encheu de alegria o coração de Jessica. Preparar macarronada para Annie e vê-la comer sem fazer cerimônias era uma das coisas que mais gostava nas visitas da pequena ruiva em sua casa. Desde que os pais da garota morreram, a mãe de Benny desenvolveu um carinho materno especial por ela. Era como se enxergasse um bebê abandonado em um cestinho em frente a sua porta, faminto. E enchê-la de comida era um prazer.

Mas o silêncio dos dois à mesa, o tilintar dos talheres que não iam para a boca e os longos suspiros de ambos deixaram Jessica desconfiada de que algo não estava bem entre eles.

 

— Não quero ser enxerida, mas… vocês brigaram? — perguntou, pousando os talheres ao lado do prato.

— Você está sendo enxerida!

— Benny! Não é nada, tia Jess. Eu só… Não estou me sentindo muito bem ultimamente. Sabe… O lance com meu pai biológico… Às vezes eu me sinto muito sozinha. Sinto que fui condenada a nunca ter uma família.

— Você vai ter! — Benny a interrompeu, segurando em sua mão. — Só não diga mais essas coisas. Você tem a nós, a Lice… Tem muita gente aqui por você.

— Isso mesmo, querida. — Jessica sorriu, acariciando o rosto de Annie. — Agora coma. Você está muito magrinha.

— Valeu, tia Jess. — Annie desviou o olhar para o prato mais uma vez e respirou fundo, fechando os olhos.

— Algo errado com o macarrão, querida?

— Não! É que eu…

 

Annie deixou a frase morrer e se levantou tão rápido, que Jessica deu um pulo de susto. A cadeira caiu assim que a garota saiu correndo para o banheiro.

 

— Annie!

— Deixa ela, Benjamin. — Jessica segurou o pulso do filho e encarou seus olhos. — Sente-se. Agora!

 

Benny olhou para trás antes de obedecer a mãe. Ele queria ver como Annie estava, mas o som que vinha do banheiro já lhe respondia suas perguntas. Sentou-se devagar, encarando os acusadores olhos verdes de Jessica, sem dizer uma só palavra. Não que ele não quisesse falar. Só não sabia o que dizer.

 

— Mãe, eu…

— Não precisa explicar. Ao contrário do que você deve pensar, eu não sou uma idiota, Benjamin! Ela está esperando um filho seu, não está? — ela perguntou, mesmo sabendo o que viria a seguir. — Responda, Benjamin!

— Está! — ele desabafou, no mesmo tom alterado da mãe. — Ela está grávida. Mãe, me desculpa. Ninguém queria isso, mas aconteceu.

— Aconteceu? — repetiu, dando uma risada. — Aconteceu? Por que aconteceu? Porque você é um irresponsável! Vocês dois!

 

Jessica baixou o tom para que Annie não ouvisse a discussão, mas já era tarde. A garota estava encostada na parede do corredor, segurando o choro, assim como os Johnsons a mesa.

 

— E agora, Benjamin? Não é porque você tem um empreguinho onde você arrisca sua vida todos os dias que vai garantir o sustento da pobre Annie e do bebê. Acha que não é difícil conseguir casa, estabilidade e tudo mais? Você não aprendeu nada me vendo lutar completamente sozinha dia após dia para te dar o melhor? Quer o mesmo para a Annie e seu filho?!

— Meu filho nunca vai passar por nada disso, porque a Annie não dormiu com um lixo qualquer que vai abandonar ela, como o meu pai fez com você!

 

A voz de Benny foi silenciada com o estalo da mão de Jessica acertando o rosto do filho. Após ele se equilibrar na cadeira, quase indo de encontro ao chão, junto com seus óculos, agora com uma lente quebrada, a mulher pode ver a marca vermelha de seus dedos na bochecha do garoto. Ela sabia que havia se excedido, e ele também, mas não voltaria atrás com seu ato. Por mais que ele estivesse nervoso, não tinha o direito de magoá-la com palavras tão duras como aquelas.

 

— Saia da minha frente agora, Benjamin! — ela disse, segurando o choro.

— Mãe, me desculpa! Eu…

— Sai daqui! — gritou!

 

Benny desviou o olhar e obedeceu a mãe. Correu para o quarto e não olhou para Annie ao passar por ela. Estava envergonhado demais para mostrar o rosto coberto de lágrimas.

A garota espiou dentro da cozinha e viu Jessica debruçada sobre a mesa, chorando baixinho. Após todas aquelas palavras rudes trocadas entre os dois, Annie sabia que não haveria um única expressão capaz de amenizar a dor causada por elas. Aquele tapa parecia um afago comparado ao golpe do olhar cheio de mágoa de ambos.

Ela foi capaz de entender ambos os lados. Como a filha rebelde, que só trazia decepção para os pais e, pela primeira vez, como mãe, desejosa por proteger seu pequenino de todo mal que ele pudesse causar a si mesmo em um mundo repleto de monstros em faces amigáveis e atrativas.

Com um suspiro baixinho, Annie voltou para a sala, pegou seu casaco e saiu pela janela aberta. Não queria estragar ainda mais a noite dos dois.



~*~

 

Um cigarro aceso queimava entre os dedos de Rachel, embora ela não desse uma única tragada. Seu olhar perdido em algum lugar do imenso jardim fora da janela a tirou de sintonia com o mundo, como acontecia vez ou outra. Ao lado do cinzeiro transbordando de bitucas, a inseparável garrafa de tequila, com mais líquido do que haveria em outras noites.

Os faróis da caminhonete de William tiraram a cientista de seu transe fazendo-a suspirar pesado. Não havia pensado em nada aceitável para explicar o corpo inerte de Alice jogado no sofá. Com sorte ao menos ele não perceberia os pequenos furinhos em vários pontos de sua pele pálida e fria. O único sinal de vida na garota era sua respiração alta, quase ruidosa, que não permitia que fosse confundida com um cadáver.

Will entrou sem nenhum convite após Rachel abrir a porta para ele. Apenas deu um beijo no topo da cabeça da amiga, seguido por um tapa na nuca e uma advertência sobre os perigos do álcool. Coisa que já havia se tornado uma saudação entre eles, terminando com uma risadinha debochada e um revirar de olhos dela.

— Dessa vez, diga isso para a sua namorada.

— Não estamos namorando! — Alice ergueu a mão e resmungou, quase inaudível, por causa da almofada abafando sua voz.

— Poderia ter usado essa técnica infalível de reavivamento antes. — Rachel riu, entregando a bolsa da garota para Will. — Faça ela beber muita água, tomar uma medicação que está dentro da bolsa e conferir a temperatura a cada três horas. Qualquer alteração, me liga imediatamente, e eu chego como um raio.

— Não tem uma piada pior? — Ele riu, pegando Alice em seus braços. — E não acha que está exagerando com todo esse cuidado? No máximo ela vai estar de ressaca amanhã.

— Assim espero!

— O que disse? — William virou-se ao ouvir o resmungo.

— Assim espero. Nada melhor do que uma ressaca para ensinar a beber.

 

Rachel disfarçou perfeitamente bem a cara de alívio ao perceber que Will caiu direitinho em suas desculpas esfarrapadas. Trabalhar na Nêmesis fez dela uma mentirosa profissional.

Depois de uma rápida despedida, ela voltou para sua poltrona ao lado da janela, tomou um gole de tequila na garrafa mesmo e acendeu outro cigarro para queimar enquanto pensava nas variáveis que aquele louco experimento poderia apresentar. Qualquer erro poderia custar mais do que tudo na vida de mais pessoas do que os benefícios futuros que ela traria.

Ela observou Will colocando delicadamente Alice no banco do carona e afivelando o cinto em seguida, e sorriu. Sabia que a pequena e amada amiga estaria em boas mãos naquela noite.

— Cuide dela para mim, Will. Cuide da única família que eu tenho.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então, pessoal (existe alguém aí?). Não prometo voltar logo. A vida tá cobrando muito de mim e minha saúde mental já foi pro saco. Peço desculpas de coração e agradeço aos fiéis leitores que não desistem de mim. Espero melhorar e trazer tudo o que PG tem pra mostrar.
Beijos da Mini cheios de saudades =*



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