Azul & Violeta escrita por TSLopes


Capítulo 10
Capitulo 9 - Edgar


Notas iniciais do capítulo

Só passando aqui para avisar que estou amando essas novas leitoras que chegaram. Bem vindas!



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Entrei no meu quarto e fui tomar banho. Meu corpo estava todo suado depois deu passar a madrugada inteira praticando movimentos de contato, que poderiam ser usados numa luta corpo a corpo em minha sala de treinos e também com espada. Fiz isso sozinho, para evitar o choro de Sarah e os olhares de Rubens.

Entretanto, esse não era o único motivo. Eu queria extravasar minha raiva gastando minhas energias, pois Angel não saia de minha cabeça. Eu pensava nela o dia inteiro, recordando de seu sorriso, de seu olhar, de seu jeito preciso de captar meus sentimentos, de sua forma espontânea e alegre de conversar. Eu não parava de me recordar de tudo, e isso me fazia ficar mais irado.

Eu não suportava a ideia dela ficar presa, em um covil com bandidos mau caráter. Na verdade, eu só a queria de volta.

Felizmente, eu era muito bom com espadas, já que treinei com meu irmão Edward quando éramos novos. Tudo de que precisava agora era de concentração, o resto viria depois.

Encarei-me em frente do espelho depois de sair do banho e ter trocado de roupa. Olhei meu reflexo a minha frente e tentei enxergar dentro de meus olhos, buscando não por mim, mas pela a fera. 

— Quero fazer um pedido – falei seriamente.

Fale.

— Lembra quando disse que se eu quiser, posso invocá-lo quando eu mandar?

Isso fora uma coisa que ele dissera há alguns meses atrás, no início de tudo. Não me lembrava exatamente quando ou em que situação, mas ele dissera que se eu pedisse, poderia ser evocado a qualquer momento, não precisando ser só na quinta-feira. Então eu perguntara do porque das quintas-feiras e ele se calara.

Lembro.

— Hoje, na hora certa, quero invocá-lo.

Senti-o tremer de prazer.

— Mas – alertei – Poderá matar todo mundo, menos Angel.

Ele bufou, ou fez um som parecido com bufar, já que não era capaz de fazer isso.

Vai ser difícil, quando começo não consigo parar.

— Por isso que quero ter o controle. Vou matar todos do seu jeito não se preocupe.

Ele riu.

Até que enfim nós trabalharemos juntos.

Olhei para baixo, satisfeito pela conversa ter acabado.

Mas, antes quero saber de uma coisa.

— O quê?

Olha, eu vivo em você e por isso sou capaz de perceber todas as suas reações físicas e até psicológicas. Entretanto, jamais pude acessar seus sentimentos mais íntimos. Por isso quero saber se você está apaixonado por essa moça.

— O quê? Não! – balbuciei surpreso.

Seu silêncio significava que ele esperava mais.

— Não estou, e você sabe que eu não posso me aproximar dela desse jeito. Já que eu matara o irmão dela por sua culpa – enfatizei essa penúltima palavra – Meu relacionamento com ela seria impossível. Além do mais, eu não tenho mais cabeça para esse tipo de coisa. Eu só quero salvá-la por que...

Aí é que estava o problema. Eu não sabia qual desculpa lógica e racional usar para com a voz que justificasse minhas ações. Na verdade, eu só queria tê-la aqui de volta.

— Por que... Ela é uma boa pessoa – gaguejei. Senti-me mal por isso, essa não era a única característica dela – E, de tantas barbaridades que eu já fizera, quero fazer uma única coisa boa salvando uma vida.

Que gracinha. Mas estamos entendidos.

Várias sensações transpassaram meu corpo. Eu me sentia exausto, prestes a ser engolido por uma avalanche de emoções. Esse assunto não me fazia bem.

Observei um vulto negro passar em meus olhos azuis, mostrando que nosso trato estava feito. Eu sabia que não conseguiria, em sã consciência, matar alguém, apesar de desejar muito. Eu só queria a força da fera. Parei de pensar nisso para que ele não percebesse.

.....||.....

Quando cheguei ao ponto marcado, Jeremy já estava lá, com o mesmo traje de ontem. Desci do meu cavalo com a mala de dinheiro e vestindo meu terno mais refinado, preto, com duas caudas e uma gravata borboleta. Ajeitei minha cartola e lhe dei meu sorriso mais charmoso.

— Bom dia, Jeremy – cumprimentei tranquilamente.

Era assim que eu agia quando estava prestes a realizar um jogo comandado por mim. Entretanto, dessa vez, esse jogo seria mais mortal do que os que eu já fizera. E isso só me deu mais coragem.

Ele sorriu.

— Bom dia. Bela manhã para passear, não?

— Sim, sempre que posso, ando por aqui – olhei as árvores.

As árvores sacodiam tranquilamente, aproveitando a brisa desse céu azul. Pássaros estavam voando e cantando, alertando que mais um dia chegara.

— E o dinheiro? – perguntou e eu apontei para o objeto que estava em minha mão.

— Está na mala – respondi.

Seu sorriso aumentou.

— Então vamos.

Ele subiu em seu cavalo e eu subi no meu.

Mas que belo dia para caçar.

Jeremy seguiu pela direita por um caminho que eu havia feito. Em certos momentos, viramos para a direita e a esquerda, sem qualquer ponto de referência como árvores caídas ou estranhas. Será que ele se perdera? - Comecei a me perguntar. Como ele sabia do caminho correto?

Depois de um bom tempo, chegamos a um pasto enorme, com algumas vacas e um armazém de madeira velha, meio torta, com alguns buracos na parede. Pulamos a cerca de madeira, eu desci do meu cavalo e o amarrei. Então fui em direção a dois homens com o mesmo casaco e calça larga de Jeremy.

— Trouxe a grana? – perguntaram em uníssono, suas vozes roucas.

— Mas é claro. E a garota? – questionei de volta.

Eles apenas gesticularam com a mão.

— Siga-nos.

Não quis reparar na aparência deles para que eu não perdesse muito tempo me assombrando com sua imagem. Ajeitei a mala de couro e os segui tranquilamente. Ou aparentemente tranquilo. Eu não tinha certeza de que teria o controle lá dentro.

 Entramos no armazém, que era cheio de mesas com armas e alguns lençóis no chão, além de homens que me encaravam com um sorriso zombeteiro. Eu era a fonte de renda desses vagabundos.

Viramos para a direita e entramos em uma pequena sala cheia de poeira e ferramentas enferrujadas. Um homem apontou para uma janela de ferro fechada e Jeremy a abriu, mostrando que ela estava protegida por grades.

— Olhe senhor conde. A garota está viva – informou, apontando para a janela.

Caminhei para a janela e senti meu corpo ferver quando vi o que estava lá dentro. Angel estava com os braços para cima, presa por correntes de ferro na parede, seu corpo coberto de hematomas e sua camisola cheia de sangue. Sua cabeça estava abaixada e vi seus olhos se abrirem e fecharem lentamente.

— Como vê senhor conde, ela está viva. Por precaução, estamos revistando a área, para verificarmos se o senhor não trouxe alguém. Quando entregar o dinheiro, nós desapareceremos e pode ficar tranquilo, não contaremos para ninguém sobre você...

Ele continuou a falar, mas eu o ignorei. Fiquei apenas encarando Angel, aumentando meu ódio. Eu nunca me senti tão irado em toda a minha vida.

Lembra-se da minha ordem? Perguntei mentalmente para a voz.

Senti meu corpo aquecer, como se um motor tivesse sido ligado. A mesma energia estrondosa que eu sempre sentia ao virar a fera dominou o meu ser, entretanto, dessa vez, eu ficara em meu corpo normal. O poder do monstro estava pulsando intensamente em mim, e eu isso me fez ficar mais preparado e confiante para o ataque.  

— Olho por olho dente por dente. Vocês a machucaram. Agora é sua vez de serem machucados – minha voz saiu pausada e ameaçadora, da forma como eu queria.

Todos os quatro apontaram uma arma para mim. Eu gargalhei.

— Vocês conheceram a melhor pessoa do mundo e agora lhe apresentarei a pior – rosnei.

— Até parece que... – Jeremy começou a dizer.

Antes que continuasse a falar, dei um soco em sua cara que o fez apagar na hora. Nem dei importância com o fato deu poder correr bem rápido ou de estar bem forte. Eu tinha começado, e agora não podia mais parar.

Os outros três se assustaram e começaram a atirar em mim. Enquanto o escudo me protegia, coloquei  minha cartola e a mala na mesa. Afinal de contas, eu era um conde, tinha que manter minha postura. Minha visão era capaz de ver além das paredes e eu vi homens correndo até aqui. Estralei o pescoço.

Isso! Se assustem!

Eu ri e pulei no homem da esquerda, quebrando seu braço. Rapidamente dei uma cotovelada no outro, rachando sua mandíbula e chutei o primeiro que tinha o braço quebrado. Todos os meus movimentos foram fluídos, feitos quase que com perfeição e profunda agilidade. Parecia ser  natural para mim.

Dei um soco no próximo homem que chegara e um chute no segundo e mais golpes nos outros. Eles notaram que não eram capazes de me enfrentar e começaram a fugir. Parecia que corriam em câmera lenta. Eu me deliciava com o fato de ser mais forte do que eles.

É tão bonito ver seus rostos assustados!

Todos os outros estavam fugindo para a floresta. No fundo minha consciência dizia para parar e ir pegar Angel agora, mas a minha raiva proveniente da fera me fez ignorá-la e seguir em frente. Quando a fera começava, ela não conseguia mais parar.

Foi fácil alcançá-los, porque estava muitas vezes mais rápido. Eram dez, alguns estavam em grupo, reunidos pertos das árvores, correndo assustados, o que fez ficar mais simples, pois eu derrubava alguns – atingindo suas pernas – e ia direto para outros, só para que isso acabasse logo. Rapidamente eu atingi cada um, até que todos estivessem caídos e eu pudesse ir embora.

Aos que estavam sozinhos, correndo pelo pasto, eu lhes dava golpes na cabeça, para que pudessem cair logo. Quando terminei, corri novamente até o armazém e vi que havia duas pessoas vivas naquela sala pequena. Quase acabando, digo para mim mesmo.

Você não os matou!

— Depois – disse entre dentes.

Entrei já com a intenção de ir direto aos canalhas, mas me controlei, porque Jeremy – com a mandíbula quebrada – estava segurando Angel com uma faca em seu pescoço. Ela me olhava assustada e ao mesmo tempo meio zonza.

— Se der um passo, eu mato ela! – sua voz saiu estranha e até um pouco engraçada.

Fiquei parado. O que eu faço?

— Edgar – Angel sussurrou – É perigoso.

Seus olhos se fecharam. Voltou a abri-los e olhou ao redor assustada.

— Eu vou embora e se me perseguir, mato ela! Juro que mato ela! – esbravejou totalmente alarmado.

Como se tivesse uma súbita compreensão momentânea do que estava acontecendo naquele exato segundo e assim formasse um plano, Angel me olhou séria. Contou até três sem fazer barulho, e eu esperei. Um, dois, três! Bateu sua cabeça em Jeremy, fazendo-o abaixar a guarda por um segundo, o bastante para eu correr e acertar seu crânio com o cotovelo.

O homem caiu e eu segurei Angel. Ela estava zonza e respirava vagarosamente, no entanto, pelo menos estava viva e segura agora. Sorrindo, aperto seu rosto em meu peito e assim senti todo o peso do último dia ser retirado de minhas costas. Sentia-me leve e completo novamente, o seu cheiro doce se tornou o melhor do mundo.

— Senti tanto medo de te perder – confessei, meio aliviado, meio angustiado.

Fechei os olhos e continuei a apreciar esse momento por alguns segundos. Angel então devagar se afasta e põe a mão em meu rosto com um sorriso fraco.

— E eu senti medo de nunca mais ver seus belos olhos azuis – murmurou e depois caiu no sono.

Não acredito que achei que trabalharíamos juntos.

A fera se vai, me deixando fraco e com dor no corpo. Toda a minha força, poder e determinação desapareceram, como se nunca tivessem existido. Levantei-a, peguei a mala e a cartola e fui embora.

Ainda não gosto dela.

Fazendo um enorme esforço, caminhei até meu cavalo, o desamarrei, pus Angel e depois subi. Só aí percebi os três cortes profundos de chicotadas em suas costas. Meu Deus, isso é tudo culpa minha. Se eu não fosse um conde, se eu não tivesse saído ou mandando-a ficar, nada disso teria acontecido.

Ah não, você estava tão confiante, agora parece uma menina.

Esforcei-me para não cair no sono enquanto incitava o cavalo a começar a caminhar. Estava exausto, pois não dormia há dois dias. E toda essa situação fez meu corpo ficar bem mole, eu sentia que poderia cair a qualquer momento. Depois de muito tempo procurando o caminho de volta, avistei a entrada da mansão. Sarah e Rubens me esperavam na porta, mas minha visão estava embaçada demais para ver suas expressões.  Entreguei Angel para ele e só então cai no sono. Sarah me segurou para eu não cair de cara no chão.


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Notas finais do capítulo

Capitulo betado pela lady mikaelson. O que acharam? Comentem!



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