Eyes Green escrita por Creeper, Lya


Capítulo 11
Paixão


Notas iniciais do capítulo

Oieeee! Boa leitura ♡!



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—Você tá estranho desde que voltamos do acampamento.-Gray concluiu ao bater com as costas em meu armário, me impedindo que o abrisse.

—Impressão sua.-falei com simplicidade.-Saí da frente.

—Nath, para seu azar, eu te conheço.-ele revirou os olhos.-Deixa eu ver...-olhou para cima.

O encarei com desdém.
—O único momento em que eu não estive contigo foi durante a festa, lembra?-Gray estalou os dedos e arregalou os olhos.-Rolou alguma coisa que você não me contou?-me encarou.

Foi impossível evitar o flashback.

" Foi uma troca de olhares cheios de intenções. Aproximei meu rosto do dele sem ressentimentos e notei que ele havia fechado os olhos... "

—Nada!-cerrei os dentes e o empurrei para o lado.

—Não minta para mim!-Gray disse irritado.

O lance é que realmente não havia acontecido nada!
Eu não aproveitei a chance. Simplesmente me veio uma onda de consciência e me afastei de Arthur automaticamente.
Passei o resto da festa toda com Arthur, mas sempre acompanhado de mais alguém para não deixar o clima chato.
Afinal, aposto que se o beijasse, as coisas ficariam estranhas. Ele me odiaria! Dane-se que ele estava disposto a corresponder!
Mesmo Arthur me mostrando seus novos lados, eu ainda acreditava que ele era inocente e não ia querer ser beijado por um pervertido como eu.

Ele deixava claro que não era gay o tempo todo.
Finalmente consegui ficar de bem com ele após pedir desculpas, então não estragaria assim fácil.

—Eu preciso dar aulas de reforço, tá?-respirei fundo, abri meu armário e peguei os materiais que iria precisar.

—Vai ficar na mesma sala que o "Tutu", hein?-Gray disse com malícia. Senti um arrepio ao ouvir o nome do ruivo, consequentemente encolhi os ombros.

—Dá pra vir comigo?-pedi sem coragem.

Não era "medo"! Era só... Sei lá.
☆☆☆

Imagine, eu, Arthur, Gray e dois alunos necessitados de reforço em uma sala.
Gray estava mexendo no celular, provavelmente trocando mensagens com Leo.

Eu estava concentrado (ou pelo menos tentando) em ensinar uma conta que normalmente era fácil, mas naquele dia estava extremamente difícil.

—Entendeu?-perguntei sem foco ao terminar de escrever na lousa branca.

—Nathaniel, você só fez um monte de rasbicos, literalmente.-o garoto estava super confuso.

Dei uma olhada para o que havia escrito e realmente nada fazia sentido.
Eu me sentia tonto, não conseguia controlar meu nervosismo e me mexer parecia a tarefa mais difícil do mundo.

—Preciso ir embora, minha mãe veio me buscar.-o outro garoto disse enquanto guardava seus materiais e se levantava.

—Como lição de casa leia o capítulo 3, já que é o que você mais tem dificuldade.-Arthur disse calmamente.

—Valeu, Arth. Até mais, gente!-ele acenou e saiu.

—Arthur, me ajuda!-o garoto implorou.-O Nathaniel tá mais idiota que o normal!

Arthur me lançou um olhar interrogativo e andou até mim.

—Saí.-ele disse pegando o canetão de minha mão.

Nossas mãos se tocaram por um breve segundo, mas foi o bastante para fazer meu coração acelerar. Saí de perto dele o mais rápido possível sem olha-lo.

Fui até Gray de maneira desengonçada, batendo nas carteiras e tudo mais.

—Eu não to bem.-falei apreensivo.

—Meu filho, teu mal é sono.-Gray não tirou os olhos do celular.

Aquele oxigenado estava com a mania de reagir aos problemas dizendo que aquilo era fome, sono ou falta de...Melhor nem repetir.

—Nathaniel, preciso falar com você.-Arthur estava com as mãos apoiadas na mesa da professora, me olhando fixamente.
E o garoto estava anotando em seu caderno o que o ruivo havia passado na lousa.

Sussurrei um "Me ajuda!" ao Gray, mas este apenas soltou um "Vire-se sozinho, amigo!".
Bufei irritado.

Andei até ele tentando agir com normalidade, me coloquei na sua frente, a mesa servindo de barreira.

—O que faremos com o lance do clube?-ele perguntou.

—Que clube?- perguntei confuso, mas logo me lembrei.-Ah... Precisamos encontrar membros.-falei me concentrando em não olhar direto em seus olhos.

—E quanto a decoração? Temos que dar um jeito naquele lugar.-Arthur refletiu.

—Eu entreguei um rascunho para a diretora e ela disse que no mês que vem irá comprar os materiais necessários para que possamos começar.-expliquei olhando para o teto.
Calma, Nathaniel. Tá tudo bem! Tudo zen! Tudo tranquilo e favorável.

—Nathaniel, olha pra mim enquanto estou falando contigo.-Arthur disse com dureza.-Parece que você matou alguém!

Automaticamente olhei em seus olhos.
Não tá tudo bem! Não tá tudo zen! NÃO TÁ NADA TRANQUILO E FAVORÁVEL!

—É, sim, matei alguém! E isso me lembra que eu preciso ir esconder o corpo!-minha cabeça deu um estalo e fui andando apressadamente até a porta.-Gray, você é meu cúmplice, simbora!

—Cúmplice?-Gray desligou o celular e olhou de Arthur para mim.

—Nathaniel!-Arthur me repreendeu me olhando feio.

—Não ligue para a polícia!-falei rindo nervosamente e saí da sala, bati a porta assim que Gray saiu.

Me encostei na parede, fechei os olhos, respirei fundo e expirei devagar.

Eu não quero isso... Mas ao mesmo tempo quero... Mas não é fácil! É sempre tão complicado! Devo ter tacado fogo na cruz...

—Cara, você não tava respirando lá dentro?-Gray arqueou uma sobrancelha.

Balancei negativamente com a cabeça, continuando a respirar e expirar.

—Vamos pra outro lugar.-Gray me puxou pelo braço.

☆☆☆

Fomos para o terraço, o vento lá em cima era forte, a sensação dos meus cabelos balançando era ótima, podia respirar livremente sem aquela pressão no meu peito.

—Ou você abre o jogo ou eu te jogo daqui de cima.-Gray disse cruzando os braços e batendo a costas no alambrado. Estava sério, parecia que se eu fizesse uma gracinha, ele seria capaz de me jogar dali de cima.

Me sentei no banco que havia ali e levantei a cabeça, encarando o céu tão azul com poucas nuvens.

—Eu...-minha boca estava seca.-Acho que estou gostando do Arthur.-falei de uma vez.

—Juuuuuraaa?- Gray estava com os olhos arregalados e com a boca aberta em formato de "o".-Pfff, óbvio.-revirou os olhos.

—De verdade.-lhe olhei de soslaio.-Eu acho que é a terceira vez...

—Terceira vez?-Gray se interessou.-Quanto a que?

—Terceira vez que tenho os sintomas de estar apaixonado. Sabe, a gente fica todo nervoso, bobão, com o coração louco, acaba agindo como idiota, borboletas no estômago, vontade de evitar a pessoa ao mesmo tempo que queremos vê-la e tudo mais.-confessei, dando um sorriso sincero no final. Ah... Eu estava ferrado.

—Espera, terceira?!-Gray estava incrédulo, havia levantado três dedos de sua mão e os contava repetidas vezes.-Eu...E...Bárbara?-perguntou confuso.

—Você é tão convencido, já se auto colocando na lista.-dei uma risada abafada.-Mas sim, você e...Outra pessoa. Não foi a Bárbara ou a Dressa.-fechei os olhos, levei minha mão ao peito e tateei até encontrar meu pescoço e o cordão que permanecia ali.

—Quem é essa pessoa?-senti Gray sentar-se ao meu lado.

—Isso não importa agora.-suspirei.-Eu estou preocupado.

—Com o que? Você tá gostando dele e daí?-Gray disse com simplicidade.

—Por isso mesmo!-abri os olhos.-Eu não tenho nenhuma chance com ele. Nenhuma. -suspirei sentindo algo semelhante a dor. Ou era dor mesmo.

—Você quer saber o que eu acho?-Gray perguntou. Afirmei com a cabeça.-Acho que você vai esquecer isso logo.

—E eu acho que você está bem errado.-rebati.

Gray me encarou e deu um sorriso de canto como se dissesse "veremos". Acho que ele não me levava a sério nesse quesito.

—É assim que eu gosto.-ele disse orgulhoso.-O que te atraiu nele, afinal?

Pensei um pouco, não era uma pergunta difícil. Pelo contrário.
—O Arthur é uma pessoa enigmática, possuí mais de um lado, mas isso não significa que ele seja falso. Ele pode agir com indiferença, porém tem seus motivos. Ele sempre tem um motivo para as ações que faz ou decisões que toma. É inteligente, fofo, um pouco grosso...-dei o sorriso mais bobo de todos.-E os olhos, sinto-me como se fosse me perder naquela imensidão esverdeada!-abri os braços.

—Me lembrei.-Gray disse apático revirando os olhos.

—Lembrou o que?-o encarei confuso.

—Eu odeio amigos apaixonados.-Gray me encarou.-Aguentar um amigo apaixonado é o maior voto de amizade que alguém pode fazer!-fez drama.

—Idiota!-lhe dei um soco no ombro.

—Belas palavras.-Gray disse me dando um pescotapa.

—É só besteira.-corei.-Nem leve a sério...-encolhi os ombros.-Eu não quero estar apaixonado!-afundei o rosto nas mãos e dei um gritinho.

—Deus me dai forças para aguentar a bipolaridade desse rapaz apaixonado!-Gray praticamente implorou.-Vamos embora, o colégio já vai fechar.
Nos levantamos e fomos embora. Me sentia mais leve por ter dividido aquilo com alguém.

☆☆☆

Naquela noite, ao invés de dormir na hora que Kenzie havia mandado, optei por ficar perdendo tempo na internet.
Convenhamos que eu queria mesmo era stalkear o ruivinho.
Com o notebook no colo, meu corpo enrolado debaixo de uma coberta, pacotes de Doritos, barras de chocolate e latinhas de refrigerante ao alcance, eu estava preparado para madrugar.

Na barra de pesquisa do Facebook digitei: Arthur Marques.
Lógico que apareceu mais de 40 resultados. Fui descendo a página até encontrar a foto do ruivinho.
Quando encontrei comemorei mentalmente, já me sentindo um hacker. Iludido sou.
Na foto ele estava sem óculos, a mão segurando apenas a metade do rosto que estava sendo mostrada, os cabelos perfeitamente bagunçados, uma expressão neutra e no fundo um tanto desfocado eu podia ver uma vitrine cheia de gotículas de água.
Quais as possibilidades dele ter tirado essa foto naquele café?

—Ele é tão lindo!-sussurrei encarando a foto por um longo tempo.
Eu nunca tive problemas ou confusões para admitir a mim mesmo que eu tinha atração por pessoas do mesmo sexo que eu.
Talvez seja clichê dizer que eu sabia disso desde que me entendia por gente, mas essa é a verdade.
Minha irmã, pai e amigos aceitaram de boas, todos tinham mente aberta e entendiam que eu era o mesmo garoto de sempre independente de minha sexualidade.
Com minha mãe foi diferente. Nunca aprovou e nunca irá me aprovar.
O lance é: Homem com mulher e mulher com homem.
Mas, pelo que eu bem sei, a vida é minha e eu vou me atracar com quem eu quiser.

Não que eu não queria que ela me aceite...Eu realmente gostaria que pudéssemos voltar a nos falar, somos uma família afinal.

E se um dia eu me casar com um cara? Ela não vai estar presente? Ela não nos dará a bênção?
Espero que o tempo a faça mudar de opinião.

Continuei a stalkear Arthur, ficava admirando foto por foto por longos minutos (confesso que salvei algumas), analisei suas publicações e vídeos, obtive
informações com suas marcações e descobri algumas coisinhas essenciais como aniversário, cidade natal, curtidas e interesses.
Fiquei um tempo encarando uma coisinha chata com a testa franzida.

"Interessado em: Mulheres."
—Não esmague minhas esperanças!-falei em tom de sofrência.

Já era 4 da manhã e eu ainda estava ali em frente aquela tela, anotava algumas coisas a parte no bloco de notas do celular.

Analisando minuciosamente as fotos de família, concluí que a mãe dele havia se divorciado ou falecido fazia mais de dois anos. Ela aparecia em várias fotos até 2015, mas não apareceu em mais nenhuma após isso.
Provavelmente não havia morrido, pois nas fotos de perfil de Arthur não havia nenhuma de luto.

Concluí também que Diego era um puta conquistador barato, de mês em mês havia uma foto dele abraçando uma garota e Arthur fazendo caretas em algum lugar de lazer, as imagens sempre carregando as legendas: "Rolê com a cunhada nova #Vela".
Os comentários eram os mais engraçados, algo do tipo:
"Quanto tempo essa daí vai durar?"
"Que menina linda, igualzinha as outras..."
"O Diego não tava com uma morena semana retrasada?"
"Estou na fila de espera!"

Eu como bom amigo e malvado conselheiro, tirei print de todas as fotos e suas legendas para enviar para a Dressa.
Junto com os prints, enviei uma mensagem:
"E aí? Quantos meses até ser você nessas fotos?"

Dressa respondeu na hora, me enviando um emoji de dedo do meio e um lindo "Vai se foder".
Ri com a reação dela, conversamos durante alguns poucos minutos até ela ir dormir, disse que estava com insonia e sua madrinha havia lhe deixado mexer um pouco no celular para cansar a vista.

Na terceira vez em que eu estava olhando as fotos de marcações, percebi que tinha uma que eu havia deixado passar.
Era uma foto com uma garota...
Ela estava beijando a bochecha de Arthur. Até que a fulana era fofinha.
Li a legenda: "Arthur Marques começou a namorar com Marcela Sidney em 14 de agosto de 2016."
Nos status atuais dele dizia que ele estava solteiro! Sol-tei-ro!

Mas isso não me impedia de ficar CHO-CA-DO!
Fiquei estático um tempinho, até sentir os beliscos do ciúme.

—Ele me disse que nunca havia namorado, bastardo!-reclamei mandando pra dentro uma latinha inteira de refri.-Ah, mas isso não fica assim! Mas não fica mesmo!

Peguei meu celular e liguei para o Gray, ele atendeu no sétimo toque.

—O que você quer?—perguntou com a voz grogue de sono.

Desliga essa porcaria e vai dormir...—ouvi a voz irritada e sonolenta de Leo ao fundo.

Revirei os olhos e prossegui:
—Quem é Marcela?

Por que você quer saber isso a essa hora?—Gray resmungou.

—É importante.-falei sem rodeios.

Leo...Leo, tá me ouvindo?—Gray disse um pouco distante.

Que foi?—Leo murmurou.

Conhece alguma Marcela?—Gray perguntou.

Conheço... Várias... Especifique.-Leo respondeu e pelo que pareceu deu um bocejo.

Fala com o Nathaniel.—Gray mandou.

Ouvi a linha ficar abafada e Leo fazendo manha.

Tinha uma Marcela que andava com o ruivinho.—Leo bocejou. De novo.

—Namorava.-o corrigi de maneira tensa.

Se sabia, por que perguntou?—Leo disse com a voz arrastada.-Enfim...—bocejou novamente.-Ela é do 3C. Tchau, Nathzinho...

—Espera!-falei rapidamente, porém Leo desligou na minha cara.
O xinguei mentalmente.

Olhei para o relógio digital na cabeceira da cama, ele já marcava 4:45 e no dia seguinte eu teria aula.
Então desliguei meu notebook, joguei todas as embalagens do que havia desgutado debaixo da cama e me deitei.
—Amanhã eu pesquiso mais coisa...-murmurei fechando os olhos.

☆☆☆

No outro dia de manhã, eu estava calçando meus tênis sentado no sofá da sala, Kenzie veio até mim enquanto mexia massa de bolo em uma vasilha com uma colher de pau.
—Por que não usa a batedeira?-perguntei amarrando os cadarços.

—Porque ela quebrou.-Kenzie respondeu.

—Corrigindo: Você a quebrou.-revirei os olhos.-Não devia estar arrumada?-notei que ela ainda estava de pijama.

—Estou de folga hoje!-Kenzie sorriu. Apontei com a cabeça para a vasilha como se perguntasse o que ela estava fazendo.-Vou fazer um bolo para a festa surpresa de uma amiga e um bolo para meu maninho!

—Vai estar envenenado?-perguntei com ironia.

—Claro que não, mané.-Kenzie sentou-se no braço do sofá.-Ei, lindinho...

—Que cê quer, falsiane?-arqueei uma sobrancelha.

—Posso usar seu notebook para ver uns vídeos de como confeitar?-Kenzie pediu fazendo uma cara fofa.

Arregalei os olhos e minha cabeça deu um estalo.
—Por que não pede para o papai?-sugeri.

—Ele vai estar ocupado trabalhando!-Kenzie respondeu.

—E o livro que ele nos deu de Natal para aprendermos a nos virar?-me levantei e comecei a procurar uma camiseta.

—Eu o emprestei para a Yasmin!-Kenzie citou sua amiga da época da faculdade.

—E seu próprio notebook?-a encarei.

—Quebrou!-Kenzie bufou.

—Você quebra tudo!-bufei pegando minha camiseta pendurada na maçaneta da porta do banheiro.

—Qual o problema de me emprestar seu notebook?-Kenzie veio até mim.

—Ele é de uso pessoal!-eu disse rígido enquanto vestia a camiseta.

Como Kenzie tinha seu notebook e eu tinha o meu, não me importava com o que baixava ou fazia, não precisava esconder.

—Não me importo que você baixe vídeos pornô, eu não estou interessada e sei que são os hormônios!-Kenzie soltou essa pérola.

Engasguei com a simplicidade dela e fiquei vermelho como um tomate.

—Eu não baixo esse tipo de vídeo!-gritei histérico.-Se você quer saber, eu salvo umas fotos...

—Tipo playboy?-Kenzie arqueou uma sobrancelha.

—Não! Pare de pensar isso de mim!-saí de perto dela, entrando em meu quarto para pegar minha mochila.-São fotos de um garoto...

—Nudes?-Kenzie ruborizou.

—Não! Não! Não!-respondi envergonhado.-São fotos do Facebook! Daquele ruivinho que veio aqui em casa!-confessei.
E talvez um pouco (muito) de conteúdo yaoi que Gray me passava.

—O que você faz com as fotos de um garoto tão doce e inocente, seu nojento?!-Kenzie disse intimidadora.

—Nada!-gritei constrangido.

—Então, posso usar seu notebook?-Kenzie disse num tom angelical.

—Faz o que você quiser.-falei tremendo de constrangimento.-Tenho que ir para o colégio.-peguei minha mochila.

—Com essas olheiras horríveis à vista? Aliás, você dormiu tarde, não foi? Ah, quer dizer que você estava paquerando as fotos do ruivinho a noite toda, né!-Kenzie olhou fundo em meus olhos.

—Eu realmente tenho que ir!-respondi desviando dela, porém ela segurou em meu braço, me fazendo parar.

Voltei a me virar para trás e me surpreendi.

—Tenha um bom dia.-Kenzie depositou um beijo em minha testa.-Lembre-se do nosso trato.-me mandou uma piscadela.

—Aposta.-a corrigi. Ela revirou os olhos e riu ao me soltar.

☆☆☆

—Nath, te amo e tudo mais, mas posso saber por que atrapalhou meu precioso sono?-Gray questionou.-Metade da minha beleza é resultado de uma ótima noite de sono!

Estávamos fazendo aquecimentos de educação física na quadra, iríamos jogar queimada.
—Eu descobri que a Marcela e o Arthur já namoraram.-franzi a testa.

—Você estava o stalkeando?-Gray cobriu a boca para evitar o riso.

Nós dois direcionamos nossos olhares para o ruivinho conversando com alguns garotos do outro lado da quadra.

—Sim.-admiti.-Estranho, não achei uma foto dele, o "irmãozinho" e Grace.-comentei.

—Ah, você viu o álbum de cunhadas?-Gray revirou os olhos.-Na época, nem conhecia Arthur, mas pedi para Leo falar com ele para que ele apagasse a foto. Não queria que a imagem de Grace ficasse gravada como só mais um troféu na estante do babaca do Diego.

Fiquei pensativo quanto a isso. Quando menor, Gray mesmo não demonstrando, se importava com suas irmãs e gostava de ser responsável por elas.
Depois que ele cresceu, passou a demonstrar mais o quanto se importava, as defendendo a qualquer custo.
Bem, de qualquer maneira eu ia interrogar Leo mais tarde, já que ontem ele teve a audácia de desligar na minha linda cara.

Jogamos duas vezes antes do sinal para a terceira aula, Arthur sequer jogou, era opcional se queríamos ou não jogar.

—Alunos, quem se interessar, na hora do intervalo teremos queimada aqui na quadra, sala contra sala!-o professor anunciou.

Eu e Gray sempre assistiamos aos jogos no intervalo já que Leo normalmente jogava.
Naquele dia não foi diferente, lá estávamos nós na arquibancada para torcer pelo time do Infernal.
Pelo visto, Leo havia convencido Arthur a jogar também.

Para melhorar, todos os meninos tiraram a camiseta (exceto Tutu, okay...Fiquei triste. Mas me animei quando ele levantou a barra da blusa e a amarrou, deixando metade da barriga exposta).
Nossa senhora da bicicletinha! Dai-me equilíbrio!
Isso é o que eu chamo de fanservice.

—Sem querer ser precipitado, mas acho que o Arthur nesse quesito é realmente só um típico nerd que não sabe jogar.-comentei com Gray.

E...Não era só eu quem pensava assim.
—O Marques jogando? Pelo amor, né! Ele é magrelo demais, nem deve saber segurar uma bola! Alguém tira essa magricela da quadra!-Troy estava falando asneiras como sempre.

—Alguém está precisando daquele "energético".-Gray disse franzindo a testa.

—E uns bons socos também.-resmunguei estralando os dedos.

Arthur literalmente não estava nem aí para Troy, mantinha-se neutro e sem se preocupar com as provocações.

Leo também não estava ligando, pelo contrário, estava rindo maleficamente! Ele e Arthur trocaram um "toca aí".

Não foram feitas divisões como "time masculino" ou "time feminino", os times eram mistos, a única divisão era "time 3A" e "time 3B".

Foi um jogo envolvente, Troy tentava a todo custo queimar Arthur, porém quem diria que o ruivinho era tão ágil? Conseguiu desviar de todas as tentativas falhas do idiota.

Leo também não conseguiu acertar Arthur uma vez, sempre acabava errando ou queimando outra pessoa.
Falando em Leo...Ele havia acabado de queimar a Jane, então olhou em nossa direção, mas especificamente para o Gray, flexionou os músculos, deu aquele sorriso de derreter corações e piscou um olho.

As garotas da arquibancada foram a loucura, Gray ignorou as oferecidas e se permitiu ficar feliz.
Revirei os olhos e bati com a mão na testa, mas em seguida gargalhei e bem alto.
Afinal de contas, enquanto Leo se exibia, Arthur aproveitou a oportunidade e tacou a bola nele.
Leo ficou pasmo quando o professor avisou que ele havia sido queimado, o ruivinho riu malvado como se dissesse: "Preste atenção no jogo da próxima vez!".

—TUTU! VAI TER VOLTA! SÓ ESPERE! -Leo gritou em tom de brincadeira. -Vingue-se por mim Victor! -dito isso, Leo saiu da quadra e veio até nós.

Ninguém realçou o fato de que Arthur havia realmente queimado alguém, já que Leo estava distraído e podia ser queimado por qualquer um...Qualquer um mesmo!

Pouco a pouco não foi sobrando mais ninguém no time do 3A, somente Arthur.
No time 3B ainda restavam Troy, Lassie e mais dois garotos.
Victor tinha sido queimado por Arthur no momento em que prestou atenção nas palavras de Leo.

Arthur estava com a bola em mãos, aparentemente mirou em um dos garotos, entretanto na última hora mudou a direção e acertou Lassie, o impacto foi tão grande e inesperado que a garota acabou caindo de bunda no chão.

A galera toda ficou surpresa, incluindo eu!
Todos de queixo caído.
Quem antes estava torcendo pela linda e atlética Lassie, rapidinho mudou de lado e a gritaria começou:
"Arthur! Arthur! Arthur!"

Troy estava bufando, visivelmente irritado, agarrou a bola e atirou na direção de Arthur com uma força sobrehumana. Nem preciso dizer que nosso novo astro da queimada conseguiu se abaixar a tempo, né?

A bola voltou para as mãos de Arthur, ele conseguiu queimar os dois garotos.
Consequentemente todo mundo gritou "Ooohhhh!" e começou a bater palmas, pular, assoviar, etc.

—AÍ, TUTUZINHO!- Leo e Victor gritaram animados.

Sim, eu estava no meio dessa torcida agitada.
Estava impressionado em como o Arthur era bom na queimada! Outro lado que eu não conhecia até então: Seu lado esportista e competitivo.

Gostar dele era ter noção que ele sempre teria um lado novo para me mostrar e eu com certeza me apaixonaria por todos.

—ISSO AÍ! MOSTRA O QUE EU TE ENSINEI! MATA O TROY! MATA O TROY! MATAAAAAA ELEEE!-Leo gritou no alto-falante que pegou emprestado (roubou mesmo) do professor.

Arthur estava com a bola, olhava bem para Troy, parecia o analisar como um felino analisa sua presa.

Lembrei-me de que Arthur havia me dito que gostava de comparar-se a um animal. (Ah, e sim, eu dei uma camiseta para ele no final do acampamento.)

—Joga logo, bichinha.-Troy provocou.

—Bichinha são as pessoas como você, pensam que são intimidadoras, mas não tem nada além de força física. Você é um primata comparado a mim.-Arthur disse secamente.

—ESSE É MEU GAROTO!-Leo voltou a gritar.

Fiz uma concha com as mãos em volta da boca, me levantei e gritei:
—UHHHH!

Logo toda a platéia já estava colocando lenha na fogueira.
—Eu te quebro em dois, marica.-Troy ameaçou.

—Está tentando compensar sua falta de inteligência com sua abundância de força? Eu não tenho medo de você, porque eu sei que você não tem coragem de relar um dedo em mim.-Arthur estalou a língua.

—Você se acha muito esperto, não é?-Troy estava se aproximando da linha divisória.

—E você se acha muito forte, não é?-Arthur disse com desdém também se aproximando da linha.-Então por que não vem aqui agora e me bate?-arqueou uma sobrancelha.

Todo mundo ficou em silêncio.
Particularmente, eu estava apreensivo e desesperado.
Arthur havia ficado louco?!
Minha única vontade era de invadir aquela quadra, pegar Arthur pela mão e levá-lo para um lugar aonde pudéssemos ficar a sós.
A sós e talvez reviver a cena do quase beijo naquela noite no acampamento.
Olhei para Leo pensando que ele ia intervir ou talvez Victor ou o professor.

O professor estava sério enquanto Leo sussurrava algo em seu ouvido, ele não havia interrompido a partida um momento sequer.
E Victor estava sorrindo como se esperasse algo.

—VOCÊ TÁ MORTO!-Troy cerrou os dentes e como um monstro, avançou em Arthur.

Os momentos seguintes passaram como um flash, foi uma questão de segundos.
Meus olhos se arregalaram, meu coração falhou uma batida e meu corpo se levantou por impulso.
Gray foi mais rápido e me puxou de volta para o meu lugar.
—Olha.-o loiro sussurrou em meu ouvido.

Assim que o pé daquele troglodita estava a exatos dois centímetros da linha divisória, Arthur que permanecia parado atirou a bola em sua barriga com força.
Ninguém havia invadido o território de ninguém, então era válido.

—FORA!-o professor gritou.-TIME DA SALA 3A VENCEU!

Os aplausos e gritos voltaram a dar o ar da graça!
Troy estava mais do que irritado, era capaz de matar alguém com as próprias mãos! Ele só não bateu em Arthur pois o professor o arrastou para fora da quadra o mais rápido possível.
O ruivo estava ofegante, a mão no peito como se tivesse passado por um grande susto.
Afinal, ele havia ficado literalmente a centímetros da fera chamada Troy.

Leo e Victor se abraçaram, o Infernal cobriu o rosto com as mãos.
—ESSE É MEU MENINO!- Leo gritou com a voz embargada de choro, mas estava todo orgulhoso.

Não me segurei, pulei de meu lugar na arquibancada e fui até Arthur assim como todos do 3A estavam fazendo.
Todo mundo estava trocando toques com ele e o parabenizando.

Ele estava meio perdido em meio a toda aquela gente.
Fiquei com ciuminho de vê-lo tão rodeado, porém feliz por sua grande vitória.

Leo deu um forte abraço em Arthur, o levantando e gritando como estava orgulhoso.

—Aprendi com o melhor.-Arthur riu um tanto constrangido.-Mas...Eu realmente preciso descansar!

—Você foi demais! Merece tudo isso!-Leo sorriu.-Vamos pro terraço!-disse empolgado.-Nath, Gray, bora! Victor, você...

Victor abraçou Arthur e bagunçou seus cabelos.

—Mandou bem!- Victor sorriu orgulhoso. -Desculpem, tenho um assunto para resolver!

— Que assunto?- Leo e Arthur perguntaram ao mesmo tempo.

— Se-gre-do!- Victor sorriu malicioso. -Tchau. -e saiu.

— Ah, eu vou fazer ele falar!- Leo disse convencido.

☆☆☆

Fomos nós quatro pro terraço, todos deitamos no chão e ficamos olhando para o céu.
Arthur estava de olhos fechados, a respiração se estabelecendo aos poucos, havia tomado litros de água e lavado o rosto diversas vezes.
—Quem diria que o Arthur tinha esse talento pro esporte!-Gray comentou.

Arthur começou a rir, logo sua risada tornou-se uma gargalhada. Ficamos confusos e nos entreolhamos.

—Eu vi minha vida passar diante de meus olhos!-Arthur falou em meio aos risos.-Foi incrível!-seu olhar havia ganhado um brilho diferente.

—Tá falando do Troy?-questionei.

—Quero saber, qual foi seu truque?-Leo arqueou uma sobrancelha.

—É uma técnica que eu bolei. Pessoas como ele não resistem a provocações. Eu não conseguiria acertá-lo a um longa distância já que a quadra estava vazia e ele podia se mover para qualquer lado. A única maneira de vencer seria queimando-o em uma curta distância, como dizem "a queima roupa"!-Arthur explicou satisfeito.

—Mas como tinha certeza de que ele cairia na sua armadilha?-Gray se interessou.

—Aprendi com meu pai a como estudar a mente das pessoas.-Arthur respondeu.

—Seu pai trabalha com o que mesmo, Tutu?-Leo questionou.

—Psicologia.-eu e Arthur respondemos ao mesmo tempo.
Sim, eu tinha que abrir a boca.

—O que você disse?-Arthur me encarou assustado.

—É que eu imaginei! Já que você falou desse lance de mente e tal!-dei um sorriso inocente, mas por dentro eu estava gritando comigo mesmo por ser tão burro.

Gray estava rindo, ele sabia que eu era um stalker.

—Eu nunca me senti tão corajoso!-Arthur suspirou aliviado.

—É, você bateu de frente! Esse é meu garoto!-Leo comemorou.

—Da próxima vez quero jogar no seu time, Arthur!-Gray comentou empolgado.

—Não, você vai me dar azar!-Arthur tentou ser grosso, porém ele estava rindo.

—Não seja mau!-Gray ficou emburrado.

Suspirei. Arthur era sensacional, quanto mais eu pensava que sabia sobre ele, mais eu estava enganado.
Ele era uma caixinha de surpresas.

—E você, Nathaniel, o que achou da minha performace?-Arthur cobrou um elogio de mim.

—Você foi espetacular.-dei um sorrisinho de canto e ruborizei com minhas próprias palavras.-Talvez você possa me ensinar a como jogar...-brinquei.

—Se realmente quiser, a gente se encontra na quadra depois das aulas de reforço.-Arthur me encarou.

—S-Sério?-engoli em seco.

—Você tem que aprender a fazer algo útil! E assim evito que você me deixe sozinho como ontem!-Arthur inflou uma bochecha.

—Sorry!-ri nervoso.

Observei Gray e Leo que estranhamente se mantinham em silêncio, eles apenas trocavam olhares.

Talvez eles não quisessem interromper o momento com comentários bestas que fariam Arthur repensar na proposta.
Fiquei agradecido por eles saberem ser ótimos amigos em certos momentos, pois convenhamos que eles eram uns filhos da mãe em outras ocasiões!

Eu só precisava me preparar psicologicamente para nosso "encontro".
Algo ainda insistia em martelar minha mente...Eu precisava descobrir quem era a tal fulana que namorou com Arthur.
Ah, eu ainda precisava sequestrar Leo para arrancar algumas informações que ele com certeza sabia!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!!!
Comentem, iremos adorar saber a opinião de vocês!
Até o próximo capítulo!
Bjs ♥.
—☆Creeper.



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