HL: Pocket Girl - Last Memories of Us escrita por Mini Line, Heroes Legacy


Capítulo 2
Apenas um sonho ruim


Notas iniciais do capítulo

Voltei o/

É, pessoal. Eu demorei horrores para postar o capítulo e talvez as coisas continuem assim. Peço desculpas a vocês, meus lindos, mas eu realmente não estou com tanto ânimo quanto antes.
Só não se preocupem! Não vou abandonar por nada!
NOVIDADE DA FIC!

Agora, no início dos capítulos, vai ter um vídeo bem curtinho (menos de 1 minuto) para vocês verem antes. O link está no título pequenininho em azul. Tá bem legal e vale a pena conferir.

Agora sem mais enrolação, boa leitura ^^



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"Apenas um sonho ruim"

 

Silêncio.

Isso era tudo o que Annie, a pequena garota de cabelos ruivos, conseguiu ouvir ao acordar. O frio congelante que a envolvia, impedia-lhe de continuar dormindo, obrigando-a a se encolher, abraçar o próprio corpo e gemer baixinho, pois seu corpo doía por inteiro. Ao poucos, percebeu que o lugar onde estava deitada não era nem um pouco parecido com o conforto de sua cama macia e quentinha, e nem ao menos tinha o perfume do sabão em pó que usou para lavar os lençóis, trocados antes de dormir.

Estranhando o frio, a superfície incômoda em que estava deitada e a ausência de seu cobertor, Annie ergueu a cabeça e abriu os olhos, apenas para surpreender com a visão ao redor. Seu coração disparou e seus olhos se arregalaram, impelindo-a a se levantar rapidamente. Ela não estava em seu quarto. Não estava em sua casa.

Uma névoa fina e branca cobria uma clareira em uma floresta, da qual tinha certeza de que nunca esteve antes. O céu, sem muitas nuvens, exibia suas estrelas, já que a lua estava ausente em sua fase nova. A brisa da madrugada soprava suave e constante, causando arrepios na garota, que só tinha uma pergunta em sua mente: “Como é que eu vim parar aqui?”

 

— Isso é um sonho — disse ela, olhando ao redor. — Um daqueles malditos sonhos, onde você sabe que está sonhando e acorda logo depois.

 

Ela percebeu que usava um velho vestido longo, sujo e rasgado, com os bordados arrebentados e a barra coberta de lama. Na mesma situação estava seu All Star, que um dia fora branco, assim como o trapo que vestia.

Convencida de que aquilo era um sonho idiota, permaneceu ali, encolhendo-se novamente no chão e esperando seu despertar, enquanto arrancava as pérolas do vestido amarelado, para aliviar a tensão, sem sucesso. Mas ela não acordou.

Preocupada com o tempo que passou, deduziu que seu sonho evoluiu para um pesadelo, já que o pavor tomava conta de seu ser, espalhando-se por sua pele arrepiada e fria.

 

— Não posso ficar aqui. Não é seguro — sussurrou a menina, respirando rapidamente.

 

Ela passou a mão pelo corpo, em busca de sua bombinha, mas não a encontrou, apenas aumentando sua sensação de insegurança naquele maldito pedaço do nada. Precisava sair dali, embora não soubesse qual direção a levaria de volta para sua realidade.

Então, ela começou a correr.

No começo, a corrida era só o meio de sair depressa dali, mas aos poucos, sua intuição gritava mais alto, fazendo-a acelerar ainda mais o passo, fugindo de algo ou de tudo. Ela não sabia dizer ao certo. Tudo o que sentia era medo e a impressão de estar sendo vigiada de perto, embora não visse nada além das árvores e a escuridão tenebrosa que envolvia tudo o que ficava para trás.

Tropeçando, caindo, levantando-se e voltando a correr, Annie ganhou uma série de novos arranhões pelos braços e no rosto. O vestido, ainda mais sujo do que antes, enroscava nos galhos rasteiros e ficava preso, obrigando a garota a força-lo até rasgar-se, deixando seu rastro no caminho.

Após percorrer certa distância, ela avistou a poucos metros um prédio antigo, e permitiu-se parar um instante para respirar fundo, antes de correr para sua segurança.

É uma pena, mas Annie não se lembrou de todos os filmes de terror que já havia assistido. Não era culpa dela, afinal.

As portas automáticas estavam entreabertas, e ela conseguiu passar abaixada pela fresta. Seu interior revelava um hospital abandonado, coberto de poeira, vidros e móveis quebrados. O local parecia estar vazio, mas o som de sussurros chamavam sua atenção para o final do corredor principal, que terminava com uma grande porta dupla e um letreiro aceso escrito “centro cirúrgico”.

Sua curiosidade superou seu medo, então Annie caminhou devagar, observando tudo ao redor. As luzes bruxuleantes começaram a se apagar as suas costas, devolvendo-lhe o pavor e compelindo-a a correr.

E quanto mais corria, mais distante a porta ficava e mais altas as vozes podiam ser ouvidas, assim como o bip constante de um monitor cardíaco.

 

Não há mais nada que possa ser feito, velho amigo. Eu sinto muito — disse um homem, que Annie reconheceu muito bem a voz.

— Pai?! — gritou, mas ninguém respondeu.

Não posso desistir do meu filho! Não depois de tudo o que eu fiz! A Alice nunca vai me perdoar. Eu nunca vou me perdoar!

— Ele está partindo, Jared. Não adianta mais. Deixe-o ir.

— Não, não, não! — gritou de novo, mas desta vez, apenas um  som distante saiu de sua garganta.

 

Annie continuou lutando e correndo em direção as vozes, mas ao alcançá-las, o som agudo e direto de um último batimento cardíaco fez seu sangue gelar, seguido pelo brado agoniante de Alice, sua professora e amiga.

 

— Benny!

 

Sem ar nos pulmões, Annie acordou, assustada, e olhou ao redor, procurando a bombinha no criado mudo ao lado da cama. Seu peito queimava, e foi necessário usá-la duas vezes para voltar a respirar, mesmo que ainda não estivesse totalmente recuperada. O pijama estava grudado no corpo devido ao suor, mas uma ponta de alívio veio ao pensar que aquilo foi só um sonho.

Mas, e se não fosse?

Apenas o pensamento de que aquilo pudesse ser uma visão foi o suficiente para fazer o estômago de Annie revirar. Ela levantou num pulo e correu para o banheiro, quase sem conseguir tempo para erguer a tampa do vaso sanitário e segurar os cabelos, antes de pôr tudo para fora.

Um pouco aliviada, mas ainda enjoada, Annie sentou no chão, se encostou na parede gelada e limpou o suor da testa com as costas da mão. O coração batia tão forte que podia ser notado no balançar constante de sua camiseta. A respiração, ainda acelerada, aumentava a sensação de angústia, acompanhado pelas mãos trêmulas e geladas. Sua cabeça estava uma bagunça, repleta de medos dos quais ninguém além dela poderia imaginar.

 

~*~

 

O clima do final do inverno estava agradável naquela tarde de sábado, deixando os nova iorquinos animados para as festividades da noite. A multidão se aglomerou em frente New York City Hall, sede do conselho municipal da cidade, para o pronunciamento da prefeita Brigitte Blake, sobre os acontecimentos da noite de Natal, há quase dois meses. As pessoas usavam fantasias dos heróis de Nova York, camisas com seus desenhos e com o símbolo da Nexus, além das bandeiras dos Estados Unidos, que podiam ser vistas tremulando por todos os lados. Adultos e crianças tinham apenas uma expectativa: ver a Pocket Girl receber a chave da cidade.

A Sra. Blake já estava em frente ao púlpito, mas não dizia uma única palavra. Em vez de iniciar seu discurso, olhava a todo momento para seu relógio de pulso. Ela estava atrasada, mas isso já era de se esperar de Alice, embora o motivo fosse nada além de puro nervosismo. Ela nunca foi chegada a plateias, e o musical de formatura já havia sido um martírio. Não precisava de mais um.

Mas era um mal necessário. Esperava que, depois daquilo, as pessoas se sentissem mais seguras e a vissem não mais como uma vigilante, mas como uma heroína.

Usando a invisibilidade proveniente de suas luvas, ela passou pela segurança até chegar ao lado da prefeita, sussurrando em seu ouvido que poderia começar, além de um pedido de desculpas pelo atraso. E pelo susto que a pobre mulher levou, claro.

Não demorou para que o povo se calasse, ansioso para ouvir a mulher que ministrava a cidade com mestria.

 

— Hoje é um dia especial, amados nova iorquinos — iniciou ela, fazendo sua doce voz ser ouvida por todos. — Hoje, nesta tarde ensolarada, vamos nos lembrar da noite de Natal e o terror no Rockefeller Center. Há quase dois meses, esquecemos das festividades e grudamos os olhos na televisão para acompanhar alguns momentos que gostaríamos de apagar de nossas memórias.

“O ataque de uma Neo-Humana com poderes inimagináveis, nos deixou apavorados e indefesos. Fez cada um de nós sentir a impotência de nosso insignificante tamanho em frente a uma mulher com a altura de um prédio."

 

Ela fez uma pausa, observando as pessoas concordarem, mantendo o silêncio. Apenas quem estava no Rockefeller Center poderia descrever a tensão dos minutos em que Meredith Harper manteve uma pequena garotinha como refém.

 

— Mas quando nenhum de nós pôde fazer algo a respeito, ela surgiu. — Brigitte sorriu, olhando para seu lado direito. — Ela veio para nos mostrar que o tamanho menos importa, quando o seu propósito é maior do que você. O propósito dela? Proteger nossa cidade. Proteger você, querido nova iorquino. Ela veio nos ensinar que os Neo-Humanos são diferentes, não pelas suas habilidades, mas pelo o que carrega em seu peito. E ela carrega, além da estrela da nossa esperança, o puro patriotismo, assim como nossa lendária Lady Nexus.

“O que a heroína dos Estados Unidos e a heroína de Nova York tem em comum? Além de serem mulheres fortes, que nos trazem esperança e nos mostram que nós, mulheres, podemos fazer a diferença, elas têm desejo ardente de um mundo seguro e melhor, não apenas para elas, mas para todos nós. E é por esse amor altruísta, que eu, Brigitte Blake, prefeita da cidade de Nova York, entrego a você, Pocket Girl, a chave da nossa amada cidade.”

 

O público, receoso, começou a aplaudir, embora ainda não estivessem vendo a heroína. Mas no momento em que ela se revelou, desativando a invisibilidade, os aplausos aumentaram, assim como os gritos e assobios. Alice sentiu que seu coração poderia parar a qualquer momento, enquanto observava cada um, com um brilho especial em seus intensos olhos castanhos.

Tirada de seus devaneios, a Pocket Girl cumprimentou a prefeita com um aperto de mão e um sorriso escondido pela máscara. Ela pegou a chave da cidade, tentando controlar o tremor de suas mãos, e mostrou um objeto dourado para as pessoas ali presentes, que aclamaram ainda mais.

 

— Vai falar com eles? — perguntou a prefeita, mantendo a discrição.

— Não acho que seria uma boa ideia. — Ela riu fraco, dando uma rápida olhada na multidão.

— Vai lá, menina. É só mais um gigante para enfrentar.

 

Sorrindo, Brigitte assentiu e se afastou para que ela pudesse usar o microfone, e Alice respirou fundo, encarando as pessoas à sua frente.

 

— Dizer obrigada é pouco para agradecer por tudo isso — começou ela, sem ter certeza do que ia falar. — Não só pelo carinho e a honra de receber a chave da nossa cidade, mas pelo cuidado que cada um de vocês teve por mim. Aí, entre vocês, está uma das minhas professoras, está o mecânico que arrumou meu carro velho, o moça da padaria que me atende tão bem… Todos vocês são responsáveis por mim, assim como eu sempre serei responsável por vocês.

 

Todos aplaudiram e gritaram em coro o codinome da heroína, tirando-lhe um sorriso discreto. Quando eles silenciaram-se, ela prosseguiu:

 

— Ser comparada a Lady Nexus foi a coisa mais incrível que alguém disse ao meu respeito. Ela me inspirou. — Ela fez uma pausa, lembrando-se da saudosa heroína. — Eu olhava aquela mulher na televisão, lutando pelo nosso país mesmo antes de ter qualquer poder, apenas com o desejo de um mundo melhor, e eu disse: “Garota, você precisa fazer isso. Você precisa lutar por algo maior”. E hoje, representando tudo o que a Lady Nexus representou ao nosso país, eu estou aqui. E eu não vou desapontar nenhum de vocês, porque, assim como a Lady Nexus me inspirou, eu quero inspirar outros jovens, outras garotas a serem fortes, a serem melhores e fazerem o mundo ser um pouco melhor. Eu quero proteger esta cidade, e é isso que eu vou fazer, com todo meu coração. Obrigada.

 

Mais uma vez, os nova iorquinos aplaudiram sua heroína, fazendo o coração dela acelerar. O orgulho que eles tinham da Pocket Girl estava estampado em seus sorrisos e no brilhos de seus olhos.

Não demorou para que as luzes dos flashes e os repórteres a cercarem, enchendo-a de perguntas.

 

— Desculpa, pessoal! — Ela sorriu de canto e deu de ombros. — Responderia todos vocês, mas eu estou atrasada.

— Pocket, você vai salvar o dia?

— Existe algum perigo em Nova York neste momento?

— Não, não. Podem ficar tranquilos! É que eu tenho um encontro com o garoto mais lindo de NYC.

 

Enquanto falava, os olhos da Pocket Girl encontraram os olhos azuis intensos de um garoto magro e alto em meio a multidão, que sorria para ela em resposta. Ele ajeitou os óculos de armação escura e fez um gesto discreto com a cabeça. Já haviam perdido muito tempo com aquela besteira toda. Alice sorriu para os repórteres e os cumprimentou, levando dois dedos até a fronte, como se dissesse “até mais”, porém, sem proferir nenhuma palavra, ela diminuiu seu tamanho na frente de todos e saiu pulando e apoiando-se no ombro das pessoas, que já começavam a se dispersar. Sem que ninguém percebesse, entrou no bolso da jaqueta do garoto e relaxou, esticando seus bracinhos minúsculos.

Ele caminhou algumas quadras, até encontrar um Mini Cooper azul claro, estacionado em local proibido e com uma bela multa presa no limpador de parabrisas.

 

— Alguém não sabe respeitar as placas e as leis — ele comentou, dando de ombros, antes de entrar pelo lado do motorista.

 

Após verificar se havia alguém por perto, o garoto deixou o bolso mais aberto para que Alice saísse. Ela pulou para o banco ao lado, aumentou seu tamanho e respirou fundo. Ficar em um bolso fechado era bem sufocante.

 

— Um encontro com o garoto mais bonito de Nova York. Faltou falar que ele tem um maravilhoso sotaque britânico, é inteligente…

— Por favor, Benny. Não ia mentir para os jornais. — Ela riu, fazendo-o revirar os olhos.

— Você estava incrível lá. Parece que nasceu para ser a representante do nosso time. Eu estaria apavorado no seu lugar.

— Eu estava apavorada! — Alice franziu o cenho, vestindo uma calça jeans por cima do uniforme. — E não vem com essa de representante. Já disse que não vou ser a líder da equipe. A Delilah vai se sair melhor nisso.

— Qual é, Lice? Você é a Pocket Girl! Poderia comandar uma equipe com os melhores heróis do mundo! Aposto que até o Batman te colocaria na liderança. — Benny ligou o carro, mas Alice o impediu, segurando em seu pulso.

— O Batman chutaria a minha bunda e me mandaria voltar para o parquinho, do mesmo jeito que eu vou fazer com você se dirigir o meu carro! Passa pra cá.

 

Benny respirou fundo, sem esconder o mau humor em seu rosto, e trocou de lado com Alice, dando-lhe uma cotovelada nas costelas e levando uma na boca. O carro era pequeno demais para todo aquele contorcionismo.

 

— Você poderia ter só diminuído seu tamanho, né? Desnecessário ficar esfregando os peitos na minha cara!

— Você não reclamaria há uns meses, seu pervertido! — Alice revirou os olhos, ligando o carro e começando a dirigir. — Pensa que eu não sei o que você falava sobre mim para os Henderson? Aqueles são outros pervertidos. E para a sua informação, a sala de aula não é o local para aquele tipo de coisa. Imagina se a diretora Davis chega bem na hora? Bizarro! — Ela riu, balançando a cabeça. — O único lugar daquela escola seguro para isso é na biblioteca, atrás da última prateleira.

— Alice, você… Você fez aquilo na escola? — Benny arregalou os olhos, observando o sorriso envergonhado da irmã.

— Não! Claro que não! Que ideia! — Ela riu, sem graça, evitando olhar para o garoto. — Liga o rádio aí e para de falar besteiras.

— Depois eu sou o pervertido.

— Mal de família? — Alice ergueu uma sobrancelha, sorrindo para o irmão.

— Deve ser. — Assentindo e rindo, ele obedeceu Alice, ligando uma música aleatória.

 

Apesar do trânsito da cidade não ser o melhor do mundo, Alice e Benny se divertiram na curta, porém demorada viagem até o shopping mais próximo. Os dois conseguiram sentir dores na mandíbula e na barriga de tanto rir, falando sobre famosos que pegariam ou passariam e brigando por causa da Scarlett Johansson. Afinal, quem não queria uma mulher daquela?

As luzes da cidade estavam encantadoras naquele fim de tarde. Atraído por elas, Benny encostou a cabeça na janela e deixou seus olhos brilharem com elas. Não o típico brilho azul que o Spotlight exibia ao usar suas habilidades, mas o brilho que carregava toda a felicidade que ele vinha sentindo nos últimos meses. Não havia nada naquele momento que pudesse lembrá-lo de algo para atrapalhar o palpitar de seu peito, dando-lhe uma deliciosa sensação de euforia. E assim como na música que tocava, ele sonhou acordado, imaginando se sua irmã sentia-se do mesmo jeito. E assim, em sua fértil imaginação, novas histórias para serem desenhadas foram surgindo, assim como um novo desejo.

 

— Alice, eu vou ser um cartunista.

— Assim, do nada? — Ela franziu as sobrancelhas e olhou rapidamente para ele, antes de voltar a atenção para a rua.

— É. — Benny deu de ombros. — Eu gosto de biologia, mas eu amo desenhar, entende?

— Benny, eu gosto biologia também. Gosto de física, engenharia eletrônica… Mas eu amo dançar! Amo ensinar! Só não recebo o melhor salário para isso. — Suspirou, rindo baixinho.

— Isso significa que você me apoia? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Isso significa que você desonrou seu pai, assim como eu. Então você tem meu apoio em dobro!

 

Mais uma vez as risadas encheram o carro, enquanto Alice segurava a mão de Benny por um instante.

Nenhum deles conseguia odiar completamente Jared Harper. Apesar de toda dor que ele lhes causou, agora tinham um ao outro, os dois contra o mundo. E esse era apenas o início daquela cumplicidade, que parecia existir a vida inteira, e o pai, tão distante deles, era a menor de suas preocupações.

No shopping, eles voltaram a ser crianças, correndo de um lado para o outro, entrando e saindo de lojas, provando roupas caras, embora não comprassem nada. Fizeram uma corrida de pelúcias motorizadas, onde Alice pilotava um panda, e Benny, um lindo elefante de orelhas tão grandes quanto as suas.

A vitória foi dele, pelo menos.

Benny exibiu suas habilidades com patins na pista de gelo enquanto Alice fazia um esforço tremendo para permanecer de pé, ganhando mais hematomas do que em sua última missão, onde conheceu Jaime, um garotinho que conseguia ficar invisível. Ela jurou para si mesma que nunca mais colocaria aquelas coisas no pé, tirando gargalhadas de seu irmão, que girava com ela, segurando em suas mãos.

Depois disso, foram para o fliperama, gastar algumas fichas na máquina de bichinhos de pelúcias. A garra sempre soltava o brinde antes de chegar na saída.

Para o pesadelo de Benny, Alice implorou para que dançassem uma única música no Dance Dance Revolution. Ver aqueles olhinhos castanhos pedindo aquele último favor fez o garoto suspirar e concordar, fazendo-a pular e bater palmas, dando-lhe um sorriso impagável. A música escolhida foi Everytime we touch, uma das preferidas de Alice. Os dois começaram em um ritmo lento, mas quando chegou o refrão, as setas aumentaram em número e velocidade, fazendo o garoto arregalar os olhos e segurar-se na barra atrás de si. Para ajudar um pouquinho, Alice saiu do brinquedo e o deixou sozinho enquanto gritava “Vai, Benny! Você consegue!”, chamando a atenção de todos ali.

Não demorou para que outras garotas também o incentivasse, deixando-o vermelho e nervoso. Consequentemente, começou a errar mais ainda. Mas isso não foi um problema. Ali, torcendo por ele, mesmo que apenas de brincadeira, estavam encantadoras meninas. Era seu dever impressioná-las. E impressionou. Acalmando-se, ele voltou ao ritmo certo, até finalizar a música com uma pontuação satisfatória. Benny agradeceu aos aplausos de suas fãs com uma reverência exagerada, mas foi em direção à Alice, dando-lhe um beliscão antes de abraçá-la de lado.

Toda aquela bagunça deixou os dois famintos. Eles foram para a praça de alimentação e, em alguns minutos, já estavam devorando seus hambúrgueres.

 

— Você deveria ir falar com elas — disse Alice, olhando as garotas do fliperama, que os seguiram sem nenhuma discrição.

— Você acha mesmo? — Benny olhou discretamente para trás, mas não o suficiente.

— Claro! Elas estão eufóricas só porque você olhou para elas! Parecem até as meninas de Townsend quando o Will passa pelo corredor. — Ela riu, revirando os olhos.

— Tem alface nos dentes? — Ele deu um grande sorriso e Alice balançou a cabeça, fazendo sinal de ok com os dedos.

— Vai lá, garanhão!

 

Benny já ia se levantando, mas o som do seu celular tocando fez o garoto voltar para o seu lugar, suspirando.

 

— É a Annie — falou, antes de atender. — Oi, Ruiva.

Benny, por favor, preciso que você venha aqui! Agora! — ela quase gritou, sem esconder seu nervosismo.

— O que aconteceu, Annie? — Ele trocou um olhar preocupado com Alice, que também ficou séria. — Você teve uma visão?

Não! É muito pior! Já… Já aconteceu! Benny, rápido!

— Calma! Respira fundo e me explica o que já aconteceu. A Alice e eu já estamos indo aí.

Não! — disse rápido, ainda mais apavorada. — Você precisa vir sozinho, Benny. Por favor!

— Annie, você está me assustando — ele disse baixo, tentando acalmá-la. — Você está em perigo?

Benny, se você não vir agora, eu juro que o único correndo perigo vai ser você!

— Certo, eu estou indo! — Ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos. — Só não surta até eu chegar, okay?

Não garanto nada! — sussurrou, começando a chorar novamente, antes de desligar o telefone.

— O que aconteceu? — Alice perguntou assim que ele guardou o celular.

— Não faço ideia! — deu de ombros. — Ela quer me ver agora, mas quer que eu vá sozinho. Desculpa, Lice. Preciso ver o que aconteceu com essa doida.

— Claro! E me manda notícias, certo?

— Pode deixar. — Ele deu um sorriso tristonho para a irmã e se levantou, saindo.

— Benny? — Quando o garoto olhou para trás, Alice jogou as chaves do carro para ele. — Se fizer um arranhão, você está morto!

— E você? Como vai para casa?

— A Rachel mora aqui pertinho. Ela me dá uma carona. — Deu de ombros, terminando seu refrigerante.

— Valeu, Lice. Se cuida! — Ele acenou, começando a correr.

— Você também — Alice sussurrou, desejando que tudo acabasse bem naquela noite para Benny e Annie.

 

Ela não terminou o lanche e ligou para Rachel, agradecendo aos céus por encontrar  a mulher sóbria naquela noite. Aproveitaria a oportunidade única para resolver alguns negócios pendentes.

 

~*~

 

Assim que Benny bateu na porta, ela já foi aberta. Annie estava com o rosto e os olhos vermelhos de tanto chorar. Não respondeu a nenhuma das inúmeras perguntas que o amigo fazia, parecendo ignorar qualquer palavra que saía da boca dele. Olhou para o corredor, tendo a certeza de que não havia ninguém além dele e trancou a porta, permanecendo por algum tempo encostada nela antes de se virar e encarar o garoto.

 

— Annie, você está me assustando! — sua voz calma saiu trêmula, assim como suas mãos frias.

— É bom mesmo. Vem, eu preciso te mostrar uma coisa. — Ela segurou a mão de Benny, e o guiou pela casa até o banheiro.

— Annie, tem alguém… morto aqui?

— Antes fosse!

 

A menina abriu a porta e deixou ele entrar primeiro. Olhando ao redor, Benny não notou nada de errado ou assustador. Não havia sangue, alienígenas, zumbis ou uma cena de crime. Não tinha nem insetos dos quais garotas comuns, exceto Annie, tinham medo. Ela adorava insetos quando criança.

Mas no balcão da pia, finalmente algo lhe chamou a atenção. Uma garrafa de dois litros de refrigerante quase vazia, várias caixinhas empilhadas no canto e cerca de dez tiras de teste enfileirados, todas mostrando dois risquinhos vermelhos.

O coração de Benny disparou no mesmo instante, deixando-o boquiaberto e com o cenho franzido. Mesmo sem coragem, ele olhou para Annie e apontou para as tiras coloridas, e a garota assentiu, já com lágrimas nos olhos.

 

— Benny, eu estou grávida!

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então, galera? Gostaram do vídeo? E do capítulo? Algum shipper Baylor querendo me matar? Diz aí nos comentários.

Muito obrigada a todos!

Beijos da Mini e até o próximo =*

Ps: Vou responder todos os reviews da S1. Não me matem por causa da demora t.t
AMO VOCÊS ❤



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