Sasuke batia o calcanhar no chão, nervosamente, observando os movimentos sutis que os ponteiros do relógio na parede faziam. Segundo ele, aquela última hora havia sido a mais longa de sua vida, com sua atenção oscilando entre o que o professor dizia e pensamentos sobre quanto tempo faltava para desaparecer daquela sala. Ele só queria que o dia terminasse logo.

Assim que o sinal tocou, indicando o fim da aula, Sasuke rapidamente jogou seus materiais dentro da mochila e saiu apressado. Ele já atravessara quase todo o corredor lotado, desviando de adolescentes que também não viam a hora de ir para casa, quando sentiu um puxão no braço, sendo carregado na direção oposta. Ao olhar para o dono da mão que o puxava, Sasuke reconheceu uma familiar cabeleira loira. Assim que saíram do meio da confusão de alunos, chegando a um corredor deserto, ele puxou seu braço de volta, fazendo com que Naruto parasse e se virasse.

— Chega! Qual é o seu problema? – enfurecido, Sasuke falava alto. – Faz dois dias que você nem sequer olha na minha cara e agora acha que tem algum direito de sair me puxando pelos corredores igual um homem das cavernas? 

— Sasuke, eu...

— O que foi? – ele continuou. – Vai me dizer que não quer ter mais nada a ver comigo? Bom, pelo menos seria mais decente da sua parte fazer isso ao invés de simplesmente me ignorar, igual uma crian-

— Sasuke, cala essa boca! – Naruto o interrompeu, o segurando pelos ombros.

Com a respiração pesada, o moreno parou para observá-lo. Ele tinha uma expressão magoada no rosto, olhando para o outro com aqueles olhos brilhantes. Foi, então, que Sasuke percebeu o quanto a ausência do loiro havia lhe chateado, pois tinha guardado todos os pensamentos dos últimos dias para si e queria continuar jogando-os na cara de Naruto.

— Não me mande calar a...

— Eu já mandei – Naruto o cortou novamente, decidido. – Olha, - suspirou – me desculpe, eu não... não era a minha intenção te ignorar. Eu só estava confuso. Precisava pensar um pouco.

— Ah, peço perdão se minha opção sexual te deixou desconfortável – Sasuke apontou, sarcasticamente.

— Não foi isso que eu quis dizer. Eu te trouxe aqui para conversarmos.

— Hm, mas eu não quero conversar com você – ele já ia saindo, quando Naruto o puxou de volta.

— Eu só quero que saiba que vou te ajudar – o loiro tinha um olhar esperançoso no rosto. Sasuke franziu o cenho, desconfiado.

— Me ajudar com o que, exatamente? 

— A arranjar um namorado.

Sasuke estava sem palavras; Naruto parecia causar bastante esse efeito nele. 

— Você ficou pensando por todo esse tempo e foi a essa conclusão que chegou? – o outro assentiu, animado. – Eu vou embora.

Dessa vez, Sasuke se desvencilhou das mãos de Naruto e se pôs a andar em direção à saída novamente.

— É uma ótima idéia, não? – Naruto falava enquanto seguia o moreno.

— Mas é claro... que não!

— É sim – ele teimou. – Aposto que você não se importaria de ter alguém pra... você sabe.

— Naruto, - Sasuke parou, virando-se para ele – eu juro que se você abrir a boca para falar mais uma idiotice eu vou acabar te batendo – ele gesticulava como se estivesse falando com uma criança de cinco anos.

— E eu aposto que é por causa dessa sua atitude que você está sozinho.

— Eu não preciso de alguém.

— Já tenho um plano, não se preocupe – Naruto dizia, sem se dar conta de que Sasuke respirava fundo, se controlando para não começar a gritar. – Essa sexta, Kiba vai dar uma festa na casa dele, e que lugar melhor para se conhecer pessoas do que numa festa? É brilhante!

Sasuke apenas o encarou, amaldiçoando aquele sorriso bobo e os olhos encantadores que o olhavam esperançosos. Como pode alguém ser tão irresistível e tão imbecil ao mesmo tempo?

— Meninos, vocês vem ou não? – Sakura aparecera no final do corredor, gritando.

— Estamos indo! – Naruto gritou de volta.

— Indo aonde? – indagou Sasuke, parecendo derrotado.

— Para a casa da Hinata. Combinamos de estudar para o teste de quarta-feira.

— Acho que vou passar essa, não estou com cabeça pra estudar agora.

— Deixa de preguiça, vai. Uma revisãozinha não faz mal a ninguém – pegando o braço de Sasuke, Naruto saiu puxando-o novamente.

Merda. 

                                                 ...

— Naruto, aqui você se esqueceu de colocar o sinal negativo na frente da equação antes de calcular. E Lee, você escreveu o composto errado, é C6H1, não C4H1 – Sakura devolvia as questões dos garotos apôs corrigi-las. Ambos suspiraram ao perceber que teriam de refazê-las.

Já Sasuke se encontrava entediado, observando Neji tentando passar de fase no jogo em seu celular, seus cadernos a muito tempo esquecidos e jogados no sofá.

— Cuidado – falou Sasuke, vendo que um grande bloco vinha em direção ao boneco que corria na tela.

— Essa foi por pouco – Neji suspirou.

— Ah, fala sério! Vocês acham bonito ficarem mexendo no celular enquanto o resto das pessoas normais estão trabalhando aqui? – Naruto reclamou, encarando os dois, que apenas o ignoraram.

— Se concentre, Naruto – disse Hinata, gentilmente. – Quanto mais exercícios fizer, mais rápido vai poder sair para brincar.

— Isso mesmo, se comporte como um bom menininho e termine suas tarefas - Shikamaru zombou dele, fazendo os outros rirem. Bufando, Naruto voltou sua atenção para seu caderno novamente. 

Já cansado de ficar ali, sentado, Sasuke se levantou e foi até a cozinha pegar um copo d’água. Depois de encher um copo, ele se apoiou na bancada enquanto bebia. A conversa que teve com Naruto mais cedo veio à sua mente, fazendo-o rir, quase cuspindo a água que estava prestes a engolir.

— Qual a graça? – Naruto apareceu sob o batente da porta, assustando Sasuke, que começou uma crise de tosse ao se engasgar. 

Correndo para ajudá-lo, Naruto começou a dar tapas nas costas dele. Ao invés de ajudar aquilo acabou apenas irritando o moreno, que após alguns segundos começou a voltar ao normal, meio ofegante, dando um soco no ombro do outro para que ele parasse com os tapas incessantes. O loiro reclamou, contendo o riso.

— Aqui, bebe mais um pouco de água – Naruto pegou o copo que ele havia deixado em cima da bancada enquanto tossia, e o entregou.

Sasuke lhe lançou um olhar irritado, tirando o copo de suas mãos.

— Então... – Naruto começou a falar – não está mais com raiva de mim, está?

— Estou – respondeu Sasuke, sério.

— Por favor, vai, eu já te pedi desculpas – ele o olhava com olhos de cachorrinho abandonado. – O que eu preciso fazer para você me perdoar? Te implorar de joelhos?

Naruto já ia se abaixando quando Sasuke o parou, pegando em sua mão; um sorriso lutava para aparecer em seus lábios.

— Deixa de ser bobo, não estou com raiva.

— Não?

Sasuke balançou a cabeça, negando.

— Só não me ignore assim de novo, está bem? – Sasuke viu um grande sorriso tomar conta do rosto de Naruto que, inesperadamente, o envolveu em um abraço apertado.

Apesar do espanto, Sasuke logo passou seus braços pela cintura do loiro, retribuindo o gesto e agarrando-se à camisa dele. Fechando os olhos, ele apenas se concentrou no calor do corpo de Naruto e no aroma que emanava de seu pescoço e cabelos, perdendo-se nas sensações que lhe causavam. 

— Hem hem.

Ao ouvirem alguém no cômodo, eles se soltaram, vendo Shikamaru parado no meio da cozinha. A pele de Naruto se tornara escarlate rapidamente.

— Nós só estávamos... hm, eu preciso voltar... é, estudos – o loiro falava incoerentemente, logo voltando apressado para a sala.

— O que foi isso? – Shikamaru perguntou, arqueando a sobrancelha. Sasuke deu de ombros, segurando o riso.

— Ele é adorável, não é? – ele observou, ainda olhando para a porta, por onde Naruto acabara de sair. 

— Pode até ser, mas isso não quer dizer que não vá te dar trabalho.

Os dois trocaram sorrisos cúmplices.

                                              ...

— Como assim, você tirou dez? Impossível, você nem mesmo estudou!

Sasuke deu de ombros, rindo da expressão incrédula do loiro.

— Algumas pessoas apenas têm o cérebro mais desenvolvido que o seu, Naruto – Kiba comentou, sendo fuzilado pelo olhar de Naruto.

— Você e sua língua afiada – ele já ia em direção a Kiba, quando sentiu a mão de Gaara em seu ombro, parando-o.

A turma se reunira na sala, na hora do intervalo, para ver como haviam se saído no teste que fizeram naquela mesma manhã. Alguns alunos saiam cabisbaixos, enquanto outros comemoravam por pelo menos terem tirado uma nota decente.

— Por que vocês dois sempre têm que arranjar um jeito de se irritarem? – Ino suspirou.

— É assim que mostram o quanto gostam um do outro – apontou TenTen, fazendo Naruto e Kiba revirarem os olhos.

— Será que podemos ir comer logo? – sugeriu Shikamaru, ao que todos assentiram, finalmente dirigindo-se à cantina.

Enquanto caminhavam pelo corredor, ouviram alguém chamando Naruto. Ele parou e se virou, abrindo um sorriso ao ver quem era.

— Vó Tsunade! – ele exclamou.

— Quantas vezes já te disse para não me chamar de vó? – a mulher o repreendeu. Ela tinha um rosto jovial e longos cabelos loiros. Sasuke reparou que os outros meninos também haviam parado para observá-la. – Olá, pessoal – ela cumprimentou o resto do grupo.

— O que está fazendo aqui? Saudades de mim?– perguntou Naruto. 

— Até parece – Tsunade lhe lançou um sorriso falso. – Jiraya me pediu para vir entregar uma coisa a Kakashi.

— Não me diga que é mais um daqueles livros de...

— Tsunade! – Naruto foi interrompido por Kakashi, que aparecera, de repente, saindo de uma das salas de aula. – Como vai?

— Estou bem, obrigada. Eu trouxe o seu...

— Por que não conversamos na minha sala? – indagou Kakashi. Tsunade assentiu e, após se despedir dos garotos, seguiu o professor corredor afora.

— Aquela é a sua avó? – Sasuke perguntou.

— Eu gostaria de ter uma avó assim – Kiba comentou, distraído, recebendo, de novo, um olhar repressor de Naruto. 

— Mais ou menos – o loiro respondeu, voltando a andar. – O marido dela, Jiraya, é meu padrinho. Os dois sempre estiveram por perto, sabe?

— Hm.

De repente, Sasuke se pegou pensando no quão pouco ele ainda conhecia sobre Naruto; e o quanto ele realmente gostaria de conhecer. Por si só, esses pensamentos já eram incômodos o bastante, e logo foram jogados fundo de sua mente. Ao chegarem na cantina, todos se sentaram em uma grande mesa e começaram a conversar animadamente, esquecendo-se totalmente do estresse que o teste lhes causara mais cedo.

— Todos vão vir na sexta, certo? – perguntou Kiba, esperançoso.

— Acho que não – a resposta de Neji se destacou entre os vários “sim” que puderam ser ouvidos em volta.

— Como assim, você não vai? – Lee o olhava. Neji balançou a cabeça, negando.

— Provavelmente já vou estar cansado de olhar pra cara de vocês quando o final de semana chegar – ele disse, recebendo um toca aqui de Shikamaru. Sasuke se relacionou com aquilo.

— As vezes me pergunto se realmente têm um coração batendo dentro de vocês – Ino suspirou.

— Tenho certeza de que ele vai, só está fazendo drama – convencida, TenTen afirmou. Neji apenas revirou os olhos.

— Ei – Sasuke ouviu Naruto sussurrar em seu ouvido, chamando sua atenção. – Você e Neji parecem ter bastante em comum, o que acha dele?

— O que eu acho...? – Sasuke murmurou, tomando cuidado para que ninguém mais ouvisse a conversa.

— Ele é atraente, não é?

— Sim, mas...

— Já temos um potencial candidato, então – ele sorriu.

— Não, Naruto. Olha, eu não preciso de alguém bancando o cupido para mim...

— Shh – Naruto deslizou a palma da mão sobre seu rosto para que se calasse. – Eu tenho tudo sob controle.

Sasuke afastou a mão dele, pronto para explicar o quão chato ele estava sendo, mas Sakura falou primeiro, interrompendo a conversa.

— O que vocês dois tanto sussurram ai?

— Nada que te interesse – Naruto falou, sem perceber que estava sendo rude e levando um tapa da amiga. – Ai!

Sasuke teve a sensação de que alguém o observava e virou o rosto, percebendo que Shikamaru o olhava de volta, com um sorrisinho no canto dos lábios. Suspirando, Sasuke desviou o olhar. Pelo menos teria alguém com quem desabafar sobre sua amizade nada platônica, se algum dia precisasse.

— Oi, meninos – Shion apareceu atrás de Kiba, colocando as mãos sobre seus ombros.

— Sabe, não tem apenas meninos sentados aqui – Sakura a encarou.

— Ah, me desculpe – ela lhe lançou um sorriso falso. – E então, a festa está de pé?

— Com certeza – Kiba confirmou, animado.

— E vocês todos vão, certo? – Shion observava as pessoas à mesa, deixando seu olhar demorar um pouco mais ao passar por Sasuke e Naruto.

— Talvez – Ino respondeu, cruzando seu braço com o de Sasuke – Não temos certeza ainda.

Sasuke olhou para seus braços entrecruzados. Aquilo parecia mais uma briga por território do que uma conversa entre garotas, e ele estava sendo arrastado para o meio contra sua vontade.

— Por que veio aqui participar da nossa conversa, hein? Onde está sua gêmea do mal? – TenTen indagou com uma falso tom de brincadeira, fazendo o rosto de Shion se contrair de raiva. 

— Ela foi ao banheiro. Se me dão licença, preciso ir encontrá-la.

— Faça isso – Sakura assentiu.

— Até mais – após passar a mão sedutoramente pelo cabelo de Kiba, Shion se virou e saiu, sendo observada pelo mesmo enquanto caminhava até o banheiro.

Os meninos tinham olhares assustados nos rostos enquanto olhavam para as amigas. Qualquer um sentiria o instinto assassino delas a metros de distância. Por um instante a mesa foi tomada por um estranho silêncio.

— Essa menina me irrita – a voz de Gaara quebrou o clima pesado, fazendo Sakura, Ino e TenTen caírem na gargalhada.