Eu sou a Lenda escrita por Karina Ferreira


Capítulo 19
II-III Fúria




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Uma luxuosa carruagem ornamentada com pedras preciosas adentrava os portões do castelo causando uma grande comoção entre os guardas que sabiam da chegada de inestimada visita ao rei

O cocheiro mau parou os cavalos no pátio diante as escadarias de entrada, e logo três doggens* já estavam ali, um deles, abriu a porta da carruagem com postura elegante ofertando a mão para auxiliar as fêmeas da glymera* a descerem enquanto os outros dois cuidavam das bagagens que as damas trouxeram consigo.

A primeira a descer, uma fêmea de meia idade e cabelos bem penteados, presos ao alto da cabeça, onde uma única mecha de cabelo grisalho se destacava contra todo o restante negro, tinha a pose altiva e olhar esnobe característico da casta a qual pertencia, assim que desceu da locomoção, olhou em volta com desdém como se todos ali não fossem dignos de sua presença

A segunda a descer, era tão conhecida no castelo quanto a primeira, mas ao contrário de qualquer outro membro da glymera*, tinha a doçura, o encanto e a graça de uma humildade que todos se perguntavam de onde seria possível ter adquirido, já que tais características não eram habituais de sua casta

Naquela manhã, a vampira sempre tão sorridente e falante estava quieta, com olhar entristecido e ombros caídos, tal como se levasse sobre si o peso do mundo, e todos compreendiam perfeitamente o que se passava com a vampira, não era fácil perder um companheiro de maneira tão violenta quanto acontecera com ela

A vampira olhou de soslaio, ainda com a cabeça abaixada todos os olhares compreensivos direcionados a ela, e tal atitude a perturbava ainda mais. Todos agiam sempre, onde quer que chegasse, como se soubessem exatamente pelo que estava passando, mas não sabiam, não tinham como saber

O espirito da fêmea estava completamente perdido, buscando por respostas que jamais lhe vinham, por mais que tentasse entender o que estava acontecendo, não conseguia. Ela tinha perdido um companheiro, era o que todos lhe diziam, ela se lembrava de tal macho, lembrava de momentos junto a ele, mas não conseguia sentir afeto ou tristeza pela perda do hellren*, pior ainda, não conseguia se recordar da face desse, ou de sua voz ao lhe falar palavras doces ao ouvido

Sentia sim, um vazio muito grande dentro de si, uma grande dor misturada a agonia de ter perdido algo muito importante para ela. Sua mahmen* dizia que era normal sentir-se assim após perder um companheiro, mas tal justificativa não lhe era aceitável, não estava sentindo a falta do companheiro cujo o rosto não se lembrava, sentia a falta de algo maior, era como se sentisse a ausência de uma parte muito importante dela mesma

Agitou a cabeça discretamente como já a algum tempo estava fazendo, na intenção de desanuviar os pensamentos sem que mais ninguém percebesse sua confusão. Olhou a volta o castelo ainda mais familiar a ela do que a casa em que viveu por anos com seu companheiro, casa essa a qual não conseguia reconhecer como sua

— Tahllys* - exclamou o rei com um sorriso gentil no rosto ao sair de sua moradia para receber as fêmeas – é um grande prazer tê-las sobre meu teto – continuou o macho puxando a mais velha para um abraço e em seguida Nalla

A vampira devolveu o abraço com ternura sentindo-se bem nos braços do macho, tal como se tivesse a mais absoluta certeza da estima que o outro tinha por ela, e que sempre poderia contar com ele fosse para o que for. A rainha veio logo em seguida também recebendo as convidadas com gentileza e cordialidade.

Logo todos adentraram o local, enquanto sua mahmen* se prendia em um conversa animada com o rei e a rainha, Nalla discretamente saiu da sala de visitas rumando para as escadas que levariam ao segundo andar onde sabia ficar os quartos, não era novidade para ela, o que lhe causava ainda mais espanto, jamais estivera no castelo em tanta intimidade, mas podia identificar cada pequeno detalhe da estrutura

...

Eu desejo a morte daquela que possui uma marca idêntica a minha”

Isabella abriu os olhos assustada e em um salto sentou-se a cama olhando ao redor em busca do espirito da morte que lhe viera buscar, o peito subia e descia em arfadas ocasionadas pela respiração descompassada. Respirou fundo constatando que estava em seu quarto, em segurança, mas não sentiu-se aliviada por isso, a dor cortante da noite passada ainda estava cravada em seu peito, e as obres de outono não saiam de sua mente, não importava quanto se esforçasse para pensar em outra coisa

Voltou a deitar olhando fixamente o emaranhado de tecidos leves e claros suspensos sobre sua cama, em sua memória, imagens de Edward e seu rosto quadrado com olhar misterioso brincavam de perturbar-lhe o juízo, será que fora assim que ele se sentiu quando fora ela fazendo o ritual para mata-lo? Não, não seria possível, ele não a conhecia, talvez se ela também não o conhecesse não estaria sentindo-se tão magoada com a atitude do hibrido

Oras! Mas onde maldições ela estava com a cabeça? Não importa conhecer o hibrido ou não, ela não deveria estar magoada sobre hipótese alguma, afinal, não fora ela mesma quem entregou o papel com as instruções a ele? O que esperava que ele fizesse? Que dissesse que seria incapaz de machuca-la? Que lhe garantisse que se colocaria contra os elementais naquele guerra única e exclusivamente para protege-la, já que agora ela seria a nova guardiã da joia?

Jogou com violência uma almofada longe voltando a sentar-se na cama. Droga! Era exatamente isso que ela esperava que ele fizesse. A atitude do hibrido significava que ele permaneceria ao lado dos elementais? Que a mataria para usufruir do poder da joia e aniquilar os vampiros?

Novamente sua mente viajou em lembranças, agora ainda mais distantes, dessa vez, fora parar na noite em que era somente uma adolescente e era ela quem estava no meio do bosque tentando matar um hellren* que não conhecia. Em tal ocasião, quando a Virgem Escriba lhe interrompeu e contou a quem era emparelhada, a vampira disse a deusa com todas as letras que não aceitaria jamais aquela união, que morreria antes de se vincular a um elemental. Em tal noite, com um sorriso de deboche no rosto, a Virgem lhe garantiu que ela não somente se vincularia ao tal elemental, como também morreria por ele.

Bella engoliu em seco voltando a realidade, ela não faria isso, não permitiria que as coisas chegassem aquele ponto. Ela o mataria antes disso . Como que em resposta ao pensamento, uma pontada no peito lhe fisgou enquanto que um arrepio de medo subia pela espinha ao imaginar o hibrido morto por quem quer que fosse

— My lady? – a porta do quarto foi entreaberta e um Zsadist receoso passou por ela a livrando do poço de loucura em que se afundava – deseja alimentar-se? – perguntou o escravo claramente a contragosto. Uma expressão de repulsa tomou conta da vampira ela encarou o escravo com indignação esperando pela parte em que ele admitia ter sido uma piada de péssimo gosto, mas a ocasião não chegou

— Alimentar-me de você? – perguntou enojada – Nem que a sua fosse a ultima veia no mundo, eu nunca me alimentaria de algo tão repulsivo quanto o seu sangue fétido e nojento de escravo – Zsadist se encolheu ante as palavras da fêmea – E quem te deu permissão para entrar no meu quarto? Saia imediatamente daqui e voltei para a senzala! – ordenou em tom duro

...

Zsadist saiu do quarto exaltado, sentindo vontade de socar alguma coisa. Todos os músculos do seu corpo se repuxavam em vontade de voltar e estrangular a princesa insolente até que essa não mais respirasse, exatamente como fizera com sua antiga ama. Era culpa daquela vampira toda a desgraça pela qual estava passando, e ele estava mais do que disposto a acrescentar todos os outros problemas da raça também a conta dela e cobrar a divida da maneira mais cruel e sanguinária que encontrasse para fazê-lo

Mas olhos de safira lhe vieram a cabeça e ele relaxou imediatamente, era por Nalla que estava ali, aceitara sacrificar-se em troca da vida de sua shellan* e precisava aguentar calado qualquer fardo que a Virgem julgasse necessário para que o débito fosse quitado, mas tinha que reconhecer, colocar Isabella como sua nova ama fora um castigo grande demais orquestrado pela mãe da raça

Ainda na intenção de se manter firme em seu propósito de cumprir com sua palavra a Virgem, fixou no pensamento os olhos de azul safira da fêmea pela qual precisava se manter são, começou a descer as escadas a fim de voltar a senzala e aguardar que a princesa o solicitasse, quando os olhos tão vivos em sua mente se transformaram em realidade

Ela estava ali, diante dele, viva! O macho prendeu a respiração e parou onde estava, olhando a vampira estagnada a beira da escada rodeada por um pomposo vestido de seda em cor clara, os cabelos negros bem penteados como de costume, presos em uma grossa trança ornamentada com uma fina corrente de prata que rodeava toda a extensão do penteado se destacando sobre os fios escuros

O vampiro encarou fixamente a vampira de pele clara tentando se convencer de que era real, a fêmea de fato estava viva e bem e não um fruto de sua imaginação como temia. E a confirmação de que era mesmo real logo veio, muito mais cruel do que esperava, a vampira não o olhava com amor e gentileza como sempre fora desde que o conheceu, a feição sempre tão gentil da outra não estava ali, ao contrario, Nalla estava apavorada em vê-lo

Os olhos de um azul profundo o fitavam em desespero como se internamente a vampira ordenasse a seus pés para correr dali o mais rápido possível e estes não a obedecessem. O macho sempre tão forte e inatingível, se despedaçou inteiro, preferia receber mil chibatadas no tronco do que ver o terror nos olhos da vampira por estar em sua presença, já ia retomar o caminho de onde viera para dar espaço para que ela fugisse como nitidamente desejava, quando a vampira caiu desacordada em seus pés

...

Alice organizava os ingredientes para um bolo sobra à mesa naquela manhã quando foi surpreendida por um homem de meia idade adentrando o local. A fada parou o que estava fazendo olhando constrangida o loiro que não conhecia parado a porta a encarando de maneira confusa

— Tem uma fada na minha cozinha? – perguntou para si mesmo como se duvidasse de seus próprios olhos, a fada em questão pigarreou tentando aliviar o constrangimento

— Eu sou Alice – falou encurtando a distância entre eles enquanto secava a mão em um avental – Sou amiga de Jasper e ele me convidou a passar a noite aqui. É um prazer conhecer o senhor – estendeu a mão ao homem que olhou dos olhos lilás da pequena criatura com asas para a mão estendida dela e logo a ignorava passando pela fada como se esta não estivesse ali

— Jasper consegue ser ainda mais burro do que eu – murmurou indignado indo para o armário e já se servindo de uma dose de wisky. Alice olhou de olhos arregalados o homem virar de uma só vez todo o liquido já reabastecendo o copo em seguida

— Pai! – falou Jasper entrando o local em tom repreensivo – Você nem tomou o café da manhã ainda

— E você está transando com uma fada – respondeu o homem virando o segundo copo – Cada um de nós comete a idiotice que julgar ser melhor – batendo o copo sobre o balcão o homem saiu dali a passos duros enquanto murmurava palavras inteligíveis. Jasper virou-se constrangido para Alice que tentava recobrar a compostura e agir naturalmente perante a cena

— Me desculpe por isso – pediu em um fio de voz

— Estou preparando o café da manhã – respondeu com entusiasmo - espero que goste de bolo de laranja

...

“Eu nunca vi você agindo com tanta irresponsabilidade!” – rosnou o dragão negro sobrevoando o território dos vampiros olhando atento para baixo em busca de algum telespectador com o qual deveria se preocupar

— Eu sei o que estou fazendo – respondeu Edward com indiferença a preocupação do outro

“Se soubesse mesmo não estaríamos aqui! Está colocando seu disfarce em perigo, humanos não voam por ai montados em dragões.”

— Eu teria demorado toda uma semana para chegar se tivesse vindo a cavalo

“Ou você poderia ter ficado quieto em casa, aguardando o momento certo de agir, se descobrem que você é elemental vão mata-lo!” – Edward ficou em silêncio ante as palavras do dragão – “ Você pode me dizer onde enfiou aquele hibrido decidido a sacrificar o que fosse necessário para libertar o próprio povo ao qual eu jurei minha lealdade?” – cobrou de maneira dura

— Eu só preciso ter certeza de que ela está bem – murmurou, não existiam segredos entre eles, quando Drogo se ligou ao hibrido, ambos passaram a conhecer profundamente a alma um do outro – Eu não vou me perdoar se ela não estiver – foi a vez do dragão ficar mudo com as palavras do humanos

“Você sabe que ela é vampira certo? E que como tal, está inclusa no pacote de extermínio ao qual você esta destinado” – novamente o hibrido ficou em silêncio com o maxilar travado e o cenho franzido – “Ou por acaso você está pensando em mudar de lado?”

— Ali! – apontou para baixo – pode me deixar ali, eu sigo o resto do caminho andando – o dragão cuspiu uma bola de fogo enraivecido pelo esquivo do outro em dividir com ele suas duvidas, em um mergulho profundo e veloz desceu à terra jogando o hibrido de suas costas e voltou aos céus

...

Nalla estava encurralada, o vampiro coberto por cicatrizes falava de maneira dura com ela enquanto a olhava de maneira feroz, não podia compreender as palavras que ele lhe dizia, mas sabia que estava enraivecido por alguma atitude dela que ele desaprovava, ele não a queria ali, a mandava embora. A cicatriz no rosto saltava ainda mais da pele tamanha a raiva que sentia, mas ela não tinha medo, ela queria tocar-lhe e convence-lo de que ficaria tudo bem

— Minha lellan* fale comigo – a voz aflita de sua mahmen* a despertou e a vampira abriu os olhos deparando-se com olhos preocupados a encarando de perto – Oh! Graças a Virgem! – cantarolou a fêmea a puxando para um abraço. A vampira olhou em volta vendo que estava de volta a sala deitada em um estofado

— O que está havendo? – perguntou Isabella adentrando o local olhando de forma curiosa a aristocrata

— Nalla teve um mal súbito e foi encontrada inconsciente nas escadas – respondeu a rainha com doçura – deve ser por conta de todo o estresse que vem passando – se compadeceu da pobre fêmea unindo as mão junto ao peito

A princesa voltou a olhar para ela ainda como se buscasse algo que ninguém mais pudesse ver e Nalla desviou os olhos sentindo-se constrangida pelo sorriso quase maldoso da princesa, tal como se debochasse dela. Embora frequentassem os mesmos eventos da glymera*e vez ou outra Nalla estivesse no castelo para visitas cordiais, as vampiras nunca trocaram palavra alguma, por muitas vezes, a princesa se mantinha inacessível a conversação, sempre presa a sua postura rabugenta e rebelde

— Coitadinha – entoou a princesa – Ela deve estar precisando de um pouco de ar fresco, respirar sem tantos lamentos em volta dela. Deixem que eu a acompanhe até o jardim – Nalla olhou aflita para a mahmen* como em busca de socorro, a ideia de estar sozinha com a princesa lhe parecia terrivelmente assustadora, mas ao contrario do que desejava, a fêmea a incentivou a seguir a Isabella para longe da vista de todos – Estaremos no jardim central – falou para uma doggen* discretamente parada ali – Mande Zsadist nos levar um chá

— Eu mesma posso atende-las my lady – respondeu a fêmea fazendo uma profunda reverência

— Eu disse o Zsadist! – Esbravejou e a doggen* se encolheu no lugar causando um desconforto em Nalla que julgou errado o tratamento da princesa para com a outra mas nada disse a respeito

O jardim bem cuidado e repleto de flores coloridas não trouxe alegria a vampira aristocrata que tanto admirava tais paisagens, ao contrário, estar somente com Isabella ali cercada pela natureza lhe trazia uma sensação de dejavu, como se a companhia da vampira pudesse lhe machucar de alguma forma

— Olha só para você – começou Isabella ao sentar-se ao seu lado em um banco disposto ali em tom irônico – está viva! – Comemorou com demasiada empolgação – Sabe que da última vez que a vi você não me parecia muito bem? Na verdade, estava tão apagada que até me parecia morta – gargalhou de alguma piada que Nalla deixou escapar

— Quando foi mesmo a última vez em que nos vimos? – perguntou timidamente a vampira, ela não era assim, Nalla sempre foi conhecida por sua determinação e coragem em enfrentar seus próprios medos, seu irmão vivia repetindo que deveria assumir seu lugar de fêmea e parar de querer falar em igual nível que os machos, mas desde que acordara em uma certa manhã, recebendo a informação de que havia perdido seu hellren*, a confusão que se abatera em seu juízo tomara tamanha proporção que já não conseguia ser a vampira alto confiante de outrora

— Oras vai dizer que não se lembra? – falou a princesa uma nota mais alta, claramente se divertindo com o desconforto da mais velha – foi ainda a algumas semanas, na festa das fadas – Nalla abriu os olhos estupefata, não recordava-se de festa alguma. Já ia abrir a boca e questionar a princesa sobre o assunto a fim de conseguir mais informações quando o escravo que a deixara desnorteada momentos antes aproximou-se trazendo uma bandeja

O vampiro aparentava grande desconforto em estar ali, e evitava olha-la enquanto oferecia uma xicara a sua ama. Exatamente como acontecera anteriormente, Nalla sentiu o sangue correr rápido por seu corpo, tão rápido que lhe causava vertigem. Desviou o olhar do macho coberto por cicatrizes tentando aliviar aquele desconforto

— Assustador não é mesmo? – perguntou Isabella em tom maldoso – Eu também fico desconfortável na presença dele, você sabe que ele matou a última ama a quem serviu? – Nalla ficou embasbacada com a informação e foi impossível não sentir um pânico crescer dentro dela quando o macho lhe ofereceu uma xícara. Olhou da mão grande e de veias saltadas do macho ao rosto onde uma cicatriz fina descia pelo supercílio esquerdo, passava pelo nariz, arredondava na bochecha e voltava para o lábio dando uma leve levantada na região

Os olhos escuros do vampiro estavam tão enfurecidos quanto no sonho que tivera enquanto estava desacordada, mas além da fúria, a vampira podia identificar algo a mais, algo que em seu sonho não estava ali. Por um momento, o olhar dos dois se encontraram e imediatamente, a íris preta deu lugar a um dourado profundo, tal como ouro derretido desanuviando toda a tensão, curiosamente, o escravo não parecia mais tão assustador assim, e a cicatriz até lhe dava um traço de beleza exótica, algo que com toda a certeza não se encontrava nos machos da glymera* sempre tão cheios de pompas

— Mas o que está acontecendo? – olhou assustada para a princesa preocupando-se de ter externado sua breve admiração ao escravo, mas logo confortou-se em ver que a indignação de Isabella não dirigia-se a ela, mas sim a um barulho de briga vindo do pátio do castelo. Tão logo terminou a frase, a vampira já caminhava a passos rápidos na direção do burburinho deixando Nalla para trás. A vampira olhou da princesa ao escravo que ainda a fitava de olhos dourados e então correu de volta ao castelo, se perguntando o que diabos estava acontecendo com ela

...

Bella chegou ao pátio se deparando com vários soldados tentando apartar uma briga no meio do terreno, e tamanha foi a sua surpresa ao identificar que eram Emmett e Edward trocando socos enquanto meia dúzia de machos se esforçavam em vão para segura-los

A vampira prendeu a respiração ao notar que o hibrido lutava em igualdade de força e velocidade com o vampiro colocando em risco seu disfarce. Graças a qualquer que seja o deus olhando por ele naquele momento, ninguém mais pareceu tomar nota da anomalia do então humano

— O que pensam que estão fazendo? – gritou correndo na direção dos brigões já tentando também separa-los, foi só quando, finalmente, conseguiu se colocar entre eles que os dois se detiveram, ou claramente a iriam machucar. Aproveitando do segundo de pausa dada pelos machos, os soldados puxaram cada um para um lado, e mesmo assim, ambos se debatiam tentando se alcançarem novamente. Emmett gritava palavras inteligíveis de insultos ao hibrido que apenas lutava para se soltar do aperto dos guardas, e Bella se colocou a frente deste para que olhasse somente para ela – O que veio fazer aqui? – cobrou em tom duro e finalmente Edward pareceu a ver ali, o hibrido parou de se debater a olhando firme

— Eu vim ver como você está – respondeu em um fio de voz e Bella quase se deixou vencer pelo tom arrependido dele

— Viva como pode ver – respondeu ainda de maneira dura

— Não graças a você! – gritou Emmett por trás dela – Você veio terminar o que começou? Eu vou acabar com você seu humano de merda! – Edward franziu o cenho olhando o vampiro por trás da cabeça de Isabella e ela pode ver com desespero a pupila negra do hibrido se dilatar invadindo completamente a íris verde enquanto este fechava as mãos em punho, mas antes que o negro invadisse a córnea branca ele voltou a olha-la

— Podemos conversar em outro lugar? – olhou Emmett que começara a gritar ainda mais insultos a ele ao escutar tal proposta – A sós – Bella queria dizer não, seu orgulho ferido queria se mostrar superior e indiferente ao hibrido depois do ocorrido na noite passada, mas todas as células do seu corpo gritavam para que dissesse sim, para que ficasse sozinha com ele e o quanto antes se atirasse em seus braços apaziguando a dor da rejeição que sentia desde que tentara mata-la. Não admitiria jamais tais desejos em voz alta, para todo e qualquer efeito, ela estava somente evitando que o hibrido de olhos quase que completamente negros revelasse de vez seu segredo e causasse ainda mais problemas naquela tarde

A vampira simplesmente fez um sinal positivo com a cabeça e virou em seus calcanhares caminhando em direção aos portões do castelo esperando que o hibrido a seguisse, tão logo começou sua caminhada sentiu-o ao seu lado, os soldados abriram os portões e os dois passaram em silêncio por ele seguindo na direção do bosque, o mesmo que anos antes fora palco do ritual de Emmett e Isabella

Edward olhava as árvores pelas quais passavam em busca de uma válvula de escape daquele momento de desconforto, o silêncio que se seguia entre o casal a medida em que adentravam o bosque lhe parecia terrivelmente ensurdecedor, não saber o que a vampira estava pensando lhe era desesperador

Não dormira durante toda a noite que passara, remoía incontrolavelmente as imagens da fêmea ajoelhada a sua frente aguardando que pedisse por sua morte. Sabia que não seria fácil, sabia que lhe iria doer, mas precisava tentar, se Isabella não existisse seria tão mais fácil decidir por exterminar os vampiros. Ele podia ignorar o sorriso de dois dentes de Anne, as gargalhadas debochadas de Rhage e todo o resto que vivera nos dias em que estivera com os vampiros

Mas não podia ignorar o olhar assustado de Bella quando as coisas saiam de seu controle, os sorrisos arteiros quando sabia estar quebrando alguma regra, o cheiro doce que a fêmea exalava, a pele clara e macia que lhe era tão agradável ao toque, os lábios sempre tão convidativos nos quais se perdia deliciosamente sempre que se encontravam ao seus – suspirou profundamente – definitivamente, muito mais fácil se ela não existisse

A vampira parou em uma clareira e voltou-se para ele, ao contrario do que esperava, não viu o rancor para o qual se preparou durante toda a viagem até ali, não viu a mágoa de alguém que foi traída por seu próprio hellren* como sabia ter existido em seus próprios olhos quando descobriu ser emparelhado a ela. Ao contrário de tudo para o que estava preparado, viu medo, não um medo qualquer, a vampira estava com medo do futuro, ele podia ver nitidamente, era o mesmo olhar da noite em que fora visitar o santuário com a promessa de dizer não a Virgem, era o mesmo olhar que ele também mantinha por muitas vezes quando lembrava-se da missão incumbida a ele sem poder dizer se daria conta de tal fardo

O casal continuou apensa se olhando por um tempo, até que em movimentos sincronizados jogaram-se nos braços um do outro, se enlaçando em um abraço apertado como se fosse ali o refugio para todos os medos e inseguranças que sentiam e tão logo, os lábios se encontraram como ambos desejavam, em um beijo coberto de significados que ia muito além da compreensão de qualquer um deles

...

Rosalie enxugou com as costas da mão mais uma lágrima que correu sem permissão por seu olho, já havia perdido as contas de a quantos dias estava trancada em seu quarto sem conseguir conter o sentimento de mágoa que abatera-se sobre ela após quase ter sido escolhida como guardiã da joia de quatro almas

Ela era uma boa serva à mãe da raça, sentia-se honrada em servir a deusa e atender a todos os seus chamados, fosse em questões particulares, fosse em auxilia-la ao atendimento de algum vampiro que solicitava o socorro da Virgem

Mas ser guardiã? Ter sua alma aprisionada dentro de uma pedra, precisar viver em constantes batalhas correndo o risco de morrer? Ela sequer tinha família, quem se oferecia como seu ahstrux nobstrum*? Emmett? – bufou contrariada – ele com toda a certeza se oferecia como o da princesa – fungou, deixando-se abater pelo choro

Criança— falou Pany de maneira bondosa adentrando o quarto – Essa situação tem estado insustentável, a santíssima Virgem já esta preocupada com o seu bem-estar, o que aflige tanto o seu coraçãozinho pequena? – Quando bebês recém-nascidos eram solicitados pela Virgem a serem sacerdotisas e suas famílias precisavam entrega-los a porta do santuário, a auxhiliar* tomava para si a responsabilidade de cuidar de todas as necessidades deles, já que como líder do santuário, era sua responsabilidade zelar pelo bem de todas, Pany sempre fora a única mãe que Rosalie conhecera, e justamente por isso, era a ela a quem confiava todos os seus segredos

Por que ela me escolheu?— choramingou deixando-se embalar pela outra e escondendo o rosto por entre os cabelos cumpridos e escuros – o que eu fiz para deixa-la brava? Eu a desrespeitei de alguma forma?

Mas é claro que não, você é maravilhosa e jamais faria algo para desrespeitar nossa divindade, muito pelo contrário, todos sabemos que você teria aceitado ser guardiã mesmo contra a sua vontade se assim desejasse a Virgem

Então por que me escolheu? Por que permitiu que eu passasse por tamanho medo?

Não cabe a nós compreendermos os planos da nossa deusa meu amor, apenas respeita-los, mas não se permita afligir, mantenha em mente que ela não tinha a intenção de torna-la de fato guardiã, o tempo inteiro, a intenção era que Isabella aceitasse o posto para te poupar— bufou contrariada se soltando dos braços da fêmea

Você não conhece Isabella! Aquela vampira é o ser mais insensível da face da terra— a auxhiliar* sorriu de maneira gentil a ingenuidade da pequena sacerdotisa

Não minha querida, é você quem não a conhece. Por trás de todo o recipiente de rancor em que à transformaram, Bella é a mais gentil das criaturas. Ainda lembro-me com clareza da época em que a minha menina mantinha sempre um sorriso tímido e olhar inocente onde quer que estivesse— suspirou perdida em pensamentos

Do que está falando lidher*? – perguntou confusa – Com certeza não estamos falando da mesma Isabella— a fêmea olhou de soslaio a loira confusa a sua frente

Logo a verdade virá a tona e você compreenderá criança, por hora, preocupe-se em voltar aos seus afazeres como sacerdotisa— Rosalie desviou o olhar constrangida

Lidher*, eu não quero ser desrespeitosa, mas não desejo mais ser sacerdotisa— novamente Pany sorriu a outra afagando com gentileza os cabelos claros da outra

Minha criança, não é possível que deixe de ser sacerdotisa, você foi escolhida ainda no ventre de sua mãe, não pode desviar de seu propósito, ninguém pode— Rosalie inflou o peito de ar olhando a mais velha de forma decidida

A minha vida inteira segui o que nasci pra seguir, falei, me vesti e agi como me disseram que deveria fazer e o que ganhei com isso? A grande chance de quase ser aprisionada dentro uma pedra fria

Rosalie! – cobrou a outra em repreensão

A partir de hoje, eu traço o meu próprio destino!

...

Bella aconchegou-se mais aos braços de Edward naquele fim de tarde, o casal deitado no meio da clareira decidira parar de lamentar-se antecipadamente por um futuro que ainda não acontecera e nem tinham como prever se de fato aconteceria e começaram a desfrutar unicamente do agora, da companhia um do outro

Mas enquanto o hibrido afagava seus cabelos e observava as finas linhas subindo já por todo o seu antebraço, era quase impossível para a vampira não pensar no que seria feito a ela, imaginava como deveria ser dentro da joia, se poderia ver ou sentir que estava aprisionada no objeto ou se tudo seguiria normalmente. Se perguntava se a dor agonizante da transição descrita no livro das lendas era de fato tão ruim. E o mais aterrorizante de tudo o que ainda estava por vir, teria que se dobrar as vontades da Virgem

— Você deveria ter completado o ritual ontem – falou pela primeira vez sobre o assunto, a voz em um murmúrio quase que inaudível

— Eu deveria era não ter o iniciado já sabendo que não conseguiria concluir – murmurou o hibrido depositando um beijo no alto da cabeça dela

— Você tem noção de tudo o que acontecerá a mim a partir do momento em que a transição se concretizar? – lamentou – Acredite, a morte é um destino bem menos cruel do que a vida de servidão que a Vadia Escriba me obrigará a levar

— Fuja então – falou em tom descontraído e Bella sorriu

— Até que não seria má ideia – debochou e o hibrido a olhou estupefato

— Bella! É isso - levantou-se em euforia – Vamos fugir! – declarou animado

— Está falando sério? – perguntou espantada, a ideia ate que lhe parecendo atraente

— É claro que estou! Como foi que não pensei nisso antes? É a solução de tudo – Comemorou e Isabella também se levantou animada, vendo finalmente uma luza na escuridão – se fugirmos você não vira guardiã, com a falta da quarta alma na joia, as guardiãs estarão enfraquecidas e vai ser muito mais fácil para mim pegar a pedra, eu derrubo a barreira, liberto os elementais e pronto, dever cumprido – Bella o olhou de lábios entre abertos tamanha a surpresa das palavras que acabaram de ouvir – Com os elementais livres eles próprios darão um fim a guerra, será questão de dias para que todos os vampiros estejam mortos - envaideceu-se

— Todos os vampiros estejam mortos? – perguntou desacreditada das palavras do outro

— Menos você é claro – sorriu presunçoso - como minha shellan* eu vou garantir a sua segurança, tenho certeza que com o poder da joia, posso até dar um jeito de por fim a maldição da bruxa e poderemos ficar juntos de verdade – o hibrido sorria empolgado visualizando uma nova possibilidade de futuro sem notar a expressão de choque com que a vampira o olhava

— Você não entendeu nada? – perguntou a vampira em tom de acusação

— O que? – respondeu inocente

—Você ainda está preso na mentira! Eu te dei a oportunidade de ver a verdade, de conhecer as nossas crenças, nossos costumes, de saber quem realmente somos e ainda assim, você quer libertar um povo perverso e cruel – Foi a vez do híbrido a olhar com indignação e travar o maxilar

— Sim você tem razão, eu vi como jogam comida fora enquanto o meu povo passa fome! Vi como andam livres no mundo arrastando suas vestes de fios de ouro pelo chão e exigindo que todas as outras espécies se curvem aos seus pés e protejam seus traseiros enquanto o meu povo, exprimido dentro de uma cúpula sem sol, esforçam-se para dividir o pouco ar que lhes restam. Eu vi como se dividem a vocês mesmos em castas estabelecendo quem são os melhores e quem são os piores, como escravizam os da própria espécie sem uma gota de compaixão e nós é que somos os desprovidos de sentimentos? – gritou tudo em um folego só, o sangue fervendo dentro dele enquanto o lado elemental assumi o controle, os olhos já completamente enegrecidos

— Elementais encontraram o destino que eles próprios procuraram! Se hoje estão privados da liberdade é justamente por serem uma ameaça a todos os outros, se passam por necessidades é como punição pela ganância que sentem. A inveja é a única responsável por todos os males que recaíram sobre esses vermes! E eles nunca, nunca, vão sair do exílio!

— Pois eu tenho uma novidade para você dona do mundo, eu sou um elemental! – todo o corpo do hibrido explodiu em chamas violentas fazendo Isabella dar um passo para trás – Eu sou aquele a quem chamam de libhertador* e eu vou trazer de volta ao meu povo, tudo aquilo o que seu nos tirou!

— Não se eu puder impedir! Garanto que essa maldita pedra nunca teve uma guardiã que a protegeu tão bem quanto eu o farei!

— Suas palavras em muito me aliviam, pois agora não existe mais nada que possa me impedir de cumprir com o dever que me foi incumbido! Eu somente descansarei quando o último vampiro vivo parar de respirar – a olhou firmemente e Isabella travou o maxilar sustentando o olhar do macho em igual nível de revolta

— Não poderá cumprir com seu proposito se eu o matar primeiro! – colocou decidida, sentindo a força estranha a qual não sabia nomear fluir dentro dela, as íris castanhas dando lugar ao vermelho púrpura da fúria

Continua...


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Notas finais do capítulo

Glossário do Antigo Idioma:

Doggen: servo
Glymera: Alta aristocracia dos vampiros
Hellren: companheiro
Mahmen: Mãe
Tahlly: Querida
Shellan: Companheira
Lellan: Muito amada
Ahstrux nobstrum: guardião pessoal com proezas para matar
Auxhiliar: sacerdotisa que serve a Virgem de modo muito próximo
Líder: Alguem com grande influência
Libhertador: Salvador

Primeiramente, gente eu estou impressionada como vcs são vingativas e rancorosas, o que tem de comentário comemorando o Edward ter feito o ritual com a Bella no cap passado... Vamos aprender a perdoar e seguir em frente meu povo? Kkkkkkkkkkk aiai vcs são as melhores e eu me divirto com vcs rsrs

Segundamente, Cap grande para compensar a demora rsrsrs e não me matem ou não saberão se eles vão se matar um ao outro ou não kkkkkk

Beijos e comentem preu ficar insirada e liberar o próximo rapidinho, só avisando q semana q vem já estou de férias na faculdade hem rsrsrs

Beijooooos



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